O ‘Strange case of Dr. Jekyll and Mr Hyde’, do escocês Robert Louis Stevenson, foi publicado em 1886. Tanto o filme quanto o livro foram traduzidos para o português brasileiro como “O Médico e o Monstro” (pelo amor de Apolo, por quê o brasileiro tem essa mania de detonar títulos? #xatiada).
Stevenson era pneumopata crônico e tinha histórico de múltiplas internações por infecções, incluindo algumas em estado grave. Ele deve ter tido contato com vários médicos desde a infância e possivelmente formou a mesma relação de amor e ódio com médicos que ocorre com alguns pacientes com enfermidades do tipo, bem como teve tempo suficiente para observar a natureza humana em casas de repouso ou nosocômios. É bem interessante a descrição que um dos personagens do livro faz de um médico: 'Era o tipo do esculápio comum, magro e empertigado, de idade indefinida, (…), e tão sensível como uma pedra’, quando o médico personagem principal é considerado um homem de grande sensibilidade.
Ele escreveu o 'Estranho Caso do Dr Jekyll e de Mr. Hyde’ aos 36 anos. E aos 44 anos morreu como queria, 'I wish to die in my boots’, possivelmente em razão de um acidente vascular encefálico já que perdeu subitamente a consciência enquanto estava conversando com a esposa e tentando abrir uma garrafa de vinho.
Em minha opinião trata-se de um livro de ficção científica (da mesma forma que vejo Frankestein, de Mary Shelley) que de alguma forma coloca o cientista como aquele que brinca de ser deus, porém sem a demonização da ciência e sem a condenação do cientista que costuma acompanhar esse tipo de abordagem.
E a não condenação da pessoa que faz ciência vem justamente através da mostra da complexidade dos desejos e impulsos do homem, que não é traçado pelo autor como essencialmente bom ou essencialmente mau. Essa riqueza é tão presente no livro que o experimento químico toma papel curiosamente secundário na trama.
Não vejo a história como um exemplo ou tampouco um estudo de dupla personalidade como alguns críticos colocam, mesmo entendendo que Hyde eventualmente deixa aflorar o que Jekyll mantem abafado. A premissa do médico, de que 'o homem na realidade não é uno, mais sim dois seres num só’ não pode ser confundida como uma manifestação de dupla personalidade e sim contra a defesa da visão cartesiana da mente humana.
Mais um clássico da adolescência que desejei reler.
Essa minha edição é da década de 70, encontramos aqui em casa entre os livros antigos (muitos adquiridos em sebo) e estava com a lombada descolando e a capa detonada. Então aproveito o post para indicar a cola que uso para recuperar livros, é a Cola Madeira Tek Bond, fácil de achar em lojas de artesanato. Ela é menos molhada que cola branca e deixa aquela tonalidade ligeiramente amarela da cola original.
Beijos,
Um bom domingo!
M.