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04 Jul 18:19

A perigosa nostalgia dos idosos

Imagine dois projetos de lei. Um propõe que cada um adquira seu jazigo em dez anos sem juros (ou seja, com juros financiados pelo governo). O outro propõe que cada um adquira seu primeiro carro pagando em dez anos, também sem juros (ou seja, com juros financiados pelo governo).

São tempos de vacas magras. Não há dinheiro para os dois projetos. Um referendo deve decidir qual dos dois será adotado. É possível imaginar que os jovens preferirão o projeto do carro, e os idosos, o do jazigo.

Um plebiscito sobre a reforma da Previdência daria uma oposição análoga. Os idosos pensarão em garantir seus "direitos", ou seja, a melhor aposentadoria possível, e, se isso implica que cada jovem pague a metade do que ele ganha em INSS ou que o Estado quebre em 20 anos, pois bem, dane-se.

E os jovens? Bom, fale com um jovem de 18 anos sobre a aposentadoria dele, tente interessá-lo: ele é capaz de responder que, de qualquer forma, ele não pretende viver tanto tempo assim.

O voto do "Brexit", que decidiu que o Reino Unido sairá da União Europeia, manifestou um duplo conflito (que não é só inglês). O primeiro é ao redor da imigração: enfrentam-se os que defendem os valores do território e os cosmopolitas das grandes cidades –sobre essa oposição voltarei na semana que vem. O outro é o conflito entre jovens e idosos.

Setenta e cinco por cento dos jovens entre 18 e 24 anos votaram para continuar na União Europeia. Quase a mesma porcentagem de aposentados, acima de 65 anos, votou para sair da Europa. Só para confirmar: na Escócia, onde se vota a partir dos 16 anos (e não dos 18), o "Brexit" perdeu feio.

O atraso no desenvolvimento do córtex pré-frontal dos adolescentes é a causa provável de sua impulsividade, sua dificuldade em ponderar as consequências de seus atos etc. Esse traço da juventude é socialmente útil: num exército, os soldados devem ser capazes de se arriscar sem pensar duas vezes.

A prudência trazida pela idade é também útil: no mesmo exército, os oficiais superiores não devem arriscar levianamente a vida de seus homens. Ou seja, um exército só de jovens ou só de idosos seria uma catástrofe.

Agora, uma observação, que me sinto livre para expressar por fazer parte dos idosos. À vista da utilidade social de jovens e idosos, é curioso que todos achemos normal que exista uma idade mínima para votar, mas ninguém pense seriamente na possibilidade de uma idade máxima para votar, sobretudo nos casos em que o voto tem consequências radicais para o futuro da comunidade –ou seja, muito mais para os jovens do que para os aposentados.

Não estou pensando na senilidade e na demência (para isso existe a interdição), mas em traços frequentes em nós, idosos, que talvez nos tornem eleitores perigosos para todos. Dois em particular:

1) Uma avareza mesquinha (e generalizada –não só financeira), que consiste em tentar preservar e conservar qualquer coisa, como metáfora da preservação (impossível) da nossa vida que se vai;

2) Uma idealização fantasiosa de passados que nunca existiram. Os idosos parecem sempre evocar o "tempo feliz" de sua infância, quando os pais eram severos e por isso educavam bem, quando dava para brincar na rua e a escola pública era muito boa. Mas, se a escola era tão boa, por que o cara é ignorante? E, se os pais eram grandes pedagogos, por que ele é bruto e mal-educado?

Cuidado: quase sempre, nós idosos nos servimos da saudade para "viver", numa lembrança inventada, algo que, de fato, não conhecemos –e agora é tarde. Nossa vida não foi o que queríamos, e ela não vai mudar mais, no entanto "tivemos"(na lembrança) uma infância de conto de fadas, não é?

Também nos servimos da saudade para amenizar nossa inveja (filhos e netos vão viver mais tempo, mas não terão uma infância incrível, como a nossa) e para mendigar algumas migalhas da inveja dos jovens. Se não tivéssemos vivido na Idade de Ouro, quem nos invejaria, sabendo que nossa morte é próxima e o corpo já falha?

Os mais saudosos, aliás, são os idosos das classes menos favorecidas; eles, literalmente, têm saudade do que nunca tiveram. Domingo, nas entrevistas da BBC, gritavam: "Vamos pegar nosso país de volta!". Como assim, "de volta"? Meu amigo, "seu" país nunca foi seu, nem de longe.

"Nós não ficamos mais sábios com a idade, nem sempre os velhos sabem o que é certo" (Jó 32:9).

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21 Jun 17:35

Não se mate ainda, não

O pessimista fica feliz duas vezes: quando acerta e quando erra." Por incrível que pareça, Millôr foi das pessoas mais otimistas que conheci. Nunca me esqueço um dia em que alguém contou um caso bárbaro de violência televisionada, concluindo que "o mundo tá a cada dia mais violento". Ao que o Millôr retrucou: "Você já ouviu falar na técnica de empalamento? Já ouviu falar no genocídio armênio? Já viu fotos de um gulag? O mundo nunca foi tão pouco violento; a gente é que nunca foi tão bem informado."

Não se mate ainda, não. Apesar de tudo de ruim que pode haver no mundo, dos Bolsonaros e Temers e Trumps, é sempre bom lembrar que, salvo exceções, o mundo está progredindo, sim. Devagarinho, claro. Mas está. Claro que está.

Quem acha que a juventude está perdida não frequentou nenhuma escola ocupada. Quem acha que o machismo venceu não está acompanhando a multiplicação de blogs feministas bons. Quem acha que o Rio não tem jeito ainda não deve saber que o Freixo vai para o segundo turno, e vai ganhar.

Quem acha que não se faz mais música boa não ouviu o último disco da Elza Soares. Também não deve ter ouvido o da Clarice, nem o do Tibério, nem o da Teresa Cristina cantando Cartola. Nunca ouviu o piano do Vitor Araújo, o violão do Vinícius Sarmento, a rabeca do Beto Lemos. Tudo com menos de 30 anos, ou um pouquinho mais.

Quem não vê mais graça em poesia não está lendo Alice Sant'Anna, Angélica Freitas, Ana Martins Marques, Corsaletti. Procure ler. Tudo com menos de 40 ou um pouquinho mais.

Quem acha que cinema brasileiro não presta não viu "Que Horas Ela Volta?", "O Som ao Redor", "Tatuagem", "Casa Grande", "Entre Abelhas", filmes feitos no Brasil e nos últimos anos -com recursos públicos, claro. Catchim, catchim (som do dinheiro batendo na minha conta).

Quem acha que não se faz mais teatro que preste não viu "In on It" (em cartaz às quartas e quintas em São Paulo; corra), não viu "Gabriela" (também não vi, mas sei que é lindo, acabou de estrear; corra), não viu "Estamira", "Mamãe", "Incêndios", "Tragédia Latino-Americana" e tanta coisa que não cabe aqui.

Claro. Nem tudo são flores. O mundo nunca foi tão chato -isso sem dúvida, se você não quiser abdicar do direito de ser machista. Nunca foi tão caro, se você quiser ter vários empregadas. Nunca deu tanto trabalho, se você quiser repetir racismos.

A vida do presidente interino, por exemplo, deve estar um inferno. E, quanto a isso, para ele não há otimismo possível. Vai piorar.

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11 Jun 20:58

nice

by Lunarbaboon

08 Jun 13:45

Man Visits Famous Movie Locations To Show What They Look Like Today

by noreply@blogger.com (Damn Cool Pics)
This guy decided to visit all of the famous locations from his favorite movies and he documented the adventures on Instagram. Many of the locations look exactly as they did when they appeared on the big screen for the very first time.






















05 Jun 23:46

Resolução de Ano Velho

Na última segunda-feira eu acordei com um ímpeto digno de primeiro de janeiro, me olhei no espelho e decidi dar dois passos fundamentais rumo à saúde física e mental: parar de fumar e de escrever sobre política. Hoje é sábado e há seis dias não toco no Marlborão nem no Michelzinho. Estou contente.

Fumei um maço, diariamente, dos 16 aos 22 anos. Eu era infeliz –e sabia. Nicotina é a droga mais estúpida que existe. Depois de fumar um cigarro ninguém se sente mais à vontade pra dançar cha-cha-cha, ninguém deita na cama comendo Fandangos com Leite Moça, ouvindo "No Woman No Cry" e pensando que finalmente entendeu o significado da palavra "epifania". O único prazer da nicotina é cessar a aflição causada pela ausência da nicotina. É mais ou menos como ter saudade de um paralelepípedo e precisar tocar no paralelepípedo pra passar a saudade. A diferença é que tocar num paralelepípedo não causa câncer de dedo e fumar causa câncer de tudo, sem falar nos dentes amarelos, no cheiro ruim, no pigarro, na falta de fôlego, olfato, paladar e no risco de cair do 14º andar metendo meio corpo pra fora da janela por causa das crianças.

Como disse, parei de fumar aos 22, mas em algum momento entre o elogio à mandioca e o "sê-lo-ia" resolvi dar um trago, um traguinho só –o que é que tem?– pra relaxar. Mais ou menos na mesma época, comecei a escrever sobre política. Foi uma derrapada muito parecida com a do cigarro: uma crônica, uma croniquinha só –o que é que tem?– pra desopilar. Desde então, venho tocando diariamente no paralelepípedo e semanalmente nos velociraptors. O fôlego só piora e o gosto na boca é terrível.

Sobre o segundo vício, podem argumentar que talvez seja importante, na atual conjuntura, apontar o teclado pra Brasília. Não, não é. Quanto mais escrevo sobre a crise, mais a crise se aprofunda. Se meu complexo de inferioridade sofresse de um delírio de grandeza eu acreditaria até que Deus lê meus textos e faz exatamente o contrário do que eu gostaria. Por alguma razão, no entanto, semana após semana eu sigo fumando e opinando. Até tento esboçar um texto sobre o outono, sobre correr no parque, sobre o Fernando Pessoa ou as incríveis microcervejarias brasileiras, mas é só bater o olho no jornal pra me atolar na culpa. O país se desmilinguindo e você não vai fazer nada, Antonio?

Pois hoje eu não vou, não. Sentei pra escrever a crônica e quando deu aquela vontade de fumar e de falar do Eduardo Cunha eu fui ouvir música. O shuffle escolheu "While My Guitar Gently Weeps", dos Beatles. Dei um Google. Sabe de quando é? De 1968. No ano em que mataram Martin Luther King, em que começou a guerra do Vietnã, em que o Brasil balançava de cabeça pra baixo, pendurado num pau de arara, lá no estúdio da Abbey Road George Harrison cantava: "Eu olho pra vocês todos/ Vejo o amor aí, adormecido/ Enquanto a minha guitarra chora de mansinho".

É, amigos, parei. Hoje é sábado, está sol lá fora –esse sol mansinho, de outono–, vou correr no parque, vou tomar um banho e depois vou ler Fernando Pessoa bebendo uma India Pale Ale da Júpiter. Brindarei à minha saúde, à de vocês e à do George Harrison. Adeus, velociraptors! Esfume-se, paralelepípedo!

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19 May 14:04

Nó em pingo d'água

by ricardo coimbra
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12 May 18:45

pooped

by Lunarbaboon

 

06 May 19:59

Traps

by boulet
06 May 01:00

These Realistic Celebrity Masks Are Both Creepy And Cool

by noreply@blogger.com (Damn Cool Pics)
Visual artist Landon Meier started making realistic masks as a hobby but not his company Hyperflesh is selling some of the best masks on the market. Their masks look incredibly realistic. The company pays great attention to detail and their masks are so realistic that at times they can be uncomfortable to look at.
























15 Apr 17:24

O governo Temer não existirá

A partir de segunda-feira (18), o Brasil não terá mais governo. Na democracia, o que diferencia um governo do mero exercício da força é o respeito a uma espécie de pacto tácito no qual setores antagônicos da população aceitam encaminhar seus antagonismos e dissensos para uma esfera política. Esta esfera política compromete todos, entre outras coisas, a aceitar o fato mínimo de que governos eleitos em eleições livres não serão derrubados por nada parecido a golpes de Estado.

É claro que há vários que dirão que o impeachment atual não é golpe, já que é saída constitucional. Nada mais previsível que golpe não ser chamado de golpe em um país no qual ditadura não é chamada de ditadura e violência não é chamada de violência. No entanto, um impeachment sem crime, até segunda ordem, não está na Constituição. Um impeachment no qual o "crime" imputado à presidenta é uma prática corrente de manobra fiscal feita por todos os governantes sem maiores consequências, sejam presidentes ou governadores, é golpe. Um impeachment cujo processo é comandado por um réu que toda a população entende ser um "delinquente" (como disse o procurador-geral da República) lutando para sobreviver à sua própria cassação é golpe. Um impeachment tramado por um vice-presidente que cometeu as mesmas práticas que levaram ao afastamento da presidenta não é apenas golpe, mas golpe tosco e primário.

Temer agora quer se apresentar como líder de um governo de "salvação nacional". Ele deveria começar por responder quem irá salvar o povo brasileiro dos seus "salvadores". Seu partido, uma verdadeira associação de oligarquias locais corruptas, é o maior responsável pela miséria política da Nova República, envolvendo-se até o pescoço nos piores casos de corrupção destes últimos anos, obrigando o país a paralisar todo avanço institucional que pudesse representar riscos aos seus interesses locais. Partido formado por "salvadores" do porte de Eduardo Cunha, Renan Calheiros, José Sarney, Sérgio Cabral e, principalmente, o próprio Temer. Pois nunca na história da República brasileira houve um vice-presidente que conspirasse de maneira tão aberta e cínica para derrubar o próprio presidente que o elegeu. Em qualquer país do mundo, um político que tivesse "vazado" o discurso no qual evidencia seu papel de chefe de conspiração seria execrado publicamente como uma figura acostumada à lógica das sombras. No Brasil de canais de televisão de longo histórico golpista, ele é elevado à condição de grande enxadrista do poder.

Mas não havia outra chance para tal associação de oligarcas conspiradores. Afinal, eles sabem muito bem que nunca chegariam ao poder pela via das eleições. Esta Folha publicou pesquisas no último domingo que demonstravam como, se a eleição fosse hoje, Lula, apesar de tudo o que ocorreu nos últimos meses, estaria à frente em vários cenários, Marina em outros. O eixo central da oposição golpista, a saber, o PSDB, não estaria sequer no segundo turno. Temer, que deveria também ser objeto de impeachment para 58% da população, oscilaria entre fantásticos 1% e 2%. Estes senhores, que serão encaminhados ao poder a partir de segunda-feira, têm medo de eleições pois perderam todas desde o início do século. Há de se perguntar, caso fiquem no poder, o que farão quando perceberem que poderão perder também as eleições de 2018.

Os que querem comandar o país a partir de segunda-feira aproveitam-se do fato de o país estar em uma divisão sem volta. Eles governarão jogando uma parte da população contra a outra para que todos esqueçamos que, na verdade, são eles a própria casta política corrompida contra a qual todos lutamos. Diante da crise de um governo Dilma moribundo, outras saídas, como eleições gerais, eram possíveis. Elas poderiam reconstituir um pacto mínimo de encaminhamento de antagonismos. Mas apelar ao poder instituinte não passa pela cabeça de quem sempre sonhou em alcançar o poder por usurpação.

Diante da nova realidade que se anuncia, só resta insistir que simplesmente não há mais pacto no interior da sociedade brasileira e que nada nos obriga à submissão a um governo ilegítimo. Nosso caminho é a insubmissão a esse falso governo, até que ele caia. Esse governo deve cair e todos os que realmente se indignam com a corrupção e o desmando devem lutar sem trégua, a partir de segunda-feira, para que o governo caia e para que o poder volte às mãos da população brasileira. Àqueles que estranham que um professor de universidade pública pregue a insubmissão, que fiquem com as palavras de Condorcet: "A verdadeira educação faz cidadãos indóceis e difíceis de governar". Chega de farsa.

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11 Apr 12:35

Carta pro Daniel

Talvez algum dia, nas próximas décadas, você esbarre nessa crônica, pela internet. Talvez uma tia comente, "lembro de um texto que o teu pai te escreveu quando você era bebê, era sobre uma praça, acho, cê já leu?" Talvez eu mesmo te mostre, na adolescência, vai saber?

Essa crônica é sobre uma praça, sim, sobre uma tarde que a gente passou na praça, no dia 5 de abril de 2016 (ontem). Não é nenhuma história extraordinária a que vou te contar. É uma história simples, feita de elementos simples como é feita a maior parte da vida da gente, esses 99% de que a gente desdenha, sempre esperando por acontecimentos extraordinários. Mas acontecimentos extraordinários são raros, como a própria palavra "extraordinários" já diz, aí a vida passa e a gente não aproveitou. Pois hoje você me fez aproveitar a vida, Daniel, por isso resolvi te escrever, agradecendo.

Eu tava lá em casa, triste de tudo. Triste com os rumos do país, mais triste ainda com outras questões paralelas inteiramente irrelevantes para a pátria, mas especialmente doloridas para este patrício, então você cruzou a sala sorrindo no colo da Jéssica e me deu uma vontade louca de passarmos um tempo juntos. Falei, "Queca, dá esse menino aqui, a gente vai na praça, eu e ele, vamos, Dani? Só os homens?". Eu te botei no carrinho, descemos pelo elevador e ganhamos a rua.

Você ia batendo as pernas, eufórico, apontando as coisas e soltando seus grunhidinhos, como que querendo me mostrar o que vê a caminho da praça, com a Jéssica, todas as manhãs. Eu ia dando nome às coisas. É, Dani, é a árvore. É, é o carro. É o caminhão. As pessoas que a gente cruzava abriam sorrisos pra você e depois pra mim. Nós sorríamos de volta, eu por orgulho, você por simpatia -você é assim desde que nasceu, de bem com a vida, tão diferente deste teu pai, sempre angustiado, aflito, procurando cabelo em ovo.

Chegamos na praça. Eu quis te pôr no balanço, mas você me apontou o túnel de concreto. Te coloquei numa ponta do túnel, fui andando em direção à outra, sumi de vista por uns segundos e você deu uma resmungada, achando que eu ia te abandonar ali, mas então me agachei e apareci do outro lado. Você achou aquilo hilário —"O cara tava aqui, sumiu e apareceu lá!"—, deu uma gargalhada e veio engatinhando até mim.

Fui te pegar no colo, mas você se esquivou e olhou pra outra ponta. Entendi a brincadeira, corri até a outra ponta, me agachei. Você me viu, gargalhou de novo —"Agora o cara tá do outro lado! Que loucura!"—, foi até lá, me mandou voltar e nós ficamos perdidos nisso pelo que me pareceram horas: eu aparecia numa ponta do túnel, você engatinhava até lá, eu corria pra outra, você vinha de novo.

Quando me dei conta -não vou dizer que meus problemas tivessem sumido, que a tristeza houvesse passado, mas...-, eu estava, como diria o poeta, comovido como o diabo.

De noite, deitado na cama, eu me consolaria: esse mundo é uma tragédia, o Brasil tá ferrado e eu também não me sinto muito legal, mas eu tenho um filho que põe sorrisos no rosto de quem passa e que com algumas gargalhadas reconforta o meu coração. Enquanto isso, no quarto ao lado, você estaria se perguntando: "O cara sumia de um lado, aparecia do outro, como será que ele faz? É truque? É mágica?". Depois dormiríamos, acreditando que tudo iria ficar bem.

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11 Apr 12:32

Na Costa do Descobrimento

by bikeamericaprojeto

Pra ouvir enquanto lê:

 

Era uma vez três porquinhos. Eles viviam na floresta, onde também morava um lobo mau. Um dia, o lobo mau resolveu comer os porquinhos. Foi até a casa do primeiro, o mais preguiçoso. Levava a vida numa boa. Adorava o lema do menor esforço. O lobo chegou perto e assoprou, assoprou, assoprou. A casinha, toda humilde, feita de palha, desmoronou, e o lobo comeu o porquinho.

No outro dia, o lobo foi até a casa do segundo porquinho. Esse gostava de trabalhar um pouco. Só um pouco. Era trabalhador liberal, só fazia meio período. Morava em uma cabana de madeira. Tinha umas frestas, uns pedacinhos podres, que ele ia arrumar logo. Infelizmente, o lobo chegou e começou a assoprar, assoprar, assoprar, até que a casa foi pro chão. E o porquinho pra pança.

Assim que sua digestão acabou alguns dias depois, o lobo foi até a casa do terceiro porquinho. O mais esforçado. Acordava cedo todo dia, era o workaholic clássico. Ia alimentar o corpo e alma, pensou o lobo antes de começar a assoprar, assoprar, assoprar. E assoprou, assoprou, assoprou, várias e várias vezes. A casa continuou de pé. Quase se arrastando, o lobo foi embora.

Era uma outra vez, em um reino distante, três caravelas. Elas saíram de Portugal, acompanhadas por 13 navios naus, sob o comando de Cabral. Eram aproximadamente 1.500 tripulantes, pessoas destemidas em busca de aventuras e novas terras. Viajaram por um mês e meio até chegar ao outro lado do Atlântico, onde encontraram uma terra ainda virgem e povoada por selvagens, depois de errar o caminho até as Índias. Foram os descobridores do Brasil, segundo contam.

A primeira história foi contada à Valentina, em uma noite descontraída, de comemoração. Depois de passar alguns dias na vila de Cumuruxatiba, começou a pedalada na chamada Costa do Descobrimento. No primeiro trecho, a estrada era a praia. Por lá, o tic-tac do relógio é a altura da maré. A areia branca ainda parece não ter sido tocada. Falésias com coqueirais se estendem à esquerda, até a vista alcançar o Monte Pascoal.

Além de ser o motivo da famosa frase “Terra à vista”, o pico fica em uma região onde vivem os índios Pataxós. Mesmo sabendo disso, na praia de Barra do Cahy, uma placa diz: “Aqui nasceu o Brasil. Primeiro desembarque em solo brasileiro dos descobridores em 22 de abril de 1500.”

Essa é a continuação da segunda história, que Valentina aprenderá na escola.

 

PERIGO: ÍNDIOS

Ao contrário do que diz a famigerada placa, quando chegaram, os portugueses encontraram uma terra habitada por índios, ainda sem a influência da civilização europeia.

Quinhentos e quinze anos depois, acordei mais tarde que o planejado em um quarto simples de hospedagem na Ponta do Corumbau. O dia anterior pedalando pela areia até a noite, quando a lua cheia emergiu e iluminou o caminho pela praia branca, forçou o descanso prolongado. Quando saímos, a maré já estava alta. A única saída era empurrar as bikes pela areia fofa. O sol a pino aumentava o sofrimento. Garrafas e bocas secas. Ombros, braços, pernas e costas esgotados. Uns cinco quilômetros e quase duas horas à frente, gente à vista!

Chegamos a uma cabana de madeira entre a beira da praia e uma estradinha de terra. Garrafas e bocas secas. Ombros, braços, pernas e costas esgotados. Água e sombra, por favor!

Só me dei conta de quem ocupava a simples construção sem portas quando já estava a poucos passos. Lembrei do aviso da dona do restaurante da noite anterior. “Cuidado aí pra frente. Passem rápido pela tribo, não são muito confiáveis.” Acostumado a ouvir esse tipo de conselho durante todo a viagem, resolvi não levar a sério.

Alauê, Cauatã Xohã, Pássaro, sua filha Cristiane e mais dois índios Pataxós estavam sentados conversando quando chegamos. Como deve ter sido em mil e quinhentos, nos deram coco, rapé e fumo. Oferecemos fumo e petiscos, enquanto fluía a conversa, recheada de curiosidade pelos dois lados.

Até que Pássaro, o filho do dono do lugar onde estávamos todos, nos convidou a ficar com eles até o dia seguinte. “Vai acontecer o ritual da lua cheia”, explicou. Precisava de mais o quê?

 

DOIS DIAS COM OS PATAXÓS DE BARRA VELHA

Com as bikes estacionadas ao lado da casa de Pássaro, fomos com eles até o local do ritual. Passamos o dia todo com ajudando a cortar bambus, montar as ocas e a amarrar as folhas de coqueiros.

Algumas voltas pela tribo revelaram o cotidiano dos índios. À parte o vasto conhecimento das plantas da região e a língua patxohã, pouco se vê da cultura e tradição que vivem no imaginário do povo da cidade.

A primeira impressão é de que vivem de mescla. Mescla com fumo. Mescla com água. Mescla com carvão pra espantar mosquito. Mescla pra limpar os dentes. Mescla como bala. A mescla é uma árvore, mais conhecida como breu branco. Quando ferida, sangra uma resina que tem propriedades anti-inflamatória, analgésica, cicatrizante e várias outras. Os índios usam a resina em seu estado natural. Já a indústria a transforma em verniz, velas, cosméticos e perfumes.

Por outro lado, a modernidade também faz parte da rotina por aqui. Celulares com música alta, mercados que aceitam cartão, casas de alvenaria mal acabadas e a velha cultura brasileira de usar o chão como lixeira.

No dia seguinte, despertamos cedo. Pássaro veio com suco de mangaba e a notícia que o ritual não aconteceria. Morrera um ancião da aldeia durante a noite. Em luto, não há festa por uma semana.

A tristeza pela perda de um ancião e a impossibilidade de fazer um ensaio fotográfico no ritual se esvaiu assim que recebemos outro convite. Buscar o café da manhã. Seguimos Pássaro, sua jokana e a filha Cristiane pelos recifes na maré baixa. Com um vergalhão de ferro, colhemos ouriços-do-mar de dentro dos buracos. Enchemos um balde de ouriço pra fazer na fogueira. Outros comemos ali mesmo. Com uma colher, é só quebrar o ouriço e raspar todo seu interior, geralmente com farinha de mandioca.

À noite, tivemos o nosso ritual da lua cheia exclusivo. Roda de fogueira com peixe, cantoria e muita história. Auêry, pataxós!

 

ELES FICARAM, EU FUI ÍNDIO

Quando chegaram em barra do Cahy, os portugueses subiram a costa até achar um lugar onde pudessem ancorar tranquilamente. Chamaram o lugar de Porto Seguro.

Com a parada de dois dias na tribo de Barra Velha, aceleramos a pedalada. Passamos rápido pela aconchegante vila de Caraíva, paramos em Trancoso, atravessamos Arraial D’Ajuda e encontramos abrigo na mesma cidade onde os navegadores atracaram.

Fomos recebidos por Naira e Alê, casal de sociólogos de Campinas que dá aulas por aqui. A estadia se estendeu e a semana passou voando entre cervejas, cigarros e contos sem compromisso com a realidade na casa de Valentina.

– Mas o porquinho não morreu, né tio?

– Morreu, sim. É a vida! Vacilou a cobra fuma, o barco afunda, o lobo come.

Claro que a história não passou de uma invenção, assim como a de que a esquadra de Cabral foi a primeira a aportar por aqui. Em 1498, o comandante Duarte Pacheco Pereira já havia ancorado onde hoje são os estados do Pará e Maranhão.

Depois de Porto Seguro, a viagem continuou com a companhia de Alê até Belmonte. No caminho, uma parada pra acampar na praia das tartarugas, em Santa Cruz Cabrália. Com um rio entre a areia e o mar, foi uma das melhores surpresas da viagem. Tanta animação resultou em acordar quase meio-dia e pedalar embaixo de um sol escaldante, principalmente pra quem já estava sem muita reserva de água no corpo.

A despedida da rota do Descobrimento foi sob chuva navegando pelas águas barrentas e margeadas por manguezais na foz do Rio Jequitinhonha. Nessa paisagem bucólica, passado, presente e futuro se fazem um só, como um livro que não tem começo, meio nem fim.

[Você ouviu: Raul Seixas – Gente]

29 Mar 19:58

Uma comparação lado a lado de “Star Wars: O Despertar da Força” com “Uma Nova Esperança”

by Casey Chan

O novo Star Wars e o primeiro Star Wars são basicamente o mesmo filme. Todos concordamos com isso, certo? Não é algo ruim: quando você tem uma fórmula que funciona, não precisa adicionar um Jar Jar Binks a ela. Eis uma comparação lado a lado feita por Zachary Antell que mostra as semelhanças entre cenas de Uma Nova Esperança e O Despertar da Força.

O post Uma comparação lado a lado de “Star Wars: O Despertar da Força” com “Uma Nova Esperança” apareceu primeiro em Gizmodo Brasil.








28 Mar 14:35

sister

by Lunarbaboon

21 Mar 18:26

Não é tão vermelho ou amarelo

Na última quinta-feira a minha amiga Marina me escreveu perguntando se eu teria tempo para um café. Se alguma coisa eu aprendi nessas quatro décadas sobre a Terra é que quando uma pessoa próxima te chama para um café é porque o assunto é sério. (Quando o assunto é leve, o convite é prum chope). No meio da tarde, a caminho da padaria, eu ia pensando: será que a Marina tá grávida? Tá doente? Tá se separando? Tá precisando de dinheiro?

Cheguei na hora marcada e ela já tava lá. Eu pedi uma Coca Zero, a Marina pediu um suco e mal o garçom virou as costas, ela soltou: "E aí, a gente não vai fazer nada?". "Sobre... Sobre isso tudo?". "É! O Brasil se desmilinguindo e a gente vai ficar de espectador? A gente tem que fazer alguma coisa!". "Que coisa?". "Não sei. Se eu soubesse, não tinha te chamado prum café".

Ficamos um tempo em silêncio, com esse olhar temeroso e estabanado com que temos assistido ao país se desmilinguir, ultimamente. "Eu realmente não consigo tomar nenhum lado", confessei. "Eu também não", disse a Marina. "Mas será que tem lado? Talvez achar que tem um único lado a ser defendido é o que justifica as barbaridades de todo mundo. É errado o Lula frequentar um sítio reformado de graça por empreiteiras. É errado a justiça fazer a condução coercitiva do Lula enquanto investiga o sítio. É errado colocar o Lula de ministro pra fugir da Justiça que o submete a coisas como a condução coercitiva. É errado vazar os grampos do Lula pra imprensa porque ele virou ministro. É um erro alimentando o outro. Enquanto isso o país sangra e as pessoas piram. Aonde é que vai parar?".

"Você pensa em fazer o que, Marina?". "Já disse que eu não sei. Mas eu tô assustada. Eu não quero que, tipo, daqui uns seis meses, um ano, aconteça uma desgraça e eu olhe pra trás e veja que eu tava de braços cruzados. Tá meio fevereiro de 1964". "Meio Venezuela". "Total Venezuela". "Cê acha que vai rolar alguma desgraça? Cê acha que vai ter golpe militar? Guerra civil?". "Sei lá! Mas o clima tá péssimo e só piora. Teve um pau no WhatsApp da família. Meu tio petista brigou comigo porque eu disse que a Dilma afundou o país e meu tio tucano brigou comigo porque eu disse que os anos Lula foram o melhor período da história do Brasil. Ele disse 'mas isso não justifica a corrupção do PT!'. Eu disse: claro que não! E o Fernando Henrique estabilizar a moeda também não justifica comprar a emenda da reeleição! E a emenda da reeleição não cancela tudo de bom que o Fernando Henrique fez. Ninguém é santo, ninguém é monstro. Nada é tão preto no branco, nada é tão vermelho ou amarelo."

O garçom trouxe as bebidas. Ficamos um tempo olhando pros copos. A Marina deu um sorriso desanimado. "Lembra quando parecia que a gente ia dar certo?". E, como que enviada para aumentar nosso desalento e me dar o final mais triste pra essa crônica, parou diante de nós uma menininha de uns seis anos, descalça, com a cara toda suja: "Compra bala, tio? Compra bala senão minha mãe não deixa eu ir pra casa. Compra?"

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21 Mar 14:08

O GÓUPE - 2

by Andrício de Souza

18 Mar 16:22

Wind of change

by itsthetie

windmill

bonus

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18 Mar 16:17

A voz do mercado

by ricardo coimbra
Clique na imagem para aumentar
18 Mar 16:17

O GÓUPE - 1

by Andrício de Souza

10 Mar 23:59

Entrevista: o CEO do Nubank conta o segredo do cartão de crédito sem anuidade

by Guilherme Tagiaroli

As pessoas costumam ficar animadas em comprar um smartphone, um computador ou um carro. Agora, clientes ficarem tão ansiosos por um cartão de crédito a ponto de ficarem em uma fila de espera – isso é algo mais inusitado.

A startup brasileira, fundada em 2014 e comandada pelo colombiano David Veléz, já tem 320 funcionários e atraiu mais de 2 milhões de pessoas que se inscreveram para ter o cartão de crédito roxo — a companhia não comenta quantas pessoas são clientes. Atualmente, diz a empresa, há mais de 400 mil pessoas na fila de espera. Tudo isso por não cobrar anuidade e por oferecer um controle completo via aplicativo (inclusive, com esclarecimento de dúvidas via chat).

Em conversa com o Gizmodo Brasil na nova sede da startup em São Paulo, o CEO e fundador do Nubank falou em bom português sobre o que o motivou a criar a companhia, a razão por que a empresa não cobra tarifas de seus clientes e o recente investimento recebido, que fez a empresa ter valor de mercado na casa dos US$ 500 milhões. Veja abaixo os principais trechos.

Gizmodo Brasil: Como você veio parar em São Paulo?

David Veléz: Comecei trabalhando para um fundo de private equity americano chamado General Atlantic, nos EUA, e eles queriam abrir um escritório no Brasil.

Acho que eu era o mais próximo de um brasileiro que eles conheciam. Aí me mudei para São Paulo em 2008, onde comecei a olhar de perto muitas indústrias e oportunidades para investir.

David Velez

Formado em Stanford (EUA), o colombiano David Veléz fundou o Nubank em 2014. Crédito: divulgação

Fiquei trabalhando com eles por três anos e depois voltei para os Estados Unidos para fazer MBA. Neste período, comecei a trabalhar com a Sequoia Capital [fundo que investiu em empresas como YouTube, WhatsApp, Google, entre outras] e voltei ao Brasil. Cheguei a um ponto que fiquei cansado de investir, pois é muito fácil chegar no empreendedor e ficar dizendo “cresça mais rápido”, “contrate pessoas melhores”, “faça um produto melhor”. Difícil é estar do outro lado.

Eu saí da Sequoia e comecei a pensar em uma série de ideias. E aí eu cheguei a esse conceito do Nubank.

Gizmodo Brasil: As startups são criadas para solucionar algum problema. De onde veio a ideia do Nubank?

Veléz: A ideia começou quando me mudei para o Brasil e queria abrir uma conta no banco. Fui a uma agência e tive uma experiência horrível.

Para começar, tive que deixar meu telefone e minha mala em um armário. Depois, passei pela porta giratória e fiquei travado lá dentro. Após passar pela porta, demorei meia hora para falar com o gerente que, por sua vez, pediu diversas vias de documentos. Creio que este foi o ponto inicial: vivenciar a burocracia de abrir uma conta em um banco.

Após me tornar um cliente, passei a notar como tudo era caro. Lembro-me que meu primeiro cartão de crédito tinha juros rotativos de 450%. Nunca tinha visto isso em nenhum outro lugar do mundo. Pagava os maiores juros do mundo, tarifas para todo o lado e a experiência dependia muito de uma agência bancária, tudo cheio de burocracia e com preços altos.

Pensei nesta oportunidade de negócio e se isso era compatível com o mercado de tecnologia local. O Brasil tem uma grande adoção de smartphone e sempre foi destaque em quase todas as plataformas sociais (como Facebook, WhatsApp e Twitter), então por que não criar um banco usando tecnologia?

Queríamos solucionar o problema do banco, e fazer isso no Brasil é um projeto bem grande. Pensamos, então, em um produto inicial para começar uma marca.

Gizmodo Brasil: Então, o cartão de crédito é apenas o primeiro passo do Nubank para algo maior?

Veléz: Acho que sim. Nós achamos que somos o futuro do serviço financeiro no Brasil, não do cartão de crédito.

Em algum momento, quando fizer sentido ter outros produtos financeiros, o faremos. Agora, estamos bem focados em cartão de crédito, pois é um produto bacana, e a maioria dos consumidores têm muitos problemas e pagam tarifas altas.

nubank

Gizmodo Brasil: Com o produto criado, como vocês fizeram crescer a adesão a um serviço financeiro que não é conhecido?

Veléz: Nossa ideia foi transformar um produto chato em um produto de desejo que solucionasse um problema bem específico. Também pensamos que este cartão deveria ser bom, pois isso seria primordial para a divulgação viral.

Então, começamos a priorizar a experiência do consumidor: o processo de adesão é todo feito via smartphone para desburocratizar o processo, criamos um bom serviço de atendimento ao cliente e não cobramos tarifas. O foco era fazer um produto tão bom que fosse vendido no boca a boca.

Gizmodo Brasil: Como foi o início? Quem foram os primeiros clientes do Nubank?

Veléz: No começo, havia muitos clientes perguntando quem nós éramos, se era seguro e confiável. É um processo inicial de adoção. Nossos primeiros clientes foram early adopters, que tomam um “risco” e depois começam a falar para os outros da experiência, e isso fez com que a curva de adoção crescesse.

Os primeiros clientes fomos nós, os 12 primeiros funcionários. Depois anunciamos nosso primeiro investimento, quando aparecemos na mídia pela primeira vez. Com isso, recebemos 1.500 pedidos de pessoas para ter o cartão. E aí começou a se espalhar.

O mercado de cartão de crédito tem muito sofrimento e frustração. Se você consegue mostrar que resolve alguns desses problemas, isso já causa uma grande impressão nesses clientes.

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O cliente consegue pedir aumento do limite do cartão diretamente pelo app do Nubank. Crédito: Divulgação

Gizmodo Brasil: Como vocês fazem para se manter sem cobrar anuidades dos clientes?

Veléz: Todos os cartões do Brasil ganham dinheiro com uma porcentagem de compra e tarifas. Nossa meta foi criar uma infraestrutura tão eficiente que não íamos cobrar tarifas. Nossa ideia é viabilizar o negócio apenas com a porcentagem que recebemos.

Imagine o quanto que os bancos investem em agências físicas. Só a avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, tem 95 agências e muitas têm unidades quase vizinhas. Se a gente não tem agência, nós não temos que cobrar tarifas.

No final das contas, é um modelo que lembra um pouco a competição entre a rede Blockbuster e a Netflix. A Netflix não tem lojas, então conseguia passar ativos para o cliente final.

O ponto é: procuramos ser muito eficientes nas operações para repassar isso ao cliente. Nisso, cada detalhe conta. Os bancos convencionais precisam mandar extratos de papel pelos Correios, investem em embalagem etc. Isso sem contar a proposta para abertura de conta com vários papéis, que depois são submetidos a uma central de operações para aprovar ou não.

Nós não temos isso. São algoritmos que pegam todas as informações submetidas ao nosso aplicativo e que avaliam os dados para aprovar ou não. Também não investimos em marketing, pois todo o processo é via boca a boca.

No fim, nossos custos acabam sendo bem baixos e tudo isso faz com que a gente não precise cobrar tarifas.

Gizmodo Brasil: As pessoas reclamam que o Nubank não tem um programa de recompensa próprio. Vocês consideram algo nesse sentido?

Vélez: Nós ainda não temos nada nesse sentido, mas também não temos nada contra recompensa. Entendemos isso como um segmento de mercado diferente. No nosso, já temos mais de 2 milhões de pessoas que já pediram o cartão. E tem um outro que busca recompensas, milhagens, pontuações etc.

Eventualmente, teremos um produto para este tipo de mercado. O que não queremos é fazer algo igual a todo mundo. Queremos ainda entender e criar uma proposta de valor tão diferenciada como o cartão que temos.

Se lançarmos algo nesse setor, deverá ter nossos valores: simplicidade, transparência, eficiência. Hoje em dia, os programas têm uma série de obstáculos, como pontos que expiram ou dias específicos para poder usar a pontuação. Tudo isso vai contra nossa marca e não queremos isso.

 

cartaonubank

Gizmodo Brasil: Os bancos contratam call centers para atender aos clientes, mas vocês concentram tudo aqui no escritório. Por que isso?

Veléz: A maior parte dos bancos vê o serviço ao cliente como um custo. Então, eles vão sempre tentar minimizar como puderem, e uma das formas mais comuns é a terceirização.

Fizemos o oposto. O custo com atendimento do cliente é uma venda. Por isso, prestar um bom suporte é uma parte vital, pois ele ajuda na propaganda boca a boca. A gente vê que as pessoas gostam bastante de nosso atendimento.

Como vemos o cliente conceitualmente de forma diferente, a gente contrata pessoas muito boas do mercado. Geralmente, gente jovem, com faculdade boa e bom treinamento. Elas estão na maior parte do dia falando com os clientes, mas também participam na melhoria do produto.

Há um exercício para entender o que levou o cliente a entrar em contato e se há alguma forma de incorporarmos algo no aplicativo para fazer ele não precisar entrar novamente em contato. Tudo oposto ao que o mercado brasileiro faz.

Gizmodo Brasil: Como vocês escolhem quem terá um cartão de crédito Nubank?

Veléz: É um modelo com um monte de variáveis. Desde consultar base de dados do mercado (Serasa, Boa Vista, SPC e afins), informações de crédito da pessoa, um monte de variáveis sobre histórico de crédito das pessoas.

A gente também repara em quem convida e se a pessoa foi convidada por alguém com bom crédito — geralmente, as pessoas têm amigos com hábitos parecidos, então, bons pagadores costumam atrair outros bons pagadores.

Gizmodo Brasil: Você comentou que no futuro a ideia é não ter mais cartão. Queria que você falasse dessas parcerias com sistemas de pagamento móvel, como Apple Pay e Samsung Pay.

Veléz: A gente está olhando todas essas tecnologias. Todas estão alinhadas com nossa ideia de usar a tecnologia para melhorar a experiência do consumidor. Faz sentido que faça parte de nosso road plan.

O cartão de crédito é como o Netflix, quando ainda era um serviço que entregava DVDs na casa das pessoas. Talvez, no futuro, seja tudo pagamento digital, sem necessidade do cartão físico.

Gizmodo Brasil: Recentemente, vocês passaram por uma rodada de investimento. Tem algum objetivo específico que você possa comentar?

Veléz: Nada diferente. A ideia é aumentar a nossa base, manter nossa estrutura neste prédio, contratar mais pessoas e receber mais clientes.

Gizmodo Brasil: Existem planos de levar o Nubank para outros países? Por que você decidiu começar o serviço no Brasil?

Veléz: O Brasil tem 55% do PIB e da população da América Latina, então faz sentido começar pelo maior país. Há um mercado grande e com alta penetração de smartphone comparado com outros países da região.

Porém, quem sabe? Os países emergentes têm uma grande quantidade de millennials e eles são exatamente nosso público-alvo. Eles querem ter uma experiência financeira diferente da dos seus pais, que iam a uma agência e tomavam café com o gerente.

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10 Mar 17:24

Office

by itsthetie
ivan

Passamos por este tipo de trocadinho aqui no TOR né?

excel done

bonus

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07 Mar 17:21

O material mais escuro do mundo absorve ainda mais luz que o recordista anterior

by Felipe Ventura

Em 2014, a Surrey NanoSystems anunciou a criação do Vantablack, conjunto de nanotubos de carbono que absorvem 99,965% da luz visível e 99,85% da radiação infravermelha – as coisas basicamente desaparecem quando revestidas com este material.

Agora, a empresa criou uma nova versão do Vantablack, e “o revestimento é tão escuro que nossos espectrômetros não conseguem medir” quanta luz ele absorve.

Você pode ver abaixo o material engolindo a luz de um laser pointer de alta potência; “ele praticamente não reflete nada de volta ao visualizador”, diz a empresa:

vantablack mais escuro

Enquanto isso, o vídeo abaixo mostra três tons de preto: tinta preta fosca; a melhor cor preta disponível para aplicações espaciais; e o Vantablack. Eles estão sendo iluminados com um conjunto de luzes LED brancas superbrilhantes.

Como explicamos por aqui, os fótons entram nos espaços entre os nanotubos, saltam dentro da estrutura e não conseguem sair, sendo lentamente absorvidos pelo material. O Vantablack absorve tanta luz que pode enganar o olho a achar que uma folha amassada de papel alumínio é uma superfície lisa:

Há muitas aplicações em potencial para o Vantablack. Ele pode ser usado em telescópios e câmeras espaciais, evitando que a luz indesejada chegue a um sensor; ou para revestir veículos militares no campo de guerra.

Mas, por enquanto, ele vem aparecendo em situações curiosas. Cientistas usaram o Vantablack para revestir mictórios e evitar que a urina respingue nas pessoas; e a fabricante de desodorantes Lynx usou uma embalagem coberta pelo material para seu evento Black Space.

Além disso, a Surrey NanoSystems licenciou o Vantablack para uso artístico exclusivamente ao escultor Anish Kapoor. “Imagine um espaço tão escuro que, ao caminhar, você perde todo o senso de onde está, o que você é, e, especialmente, a noção do tempo. Alguma coisa acontece com seu eu emocional, e a desorientação faz você se apoiar em outros recursos”, disse Kapoor à BBC em 2014.

[Engadget e ScienceAlert]

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04 Mar 14:25

A incrível máquina de música do Martin Molin

by Izzy Nobre

maquina

Eu brincava com bolas de gude quando era criança. Não manjava bem da parada, porque sempre perdia todas as bolinhas pros malandros do bairro e era obrigado a caminhar, derrotado, à vendinha da esquina pra comprar mais. Eu sempre achava que ninguém dominava mais o esporte do que aqueles moleques lá do bairro.

Obviamente eu estava erradíssimo porque descobri um sujeito que elevou o “brincar com bolinhas de gude” ao patamar “nossa mano, nem no The Incredible Machines seguindo tutorial em vídeo eu conseguiria montar essa porra”.

O sujeito montou uma imensa máquina de música que funciona mais ou menos com a mecânica daquelas caixinhas de música que tu dá corda e tal, mas usando bolinhas de gude. E a melodia é mó bacaninha, dat bassline doe.

A engenharia por trás da máquina é algo estonteante; eu não consigo imaginar como foi projetar/montar esse negócio. Eu volto pra casa com uma mísera cadeira da Ikea e isso já é o suficiente pra destruir minha sanidade e quase arruinar meu casamento.

E eu já quero é um cover metal dessa musiquinha aí.

02 Mar 16:43

Fernandinha

by ricardo coimbra
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29 Feb 18:29

Pipelines

In the future, every single pipeline will lead to the bowl of a giant blender, and we'll all just show up with a bucket each day to take our share of the resulting smoothie.
22 Feb 18:41

Um dia vai ser muito estranho

Tudo muda o tempo todo. Antigamente era aceitável ter escravos. Hoje em dia o escravagismo é bastante malvisto socialmente –a não ser, é claro, que o dono dos escravos seja uma empresa, e os escravos sejam asiáticos.
Há menos de cem anos, visitantes pagavam para ver aborígenes em zoológicos humanos. Tudo já foi normal até que algum dia ficou bizarro. O que nos leva a perguntar: o que vai ser bizarro daqui a cem anos?

Um dia vai ser muito estranho pessoas se locomoverem num veículo movido a combustíveis fósseis. Um dia vai ser muito estranho o governo dar isenção de impostos para as pessoas comprarem mais veículos movidos a combustíveis fósseis apesar das ruas lotadas e dos oceanos subindo.

Um dia vai ser muito estranho mamilos masculinos serem banais e mamilos femininos serem escandalosos. Um dia vai ser muito estranho o Congresso brasileiro ter só 9% de mulheres. Um dia vai ser muito estranho ser proibido à mulher interromper sua gestação como se o seu corpo pertencesse ao Estado.

Um dia vai ser muito estranho igrejas não pagarem imposto. Um dia vai ser muito estranho um pastor se eleger deputado e citar a Bíblia no Congresso. Um dia vai ser muito estranho ver a figura de Cristo acima do juiz num tribunal laico.

Um dia vai ser muito estranho negros ganharem pouco mais da metade do que ganham brancos –sim, esse dado é de 2016.

Um dia vai ser muito estranho pessoas que tratam animais como se fossem filhos comerem animais que passaram a vida enclausurados em campos de concentração porque afinal de contas alguns animais são dignos de afeto e outros não.

Um dia vai ser muito estranho uma pessoa ir presa porque planta uma erva que nunca na história matou ninguém –enquanto o supermercado vende drogas comprovadamente letais.

Um dia vai ser muito estranho o salário ser mais taxado que a herança e a renda ser menos taxada que o trabalho. Um dia vai ser muito estranho os bancos falirem e os banqueiros continuarem bilionários.

Um dia vai ser muito estranho você estudar dez anos para ser médico da rede pública e ganhar menos do que ganha uma filha de militar. Um dia vai ser muito estranho filha de militar ser profissão.

Um dia vai ser muito estranho um jornal restringir o conteúdo para assinantes.

Um dia vai ser estranho membros do Judiciário e do Legislativo ganharem supersalários e defenderem o ajuste fiscal.

Um dia.

Let's block ads! (Why?)

19 Feb 10:58

There goes my hero (2)

by ricardo coimbra
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Outra tira da série aqui
16 Feb 18:44

hobie-j: rudegyalchina: courtneycocoa: xpressyourself: naijag...





















hobie-j:

rudegyalchina:

courtneycocoa:

xpressyourself:

naijagirl:

rudegyalchina:

“Why don’t you guys just get the fuck over it ” - Becky voice .


“Why are you resisting ? Be peaceful .”

Don’t ever let this post die . *Good history Twitter pg to follow *

When folks ask why I hate the British….

What?! Omg I didn’t know

Just remember that this man is praised as a hero in England and in most history textbooks. This is what we mean when we say that we are only being taught one side of history

@katblaque more white history month stuff

No one ever talks about the other things Churchill did outside of the war

15 Feb 11:28

Habeas corpus

Eu não fumo maconha há muitos anos, porque quando eu fumo maconha eu não vou parar numa música do Bob Marley, eu vou parar num livro do Franz Kafka. Na presença do THC, em vez de assoviar "Easy skankin'", meu superego me empurra pra dentro d'"O Processo": logo nos primeiros tragos, das masmorras do meu subconsciente surge um japonês da PF e me arrasta para uma gélida Curitiba existencial, sob acusações as mais variadas: falsidade ideológica, preguiça, estelionato, timidez, fraude, incompetência e outras contravenções previstas em nossos códigos penal, civil e moral.

Lembro das noites sem fim da adolescência: enquanto os outros gargalhavam em volta, inexplicavelmente à vontade dentro de suas epidermes, eu afundava no sofá sentindo ter acordado de sonhos intranquilos transformado num monstruoso inseto: "Eu sou ridículo. Minha cara é ridícula. Minha voz é ridícula. Meu jeito de dançar é dez vezes ridículo. Eu sou virgem. Eu não toco violão. Eu não jogo futebol. Eu não sei o que fazer com as mãos quando eu ando nem o que falar pra Ju M. quando paro ao lado dela, na fila da cantina. A única coisa que eu sei fazer é piada, mas as piadas são como tapumes pra esconder essa obra mal acabada que está do meu nariz para dentro, essa obra que talvez nuca termine e talvez seja a tal construção que já é ruína da música do Caetano Veloso. Eu vou virar um adulto de tijolos à vista, um adulto com as vigas à mostra, um adulto de laje batida e esquadrias de alumínio". Depois eu ia comer melancia com ketchup, o efeito passava e eu esquecia da tormenta —até o próximo baseado.

A adolescência felizmente acabou —glória ao Senhor!—, e entre as duas ou três coisas que aprendi com o tempo é que, se fumar maconha é um ingresso para a Colônia Penal, a coisa mais sensata a fazer é não comprar o ingresso, ou seja, não fumar maconha. De lá pra cá, esta casinha a que chamo de mim mesmo até que foi melhor acabada. Ao longo dos anos passei massa corrida, pintei as paredes, botei sancas e rodapés: não sou mais virgem, casei, tenho uma profissão, dois filhos e um punhado de amigos para quem ligar, quando o calo aperta. A vida, pensava eu, ia bem.

Hoje, porém, aconteceu um negócio estranho: despertei de sonhos intranquilos às quatro e meia da manhã sentindo que havia me transformado num monstruoso inseto —e não tinha fumado maconha. Abri os olhos, olhei pro teto e vi a sombra do japonês da PF. "Perdeu, Antonio!", dizia ele. "A fraude foi descoberta. Aquela foto sorridente instagrada do bloco, com a sua mulher: vocês estavam às turras, minutos antes —por culpa sua. Aquele vídeo fofo com os filhinhos, colocado no Facebook: você atrasa no trabalho, de propósito, para não ter que dar banho. Aquele texto todo serelepe em que abraça uma árvore, no final: você não tem abraçado nem os seus amigos. Você só trabalha e resmunga —mais resmunga do que trabalha. Você vende felicidade e não é feliz. Isso é apropriação indébita. Enriquecimento ilícito. Você é um estelionatário, uma empresa de fachada, um laranja de si mesmo."

Ofereci as mãos para as algemas. O japonês da PF fez um não com a cabeça e me escoltou até o escritório, onde, coagido por mais quatro agentes do meu superego, bombadinhos e armados com fuzis, escrevo minha confissão.

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08 Feb 15:30

De SP pro RJ pra SP pro RJ pra...*

Quando li a enésima notícia de taxistas espancando motoristas do Uber, em SP, chamei imediatamente um Uber e falei: "Toca pra Ipanema!". Em Ipanema, o recepcionista do hotel disse que não conseguia encontrar minha reserva on-line, mas que se eu o ajudasse a me ajudar ele poderia estar me ajudando a ajudá-lo, o que compreendi que significava lhe dar duzentão ali mesmo, de modo que entrei num táxi e falei: "Toca pro Santos Dumont!".

O taxista fez Ipanema x Santos Dumont passando por Belford Roxo, Niterói, Quixeramobim, Lima e Bogotá. Chegando ao aeroporto, 11 meses depois, vendi pela internet meu carro, minha alma e um poncho de alpaca comprado no Peru, paguei a corrida de R$ 189 mil e embarquei para São Paulo.

Chovia em SP, Congonhas estava fechado, pousamos em Cumbica, seis e meia da tarde, aluguei um carro e depois de nove semanas e meia parado na marginal Tietê entre um ônibus da Mancha Verde e uma SUV com adesivo do Russomanno, tive um ataque de pânico, larguei o carro no acostamento, cruzei o Tietê escalando uma adutora da Sabesp e peguei uma carona pro Rio, do outro lado.

Sentei no Bar Lagoa, chamei o garçom, ele não veio. Chamei de novo. Ele não veio. Depois de sete horas chamando, ele veio: disse que eu não podia ficar ali sem consumir e me botou pra fora. A sede era tanta que fui andando até um bar na Oscar Freire, em São Paulo. Os vallets ficaram desorientados ao ver um cliente chegando a pé, o segurança consultou o gerente para saber se era permitida a entrada de pedestres, mas como sou branco e tenho cabelo liso, acabaram me sentando. Sete garçons me atenderam. Vestiam camisa de seda, gravata, sapato italiano, mas não eram registrados, não recebiam horas-extras nem os 10%, que ficavam pro dono. Eu ia pagar a conta e fugir pro Rio numa bicicleta do Itaú, mas um chope mais couvert deu R$ 489 e, para não acabar no Serasa, precisei arrumar um emprego.

Consegui um trabalho na Berrini. Minha patroa anoréxica não via o filho há dois anos por causa de um job top que estava managing alinhada com uns coworkers numa joint-venture de um fund com uma kickstarter de apps para encubadoras, o estagiário de 19 anos já tinha rugas e cabelo branco, almoçavam shake de proteína e injetavam Red Bull na jugular. Fiz uma asa-delta com clipes e post-its e saltei do alto do prédio.

Ia pousar em Copacabana, mas fiquei apavorado com 200 paparazzi fotografando a vice-miss bumbum 2011 de bruços na areia ("Bunda na nuca!", seria a legenda do "Extra"), fiz meia volta pra SP, ia pousar na Paulista, mas fiquei apavorado com 200 PMs espancando praticantes de tai chi chuan ("adeptos da técnica ninja black bloc", seriam as aspas do capitão), peguei um vento leste, subi acima das nuvens e tô pensando se tento um pouso em BH ou se sigo o rumo do padre dos balões –um homem que, à época, todos julgamos lunático, mas que agora me parece apenas um visionário à frente do seu tempo.

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