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15 Sep 23:53

Vaccine Research

Honestly feel a little sheepish about the amount of time and effort I spent confirming "yes, the vaccine helps protect people from getting sick and dying" but I guess everyone needs a hobby.
07 Sep 19:22

Recreate the Conditions

We've almost finished constructing the piña collider.
07 Sep 19:22

Modern Tools

I tried to train an AI to repair my Python environment but it kept giving up and deleting itself.
10 Aug 23:09

Abandonment Function

Remember to only adopt domesticated drones that specifically request it. It's illegal to collect wild ones under the Migratory Drone Treaty Act.
03 Aug 06:14

Mine Captcha

This data is actually going into improving our self-driving car project, so hurry up--it's almost at the minefield.
30 Jul 05:01

Universal Seat Belt

The plug fits really snugly, so it should be safe in a crash.
08 Jul 05:07

Colorindo texto

by Andre Noel
tirinha
Inclua essa tirinha em seu site
COLE ESSE CÓDIGO EM SEU SITE x
Fonte: Vida de Programador
Transcrição ↓

real historia;
string sender = "Alex K";

(Em tempos de eterno home office...)
Esposa: Oi, amor! O que você está fazendo??
Programador: Trabalhando...
Esposa: Ué, mas alguém te paga só pra ficar colorindo texto?
Programador: PLOFT!
--
Camiseta: O amor tudo suporta

O artigo "Colorindo texto" foi originalmente publicado no site Vida de Programador, de Andre Noel.

08 Jul 05:04

Linked List Interview Problem

I'd traverse it myself, but it's singly linked, so I'm worried that I won't be able to find my way back to 2021.
24 Jun 21:03

It haunts us

by CommitStrip
15 Jun 06:16

SpaceX pousa com sucesso a Starship (sem explodir)

by Carlos Cardoso

A SpaceX pousar a Starship com sucesso é jornalisticamente um paradoxo; ao mesmo tempo que era inevitável, não deixa de ser notícia. Talvez o fato mais memorável esteja sendo ignorado pela imensa maioria das reportagens noticiando o feito: A velocidade com que a SpaceX saiu de uma caixa d’água para uma nave capaz de pousar em segurança.

Starship SN9 (Crédito: SpaceX)

Tecnicamente a Starship está em desenvolvimento desde 2012, mas era apenas um projeto terciário na SpaceX. Somente em 2017 eles conseguiram acumular especificações o suficiente para apresentar um projeto definido ao mundo. Em 2018 foi dada prioridade, com aumento de verba e equipe, projetando o que seria o Big Falcon Rocket.

O BFR usaria os motores Raptor, bem maiores mais poderosos e mais complicados que os Merlins do Falcon 9. Só o desenvolvimento do Raptor consumiu boa parte do tempo e dos recursos da SpaceX.

A SpaceX planejava construir o BFR e seus tanques de combustível usando fibra de carbono, mas o material se mostrou um inferno pra ser manipulado, e uma guinada completa foi feita: O BFR agora seria feito de metal, e nada exótico. O bem e velho aço inox, em uma liga própria.

Em Abril de 2019 a SpaceX apresentou o que talvez seja o foguete mais feio do Universo, o Starhopper. Ele é uma base de testes para os materiais de construção e os motores Raptor. Depois de alguns saltos, em Agosto do mesmo ano o Starhopper fez um vôo de 150 metros de altitude, provando que o Raptor era confiável e controlável.

Essa velocidade tem a ver com a metodologia de desenvolvimento da SpaceX. É algo impensável para a NASA, China, basicamente para todo mundo. Eles resolveram que todas as empresas e governos do planeta estão desenvolvendo foguetes errado, e o pior é que pelo visto estão certos.

Quer dizer, se você tem tempo e dinheiro infinitos, pode se dar ao luxo de aplicar todos os protocolos de testes, projeto, especificar cada parafuso e cada interação. Toda falha é uma pisada no freio enquanto o projeto inteiro é reavaliado. É assim que a Blue Origin está projetando o New Glenn e o New Sheppard, é assim que a ULA projetou todos os seus foguetes, e está projetando o Vulcan.

Já A SpaceX trabalha com a filosofia de resolução de problemas. É relativamente seguro dizer que Elon Musk nem ninguém na empresa tem a menor idéia de como serão as acomodações da Starship tripulada. O mecanismo de reabastecimento em órbita? Talvez esteja desenhado em algum guardanapo preso na parede de um engenheiro.

Ao invés de resolver todos os problemas, projetar e especificar todos os circuitos e sistemas, eles vão resolvendo um de cada vez, e bem rápido.

Foi assim com o Falcon 9. Eles queriam desde o começo reutilizar o foguete, mas primeiro construíram um capaz de colocar cargas em órbita. Feita essa parte, passaram a testar o resto. Primeiro com manobras orbitais, depois com pousos na água. A gente acompanhou, quando eles se esborrachavam no mar ou nas balsas.

Era divertido ver a mídia acusando a SpaceX de correr atrás de sonhos impossíveis, que nenhum foguete poderia pousar, era desperdício de dinheiro tentar isso.

Espiando debaixo da saia da Starship - Três Raptors (Crédito: SpaceX)

Mais divertido ainda foi ver os problemas acontecendo -falta de combustível, falta de nitrogênio nos jatos de manobra, pernas com amortecimento insuficiente- e sendo resolvidos não um ano e 38 reuniões depois, mas no próximo lançamento.

Hoje, depois de 75 pousos bem-sucedidos, chega a ser considerado um fracasso quando um Falcon 9 não pousa, o que aliás é bem raro.

Com a Starship o desenvolvimento está sendo no mesmo modelo. Depois da caixa d’água abominável dos infernos que era o Starhopper, a SpaceX construiu outros protótipos para testar técnicas de soldagem e montagem, e para aprender na marra como fazer tanques capazes de resistir às pressões exigidas para um vôo tripulado.

O Starhopper é mais feio que encoxar a mãe no tanque. (Crédito: Nomadd / Wikimedia Commons)

Depois de várias explosões previstas bem legais, foi a vez da Starship SN5, um silo de cereais de metal com um contrapeso no alto, a desgraça destruiu o chão da plataforma de lançamento, mas subiu os 150 metros planejados, em 4 de Agosto de 2020.

Em 9 de Dezembro de 2020, foi a vez da SN8 fazer um teste de vôo de grande altitude. Desta vez com direito a bico e tudo, a Starship contava com flaps de manobra e um perfil de vôo ousado. Ela iria subir a 12,5Km, pairar, começar a descer, deitar na horizontal para reduzir a velocidade terminal e quando estivesse chegando, giraria e executaria um pouso vertical. Quase deu certo.

Lembre-se, esse bicho tem 50 metros de altura, é um prédio de 15 andares.

Quanto tempo levou pra SpaceX estudar a falha no pouso, descobrir que foi falta de pressão no tanque do nariz, projetar as correções e implementar?

Bem, em 2 de Fevereiro de 2021 a Starship SN9 estava decolando de Boca Chica. Na hora de religar os motores, um deles não funcionou direito e um único Raptor foi incapaz de desacelerar. O resultado foi espetacular.

Nessa altura a SpaceX já estava cumprindo sua meta: Produzir protótipos mais rápido do que conseguia explodi-los. Em 2 de Março foi a vez da SN10, um incrível alarme falso. Um pouco de Hélio, usado para pressurizar os tanques de combustível e oxidante foi ingerido pela tubulação, e compreensivelmente um dos Raptors engasgou, Hélio não é um dos gases mais inflamáveis, como todo mundo -vocês não, projetistas do Hindemburg- sabe.

Sem potência, o SN10 fez um pouso bem forte, rompeu tubulações e depois de oito minutos, cabum. Por outro lado foi a única Starship a decolar duas vezes 😉

A Starship SN11 voou 30 de Março, dois lançamentos em um mês. A decolagem foi perfeita, a manobra de giro idem, mas quando os motores foram religados um vazamento de metano provocou a perda da espaçonave, em uma gigantesca explosão.

No mesmo dia funcionários da SpaceX recolhiam os pedaços da nave, espalhados pela região, enquanto outros analisavam a telemetria e identificavam problemas. O próximo protótipo, a SN15 já estava em construção, incorporando centenas de modificações, derivadas de tudo que aprenderam com os lançamentos anteriores.

Pouco mais de um mês depois, em 5 de Maio de 2021, era a vez da SN15 ser lançada.

O clima não estava ajudando, a neblina deixava menos de 100m de visibilidade vertical, mas a Starship não precisa ver o local de pouso, ela tem toneladas de radares, lidares, gps e até Starlink.

O que não funcionou foi o streaming, por algum motivo o sinal estava horrível, ficamos vários minutos sem atualização, de vez em quando entrava um ou outro frame, então foi um belo susto ver a SN15 saindo das nuvens e iniciando uma manobra bem agressiva para se verticalizar e alinhar com o ponto de pouso.

Deu certo, com o detalhe menor que um vazamento de metano ou metano remanescente nas tubulações alimentaram labaredas por alguns minutos, mas mesmo assim a Starship não explodiu, o que é uma excelente forma de terminar um vôo.

Os Deuses da Exploração Espacial estavam realmente sorrindo pra SpaceX. Eles tiveram sorte, sorte mesmo. Entre outros momentos, a nave pousou bem na borda do pavimento de concreto. Talvez não acontecesse nada, mas pousar no chão de terra dificilmente seria agradável.

O pouso bem-sucedido veio na hora ideal, depois que a NASA mandou a SpaceX parar de trabalhar no programa de pouso lunar, contrato de US$2.89 bilhões que a empresa de Elon Musk ganhou, deixando para trás os concorrentes Dynetics e Blue Origin.

Os dois grupos, claro, entraram com um monte de recursos e acusações, fazendo com que a NASA parasse o projeto para ter que se defender. As acusações, dos grupos que nunca colocaram uma grama em órbita nem construíram nada que se assemelhe a um foguete de verdade acusam a SpaceX de... explodir protótipos.

A futura Starship Lunar (Crédito: NASA / SpaceX)

Pois bem, agora para desgosto geral das inimigas, a SpaceX pousou uma Starship, na 5ª tentativa. Fora a SN15 a SpaceX está construindo da SN16 à SN20.

A expectativa agora é um vôo de testes do Super Heavy, o primeiro estágio da Starship, com 28 motores Raptor. O primeiro protótipo, BN1 foi feito para certificar as técnicas de construção e sondagem. Em 30 de Março de 2021 ele foi dado como encerrado.

O BN2 está sendo construído e provavelmente irá voar em breve. Musk diz que com sorte ele terá capacidade orbital, mas o BN3, que também já está sendo construído, será usado para o primeiro vôo orbital de uma Starship, em Julho de 2021.

BN1, o primeiro Super Heavy. Esse monstro tem 70 metros de altura. A Starship tem 50. (Crédito: SpaceX / Elon Musk)

A gente sempre imaginou aquelas fábricas como da ULA, com técnicos em impecáveis macacões brancos em salas limpas manuseando delicadamente complexas peças de metal, aí vem a SpaceX, em modo Full Tony Stark, construindo uma nave espacial em um terreiro, com um galpão de alumínio sem porta, e lançando literalmente da beira da estrada.

A SpaceX sem-querer criou toda uma economia de youtubbers nerds que passam 24 horas por dia filmando e acompanhando o desenvolvimento. A Starship hoje provavelmente é o projeto de engenharia mais monitorado e “aberto” do planeta. É a melhor forma de fazer engenharia? Não sei, mas é a mais divertida!

SpaceX pousa com sucesso a Starship (sem explodir)

15 Jun 05:53

Barbara Lauwers e a Operação Chucrute

by Carlos Cardoso

Barbara Lauwers sabia que em guerra psicologia é uma arma tão importante quanto uma arma. O sucesso ou fracasso de uma operação militar depende da cabeça dos soldados, se sua motivação e moral. Nenhuma tropa que acha que está derrotada já venceu alguma batalha, e essa jovem e ousada refugiada se mostraria uma mestra nessa arte.

Nem era complicado mexer com a cabeça dos nazistas (Crédito: NBC)

Claro, ela de forma alguma foi a inventora do conceito de Guerra Psicológica, tão antigo quanto a própria Guerra, mas aprimorado na Primeira Guerra Mundial e usado em grande escala na Segunda.

Temos as clássicas estações de rádio inimigas transmitindo música e propaganda para os soldados, com locutoras que ganhavam apelidos com Rosa de Tóquio e Axis Sally. No Vietnã os americanos espalhavam alto-falantes na floresta, para emitir sons fantasmagóricos e assustar os inimigos.

Panfletos com salvo-condutos convidando o inimigo a se render eram jogados constantemente atrás das linhas inimigas. Algumas vezes não davam muito certo, e em um caso especial a propaganda de guerra falhou por contarem a verdade.

Panfletos aliados mostrando soldados alemães em campos de prisioneiros sendo bem-tratados e comendo pratos fartos com bacon e ovos foram vistos como propaganda mentirosa, nenhum soldado alemão acreditou que um prisioneiro de guerra teria melhor dieta que um soldado no front e fazia tempo que Hitler não mandava um baconzinho que fosse.

O da esquerda não funcionava muito bem. (Crédito: US Army/Domínio Público)

No Japão a propaganda tinha efeito quase zero, até descobrirem que havia um componente psicológico forte: Os panfletos dizendo “Eu em rendo” eram terríveis para a moral do soldado japonês. Eles eram treinados a nunca se renderem, rendição era vergonha suprema. Então mesmo que significasse morrer, eles ignoravam os panfletos.

Quando o texto passou a dizer “Eu parei de resistir”, a propaganda funcionou e os panfletos começaram a funcionar.

Esse tipo de detalhe cultural era fundamental, e Barbara Lauwers era especialista nisso.

Cabo Barbara Lauwers (Crédito: US Army / Domínio Público)

Nascida em 1914 em Brno, no que seria hoje a Tchecoslováquia, se a Tchecoslováquia ainda existisse, Božena Hauserová se formou em Direito pela Universidade de Masaryk, e na mesma época conheceu seu futuro marido.

Lauwers era curiosa, inteligente e aventureira, falava com fluência várias línguas, incluindo Checo, Eslovaco, Francês, inglês e alemão. Aventurando-se com o marido ela foi parar no Congo Belga em 1939, quando os dois perceberam que o angu estava começando a ferver na Europa, eles emigraram para os Estados Unidos, em 1941. Aí em dezembro os japas fizeram o favor de envolver os EUA de vez com o arranca-rabo generalizado.

O marido se alistou imediatamente. Barbara Lauwers teve que esperar a conclusão de seu processo de naturalização, mas assim que se tornou cidadã americana, 1º de junho de 1943, algumas horas depois se alistou no Exército, e após terminar o treinamento básico foi mandada para a Escola do Women's Army Corps, a organização do Exército que coordenava as tropas femininas, que trabalhavam em todas as atividades fora combate.

Não deu muito tempo, os instrutores perceberam que aquela gringa viajada esperta feito uma barata em galinheiro era material perfeito pra trabalhos mais nobres, e ela foi mandada pro OSS - Office of Strategic Services. O Escritório de Serviços Estratégicos é uma espécie de antecessor da CIA, eles cuidavam de todos os planos mirabolantes, espionagem, armas secretas, etc, etc, etc. Entre eles, operações de guerra psicológica.

Os planos do OSS às vezes eram ridículos, como a idéia de fazer Hitler consumir progesterona sem perceber, e com isso torná-lo mais feminino e dócil. Outras vezes eram coisa de filme, como quando usaram a superstição e a crença nazista em astrologia. Um astrólogo europeu famoso teve seus poderes “ampliados”, com os Aliados passando informações que eram transformadas em previsões, que obviamente se cumpriam.

Com o tempo ele começou a prever a queda do III Reich, e cópias falsas de uma revista popular de astrologia eram distribuídas pela Resistência na Alemanha, para espalhar as profecias e desestabilizar a população.

Barbara Lauwers e o artista Saul Steinberg em Roma, 1944 (Crédito: US Army/Domínio Público)

Barbara Lauwers foi mandada primeiro para a Argélia, depois para a Itália. Lá ela se tornou parte da Operação Chucrute. Seu trabalho era entrevistar prisioneiros alemães e achar os melhores candidatos dispostos a distribuir propaganda atrás das linhas inimigas.

Nessa época o OSS produzia dois tipos de materiais: Documentos, ordens, passaportes e cartas, falsificados com perfeição e certificados por prisioneiros alemães, que apontavam erros de português, digo, de alemão e pequenas imperfeições.

O segundo tipo eram panfletos, cartazes e reproduções de documentos “roubados”, tudo produzido em máquinas de gráficas locais, com papel de qualidade duvidosa, erros de composição e falhas de impressão. O objetivo era dar aos nazistas a impressão de que eram produzidos por membros locais da Resistência, que muitas vezes nem existia.

Uma das trollagens do OSS era imprimir papel higiênico com o rosto de Hitler - a Inscrição diz "usar este lado" e espalhar pelas latrinas dos acampamentos inimigos (Crédito: US Army / Domínio Público)

Um dos grandes feitos de Barbara Lauwers foi a criação da Verein Einsamer Kriegerfrauen (VAK), ou “Associação das Mulheres Solitárias da Guerra”. Era um grupo obviamente fictício, que seria composto por jovens casadas e solteiras, solitárias com seus maridos e namorados no front.

Elas estariam sozinhas e carentes, desesperadas por um abraço amigo, e sem seus homens para consolá-las, qualquer um servia. Soldados de folga bastariam usar um coração de papel preso na lapela, e várias Fräuleins dadivosas fazendo cara de Polônia se apresentariam esperando uma Blitzkrieg, de preferência não muito blitz.

Clube das Fräuleins solitárias (Crédito: US Army/Domínio Público)

O material foi espalhado como uma circular interna da Wehrmacht, que teria sido capturada pela Resistência e RE-capturada pelo Exército, soldados achavam cópias do documento e guardavam, mostrando pros amigos e divulgando a história.

O efeito era óbvio. Barbara Lauwers, profunda conhecedora da psiquê masculina sabia que a idéia de moças dadivosas sem burocracia ou compensação monetária era extremamente atraente, mas também sabia que uma boa porção dos soldados eram casados ou tinham namorada, então enquanto Hans lia no panfleto “Frei Zex!”  Franz lia “você está morrendo na guerra e a patroa em casa está distribuindo mais que chayote nos alpes”. Isso era terrível psicologicamente para a maioria dos soldados.

Claro, Barbara não parou ali. Um dia, entrevistando prisioneiros alemães ela ouviu uma conversa em que um oficial se gabava de estarem selecionando soldados Checos e Eslovacos para os piores trabalhos.

Nessa época, 1944, a Alemanha estava com falta de tropas qualificadas, então muitos serviços eram alocados para tropas formadas por homens de países invadidos, convocados e apresentados com a interessante escolha “ou você serve no exército ou morre”.

Percebendo a situação Barbara Lauwers bolou um plano, mas primeiro precisou conseguir emprestadas máquinas de escrever com o Vaticano, o único lugar aonde eram regularmente produzidos documentos nas mais variadas línguas, dificilmente as máquinas de escrever americanas teriam acentos e caracteres dos idiomas Checo e Eslovaco.

Com as máquinas disponibilizadas, ela escreveu e produziu panfletos nas línguas nativas dos dois países, oferecendo salvo-conduto para essas tropas.

As mensagens foram lançadas de avião e transmitidas pela BBC.

Em uma semana pelo menos 600 soldados desertaram e foram acolhidos pelos aliados.

Por essa a Cabo Barbara Lauwers ganhou uma Estrela de Bronze.

Barbara Lauwers recebe sua Estrela de Bronze (Crédito: US Army/Domínio Público)

A fake News foi tão bem-feita que o Washington Post colocou as mãos em um dos panfletos, acreditou piamente e publicou a história em sua edição de 10/10/1944, sem ter a menor idéia de que era tudo um plano do OSS.

Após a Guerra Barbara Lauwers se reencontrou com o marido, mas o casamento não foi adiante. Ela trabalhou vendendo chapéus, como locutora, ficou no tempo na Academia Nacional de Ciências e depois arrumou uma vaga como pesquisadora na Biblioteca do Congresso, aonde conheceu Joseph Junosza Podoski, um aristocrata polonês que se tornou seu segundo marido.

O casal trabalhou em uma organização de apoio a refugiados até a morte de Joseph, em 1984. Barbara morreu em 2009, aos 95 anos de idade, com certeza cheia de memórias incríveis e a paz de espírito do dever cumprido.

Fontes:

Barbara Lauwers e a Operação Chucrute

13 Jun 22:30

MS-DOS 40 anos: o SO que colocou a Microsoft no mapa

by Ronaldo Gogoni

O MS-DOS, um dos mais populares (mas não o único) sistemas operacionais de operação de disco para computadores IBM-PC, completa 40 anos no dia 12 de agosto de 2021. Embora tenha sido o responsável por colocar a Microsoft no mapa, de uma mera subsidiária à empresa de software concorrente de empresas como IBM e Apple, ele não foi um programa totalmente original da companhia de Bill Gates. Ele passa bem longe disso, na verdade.

Tela de carregamento do MS-DOS (Crédito: Reprodução/Microsoft)

Tela de carregamento do MS-DOS (Crédito: Reprodução/Microsoft)

No princípio, havia o CP/M

As origens do MS-DOS podem ser traçadas até o CP/M, sigla original para "Control Program/Monitor" (Programa/Monitor de Controle), posteriormente alterada para o  equivalente em inglês de "Programa de Controle para Microcomputadores". Desenvolvido em 1974 por Gary Kildall (1942-1994), que fundou a empresa Digital Research para distribuir seu software, ele era um programa de controle e operação voltado para os processadores Intel 8080 e posteriormente 8085, de 8 bits.

Estruturalmente, o CP/M é igual ao MS-DOS. Ele suporta entradas via linha de comando para a execução de operações diversas, e suporta a instalação e execução de programas de terceiros, para os mais diversos fins.

Originalmente desenvolvido como um programa de tarefa única, ele era limitado a endereçar apenas 64 kB de uma vez. Com o tempo, o software ganhou multitarefa e foi migrado para processadores de 16 bits. Sua operação era baseada no venerável Altair 8800 da MITS, o primeiro computador voltado para hobbystas e que sozinho iniciou a revolução digital, tirando o controle das mãos de grandes corporações.

O CP/M foi importante por diminuir bastante a necessidade de programar cada ação que um computador precisaria fazer, de olho principalmente em uso por leigos, que teriam acesso a programas capazes de rodar por cima do CP/M. Foi ele também que introduziu o conceito de instruções de baixo nível que eram carregadas durante o boot, e que posteriormente seriam introduzidas via firmware.

O tempo, cunhado por Kildall para nomear o recurso,  foi "Sistema Básico de Entrada e Saída", em inglês "Basic Input Output System", ou simplesmente... BIOS.

Tela do CP/M-86, voltada a processadores Intel 8086 (Crédito: Reprodução/BSD License)

Tela do CP/M-86, voltada a processadores Intel 8086 (Crédito: Reprodução/BSD License)

O CP/M teve várias versões para diversos processadores, e inspirou outros desenvolvedores a criarem adaptações para vários casos de uso ao longo dos anos. Um desses casos foi o da Seattle Computer Products, ou SPC, fundada pelo programador Tim Paterson.

Ele desenvolveu em 1980 uma versão do programa de Kildall especificamente para o Intel 8086, tanto que chamou o sistema inicialmente de QDOS, de "Quick and Dirty Operating System", ou Sistema Operacional Rápido e Sujo em português. Posteriormente ele foi renomeado para 86-DOS, quando começou a licenciá-lo.

Um de seus clientes foi uma pequena empresa de Redmond, Washington chamada Microsoft, que tinha um problema para resolver.

86-DOS, MS-DOS e IBM PC-DOS

Segundo Paterson, o desenvolvimento do 86-DOS só consumiu 6 meses, visto que ele era basicamente um port do CP/M para o Intel 8086, sem saber que a Digital Research também estava desenvolvendo uma versão para o chip, lançada como CP/M-86 posteriormente. A SCP originalmente iria distribuir a versão original, anunciada para 1979, mas decidiu desenvolver (copiar) sua versão quando o mesmo atrasou, tendo saído  só em novembro de 1981.

O 86-DOS era vendido com o kit do processador e uma versão do Microsoft BASIC-86, sendo que a empresa de Bill Gates estava em negociação com a IBM, esta prestes a introduzir o IBM-5150, seu primeiro computador pessoal. A gigante precisava de um sistema de disco embarcado com cada unidade, e o CP/M-86 da Digital Research, mesmo atrasado, era a primeira escolha da empresa.

No entanto, as negociações não avançaram, porque não só a IBM queria a posse do software, como desejava renomeá-lo para IBM PC-DOS, o que Kindall não aceitou. Gates, mais esperto, propôs um acordo de licenciamento de seu suposto sistema DOS, que a IBM poderia usar como quisesse, enquanto manteria a propriedade intelectual sobre o mesmo.

A IBM aceitou, pois a empresa acreditava que embora não controlasse o software na sua totalidade, o grosso do dinheiro estava no hardware, e a Microsoft ficaria com a menor fatia do bolo de qualquer forma. Os meses e anos seguintes provariam que tal decisão teria o efeito contrário, mas chegaremos lá.

Embora tenha saído  do primeiro encontro com a IBM com um acordo preliminar, Bill Gates tinha agora um problema para resolver: a Microsoft não possuía um DOS para oferecer, o contrato era baseado em vento.

A solução foi correr até a SCP, pagar US$ 75 mil pelo 86-DOS, customizá-lo e mudar o nome para MS-DOS. Tim Paterson acabou contratado pela Microsoft, onde ele trabalhou em três períodos distintos, sendo o último entre 1994 e 1998, onde fez parte do time de desenvolvimento do Visual Basic.

Gates e Allen concluíram a passada de rodo na IBM repassando o 86-DOS/MS-DOS 1.14 como uma versão licenciada, chamada obviamente IBM PC-DOS, ao mesmo tempo que era livre para vender sua versão própria.

No fim das contas, o IBM PC 5150 chegou às lojas compatível com PC-DOS (devidamente embarcado), MS-DOS e CP/M-86, quando este foi lançado meses depois.

Paul Allen e Bill Gates em 1981, após fecharem o acordo de licenciamento do MS-DOS com a IBM (Crédito: acervo Microsoft)

Paul Allen e Bill Gates em 1981, após fecharem o acordo de licenciamento do MS-DOS com a IBM (Crédito: acervo Microsoft)

O que a IBM não contava, no entanto, era o fato de que a arquitetura do Intel 8086 e do 8088, este presente no IBM PC, não era uma propriedade exclusiva da gigante de tecnologia, e kits com os processadores começaram a ser embarcados por diversas empresas, tão logo a Microsoft começou a licenciar o MS-DOS para quem quisesse. Em um ano, o SO estava presente em produtos de outras 70 companhias, invertendo completamente a noção de domínio que os então parceiros de Gates possuíam:

O hardware era algo que qualquer empresa poderia colocar no mercado, montar como quisesse e vender pelo preço que desejasse, mas o sistema operacional era sempre o MS-DOS, o que fez a pequena companhia se expandir de forma exponencial nos anos seguintes. Sem contar que muitos usuários usaram versões não-oficiais, na época em que não havia internet e todo mundo trocava disquetes de programas e jogos.

Considerando exceções como os computadores da Apple, que sempre usaram SOs proprietários, e casos atípicos como o mercado de computadores pessoais do Japão, capitaneado pela NEC, Sharp e outras empresas locais, que usavam seus próprios sistemas operacionais, a Microsoft se fez presente com o MS-DOS, e posteriormente com o Windows, que rodava como um app, em quase todos os cantos do planeta.

Ainda assim, a Microsoft manteve os acordos e continuou a co-desenvolver o PC-DOS em paralelo ao MS-DOS, e ambos eram essencialmente iguais até 1993, quando a IBM começou a se enveredar para o lado do PowerPC, uma parceria de desenvolvimento em conjunto com a Apple e a Motorola. Vale lembrar que rusgas entre as duas também incluem o OS/2.

Apesar de oferecer grande suporte a diversos processadores e componentes, curiosamente o MS-DOS não tinha suporte a multiusuários, porque a Microsoft já possuía um SO capaz disso: o Xenix, sua própria distribuição Unix, mantida entre 1980 e 1989.

O MS-DOS continua "vivo" até hoje, com fragmentos integrados ao Windows, tendo começado a ser depreciado no Windows 95 e substituído por completo no Windows 98, mas permanece como um caso de software que ajudou a elevar uma empresa, ainda que não fosse original, ao mesmo tempo que impediu a IBM de dominar o mercado de PCs domésticos, ao ser licenciado para todo mundo que quisesse usá-lo.

Hoje você pode usar versões específicas do MS-DOS, distribuídas pela Microsoft como softwares de código aberto.

10 programas e jogos do MS-DOS

Vamos relembrar alguns programas e jogos do MS-DOS que são lembrados até hoje, e em muitos casos ainda usados e curtidos por alguns entusiastas:

1. WordPerfect

WordPerfect no MS-DOS (Crédito: Reprodução/Corel)

WordPerfect no MS-DOS (Crédito: Reprodução/Corel)

George RR Martin pode preferir escrever seus livros até hoje no WordStar (o programa que todo mundo que usou se lembra até hoje o comando para desmarcar bloco), que outrora foi um dos editores de texto mais populares do MS-DOS, junto com o Word, o primeiro a  ter suporte a mouse fornecido pela Microsoft.

No entanto, foi o WordPerfect quem evoluiu mais que os concorrentes e em pouco tempo, se tornou o software dominante em sua área, por oferecer uma interface mais limpa e menos complexa. no entanto, os desenvolvedores meteram os pés pelas mãos com a versão para Windows, que foi eclipsada pelo Word e outros editores.

2. Lotus 1-2-3

Lotus 1-2-3 (Crédito: Reprodução/HCL)

Lotus 1-2-3 (Crédito: Reprodução/HCL)

A Lotus Software foi um caso clássico de "one hit wonder". O Lotus 1-2-3 foi por muitos anos o único programa suficientemente decente para usar planilhas de cálculo no MS-DOS, por ser ridiculamente fácil de usar, mais do que o Excel nunca foi, dizem alguns.

Como o tempo não perdoa, e assim como aconteceu com o WordPerfect, o Lotus 1-2-3 se tornou um produto restrito a uma época, visto que a Lotus não conseguiu emplacar outros produtos no Windows.

3. dBase

dBase III Plus (Crédito: Reprodução/Cecil Wayne Ratliff)

dBase III Plus (Crédito: Reprodução/Cecil Wayne Ratliff)

O dBase foi um programa de construção de banco de dados sólido, fácil de usar e flexível, principalmente na versão III Plus, uma das mais usadas. Ele era tão simplificado e dispensava conhecimentos extensos de programação, o que lhe permitiu servir de base para inúmeros sistemas de gerenciamento ao longo das décadas.

Se você procurar, fatalmente encontrará um comércio em algum canto do Brasil, que usa um sistema de terceiros para controle de estoque e fluxo de caixa, que por trás dos bastidores, é todo construído sobre o dBase, que apenas funciona, e não tem no que mexer para melhorar, se isso não é necessário.

4. Compiladores de 1ª geração

Compilador Turbo C (Crédito: Reprodução/Borland International)

Compilador Turbo C (Crédito: Reprodução/Borland International)

O MS-DOS não exige conhecimentos de programação extensos para ser operado, mas por outro lado, suportava inúmeros compiladores para quem estava aprendendo. Todas as linguagens populares entre os anos 1980 e 1990, como C, Delphi e a acadêmica Pascal, ou algumas mais antigas, como COBOL, possuem compiladores para o SO.

Com o SO da Microsoft, era bastante simples rodar programas compiladores e aprender a programar por conta própria, graças à facilidade de instalação dos softwares.

5. Clientes de BBS

Um exemplo de como a BBS era (Crédito: Reprodução/acervo internet)

Um exemplo de como a BBS era (Crédito: Reprodução/acervo internet)

Antes da internet existia o BBS, servidores dedicados mantidos por terceiros, em geral universidades e operadoras, com algumas empresas no meio, que ofereciam ambientes online para os usuários, que se conectavam via telefone. Com um programa cliente, era possível entrar em listas de discussão, baixar e fazer upload de programas e imagens, pesquisar artigos e publicações diversas, e etc.

Embora o acesso fosse bastante limitado, o BBS fez sucesso entre entusiastas e curiosos, mesmo no Brasil, e clientes como o Telemate eram essenciais para fazer a conexão entre o seu computador e a rede.

6. DONKEY.BAS

DONKEY.BAS foi escrito por Bill Gates para o PC-DOS (Crédito: Reprodução/IBM)

DONKEY.BAS foi escrito por Bill Gates para o PC-DOS (Crédito: Reprodução/IBM)

Pouca gente sabe, mas o primeiro jogo do MS-DOS, ou tecnicamente do PC-DOS, foi co-escrito por Bill Gates com Neil Konzen, que foi um dos primeiros funcionários da Microsoft, responsável por programar as primeiras versões do MultiPlan e do Word para o Macintosh, em 1984.

DONKEY.BAS era um jogo de corrida que vinha junto com as instalações padrão do PC-DOS, em que o jogador tinha que conduzir seu carro na estrada, enquanto se desviava de burros, daí o nome. Hoje ele é risível de tão simples, mas foi de fato o primeiro jogo do DOS.

7. Wolfenstein 3D

Wolfenstein 3D (Crédito: Reprodução/id Software/Microsoft)

Wolfenstein 3D (Crédito: Reprodução/id Software/Microsoft)

Até este jogo, a série Castle Wolfenstein consistia de 2 jogos em visão isométrica. John Carmack, que estava testando jogos com ambientação tridimensional, decidiu aproveitar a marca, que estava vaga e fora adquirida pela id Software, para apresentar o que é considerado o avô de todos os jogos de tiro em primeira pessoa, os FPS.

Wolfenstein 3D trazia uma trama simples e um desafio altíssimo, além de um mapa gigantesco para explorar, cheio de segredos e nazistas para despachar. Ainda relevante e divertido, ele foi incluído como easter eggs nas versões mais recentes da franquia, completo.

8. Prince of Persia

Prince of Persia é excelente até hoje (Crédito: Reprodução/Brøderbund/Ubisoft) / ms-dos

Prince of Persia é excelente até hoje (Crédito: Reprodução/Brøderbund/Ubisoft)

Justiça seja feita, Jordan Mechner se sentiu motivado a criar games quando o Apple II foi lançado, e este recebeu a primeira versão de Karateka, posteriormente portado para outras plataformas. Já Prince of Persia teve muito mais alcance, principalmente pela versão para MS-DOS, compartilhada em disquetes junto com versões caseiras do manual, para driblar o recurso anti-pirataria incluso, a sala com as poções.

Um dos recursos mais atraentes do jogo, a fluida animação dos personagens, cada um com muitos quadros, foi viabilizada graças ao uso da rotoscopia por Mechner, capturando movimentos filmados para posteriormente transferi-los para animações com pixels, de forma manual. O resultado é um jogo excelente, em desafio e estética, mesmo mais de 30 anos depois.

9. SimCity

SimCity (Crédito: Reprodução/Maxis/Electronic Arts) / ms-dos

SimCity (Crédito: Reprodução/Maxis/Electronic Arts)

A Maxis e a Electronic Arts cometeram uma série de presepadas na última versão de SimCity, o que enfraqueceu um pouco a marca, mas o simulador de cidades ainda é uma das franquias mais conhecidas entre os jogadores de PC mais antigos.

O jogo de 1989, conhecido hoje como SimCity Classic para diferenciá-lo do SimCity de 2013, foi desenvolvida de forma independente por Will Wright por 4 anos, e mesmo que muitos apontem que a versão de Super NES seja melhor (o que é verdade), cabe a esta versão ter trago elementos e mecânicas que foram replicadas por concorrentes, e refinadas nas continuações oficiais.

10. Sid Meier's Civilization

Mahatma Gandhi, o pacifista nuclear (Crédito: Reprodução/Microprose/Take-Two Interactive) / ms-dos

Mahatma Gandhi, o pacifista nuclear (Crédito: Reprodução/Microprose/Take-Two Interactive)

A obra-prima de Sid Meier e um dos precursores do gênero 4X, em que o jogador deve explorar recursos naturais, expandir seus domínios e eliminar a competição, o primeiro Civilization é um jogo bastante limitado para os padrões de hoje, mas já trazia todos os elementos básicos que estruturam todas as continuações, para o bem e para o mal.

O "Gandhi Nuclear", em que o histórico pacifista se apresenta no jogo como um líder que retalia potenciais ameaças com força nuclear, foi um bug na atribuição de agressividade para o personagem. Originalmente o índice ia de 1 a 12, e era armazenado em um byte. Gandhi começava com 1, o mais baixo, mas assim que um jogador desenvolvesse a Democracia como sistema de governo, todos os demais líderes recebiam 2 pontos de desconto.

Como resultado Gandhi ficava com -1, e quando você executa uma subtração em binário, é gerado um underflow porque a tabela não suporta negativos. Assim, a agressividade do líder indiano dava a volta e ia para o valor mais alto, 255, o último da tabela binária. Como resultado, Gandhi contra-atacava qualquer ação contra a Índia com armas nucleares.

O bug fez tanto sucesso pelos motivos errados, que mesmo nas versões mais recentes da série Civilization, onde a retaliação nuclear é uma variável separada, Gandhi possui o valor mais alto, 12, contra 8 dos líderes mais belicosos da franquia.

MS-DOS 40 anos: o SO que colocou a Microsoft no mapa

11 Jun 05:44

First Time Since Early 2020

Gotten the Ferris wheel operator's attention
08 Jun 06:45

Como disfarçar seu avião secreto: Coloque um gorila pra pilotar

by Carlos Cardoso

Tocar projetos sigilosos em países mais livres é complicado. Se os russos queriam projetar um avião secreto, era só determinar uma área no mapa e quem chegasse perto, sumiria. Nos EUA, mesmo com a Área 51, muita informação vazava.

Jack Woolams e seu chapéu coco (Crédito: USAF)

Algumas vezes os projetos eram feitos a céu aberto, com um objetivo falso. Quando a CIA gastou bilhões projetando o Glomar Explorer, um navio para içar um submarino soviético, a construção foi pública. A justificativa era que o bilionário Howard Hughes, o Tony Stark da época iria explorar o fundo do oceano atrás de Manganês.

Outros projetos são absolutamente secretos, como o SR-71, o avião era transportado em uma caixa, entre a fábrica e a Área 51.

Os voos eram sempre noturnos, mas mesmo assim o avião acabou vazando.

SR-71 Blackbird sendo transportado. (Crédito: USAF)

Muito antes disso métodos criativos eram usados para ocultar projetos, como o caso o P-59, o primeiro caça a jato dos Estados Unidos.

Em 1942 ele começou seus primeiros testes, mas era uma tecnologia avançadíssima, e secreta. Ele deveria ser mantido low profile mesmo para a maioria dos soldados e aviadores na base aonde era testado.

Para disfarçar o avião secreto, criaram uma hélice falsa, de madeira, que ficava encaixada no nariz do P-59, assim quem passasse não estranharia um avião sem hélice, mas essa não é a melhor parte.

Sim, o pessoal era enganado por isso. (Crédito: USAF)

Durante os voos era comum encontrarem aviões militares, e mesmo alguns civis. Por mais que os militares soubessem manter a boca fechada, eles acabariam falando, e os civis muito mais, ao ver um avião revolucionário voando sem hélices.

A idéia para complicar a vida dos enxeridos veio de Jack Woolams, chefe dos pilotos de prova da Bell Aircraft, empresa que estava projetando e construindo o P-59 Airacomet.

Jack passou a pilotar o P-59 em seus voos de teste usando uma máscara de gorila, um chapéu coco e um charuto. Quando um avião emparelhava com ele, Jack pegava o charuto e saudava o outro piloto, antes de acelerar e ir embora.

Jack Woolams, disfarçado (crédito: USAF)

Quando os pilotos começavam a contar a história de um avião que voava sem hélice, acabavam emendando que quem pilotava era um gorila. Todo mundo soltava um “aham, claro!” e o segredo permanecia seguro, pois ninguém acreditaria em qualquer parte da história.

Como disfarçar seu avião secreto: Coloque um gorila pra pilotar

08 Jun 06:42

Neuralink e o macaco Bluetooth de Elon Musk

by Carlos Cardoso

OK, tecnicamente o macaco é WIFI, mas tudo fica melhor com Bluetooth, inclusive os implantes da Neuralink, que estão usando uma abordagem nova e ousada em pesquisa neurológica avançada.

OK, talvez eu esteja exagerando um pouco. (Crédito: CW)

Algum tempo atrás vivos o Porco Bluetooth, com um implante da Neuralink medindo a área do cérebro que controla o focinho. Foi legal, impressionante, mas não é inédito, cientistas espetam sensores nos cérebros alheios o tempo todo. Temos até estudos em humanos, embora mais modestos.

Em todos os casos a imagem é algo de filme de terror, um enorme emaranhado de fios conectados em uma cabeça parcialmente raspada, um arranjo desajeitado e claramente provisório. A genialidade da Neuralink é fugir disso tudo.

Ao invés de um rato estressado com uma conexão SCSI atuchada na cabeça, temos um implante que por si só é uma maravilha tecnológica: Do tamanho de uma moeda, o implante tem bateria com carregamento sem-fio, processamento de sinais interno, capacidade de leitura E escrita, podendo enviar sinais individualmente para o cérebro. Tudo isso posicionado de forma mais precisa do que um humano seria capaz.

A Neuralink construir um robô especializado em operar cérebros, o equipamento é capaz de posicionar 1024 micro-eletrodos de cada implante, não só na superfície como em profundidades diferentes. Ao contrário dos experimentos antigos, a matriz de dados da Neuralink é tridimensional.

O processo foi detalhado neste paper aqui. (cuidado, PDF!)

E o que dá pra fazer com isso tudo?

Excelente pergunta, gafanhoto.

We are the Musk. (Crédito: Reprodução Internet)

O seu cérebro (exceto se você for comentarista de portais) é a máquina mais complexa do Universo. Há mais conexões nele do que estrelas na galáxia. Temos uma pálida idéia de seu funcionamento, que pode envolver até física quântica. Não sabemos nem se é possível ou não simulá-lo em computador, mas...

Não faz diferença para a Neuralink.

Imagine que você acordou em um país estrangeiro, sem falar uma palavra do idioma. É um daqueles países estranhos da Europa Oriental. Todo mundo é simpático, te chamam para beber. Você observa uma mesa do outro lado da rua. De tempos em tempos alguém fala “PROCHASKA!” e todo mundo levanta os pés, enquanto um enxame de ratos passa correndo.

Aí alguém da sua mesa fala “PROCHASKA!” e você prontamente levanta os pés, junto com seus novos amigos.

Você não tem conhecimento do idioma, não sabe se a palavra significa cuidado, atenção, olha o rato. Não importa, você entendeu a informação por trás dela.

O implante da Neuralink coleta continuamente dados de regiões específicas do cérebro, e ao menos nós sabemos as funções gerais delas. Se espetar no córtex visual, temos informação visual. No auditivo, informação sonora. No cheirativo, no caso da porca Getrud, temos dados de olfato.

Elon Musk demonstra o implante Neuralink (Crédito: Neuralink/AFP)

O que eles fizeram com um macaco de nome Pager foi instalar dois implantes no córtex motor na área que controla braços e mãos. Foram dois implantes para pegar dados dos dois lados do cérebro.

O macaco então foi treinado a usar um joystick para jogar alguns games. Se jogasse corretamente, ganha uma dose de suquinho de banana. Enquanto isso os implantes da Neuralink captavam os sinais dos neurônios motores. Com o tempo o sistema de redes neurais e machine learning construiu uma biblioteca de associações entre os sinais e os movimentos. Com base nesses sinais eles eram capazes de prever com alta probabilidade de acerto qual movimento o macaco estava fazendo.

Pager então ganhou um upgrade: foi ensinado a jogar Pong.

Depois disso, desabilitaram o joystick, usando só os dados dos implantes Neuralink como input.  O passo seguinte foi mostrar o jogo para o macaco, sem nenhum joystick. Ele sabia o que deveria fazer, então instintivamente se viu movendo a raquete na tela, enquanto mamava gostoso seu suquinho de banana e sim essa frase ficou bem mais esquisita do que eu imaginei.

Os implantes conseguiram captar o aumento de sinais nos neurônios motores, presentes mesmo quando a gente imagina um movimento. Pager estava efetivamente jogando com sua mente.

Até o final do ano a Neuralink deve começar os primeiros testes em humanos, e daí o céu é o limite. Elon Musk disse que a primeira aplicação comercial da empresa será uma forma dos implantes permitirem a uma pessoa paralisada operar um celular, com pelo menos tanta agilidade quanto alguém usando as mãos, e depois mais rápido ainda.

Como todo tipo de informação pode ser processada usando esse método de “força bruta”, esperam que a tecnologia também funcione para que amputados controlem membros biônicos, e cegos recebam estímulos externos no córtex visual.

Parece ficção científica, mas é exatamente isso que um implante coclear faz, estimulando eletricamente o nervo auditivo.

A Neuralink conseguirá ser tão bem-sucedida? Ninguém sabe, mas eles têm verba à vontade, e uma direção que entende o conceito de pesquisa a longo prazo. O importante é pararem logo com experimentos em macacos, antes que o inevitável aconteça:

OK, melhor não. (Crédito: MGM)

Neuralink e o macaco Bluetooth de Elon Musk

08 Jun 06:28

Signal – O que é e como usar?

by Cristiano Silva
Sétimo artigo da série Comunicação entre processos. Este artigo apresenta uma explicação do que é Signal e como usá-lo
01 Jun 21:47

Google launches its third major operating system, Fuchsia

by Ron Amadeo
The Nest Hub.

Enlarge / The Nest Hub. (credit: Google)

Google is officially rolling out a new operating system, called Fuchsia, to consumers. The release is a bit hard to believe at this point, but Google confirmed the news to 9to5Google, and several members of the Fuchsia team have confirmed it on Twitter. The official launch date was apparently yesterday. Fuchsia is certainly getting a quiet, anti-climactic release, as it's only being made available to one device, the Google Home Hub, aka the first-generation Nest Hub. There are no expected changes to the UI or functionality of the Home Hub, but Fuchsia is out there. Apparently, Google simply wants to prove out the OS in a consumer environment.

Fuchsia's one launch device was originally called the Google Home Hub and is a 7-inch smart display that responds to Google Assistant commands. It came out in 2018. The device was renamed the "Nest Hub" in 2019, and it's only this first-generation device, not the second-generation Nest Hub or Nest Hub Max, that is getting Fuchsia. The Home Hub's OS has always been an odd duck. When the device was released, Google was pitching a smart display hardware ecosystem to partners based on Android Things, a now-defunct Internet-of-things/kiosk OS. Instead of following the recommendations it gave to hardware partners, Google loaded the Home Hub with its in-house Google Cast Platform instead—and then undercut all its partners on price.

Fuchsia and Flutter

View more stories Fuchsia has long been a secretive project. We first saw the OS as a pre-alpha smartphone UI that was ported to Android in 2017. In 2018, we got the OS running natively on a Pixelbook. After that, the Fuchsia team stopped doing its work in the open and stripped all UI work out of the public repository.

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20 May 05:41

Apple’s M1 is a fast CPU—but M1 Macs feel even faster due to QoS

by Jim Salter
Multiple Apple promotional images are piled on each other.

Enlarge / The Apple M1 is a world-class processor—but it feels even faster than its already-great specs imply. Howard Oakley did a deep-dive investigation to find out why. (credit: SOPA Images via Getty)

Apple's M1 processor is a world-class desktop and laptop processor—but when it comes to general-purpose end-user systems, there's something even better than being fast. We're referring, of course, to feeling fast—which has more to do with a system meeting user expectations predictably and reliably than it does with raw speed.

Howard Oakley—author of several Mac-native utilities such as Cormorant, Spundle, and Stibium—did some digging to find out why his M1 Mac felt faster than Intel Macs did, and he concluded that the answer is QoS. If you're not familiar with the term, it's short for Quality of Service—and it's all about task scheduling.

More throughput doesn’t always mean happier users

There's a very common tendency to equate "performance" with throughput—roughly speaking, tasks accomplished per unit of time. Although throughput is generally the easiest metric to measure, it doesn't correspond very well to human perception. What humans generally notice isn't throughput, it's latency—not the number of times a task can be accomplished, but the time it takes to complete an individual task.

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19 May 21:10

Muller's Ratchet

Who knew you could learn so much about sexual reproduction from looking at pictures on the internet!
19 May 21:08

Vaccinated

I built a model that combines local case rates and vaccination stats to estimate when it's reasonable to attend various types of party, but I forgot to include anything about where to find them.
19 May 21:07

March 2020

"I've traveled here from the year 2020 to bring you this vaccine!"
19 May 21:06

Sem condição

by Andre Noel
tirinha
Inclua essa tirinha em seu site
COLE ESSE CÓDIGO EM SEU SITE x
Fonte: Vida de Programador
Transcrição ↓

real historia;
string sender = "Felipe Profeta";

P.A.: Cara, eu até consigo ler bem em inglês, mas essa documentação aqui não tem condição!
Programador: Sério? Deixa eu ver...
Programador: Ah, tem condição sim...
P.A.: Ahn??
Programador: Olha ali... Tem if, tem else if e até else...
P.A.: PLOFT!
--
Camiseta: O importante é o principal, o resto é secundário

O artigo "Sem condição" foi originalmente publicado no site Vida de Programador, de Andre Noel.

04 May 20:58

A Saga do Brasil na Estação Espacial Internacional

by Carlos Cardoso

A participação do Brasil no projeto da Estação Espacial Internacional foi uma saga de incompetência, mentiras, promessas não-cumpridas e o mais puro jeitinho brasileiro de empurrar com a barriga. Neste longo e tardio artigo vamos acompanhar passo a passo essa jornada épica a lugar nenhum. Pegue um conhaque, tome com um Prozac, e acompanhe.

Not yours, Brazil. (Crédito: NASA)

Em 2010 um documento1 do Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica a Câmara dos Deputados dava como encerrada a participação brasileira no projeto da ISS – Estação Espacial Internacional. A rigor o Brasil já estava de fora oficialmente bem antes, em 2008, quando a NASA celebrou os dez anos a Estação Espacial Internacional2, sem nenhuma menção ao Brasil.

1 – A Estação Espacial Internacional

Parece incrível, mas a ISS nem sempre esteve lá onde está. Ela já foi muito menos espacial e principalmente muito menos internacional. Sonhada desde os anos 1960, a estação espacial substituiria o modesto e atormentado Skylab, e ofuscaria a Mir russa.

Em 1984 A então batizada Estação Espacial Freedom foi anunciada por Ronald Reagan, que logo percebeu que espaço é caro, muito caro. Ele tentou uma parceria com a Inglaterra de Margareth Thatcher, mas ela era a Dama de Ferro, não de Ouro, e não tinha grana pra bancar o projeto.

Rapidamente a solução foi reduzir as expectativas, mudar o nome pra Estação Espacial Alfa, e oferecer parceria para Europa e Japão. Em 1993 os sonhos de uma Guerra Fria no espaço caíram por terra, a única chance da ISS sair do chão era com ajuda dos comunistas, por mais que isso colocasse em risco nossos preciosos fluídos vitais.

Ronald Reagan apresenta a Margaret Thatcher um modelo preliminar da Estação Espacial Freedom. (Crédito: Reagan White House Photographs / White House Photographic Collection)

Assim em Setembro de 1993 Al Gore, Vice-Presidente dos EUA e a Viktor Chernomyrdin, Primeiro-Ministro russo anunciam a intenção de desenvolver em conjunto uma Estação Espacial. Os países que foram convidados para a Alfa são confirmados, novos países são chamados a participar do projeto, entre eles a 8ª Economia do Mundo, o glorioso salve-salve Brasil.

2 - A Proposta Irrecusável

O convite veio em 1996, quando o Brasil, extremamente otimista assinava acordos de cooperação espacial com todo mundo, e a administração Clinton era favorável ao Governo FHC. Fomos o único shithole país em desenvolvimento convidado para o Projeto da Estação Espacial.

Em um documento de título longuíssimo3 assinado em 14 de Outubro de 1997 era detalhada a participação brasileira na ISS. Nele o Brasil se comprometia a entregar os componentes entre Novembro de 2000 e Janeiro de 2004. As peças (descrição detalhada no documento) eram:

  • Instalação para Experimentos Tecnológicos (TEF)
  • Janela de Observação para Pesquisa – Bloco 2 (WORF-2)
  • Palete Expresso para Experimentos na Estação Espacial (EXPRESS)
  • Container Despressurizado para Logística (ULC)
  • Adaptador de Interface para Manuseio de Carga (CHIA)
  • Sistema de Anexação ZI-ULC (ZI-ULC-AS)

Tecnicamente não eram essenciais. Ou melhor, eram componentes necessários, mas não estratégicos. Havia tempo caso algo desse errado.

Eles seriam produzidos no Brasil, seguindo especificações fornecidas pela NASA e fabricantes americanos, como a Boeing. O custo estimado pela NASA foi de US$120 milhões, ou US$196 milhões, em valores de 2021.

No Brasil o sinal de que as coisas não iriam dar certo já apareciam. Em uma notinha no Jornal do Brasil, em 13 de Outubro de 1997 era dito:

“Convênio garantirá ao Brasil participação em uma estação espacial construída pela NASA. O Brasil terá que entrar com US$12 milhões, mas a proposta do Congresso só prevê US$4 milhões”

Mau sinal (Crédito: Jornal do Brasil)

A gente já viu esse filme.

O governo exaltava o acordo dizendo que traria know-how para a indústria nacional, e em troca teríamos acesso a experimentos, hardware, espaço de carga na ISS e principalmente um astronauta brasileiro participaria de pelo menos uma missão na Estação Espacial. Com muita fanfarra foi anunciado em 1998 que o então Capitão Marcos Pontes havia sido selecionado, e iria treinar em Houston para sua eventual missão.

Em terra, as coisas não iam tão bem. A Embraer havia sido selecionada para construir os componentes, e terceirizaria o projeto envolvendo mais 15 empresas, incluindo a Boeing, mas não houve repasse de verbas. Em verdade o orçamento do MCT sequer contemplava o projeto da ISS, e a Boeing levou um calote de US$15 milhões em 1998. A Embraer entubou ainda mais, deixou de receber US$20 milhões.

Vai dar tudo certo. (Crédito: Jornal do Brasil)

3 - Problemas no Paraíso

A NASA discretamente começava a correr atrás de fornecedores alternativos, enquanto no Brasil a gente empurrava com a barriga. A Embraer acabou admitindo que não teria como produzir os seis componentes, que seriam capazes de construir apenas o Palete Expresso (Express Pallet, no original)  para Experimentos na Estação Espacial, que é basicamente uma estante de metal. Só que ele custaria US$300 milhões4, dos US$120 milhões alocados para o projeto inteiro.

Nossa participação equivalia a 0.12% do custo5 total da Estação Espacial, mas era suficiente para causar atrasos ao cronograma do projeto. A NASA cobrou do Brasil a entrega do componente mais crítico, o Palete Expresso. Ele estava planejado para subir em 2006, deveria ser entregue em 2001 e já era 2002.

A Embraer agora dizia que podia reduzir os US$300 milhões do Express Pallet para US$140 milhões6, o que ainda era US$20 milhões além do orçamento original pra todos os componentes.

Partes da Estação Espacial que cabiam a cada país. Brasil é em laranja. Clique para ampliar (Crédito: NASA)

A NASA foi enrolada de Junho a Outubro, quando o Brasil admitiu que não tinha como entregar o tal Palete. E não iríamos mais construir os projetos mais complexos, como a Janela de Observação WORF-2.  (sim, pessoal da NASA assiste Star Trek)

Internamente a NASA queria detonar a participação brasileira, mas diplomacia morre de medo de criar climão e causar cenas, então foram feitas novas propostas. O Brasil construiria o Container Despressurizado para Logística, que é pouco mais que uma caixa de metal e materiais compostos, e 43 FSEs, Flight Support Equipments7, adaptadores genéricos para interfacear sistemas na estação.

O Brasil disse que não terá como fazer o tal Container, mas se comprometeu a produzir os FSEs, a um custo de US$8 milhões. Eles precisavam estar prontas em 2006.

Nesse momento o Brasil caiu num buraco negro estatal.

Entre 2002 e 2004, silêncio total de rádio. Diz o DefesaNet:

“Segundo dirigentes da NASA declararam à imprensa internacional em abril de 2006, desde 2004 os contatos com a agência brasileira saíram por completo de cena. O Brasil simplesmente se escondia de suas atribuições e cobranças.”

Para piorar, o Brasil, como bom caloteiro orgulhoso, estava indignado com a retirada de Marcos Pontes dos cronogramas dos próximos vôos. Ele deveria embarcar em um ônibus espacial em 2007, mas o acidente com o Columbia fez a NASA encolher o número de futuros vôos planejados, e de qualquer jeito o Brasil ainda não havia entregue NADA do prometido.

Ainda era possível ver a bandeira brasileira espalhada pela NASA (Crédito: NASA)

4 - Pobres mas Orgulhosos. E Exigentes.

Roberto Amaral, Ministro de Ciência e Tecnologia chegou a cobrar via imprensa um vôo para Marcos Pontes, era questão de orgulho nacional. Ao mesmo tempo na NASA o clima era o pior possível. O próprio Pontes relata8 que não tinha mais o que dizer em reuniões, já estava sem desculpas. Nos corredores da NASA ele desviava para não ter que encarar as pessoas.

Os tais FSEs? Ninguém sabe. Mesmo. Foram literais ANOS sem avanço.

Agindo por conta própria Marcos Pontes foi atrás de parceiros comerciais, e chegou ao SENAI, do qual havia sido aluno. Ele conseguiu convencer o SENAI9 a produzir os FSEs, segundo as especificações da NASA, a CUSTO ZERO PARA O GOVERNO BRASILEIRO.

O racional era que teriam equipamentos no espaço com o selo MADE IN SENAI, e em termos de propaganda isso seria insuperável. Tipo mandar um Tesla pro espaço.

5 - Problema resolvido, certo?

Se você disse certo, first week in Brazil, am I right?

Em Abril de 2005 foi noticiado que o SENAI construiria 38 FSEs (mais tarde reduzidos a 33) e o primeiro protótipo seria entregue em um ano, mas Pontes garantiu que o fariam em 120 dias. De novo, de graça. A Agência Espacial Brasileira havia orçado os tais FSEs a R$86 milhões.

Em Junho de 2006 o SENAI ainda estava fabricando o primeiro dos FSEs10. A AEB chegou a propor trocar os FSEs por uma câmera de satélite que eles juram o INPE seria capaz de construir.

Um dos FSEs. (Crédito: INPE/NASA)

O atraso não foi culpa do SENAI. Eles simplesmente não conseguiram furar a inércia e burocracia estatal, os agentes do governo que viam a Estação Espacial com extrema má-vontade tinham interesse zero em avançar o projeto, então engavetavam os pedidos de especificações e dúvidas técnicas, o que levaria alguns minutos entre empresas parceiras levava semanas com a AEB intermediando.

De novo estava claro para a NASA que o Brasil não conseguiria entregar os 18 (sim, reduziram de novo) FSEs, orçados em US$8 milhões. Eis que veio a facada nas costas:

6 - O Vôo de Marcos Pontes para a Estação Espacial

Desde 2004 que o Brasil tinha dúvidas se Pontes iria ao espaço pela NASA. O Governo era cobrado pelos US$500 mil investidos em seu treinamento, e o próprio Pontes estava BEM descontente com a forma com que foi tratado, sendo taxado de herói nacional em público, mas como indesejável internamente. Muita gente nunca engoliu ele ter conseguido o acordo com o SENAI, e sua posição apoiando a NASA também não era nada popular entre os caloteiros, digo, políticos brasileiros.

Mesmo assim era preciso um cala boca geral, e em 30 de Março de 2006, a bordo de uma Soyuz, subiu para a ISS o Cosmonauta Marcos Pontes, mas ele não fazia parte oficial da Expedição 1311, que para a NASA constava do Comandante, Pavel Vinogradov, e do Engenheiro de vôo Jeffrey Williams.

Imagem oficial da NASA da Expedição 13 (Crédito: NASA)

Pontes não consta das fotos oficiais, ele foi levado como “carga”, ou de forma mais delicada, como um turista espacial. A imprensa logo levantou essa lebre, mas a abordagem do New York Times12, chamando Pontes de “caroneiro” está errada.

Ele foi um passageiro pagante, e muito bem pagante. Os russos estavam passando por um perrengue financeiro, e ofereciam vôos para a Estação Espacial Internacional para turistas. A NASA não gostava muito mas era o jeito. Desde Denis Tito em 2001, vários visitantes pagaram para conhecer a Estação. O mais recente, Gregory Olsen, pagou por volta de US$20 milhões13, então imagina-se que Pontes não saiu muito mais barato.

Na cabeça dos americanos a conta era simples: “A gente negocia um monte de peças por US$120 milhões, vocês enrolam, não entregam, renegociamos até um pacote de US$8 milhões, vocês dizem que não tem dinheiro, mas pagam US$20 milhões pra mandar um sujeito ficar 9 dias no espaço?”

Nota: Oficialmente o Governo Brasileiro diz que o custo do vôo de Pontes foi de US$11,2 milhões. (Fonte: Este documento aqui, página 171. JURO.)

Em Terra, sonho realizado, Pontes vai para a Reserva da Aeronáutica e começa a criticar o Governo, que o corta totalmente.

“Sou a única pessoa que pode falar oficialmente com a Nasa”, disse em 2006 Raimundo Mussi, gerente do Programa ISS-Brasil da AEB.

Segundo ele as renegociações estavam quase no final, e o Brasil tinha reservado naquele ano R$5 milhões do orçamento da AEB para a Estação Espacial. O que dava na época US$2,2 milhões. Uns 15% do que custou o vôo de Pontes e ¼ do custo projetado das FSEs.

No mesmo ano, antes do SENAI conseguir entregar seu protótipo, o Brasil recebeu uma carta da NASA dizendo “Obrigado, não precisa mais”. Outros fornecedores foram alocados para produzir em regime de emergência as FSEs, e o resto dos equipamentos já haviam sido construídos ou estavam em fase de entrega.

7 - O Sonho da Estação Espacial Acabou

Em Maio de 2007 um artigo do Estadão, citando John Logsdon, Conselheiro da NASA, foi taxativo: “Brasil está fora do projeto da estação espacial”.

Logsdon aponta corretamente que a paciência da NASA acabou. Dez anos de promessas vazias, uma bolada nas costas pagando ao “inimigo” pra levar um astronauta de pirraça para a Estação que o país não contribuiu com um parafuso. Em nome da diplomacia não haveria uma expulsão formal, o Brasil seria ignorado, ostracizado.

Sem nunca deixar explícito, a NASA removeu o Brasil do programa da Estação Espacial Internacional. As bandeiras foram retiradas dos cartazes e da decoração, tanto em terra quanto no espaço, e em Novembro de 2008 um press release15 comemorando os Dez Anos da Estação Espacial não menciona o Brasil entre os membros do projeto.

Da nossa parte, um monte de gente começou a irracionalmente tentar justificar de forma racional o injustificável. Houve quem dissesse que o Programa da Estação Espacial era uma forma dos Estados Unidos alinharem o Programa Espacial Brasileiro com o deles, em detrimento de nossa soberania. No já citado documento sobre a Política Espacial Brasileira1 (página 154), de 2010, é dada a inacreditável desculpa: O programa não era bom pois as empresas brasileiras construiriam projetos já prontos, ao invés de “desenvolver” a tecnologia.

“A negociação do Inpe com a Nasa e a Boeing (sua empresa contratada) mostrou-se morosa e foi definido um modelo onde o Inpe atuaria efetivamente como contratante principal tendo as empresas nacionais como subcontratadas, somente para a etapa de fabricação, pois o projeto seria elaborado por empresas estrangeiras, ocorrendo no exterior o desenvolvimento inicial de vários itens, ou seja, o Brasil financiando o desenvolvimento em outro país. Etapas estratégicas para o desenvolvimento tecnológico do país, como o desenvolvimento de itens eletrônicos (a chamada aviônica), dificilmente seriam passadas para as empresas brasileiras. Finalmente a não colocação de recursos adequados por parte do Brasil determinou o término do referido programa.”

Ou seja: A culpa não é nossa. A culpa é das estrelas. E só levamos dez anos para perceber isso.

A Saga do Brasil na Estação Espacial Internacional não é a primeira nem a última cooperação científica internacional onde o Brasil só entra para passar vergonha. Só é, de longe a mais longa, constrangedora e o suprassumo de todas as vis características dessa terra e dessa gente, que garantem de forma absoluta: O Brasil não tem a menor, a mais remota chance de dar certo.

Fontes:

  1. A Política Espacial Brasileira
  2. Nations Around the World Mark 10th Anniversary of International Space Station
  3. Ajuste Complementar entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América para o Projeto, Desenvolvimento, Operação e Uso de Equipamento de Vôo e Cargas Úteis para o Programa da Estação Espacial Internacional (ufa!)
  4. Brasil pode perder sua participação na ISS
  5. EEI - A história de uma crise anunciada: AEB versus NASA
  6. Brasil pode perder sua participação na ISS
  7. Brazilian Industry Conference on the Contract Flight Support Equipment #1
  8. NASA PODERÁ MUDAR A PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NA ISS
  9. Peças brasileiras para a Nasa
  10. Brasil quer trocar peças da ISS por câmera
  11. Expedition 13
  12. Brazil's Man in Space: A Mere 'Hitchhiker,' or a Hero?
  13. Gregory Olsen - American scientist and entrepreneur
  14. País renegocia acordo com a Nasa e descarta Pontes
  15. Nations Around the World Mark 10th Anniversary of International Space Station

PS: ESQUECE ALCÂNTARA!

A Saga do Brasil na Estação Espacial Internacional

27 Apr 21:20

Virus Consulting

All our teams make an effort to stay optimistic, but I will say that once our virus division saw the vaccine efficacy data, they started asking for payment up front.
25 Apr 00:56

Pipes

by Cristiano Silva
Quarto artigo da série Comunicação entre processos, nesse artigo é apresentado o primeiro IPC o PIPE
25 Apr 00:17

Fully Vaccinated

"You still can't walk into someone's house without being invited!" "What? Oh, I see your confusion. No, this vaccine is for a bat VIRUS. I'm fine with doorways and garlic and stuff."
20 Apr 21:11

IBM To Kernel Maintainer: "You Are An IBM Employee 100% Of The Time"

It's fairly common that many longtime Linux kernel developers use their personal email addresses for signing off on kernel patches or dealing with other patch work, especially when they are engaging with kernel development in their personal time too and occasionally jumping between employers over time while still sticking to interacting with the upstream kernel community, etc. There are also understandably some companies that mandate the use of their corporate email addresses for their official work/patches while now IBM seems to be taking things one step to the extreme...
19 Apr 19:59

fork, exec, e daemon

by Cristiano Silva

Terceiro artigo da série Comunicação entre processos, nesse artigo é apresentado o funcionamento do fork, exec e do daemon

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11 Apr 23:09

Liga da Justiça – Resenhamos o Snyder Cut (com spoilers)

by Carlos Cardoso

Snyder Cut é o nome dado à nova versão do filme Liga da Justiça, de 2017, um filme com uma história trágica e conturbada, mesmo para os padrões do DCEU – DC Extended Universe. Em algo inédito na História do cinema, um diretor recebeu carta branca e um polpudo orçamento para mostrar sua versão de um filme que nem foi bem das pernas quando lançado.

Aumente o brilho, há heróis na imagem, juro. (Crédito: Divulgação/HBO Max)

Zack Snyder é um diretor de cinema peculiar. Ele tem uma identidade visual muito forte, e uma visão de mundo específica, seus filmes refletem como ele vê o mundo, mais do que seguem as regras de seus gêneros específicos.

Batman vs Superman e Man of Steel são filmes de super-heróis mas não são filmes de quadrinhos. Aquaman, Guardiões da Galáxia e Shazam! São filmes de quadrinhos. Há uma diferença imensa e sutil, e muitas das críticas a Zack Snyder vem de não entender a diferença.

Snyder não se interessa em contar histórias de gente que veste a cueca por cima da calça. Ele quer contar a história de quase literais deuses vivendo entre humanos, e as conseqüências disso.

Liga da Justiça deveria ser a culminação do DCEU, com os principais heróis de reunindo para salvar o mundo, mas logo no início das filmagens, o mundo de Zack Snyder virou de cabeça para baixo; sua filha, Autumn, cometeu suicídio aos 20 anos de idade, e mais que compreensivelmente Zack abandonou tudo que estava fazendo.

Zack pediu a Joss Whedon para assumir a direção do projeto (ou o Estúdio propôs, as versões variam), e em um momento raro entre corporações malvadas e sem-coração, a Marvel não teve qualquer problema em ver seu diretor mais importante trabalhar pra concorrência.

O problema é que Joss Whedon é excelente fazendo filmes com a cara do Joss Whedon, junto com John Fraveau e os irmãos Russo bBrothers ele ajudou a criar o estilo bem-humorado dos filmes de quadrinhos da Marvel.

O Steppenwolf não tem NADA de engraçado. É até meio triste. (Crédito: HBO Max)

Os filmes da DC têm uma pegada mais séria, principalmente os do Snyder, e o Liga de Justiça sofreu com isso; roteiro e direção formaram um dueto com cada um cantando em um tom diferente. Whedon picotou a história e tentou ao máximo fazer um filme da Marvel, mas com material da DC. Não deu certo, o filme não tem a gravidade de uma história séria nem o bom humor de um filme descompromissado. Imagine se os Russos decidissem encher o primeiro ato de Vingadores: Ultimato com piadinhas. Não funcionaria.

Quer dizer: Eu gostei do Liga da Justiça de 2017, mas admito que muito por ser fã das antigas, pra mim ainda é um privilégio poder ver esses personagens em carne e osso, e muito do que foi omitido na história eu preenchi com meu conhecimento prévio. Um fã neófito não tem essas vantagens.

Os humanos como sempre fizeram caquinha e protegeram a Caixa Materna... enterrando a meio-metro de profundidade no meio do mato. (Crédito: HBO Max)

O Estúdio já tinha engolido o prejuízo. Liga da Justiça faturou mundialmente US$657 milhões, e custou US$300 milhões, colocando em cima os custos de marketing, não sobrou grana nem pra um chiclete, Batman vs Superman faturou US$873 milhões custando US$50 milhões a menos.

Por isso tudo ninguém botou fé quando começou na Internet o movimento para “liberarem o Snyder Cut”, dificilmente o estúdio gastaria dinheiro para remontar o filme, e na época achava-se que seria isso, uma nova edição com algumas cenas cortadas incluídas. O que ninguém imaginava é que não só o estúdio toparia a idéia como Zack Snyder gastaria US$70 milhões para chamar todo mundo de volta e filmar um monte de cenas novas.

Chegamos ao Snyder Cut

Colocando o carro na frente dos bois, dá pra resumir assim: O Snyder Cut é uma excelente história, contada do jeito que o Zack Snyder acha que deveria ser contada, e que jamais funcionaria no cinema.

O Snyder Cut tem 4 horas de duração, e pra todo mundo reclamando disso, eu lembro duas coisas: 1 – Vocês adoram maratonar séries na Netflix e 2 – Vingadores: Ultimato teve três horas de duração e foi só a metade final, se levarmos em conta que precisou de Guerra Infinita antes, são mais duas horas e meia no pacote.

O que Zack Snyder fez foi filmar não um gibi, mas um daqueles paperbacks com uma saga inteira. Quase todas as falhas do primeiro filme foram corrigidas. Nada é jogado, nada é solto ou gratuito. Principalmente, Snyder fez algo que é raro nesse tipo de filme: Entregou um vilão com motivações.

Na primeira versão o Lobo da Estepe é um pau-mandado de Darkseid, um vilão genérico sem nenhuma personalidade ou motivação, agora ele é quase um pária, desesperado para cumprir sua missão e ganhar de volta o respeito de seu Mestre.

Sua sequência com as Amazonas é bem maior que na versão original, e ele sofre nas mãos delas, até conseguir roubar a Caixa Materna.

As Caixas Maternas aliás são parte da mudança. Na nova versão elas estão em silêncio, pois saem que uma invasão não seria bem-sucedida com a presença do Super-Homem na Terra. Quando ele morre, aí sim elas enviam o sinal que traz o Lobo da Estepe para a Terra.

Também vemos uma versão bem mais longa da batalha primordial aonde deuses, humanos, atlantes e aliens se uniram para enfrentar Darkseid (e não mais o Steppenwolf) e que resultou na perda das Caixas Maternas, que ficaram na Terra como espólio de guerra.

Se parece que tudo está bem mais explicado, esse é o segredo. Zack Snyder contou uma história sem pressa, dividida em seis partes, aonde a motivação de cada personagem, a existência de cada peça é explicada e apresentada.

Talvez o maior beneficiário disso tudo tenha sido Ray Fisher, que faz Victor Stone, o Cyborg. Ele foi alvo de uma decisão executiva sinistra: Os figurões da Warner acharam que seria prejudicial nos mercados internacionais o filme girar em torno de um personagem negro raivoso, e praticamente todo o arco dele foi cortado. Isso é uma falta de visão completa, a raiva e o conflito interior são essenciais ao Cyborg, e no Snyder Cut ele finalmente tem o espaço que merece.

Booya! (Crédito: HBO Max)

É mostrado como Silas Stone, pai de Victor é ausente, preocupado em pesquisar tecnologia kryptoniana e a Caixa Materna, vemos o acidente que vitimou sua mãe (a do Victor, não a sua, calma) e deixou o jovem e promissor atleta estraçalhado, só sendo salvo depois de virar um experimento do pai, que usou a Caixa Materna para reconstruir seu corpo.

Silas também tem um papel bem mais ampliado, ajudando a Liga da Justiça a invadir a nave Kryptoniana e ressuscitar Kal-El, plano que é bem mais discutido e questionado, nessa versão.

Não São Super-Amigos

A Liga do Snyder Cut não é recheada de piadinhas como a versão do Joss Whedon. Não tem Aquaman pisando no laço e falando da Tototosa Maravilha, não tem Cyborg falando “booya” nem o Super-Homem inexplicavelmente ignorando o vilão para salvar civis que nem estavam em perigo imediato, já que os parademônios estavam ocupados atacando a Liga.

Nessa versão Batman começa a recrutar a Liga sem ter noção de qual é a ameaça, só depois que Diana descobre um subterrâneo em um templo com inscrições detalhando a Batalha Primordial que ela entende o que Darkseid representa.

O climinha dela com o Bruce também foi devidamente removido do Snyder Cut. Estamos lidando com o Apocalipse, ninguém tem tempo para flertes de adolescentes. Só o Flash, na cena em que ele salva Iris West, e é lindamente bem-feita e original, abrindo caminho pro futuro filme solo do Personagem.

Darkseid é mau feito o Pica-Pau, num nível animalesco, provavelmente para se diferenciar do Thanos (Crédito: HBO Max)

Ezra Miller, mesmo com menos piadinhas, ainda é o alívio cômico do filme, e consegue ser mais pra cima e animado que o Flash de Grant Gustin, no seriado do CW, e um dos pontos altos do crossover Crise nas Infinitas Terras foi quando ambos se encontraram.

A Liga de Snyder é super-séria (trocadilho intencional) pois são pessoas “reais” lidando com o fim do mundo. Alguns mais que outros, pois as Amazonas não desenvolveram ainda o conceito de telefone celular, rádio, corujas ou corvos, então Diana não sabe se quando o Lobo da Estepe disse que matou todas elas, está falando a verdade.

A shit ficou serious

O Liga da Justiça de 2017 era PG-13, basicamente censura livre. O Snyder Cut é R-Rated, a mesma classificação de filmes como Logan e Deadpool, e morte-certa para blockbusters como Vingadores, mas com a distribuição online, tudo muda.

Com a versão R, as lutas se tornaram mais viscerais, o que melhorou MUITO o velho problema desse tipo de filme: o clássico exército genérico de inimigos em computação gráfica. Sem falar que a cena final do Lobo da Estepe ficou deliciosamente brutal, bem como a batalha primordial.

O Suposto Problema de Zack Snyder

Eu vi nerds tresloucados reclamando que Snyder não respeita os personagens; Batman usa armas, o Super-Homem é frio e alienígena (eu sei) o filme não respeita a lógica dos quadrinhos. Mas minha gente, não é quadrinho. É um filme que usa personagens que surgiram em quadrinhos. Aquaman, Deadpool são quadrinho puro. O Snyder Cut está muito mais pra Logan do que pra um gibi.

Snyder entende sim a linguagem dos quadrinhos, mas ele acha que é capaz de tirar muito mais dos personagens. Quanto há material de sobra, como em Watchmen, ele não precisa mexer em nada. Quando precisa, ele estende o filme e aprofunda os personagens.

O Snyder Cut é o DCEU, dark, realista, mas não é depressivo. Ele fica depressivo quando os filmes são cortados pelo estúdio e as coisas são jogadas na tela. O Snyder Cut é, acima de tudo, solene.

O uniforme preto é lindo e é canônico. Você tem todo direito de discordar, mas saiba que está errado. (Crédito: HBO Max)

A Parte Que Não Funcionou

Eu gostei muito do Snyder Cut, muito mesmo, mas não é um filme perfeito. Pouquíssimos são. Há algumas decisões questionáveis. Então, vamos a elas:

1 – O formato 4:3

Zack Snyder filmou várias cenas do Batman vs Superman com câmeras IMAX, aquele formato monstruoso de grande que permite projeção em telas de 30 metros de altura. IMAX tem uma proporção de 1.33:1. A maioria dos filmes-pipoca são filmados em 2.39:1. BvS alternava entre formatos, o que é extremamente desagradável visualmente se não for feito com criatividade e parcimônia, tipo em WandaVision.

Snyder decidiu que ele gostou mais do formato IMAX do que do widescreen, e como estava usando filme de 35mm, com um aspecto mais quadrado, optou pelo 1.33:1, o mesmo utilizado no cinema antigamente. Ele é bem próximo do resultado final, 4:3, que era a norma nas televisões antigas. Eu acho que foi um erro, filmes em 4:3 ficam apertados, esteticamente é uma razão de tela que não funciona com cenas e batalhas épicas.

2 – As cores lavadas

A Gail Simone, famosa autora de quadrinhos brincou que mal esperava pra ver o Lanterna Cinza” de Zack Snyder. Não chegou a tanto mas caramba, Zack Snyder deve ser um cachorro, todas as cores são lavadas, nem dá pra saber se o Uniforme Preto do Super-Homem é o preto mesmo ou o tradicional desbotado. Até a Mera, que em Aquaman tinha um cabelão ruivo Koleston virou no máximo morena-clara. E como se não bastasse, Snyder quer lançar uma versão preto-e-branco do filme.

Zack Snyder odeia tudo que é colorido. Quando falaram para ele sobre 50 Tons de Cinza a resposta foi "pra quê tanto?" (Crédito: Divulgação)

3 – As cenas pós-tudo

Snyder adorou o pesadelo pós-apocalíptico com o Super-Homem fascista mostrando em Batman vs Superman, mas não teve como encaixar no filme, então ele voltou, de novo como um pesadelo de Bruce Wayne, dessa vez com os heróis renegados sobreviventes tentando invadir a base do Super-Homem, com direito ao Coringa do Jared Leto, bem melhor do que no Esquadrão Suicida, mas ainda desnecessário. A cena com o Luthor também não acrescentou nada, no máximo abriu caminho pro filme solo do Batfleck, que não vai acontecer.

4 – Darkseid

Sim, eu sei, todo mundo reclamou de ele não aparecer na versão do Whedon, mas nessa ele aparece na Batalha Primordial, num flashback, depois passa o filme inteiro em chamada de Zoom com o Lobo da Estepe. Quando ele finalmente encara a Liga da Justiça olho no olho, é através de um boob, digo boom tube, vemos as tropas de Apokolips, Desaad, a Vovó Bondade, aí ele chuta o roteador a ligação cai, the end.

Ficou algo muito, muito forçando uma continuação, mas convenhamos, se você ameaça um mega-vilão o filme inteiro e não entrega, o público fica decepcionado. Vide a RIDÍCULA participação do Rino num daqueles filmes do cabeça de teia.

Conclusão:

Se você não assistiu o Liga de Justiça de 2017, NÃO ASSISTA. Passe direto pro Snyder Cut, mas não vá com fogo no fiofó. Apesar de ter um monte de cenas de ação, não é um filme pra ver comendo pipoca olhando no celular e dando ALT+TAB no browser. Você vai apreciar muito mais se dedicar quatro horas de sua vida ao Snyder Cut.

Zack Snyder é um bom contador de histórias, e se você viu o Liga da Justiça de 2017, pode ver esse sem medo. É a mesma história, mas um filme completamente diferente. É como se Zack Snyder tivesse ouvido os fãs e refeito o filme consertando tudo que acharam errado, e nem foi culpa dele pra começo de conversa.

Cotação:

4,5/5 Cyborgs dos Jovens Titãs Em Ação pra todo mundo entender que um personagem pode ter mais de uma leitura.

Trailer:

Aonde Assistir:

Nos EUA, só na HBO Max. Por aqui, em um monte de serviços de streaming. Vivo, Sky, Google Play, YouTube, etc.

Liga da Justiça – Resenhamos o Snyder Cut (com spoilers)

11 Apr 21:40

Estudo revela como os neurônios dos neandertais funcionavam

by Ronaldo Gogoni

Muito se fala sobre as diferenças entre o homem moderno, Homo sapiens sapiens, e seus "primos" próximos, os neandertais (H. sapiens neanderthalensis) e os denisovanos (taxonomia ainda não definida, não há consenso entre H. denisova, H. altaiensis e H. sapiens denisova, pois ainda não decidiram se ele foi ou não um sapiens). Em um dado momento, as três subespécies conviveram ao mesmo tempo e inclusive cruzaram entre si, como comprovam pesquisas genéticas que detectaram DNA neandertal em europeus e denisovano em aborígenes.

Ainda assim, o H. sapiens sapiens perdurou e os demais foram extintos. Isso é estranho quando olhamos para os neandertais, capazes de fabricar ferramentas complexas e criar arte. Eles tinham rituais funerários e também dominaram o fogo, e se estenderam por regiões que o homem moderno ainda não havia alcançado, durante a Era do Gelo, em tese por serem mais robustos e adaptados ao frio.

Reconstituição de como seria um neandertal adulto (Crédito: Flavio Massari/Alamy)

Reconstituição de como seria um neandertal adulto (Crédito: Flavio Massari/Alamy)

Os neandertais foram uma subespécie humana relativamente capaz de perdurar, mas pouco se sabe como o cérebro deles, ou dos denisovanos, que eram bem mais próximos a eles do que ambos de nós, funcionava. Até onde sabemos, o nosso é consideravelmente menor, mas a chave está em como ele opera, sua plasticidade e eficiência.

Evidências genéticas apontam para diferenças fundamentais nesse ponto, mas ver um cérebro de um neandertal "funcionando" é outra história. Não tínhamos como ver tal coisa até agora, e é aqui que entra o novo estudo conjunto entre cientistas brasileiros e norte-americanos, que conseguiram "cultivar" organelas cerebrais com um gene arcaico, chamado NOVA1.

Este gene em específico responde pela produção de uma proteína que regula como as células "lêem" trechos de outros genes, voltado especificamente para o desenvolvimento de neurônios e suas interconexões. Já se sabe que o NOVA1 do homem moderno é uma mutação, diferente da detectada em neandertais e denisovanos, e isso implica diretamente em como o cérebro se constitui e funciona.

A pesquisa consistiu em cultivar células-tronco e inserir nelas o NOVA1 neandertal, de modo que elas se especializaram em neurônios e posteriormente, em organoides corticais. Essas organelas são simulações MUITO resumidas do cérebro, mas suficientes para observar como o real se comportaria. Paralelamente, outros organoides foram cultivados com o gene NOVA1 moderno, para servirem como material de comparação.

Cena do filme "A Guerra do Fogo" (Crédito: Cinema International Corporation/AMLF/Disney)

Cena do filme "A Guerra do Fogo" (Crédito: Cinema International Corporation/AMLF/Disney)

Os resultados foram interessantes, para dizer o mínimo.

Os organoides com o NOVA1 neandertal eram menores e mais rugosos do que os com o gene moderno, e suas células tinham um índice maior de apoptose (morte cerebral programada), além de se multiplicarem menos. Por outro lado, elas apresentaram uma atividade eletrofisiológica (transmissão de impulsos entre neurônios) mais complexa do que a nossa. Um dos motivos para isso é que o desenvolvimento cerebral de nossos "primos" era mais acelerado que o nosso, algo que já se sabia.

Pode parecer uma vantagem e tanto, mas na verdade isso cria um problema logístico. O cérebro dos neandertais trabalhava em um ritmo mais acelerado para realizar funções que o nosso desempenha normalmente, tendo um ciclo mais lento de desenvolvimento, o que é uma vantagem para a plasticidade do órgão. Mesmo sendo uma tremenda gambiarra evolutiva, nosso cérebro é capaz até de fazer outsourcing.

Mesmo com redes neurais mais complexas que a nossa, os neurônios de um neandertal tinham menor durabilidade e comprimento, significando que o cérebro tinha que compensar a falta de poder computacional de outras formas.

Uma delas é com um cérebro maior.

Comparação entre o crânio de um H. sapiens sapiens e de um H. sapiens neanderthalensis (Crédito: Wikimedia Commons)

Comparação entre o crânio de um H. sapiens sapiens e de um H. sapiens neanderthalensis (Crédito: Wikimedia Commons)

Antigamente se pensava que a diferença de tamanho entre os cérebros apontava para uma maior inteligência dos neandertais, mas o estudo sugere que sua massa encefálica avantajada era necessária apenas para fazer o mesmo que um H. sapiens sapiens faz com menos miolos, já que os seus são mais eficientes.

Outro ponto a se levar em conta aqui é que o cérebro é de longe o órgão que mais consome energia, e mesmo nossas cabeçonas exigem muita comida. O fogo, nesse sentido, foi essencial para o desenvolvimento de nossa espécie, e claro que os neandertais o usavam também. Ainda assim, é bem provável que eles precisassem comer bem mais que nós.

A pesquisa ainda está no início, e os pesquisadores ainda especulam as repercussões dessa diferença entre os neurônios modernos e dos neandertais e denisovanos, se isso realmente implicava em uma diferenciação cognitiva ou não, além de outras semelhanças e diferenças físicas e comportamentais.

Referências bibliográficas

TRUJILLO, C. A. et. al. Reintroduction of the archaic variant of NOVA1 in cortical organoids alters neurodevelopment. Science, Vol. 371 (2021), Edição 6.530, DOI: 10.1126/science.aax2537, 12 de fevereiro de 2021.

Crédito: Science, Ars Technica.

Estudo revela como os neurônios dos neandertais funcionavam