Enquanto os governos só fazem acontecer o que é de interesse do próprio governo, tem gente cheia da grana investindo no futuro por puro hobby. E quem vai contar isso com muita propriedade é o Bruno Ferreira Porto, engenheiro aeroespacial, e o cara que sempre respondeu todas as minhas perguntas sobre o universo.
Na foto do topo do post e nessa aqui, Elon Musk
“Assistindo a transmissão do lançamento do foguete Falcon 9 1.1, finalmente entendo como se sentem meus amigos que gostam de futebol em final de campeonato, eu fiquei pensando nos velhos donos das velhas corporações por trás da corrida espacial. Olhando essa transmissão com raiva e inveja.
A corrida espacial, motivada pela guerra fria, foi um dos grandes motores de inovação do século XX. Nascida da rivalidade de dois visionários na hora e lugar certo (documentário imperdível da BBC Space Race) a empreitada foi feita por grandes nações e nos EUA engrenada por grandes empresas do setor aeroespacial. Essas empresas fazem um modo antigo de gestão, baseado nos contratos governamentais coisas lentas e burocráticas – coisas MUITO caras de se fazer. Mas eles estão nesse negócio desde então. Colocar um quilo de qualquer coisa no espaço custa um camaro amarelo.
Aí vem um moleque, é… um moleque. Pensa bem, você aquele velho de uma grande empresa – um monstro de um negócio – e vê aquele moleque que vendeu uma empresa chamada PayPal por uns bilhões e quer entrar no seu negócio… E ainda vem falando que vai reduzir o custo em dez vezes, no minimo!
Ele quer reduzir o custo de acesso ao espaço para conseguir ainda neste século colonizar marte e garantir que a espécie humana seja interplanetária. Só isso, tirou a grana do bolso dele e fez a SpaceX contratando um monte de desempregados da guerra fria, além de jovens engenheiros que deveriam estar muito frustados na época em que se formaram. Em menos de uma década, dentro do mesmo galpão onde eles fabricam quase 90% dos foguetes (entra lata, sai foguete…) eles já são a primeira empresa do mundo a fazer coisas que somente nações e centenas de empresas fizeram em 40 anos. Ele chora em uma entrevista quando perguntam pra ele sobre dois astronautas da época da Apollo que criticam, pagos pela velha indústria, a SpaceX dizendo que são amadores. O cara é foda.
Tudo isso enquanto ele criava a Tesla Motors, primeira empresa do mundo a fabricar carros 100% elétricos. E criar uma rede de postos de abastecimento gratuito de carros elétricos onde você troca a bateria do seu carro em alguns segundos como a a pilha de um brinquedo. Além de investir na Solar City pra energia solar…… Esse cara é um bom rico.
Linha de produção do modelo S
Outro grupo de bons ricos acho que é a turma do Bertrand Piccard e André Borschberg do projeto Solar Impulse. Os caras desenvolveram e construíram um avião pra um passageiro com uma asa maior que a de um 747, mas ele voa somente com energia solar. Algumas pessoas tem o hobby de construir aeromodelos, outros mais ricos constroem aviões na garagem, outros muito mais ricos compram seus aviões e os muito muito filhos da puta de ricos brincam na margem da tecnologia da aviação podendo revolucionar a forma como voamos por… hobby. Então agora que o aviãozinho funcionou ele vão construir um maior, pra dois passageiros e aí sim. Dar a volta ao mundo sem pousar, apenas com energia solar. Banheiro? Bom, eles recomendam usar as próprias garrafas de água mineral, numero um resolvido. E fizeram um vídeo tirando onda sobre o tema, mais votado em uma enquete.
Bertrand Piccard e André Borschberg
Pode ser para se mostrar, pra alisar o ego – não me interessa – os caras colocam grana muito preta pra ver o mundo evoluir por diversão. Deixa eles se divertirem assim, é saudável ser rico desse tipo.
E quase, quase me esqueci da iraniana Anousheh Ansari, que desde pequenininha sonhava em ir para o espaço. Criou a X Prize Foundation, uma competição para a primeira empresa a fazer um vôo sub-orbital comercial com dois tripulantes. Além de ter sido uma das que pagou a passagem nas espaçonaves Soyuz russas para visitar a Estação Espacial Internacional.
Anousheh Ansari na ISS
A empresa ganhadora do X Prize foi a Scaled Composites com o SpaceShipOne é a semente da Virgin Galactic de Richard Bransom outro que se mete a investir em avanços aeroespacias sendo ivestidor da SpaceShipOne e com turismo espacial sub orbital com a lindíssima espaçonave SpaceShipTwo. E um colega dele, o Robert Bigelow que já lançou dois protótipos do seu hotel espacial, inflável, em orbita e provavelmente usará os foguetes de Musk.
SpaceShipTwo
Richard Bransom
Robert Bigelow e um hotel na Lua.
Um da época da segunda guerra e guerra fria, até rolou um filme sobre – O Aviador. Mas não assistam só o filme, procurem o documentário do Discovery que vinha no DVD duplo do filme sobre o Howard Hughes. Ele que bancou a idéia de aviões pressurizados voando acima do mal tempo, rebites lisos, trem de pouso retrátil, câmeras em satélites para previsão do tempo, robos na lua, etc. etc. etc+n…
Fizeram uma CPI acusando ele de não entregar aviões na segunda guerra, uma manobra politica por conta da disputa por rotas internacionais monopolizadas pela PanAm na época, e ele chuta o pau da barraca nervoso em uma defesa épica do empreendorismo. Vale a pena assistir. O cara era o Batman da vida real pelo menos no que diz respeito a seus brinquedos e estilo de vida muito louco, só que ele não combatia o crime.
Howard Hughes, e seu avião de corrida com rebites rasos e trem de pouso retrátil.
O Jeff Bezos da Amazon brinca de rico saudável também, estes tempos atrás ele recuperou peças dos foguetes Apollo no fundo do mar. Logo logo ele inventa uma.
Um dos motores F1, o que sobrou dele, dos foguetes Apollo da corrida espacial recuperado por Bezos.
É lógico que não é o Elon Musk que aperta os parafusos ou desenha a peça inovadora na SpaceX, mas essas são as pessoas que botam a banca pra inovação acontecer. Foram ricos assim que sustentaram os grandes pensadores e artistas do passado. A inovação vinda da curiosidade pura e com grana o suficiente.
Termino esse papo com uma menção honrosa para Amanda Feilding com a Beckley Foundation, que não é da área de engenharia mas nem precisou de um foguete pra viajar bem alto.”
Amanda Feilding, aos 27
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Bruno Ferreira Porto é engenheiro aeroespacial, pai de quase três filhos, adora responder perguntas e acha que está colocando uma lasquinha na estrada para a humanidade ser uma espécie multi planetária. E tem muita raiva de quem vem com papinho de que o homem não foi pra lua….