Dia 1 – Primeiro contato com o carro, descobri que ao sentar no banco do motorista não apareciam na tela as opções “manual e automático”, além da ausência da canção “CRUIIISIN, USAAAAAA” ser absolutamente perturbadora para um motorista de primeira viagem. Instrutor me ensinou algo chamado “ponto da embreagem” e não consegui aprender exatamente o que era, mas descobri que as piadas comparando dificuldades com o ponto da embreagem e confusão relacionada ao ponto g já foram feitas anteriormente, sem sucesso. Deveria ter começado essas aulas antes.
Dia 2 – Tirei o carro do lugar pela primeira vez, o professor começou a me informar quantos pontos seriam computados a cada infração e eu percebi que se o carro funcionasse como um videogame de shopping eu teria, já nessa aula, marcado pontos o bastante pra poder escrever as minhas iniciais nele. Um ônibus tentou me ultrapassar e num momento de pânico tentei apertar o pedal do freio com uma das mãos. O professor disse que nunca tinha visto nada parecido antes.
Dia 3 – Primeira volta no quarteirão, primeiro contato com o acelerador, primeira vez que fui ofendido por um motorista de ônibus que me mandou “ir praticar esta merda em casa”, como se no atual ambiente imobiliário do rio fosse possível ter na zona sul um apartamento grande o bastante pra dar uma volta de carro. Num dado momento o professor me pediu pra pisar mais forte no acelerador, eu pisei, ele disse mais forte, eu pisei mais forte, ele disse mais forte ainda, eu pisei mais forte ainda, ele disse “pisa feito homem”, eu enfiei meu pé naquela merda, quase batemos num ônibus, ele precisou puxar meu pé com as duas mãos, disse que não entendia porque eu era assim
Dia 4 – Comecei a notar que todas as piadas que comumente são feitas sobre mulheres na verdade correspondem a instrutores de direção. Eles dizem muito quanto querem pouco, falam que gostam que você vá devagar mas depois reclamam que você precisa ir mais rápido, não te explicam uma coisa mas esperam que você entenda mesmo assim e depois que eu esqueci uma marcação da baliza ele basicamente passou a aula toda sem falar comigo. Claramente o cara que inventou esses conceitos machistas namorava o bróder da autoescola mas ficava sem graça de comentar.
Dia 5 – Estava tendo dificuldades com o acelerador, o instrutor disse que eu precisava ter mais confiança. Eu disse que vinha tentando. Ele disse que acreditava em mim. Falei sobre a separação dos meus pais. Ele citou o divórcio e a saudade da filha. Compramos yogoberrys com 3 toppings e choramos abraçados (na verdade quando eu disse que vinha tentando ele apenas falou “acho bom mesmo, porque assim tá foda, cara”)
Dia 6 – Mais aula de baliza, novamente tive que explicar que cones não são seres vivos então não é preciso gritar comigo se eu atropelo algum. Durante a aula de hoje o professor não apenas interrompeu uma explicação para sair do carro e negociar a compra de um iphone com dois viciados como também aumentou o volume quando tocou uma música lenta do legião urbana e fez air guitar com as mãos. Temos apenas mais 10 horas juntos e começo a duvidar que daqui vá sair uma amizade que dure para sempre.
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