Se diante dos exames sentes ansiedade, sofrimento ou pânico, este texto é para ti. O que sentes é normal e já muitas pessoas viveram isso antes de ti. Por isso mesmo, há caminhos trilhados que te podem ajudar a superar as dificuldades. O que fiz foi reunir as minhas experiências de sucesso - de 12 anos de vida universitária e três licenciaturas concluídas - e estabelecer 12 dicas úteis para te ajudar neste tempo de aflição.
1. PÁRA E FOCA-TE
A primeira coisa a saber é: qual é a tua intenção? O que procuras com o estudo? Qualquer que seja a resposta, será essencial para servir de motivação para o que estás prestes a fazer. Sem motivação o que poderás dizer à preguiça? Repara que ela é tanto mais persistente quanto mais te mostrares condescendente com as suas insinuações. Tens de ser tu a fechar-lhe a porta e a dar-lhe uma razão válida para ir dar uma volta enquanto estudas.
2. ACEITA AS REGRAS DO JOGO
A coisa poderia ser feita de outra maneira, é verdade. Poderias não ter de decorar quinhentas mil coisas. Aliás, poderia nem sequer haver exames ou – quem sabe? - nem haver escolas e faculdades. Mas a realidade presente é o que é e talvez não seja agora o momento oportuno para pensar como revolucionar o acesso à vida profissional. Se tiveres ideias geniais ou ódios contra professores ou contra a faculdade ou contra o mundo, escreve num papel e guarda tudo numa gaveta. Não vais precisar de olhar para isso neste tempo.
3. ORGANIZA-TE
Organiza o bem mais precioso que tens - o teu tempo - e organiza o espaço em que irás passar esse tempo. Faz um calendário da época de exames, planeia o tempo que precisarás para cada desafio e prevê tempos de descanso; faz um horário de estudo adequado a ti e ao teu ritmo. Dá a conhecer esses propósitos às pessoas com quem partilhas o teu espaço e a tua vida, para que te ajudem a conseguir o que pretendes.
4. ATREVE-TE A ATRAVESSAR O DESERTO DO ‘OFFLINE’
Quando chegar a hora fatídica de te sentares frente a frente com os livros prepara-te porque o teu corpo vai reagir com violência e o teu cérebro vai disparar em criativas possibilidades de fuga: vais sentir frio, fome, calor, tremores, aversão, irritação com a luz, incómodo com cheiros; vais dar conta de todos os ruídos da vizinhança.
Poderás sentir uma vontade repentina de limpar e arrumar tudo à tua volta “porque ninguém consegue estudar num quarto assim” e, afinal, não o arrumas mais ou menos desde a década passada. Talvez sintas até vontade de lavar roupa, ou louça, ou levar o cão a passear. Poderás sentir um desejo insaciável de sentir fome – repara, não é fome, é desejo de ter fome! – e vais dar por ti a ir até ao frigorífico (de meia em meia hora) ver se há alguma coisa que se coma.
Sentirás também uma vontade irreprimível de confirmar as últimas notificações que recebeste no computador ou no telemóvel, porque não as vês há uma eternidade, ou seja há dez minutos! – elas vão parecer como bóias de salvação no mar de fotocópias em que estás prestes a afogar-te. Parecerá nessas alturas que a tua vida depende de um novo ‘post’, um novo ‘mail’ ou um novo ‘tweet’ – enfim, qualquer sinal de vida exterior publicado por alguém, algures no ciberespaço.
Mas todas essas ‘necessidades’ são ilusão do teu corpo a reagir à catástrofe iminente de se confinar a umas horas de estudo. Se precisas de estudar, então estuda! Compromete-te com tempos verdadeiramente ‘offline’, longe de todas as distrações, antes que fiques ‘offlife’. Escolhe o espaço e a companhia, ou o isolamento, mas escolhe. Não te deixes levar pelo que é mais apetecível: escolhe o que ajudar mais ao propósito que tens.
5. RECORRE À MEMÓRIA BIOLÓGICA
Todos tendemos a estudar à bruta. Ou seja: passamos os olhos por palavras, linhas, parágrafos, páginas, livros completos como se fôssemos autênticos 'scanners' - e, embora haja pessoas com memórias prodigiosas - a verdade é que a maior parte de nós tem uma memória que precisa de ser manuseada com inteligência. Passar os olhos não é o mesmo que ler; ler não é o mesmo que apreender. Se ao fim de um tempo de estudo não fores capaz de repetir em voz alta alguma coisa do que leste, é sinal de que estiveste a praticar ‘wordsurfing’ (!): até pode ser entusiasmante a quantidade de texto percorrido, mas qual o fruto?
Dizem os especialistas que a memória permanece tanto mais viva quantas mais vezes recorremos a ela. Ou seja: não se trata de ler muitas vezes; trata-se de repetir mentalmente o conhecimento que adquirimos. Ora isso leva-nos ao princípio básico do estudo: a repetição. Sabe-se agora - graças aos estudos da neuro-plasticidade - que a repetição regular de um procedimento ou conhecimento leva ao estabelecimento de novas ligações neuronais. Por isso é que cansa estudar! Não admira: estamos a construir centenas de junções sinápticas que não existiam antes! :D
Basicamente a memória é biológica: ou seja, a memória é como um pedaço de relva que, primeiro, está intacto: pisado algumas vezes ainda permanece mais ou menos igual; passadas algumas vezes a relva começa a ficar marcada; a certa altura já se distingue uma linha; tempos depois passamos já por um caminho e ele torna-se tanto mais visível quantas as vezes que passemos por ali. Uma vez garantido esse caminho, facilmente podemos estabelecer outros, a partir dali. Também a memória funciona da mesma maneira.
6. USA A MEMÓRIA A CORES!
Esquece o preto-e-branco do “ou sei ou não sei...”. Lembra-te de que dispões de vários tipos de memória e tu tens algum tipo mais desenvolvido do que outros. Deves aprender a reforçar os conhecimentos cruzando os vários tipos de memória: a memória visual, que podes exercitar escrevendo, ou desenhando ‘mapas mentais’ ou esquemas; a memória auditiva, que podes exercitar dizendo ou cantando coisas em voz alta; a memória cinestésica que podes exercitar associando termos, noções ou definições ao movimento do corpo. E podes sempre fazer uso de todo o tipo de mnemónicas, associando ideias.
7. PRATICA O ‘FAIR PLAY’ ACADÉMICO
Quanto aos tradicionalmente chamados “auxiliares de memória” (‘aka’, cábulas), esquece: preserva a tua dignidade e faz jogo limpo: pratica a justiça que gostarias de ver no mundo; lembra-te do escândalo que sentes quando ouves falar de mais um caso de corrupção ou de fraude.
Se quiseres faz cábulas como se as fosses usar no exame: elas ajudar-te-ão a resumir e a memorizar a matéria. Mas, depois, põe-nas de lado. Enquanto estiveres a fazer o exame estarás tranquilo e concentrado na tua tarefa. E no dia em que olhares para a pauta vais sentir a satisfação de ter um resultado que corresponde ao teu esforço (e não a uma mentira).
8. 'LUDIFICA' O ESTUDO
Porque é que o estudo há de ser sempre um suplício se pode chegar a ser divertido? Inspira-te nos jogos de cartas e de tabuleiro, arranja pontuações e testa-te na progressão com que vais assimilando os conteúdos. Combina conversas com colegas para simular a situação de exame ou simplesmente para conversar descontraidamente sobre os temas em questão. Ao verbalizar estarás a usar um tipo de memória precioso a que não acedes se estiveres sozinho; e ao ouvires outros estarás a aceder a recursos externos complementares aos teus.
9. USA A TÉCNICA DO ‘QUEIJO SUÍÇO’
De vez em quando, interrompe o estudo, afasta-te dos apontamentos e pega numa folha em branco: é a coisa mais parecida com a folha de exame que irás receber quando for mesmo a sério. Preenche a folha com os tópicos principais da matéria que estás a estudar e, depois, com tudo o que sabes: rapidamente irás notar os buracos que tens nos teus conhecimentos - como o queijo suíço! ;) A memória ficará alerta e, desejoso de suprir essas deficiências, estarás pronto a voltar ao estudo com outra motivação. A próxima folha em branco será mais bem preenchida, e assim por diante, até ao dia do exame – altura em que já será pacífico ver uma folha em branco à tua frente, porque sabes que a irás preencher, sem problemas, de uma ponta à outra.
10. E SE FALHARES? E SE TUDO CORRER MAL?
Não te esqueças: um exame é só um exame. A escola ou a faculdade é apenas uma instituição de ensino com os seus propósitos específicos e com as suas limitações: não está ali para avaliar a tua família, as tuas relações de amizade, os teus sonhos; não consegue alcançar toda a tua profundidade, a tua dedicação, a tua resiliência, a tua capacidade de sacrifício e auto-superação; muito menos o teu valor como pessoa. Portanto, põe tudo no seu devido lugar.
Em vez de seres assaltado pela ansiedade, pelo medo, enfrenta esses sentimentos e fala com eles: desafia-os a mostrarem-se: são medo de quê? Qual seria a pior coisa que te poderia acontecer? Em princípio não tens a vida em risco. Os que te amam vão continuar a gostar de ti como de costume. Talvez o mais difícil seja o teu orgulho, certo? Gostavas de provar o teu valor diante de ti mesmo, diante de outros, ser o melhor. Bom, mas isso são coisas do orgulho. Não te deixes enganar: na verdade, o pior que te pode acontecer se tudo correr mal, não é assim tão mau quanto os teus sentimentos te querem fazer crer.
11. RELAXA: NÃO HÁ MELHOR QUE DAR O TEU MELHOR
Relaxa. Na verdade, só tens que fazer uma coisa: concentra-te em dar o teu melhor. Há melhor coisa que dar o teu melhor? Não há! Não há melhor que dar o melhor. Daí para baixo seria preguiça ou distração. Daí para cima seria sonho ou projeção – não existe. Portanto é isso que tens de fazer: dar o teu melhor. Depois o resultado logo se vê.
Se estiveres nervoso ao começar o exame, lembra-te disto: mal o exame começa estás com classificação zero; ora isso significa que tudo o que faças daí para diante, será sempre a somar. Espetacular, não é?
12. A RESSACA E O REGRESSO À VIDA
Se te dedicaste a sério, é provável que tenhas esquecido que existe vida para lá dos exames. Quando voltares à realidade, ela parecer-te-á tão estranha como se tivesses permanecido num ‘bunker’ durante dias, sem contacto com o exterior. Os teus amigos parecerão alienígenas a falar uma língua estranha. E tudo isso é normal: um exame exige tanto de nós que facilmente chegamos a pensar que o mundo se confina a isso.
O segredo está em manter a ligação com a realidade: assim que possível, sai do teu metro quadrado, convive com outras pessoas, contempla a natureza, contacta com outros mundos. Chegarás sempre a esta sã conclusão: há muita vida para lá dos teus exames, para lá dos teus resultados. E se os exames têm uma razão de ser, a razão é mesmo essa: devolver-te à vida ainda melhor; um passo mais perto da tua melhor versão!
[Fotografia de Animal - New York]
> Para quem for especialmente dado à procrastinação, este amigo dá um empurrão.