Recentemente o estudo das cores tem me entusiasmado bastante e nesse último semestre da faculdade tive a oportunidade de me aprofundar um pouco mais no assunto dentro da cadeira de Design de Superfície, que acabou se revelando bastante abrangente e repleta de possibilidades animadoras. Minha pesquisa tinha o objetivo de analisar a possibilidade de criação de módulos geométricos com cores proporcionalmente distribuídas a fim de proporcionar uma harmonia cromática, ou seja, como combinar cores proporcionalmente.
Antes de continuar com este artigo eu gostaria de frisar que isso é uma pesquisa de nível acadêmico, com o objetivo puramente de exploração e experimentação. Então não encare-a como uma verdade absoluta e nem como algo definitivo, visto que, como dito anteriormente, é uma área abrangente e cheia de possibilidades de estudo. Convido-os, então, a ler, concordar, discordar e discutir essa pesquisa comigo.
Goethe e sua influência no estudo das cores
Esse estudo não seria possível se não fosse pelo escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, um exímio escritor que ficou famoso por suas contribuições ao Romantismo europeu. Goethe também se aventurou na ciência e dedicou grande parte da sua vida ao estudo das cores, tendo, inclusive, um livro chamado Teoria das Cores publicado em 1810, que contém grande parte dos seus estudos a repeito deste campo.
Um desses estudos realizados por Goethe atribuía certos valores para as cores, valores que, se utilizados corretamente, tornaria possível alcançar a harmonia cromática nas composições.
Proporção Cromática
De acordo com a interpretação de Goethe, as cores do espectro possuem intensidades (luminosidades) diferentes, e para haver um equilíbrio e harmonia é necessário combiná-las proporcionalmente. Ele explica que se uma cor é por natureza mais luminosa, como o amarelo, por exemplo, deve-se combinar com um tom naturalmente mais escuro, cuja proporção entre as duas cores deve ser tal que a cor mais luminosa ocupe uma área menor do que a outra (BARROS, 2009).
Abaixo está uma imagem que retirei do livro A cor no processo criativo, da pesquisadora Lilian Ried Miller Barros, que mostra os valores das cores do circulo cromático e alguns exemplos de proporção.
Figura 1: Proporção entre as cores do circulo e as complementares. Fonte: BARROS, 2009, p.9
Percebam que, se utilizarmos a combinação de amarelo, cujo valor é 3, e roxo, que tem valor 9, teremos uma proporção de 1 para 3. Se vocês repararem, o espaço que o roxo está ocupando equivale a 3 retângulos amarelos, ou seja, 1:3. O mesmo acontece com os outros exemplos.
Segue um exemplo da utilização das proporções cromáticas para uma combinação harmônica que Johannes Itten desenvolveu com as cores primárias: amarelo, vermelho e azul, que corresponde a 3 : 6 : 8, ou proporcionalmente 17% : 36% : 47%.
Figura 2: Exemplos de Itten para combinações harmônicas. Fonte: BARROS, 2009, p.100
Como descobrir a proporção de cada cor em uma paleta
Como a pesquisa baseia-se no circulo cromático visto anteriormente, nossa paleta fica restrita somente às suas cores. Para uma combinação mais elaborada seria necessário um estudo mais aprofundado para descobrir seus respectivos valores de luminosidade. Esse estudo, infelizmente, está fora das minhas capacidades no momento, então trabalharemos com o que temos disponível.
As paletas de cores abaixo foram as que utilizei em minha pesquisa, e embaixo de cada cor encontra-se suas respectivas percentagens. Na imagem também encontram-se os cálculos realizados para chegar nos valores da primeira paleta, que serão explicados a seguir.
As três equações correspondem a primeira paleta.
A matemática está presente em praticamente qualquer trabalho de Design, e este não foge a regra. Inicialmente, você precisa somar todos os valores da sua paleta cromática. No meu exemplo, o valor total da primeira paleta foi 17, que equivale a 100%, correto? Em seguida, basta realizar a regra de três para cada uma das cores, cujo valor inicial sempre será igual x (x = resultado). Se o resultado final tiver virgulas, arredonde-o para mais ou para menos, desde que o valor total da soma dos três resultados seja 100.
Se ainda sobrarem dúvidas em relação ao cálculo é só perguntar pelo sistema de comentários.
Aplicando os valores obtidos
Bom, já definimos nossas paletas e já descobrimos o valor de área que cada cor ocupará, então só resta a aplicação.
A fim de facilitar a distribuição das cores e o entendimento de proporção cromática eu optei por utilizar um quadrado contendo 100 blocos, em que cada bloco corresponde a 1% do total, logo, utilizando os valores da primeira paleta teremos: 17 blocos amarelos, 36 blocos verdes e 47 blocos azuis.
Percebam que, embora haja muito menos blocos amarelos no módulo 2, a impressão que temos é que há uma igualdade de forças com o laranja e o vermelho, e temos praticamente o dobro de vermelhos em relação ao amarelo. É esse tipo de resultado que esperamos encontrar em composições harmônicas cujas cores foram distribuídas proporcionalmente.
Conclusão
A pesquisa me levou a um resultado satisfatório no fim das contas, e serviu para ampliar o meu desejo pelo estudo das cores, principalmente no que tange os aspectos simbólicos (tema para outro post), e creio que uma continuação dessa pesquisa responderia algumas perguntas que surgiram durante o caminho, como, por exemplo, a aplicação da proporção em peças que não sejam geométricas e nem divididas em blocos.
Como vimos, é possível utilizar a combinação dos valores cromáticos para criar peças harmônicas, mas isso não quer dizer que todo trabalho precisa seguir esses cálculos ou que as criações não serão harmônicas se não utilizarmos a distribuição correta das cores. O que vale é o bom senso, como todo professor fala na faculdade.
Eu espero que o assunto discutido nesse post abra muitas portas repletas de possibilidades e perspectivas nos seus estudos de cores. Desejo, realmente, que esse post o inspire a pesquisar e escrever sobre esse tema tão gostoso.
Qualquer dúvida ou acréscimos ao post pode ser enviada nos comentários abaixo ou para meu e-mail: will@chocoladesign.com
Referência
BARROS, Lilian Ried Miller. A cor no processo criativo. São Paulo: Senac, 2009.
Confira o artigo original publicado pelo Choco La Design:
Como combinar cores proporcionalmente