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26 Feb 18:46

Woody Allen: É possível separarmos a obra de arte do artista?

by Ivan Mizanzuk

Recentemente, vimos a carta Dylan Allen, filha adotiva de Woody Allen quando casado com Mia Farrow, na qual ela confirmava que seu pai havia abusado dela quando criança. Textos ora a favor de Dylan, ora duvidando, pipocaram por toda a internet. Não vou entrar nos detalhes do caso. Quem quiser, recomendo a leitura desses dois textos: a carta aberta de Dylan sobre o assunto e este texto de Robert B. Weide, responsável por um documentário sobre Woody Allen que foi ao ar nos EUA pela emissora PBS. No texto, Weide explica uma série de fatores que colocam em dúvida as acusações (ambos os textos estão em inglês).

O que mais me chamou a atenção no retorno da polêmica, que teoricamente já foi resolvida em 1993, quando Woody Allen foi absolvido pela corte americana, foi a quantidade de fãs dele se questionando “e agora, devo (ou posso) continuar fã?”. Certamente, ninguém quer correr o risco de ter sua reputação misturada a de um suposto pedófilo, simplesmente porque gosta dos filmes dele.

Mas será que tal associação, mesmo que feita de forma involuntária, é justa? Até que ponto devemos fazer tais questionamentos? Esse é um dos mais mais frequentes debates no campo artístico, e Woody Allen não foi o primeiro a ser objeto de tais dúvidas. Com certeza, não será o último. Este texto é uma infame tentativa de resposta para o dilema.

Woody Allen no set de "Match Point" (2005)

Woody Allen no set de “Match Point” (2005)

Qual a importância do autor?

Quando Roland Barthes, semiólogo francês do século passado, escreveu seu famoso texto “A Morte do Autor”, de 1967, ele desenvolvia uma posição provocadora: em contato com uma obra, a única coisa que importa é o leitor. Seu ensaio era voltado especialmente a uma corrente de crítica literária muito comum em seu tempo, na qual buscava explicar obras publicadas a partir da biografia de seus autores.

“E agora, devo (ou posso) continuar fã?”

Segundo Barthes, a obra literária possuiria uma vida independente da vida do autor que a escreveu, sendo então o resultado de leituras, recepções e interpretações diversas no meio social. Nesta perspectiva, definir a qualidade ou alcance de uma obra partindo da limitação da vida do criador da mesma seria inconsistente. Para os curiosos, discutimos essa questão de Barthes no AntiCast 37.

Woody Allen

Eu tendo a concordar com Barthes nesse ponto. Apesar de achar que o conhecimento sobre a vida do autor pode ajudar a um maior esclarecimento sobre detalhes de determinadas obras, quando vou à livraria ou ligo a TV para ver um filme, especialmente se for algo pouco conhecido, não me importa quem é o realizador. Caso o trabalho me chame a atenção, só então corro atrás para saber quem é o escritor, diretor, ator, e qualquer outro “or” (ou “ora”).

Mas, claro, esse não é o caso de Woody Allen. Seu nome é uma assinatura valiosa. Quem é fã, assistirá seu próximo filme sem pestanejar. Quem é simpatizante, poderá dizer que gosta de seus filmes e verá se tiver a oportunidade. E há sempre aqueles que nunca sabem o nome do diretor, e se surpreendem quando descobrem que o diretor de “Noivo neurótico, Noiva Nervosa” é o mesmo de “Meia-Noite em Paris”.

Trocando em miúdos: o nome Woody Allen vende, mesmo em seus filmes menos conhecidos. É um daqueles diretores de público fiel, uma aposta segura para os estúdios. Você com certeza consegue pensar em outros artistas que possuem o mesmo “selo de qualidade”, seja no cinema, na música, na literatura etc.

Claro, sempre há excessões. Um caso recente, no caso de Woody Allen, foi a fraca recepção ao “Para Roma com Amor”, em 2012, provavelmente por causa da alta expectativa causada após o sucesso que foi “Meia-Noite em Paris”. Ainda assim, seu nome continua forte.

Não estou falando nenhum novidade, mas o curioso é perguntarmos “será que o nome do artista sempre teve essa importância?”. A resposta é não.

Woody Allen

Quando surgiu o artista como um nome?

Recentemente, um colega meu, o professor Rodrigo Graça, do curso de design da UTFPR, foi a Paris e postou uma constatação curiosa:

“A disciplina de História da Arte (HA) poderia se chamar marquetingue (sic), ou HA é um protomarquetingue. O culto as obras primas e o endeusamento do indivíduo, na figura do artista criador, é evidente em Paris. Lugares como o Louvre, o d`Orsay e a l`Orangerie tem filas absurdas, enquanto lugares como o Petit Palais e o Musée Centre du Patrimoine et de L`Architecture com excelentes exposições e, em janeiro de 2014, com exposições temporárias sobre Jordaens e sobre o Art-Deco respectivamente, estão vazios; vazios mesmo, sem filas, sem salas cheias, sem atropelo…”

Se pegarmos qualquer livro de história da arte, ao menos os mais famosos (tipo aquele Gombrich que você tem juntando pó na estante de casa), veremos que eles são recheados de nomes. Contudo, os nomes passam a surgir com mais frequência apenas a partir do Trecento, ou o chamado Pré-Renascimento, que marca a transição da Idade Média para a Idade Moderna, no século XIV. Alguns nomes que aparecem nesse período, apenas a título de curiosidade, são Giotto, Domenico Di Bartolo, e Ambrogio Lorenzetti.

Art

O que quero dizer com isso? Por toda a Idade Média, com raríssimas exceções, os artistas que lidavam com artes manuais (esculturas e pinturas) não tinham grandes preocupações com autoria (ou, se tinham, eram contidos). Eram considerados prestadores de serviço, numa configuração determinada pela mentalidade medieval que declarava que toda capacidade de produção deveria ser em prol da representação religiosa. Não à toa, a assinatura do artista em suas obras é uma das marcas que assinalam o fim da Idade Média.

Não desejo entrar aqui nos méritos ou deméritos da mentalidade religiosa medieval e sua relação com a produção artística. Quero apenas enfatizar essa característica. Importante notarmos também que, no caso das artes de cunho intelectual, tal como música e poesia, a autoria foi mais levada em consideração. Os primeiros artistas plásticos do Renascimento, sendo frutos de um momento histórico de intensas revoluções culturais, são responsáveis por uma mudança de mentalidade da sua época: a luta pela valorização das artes manuais, de forma a mostrá-las como também oriundas de um intenso esforço intelectual. Por consequência, seus nomes passaram a ser importantes. Viu-se surgir a uma economia de reputações baseada na excelência de seus trabalhos.

Os ícones máximos do Renascimento, Leonardo da Vinci e Michelangelo, são exemplos claros disso. Da Vinci era conhecido como um artista excelente, mas que demorava demais para entregar suas encomendas, dado seu zelo com a qualidade do trabalho. A Monalisa mesmo, sua peça mais famosa, nunca foi entregue ao cliente, e estima-se que ele trabalhou nela por mais de 10 anos. Michelangelo era famoso por confrontar seus clientes, dizendo que eles não entendiam nada de arte e que deviam deixá-lo trabalhar em paz, pelo tempo que fosse necessário. E, claro, se deixassem de pagar, o trabalho era encerrado. Que sonho para criativos de hoje, não?

Por toda a Idade Média, com raríssimas exceções, os artistas que lidavam com artes manuais não tinham grandes preocupações com autoria

Os nomes dos artistas carregavam consigo reputações acerca da qualidade de sua obra, seu método de trabalho, seus preços, entre tantas outras informações. Com a difusão das galerias na Europa a partir do século XVIII, os nomes dos artistas passaram a ser ainda mais importantes. Quanto mais admirado fosse, maior seriam as visitas e as ofertas pelas suas obras expostas. Essa mesma lógica ganhou ainda mais força no mercado literário europeu do século XIX, quando vemos a proliferação do Romance (narrativa longa em prosa) como produto bastante consumido pela classe burguesa. É a época na qual os primeiros bestsellers passam a surgir.

Claro, há mais coisas a serem contadas nessa questão da formação histórica da importância do nome do artista. Poderíamos falar sobre as assinaturas dos pintores em suas telas, dos nomes dos escritores nas capas de livros, ou ainda da construção da idolatria aos diretores de filmes pelo fato de colocarem seus nomes nos créditos iniciais, dando assim a ideia de que ele é a figura mais importante na realização do filme.

Hitchcock é marcante nesse sentido, pois foi um dos primeiros diretores dos EUA a transformar seu nome em um selo de qualidade que vendia o filme com algum respaldo. Fato curioso: se olharmos, na mesma época, para a União Soviética, que desenvolvia sua indústria cinematográfica mais ou menos ao mesmo tempo em que o cinema de Hollywood está amadurecendo, o nome que tinha mais destaque nos créditos de abertura era o do roteirista, e não o do diretor. Podemos deduzir daí que a própria noção de autoria é determinada pelas condições sociais nas quais a obra artística é criada.

E isso me faz retomar a frase que citei do meu amigo há pouco. Até que ponto, hoje, estamos consumindo obras de arte e até que ponto estamos consumindo o artista? Há diferença? E, caso sim, qual é o mais importante?

Bale

Famosos “Podres”

Espero ter demonstrado, ao menos brevemente, o autor nunca foi algo muito importante pela esmagadora maior parte da história da humanidade. Passou a ser importante quando surgiu um mercado que consumia não apenas mais a obra, mas sim o nome atrelado a ela. No caso das artes plásticas, gosto de localizar esse momento no Renascimento – como na famosa Pietá, de Michelangelo, única obra sua que leva a assinatura do autor.

No caso das artes ditas “intelectuais” (música e poesia), podemos remontar aos gregos e romanos da antiguidade clássica – ainda assim, com uma série de restrições. A obra sempre foi mais importante do que o artista. Mas o tempo passa e, com ele, obviamente, as formas de nos relacionarmos ao ambiente em que estamos inseridos. Por isso, a pergunta torna-se pertinente.

Picasso era misógino. Caravaggio assassinou um homem. Rimbaud era contrabandista. Lorde Byron cometeu incesto, enquanto o escritor Flaubert pagava por sexo com garotos.

Há um excelente artigo do NY Times, assinado pelo crítico de arte Charles McGrath, chamado “Good Art, Bad People”. Recomendo a leitura do artigo e usarei parte dele para responder a pergunta que dá nome a este post. Vamos, então, à lista dos podres de artistas famosos.

Um ponto recorrente em vários artistas é o anti-semitismo. Neste caso, a lista é gigantesca. O compositor clássico Wagner, aquele que compôs a marcha nupcial, é um dos casos mais famosos nessa lista. Acompanham-no neste caso o pintor Degas, os poetas Ezra Pound e T.S. Eliot, além de Walt Disney e Mel Gibson.

Uma provocação: você acha que, ao tocar a marcha nupcial em seu casamento, você torna-se um anti-semita por tabela? E quando vê um filme da Disney ou um filme estrelado/dirigido por Mel Gibson?

Picasso era misógino. Caravaggio assassinou um homem. O poeta Rimbaud era contrabandista. Outro poeta, Lorde Byron, cometeu incesto, enquanto o escritor Flaubert, autor do clássico “Madame Bovary”, pagava por sexo com garotos (em tempos em que isso era um crime grave). Charles Dickens era um péssimo pai e marido, assim como Hemingway. John Lennon entraria nesse mesmo caso, especialmente quando pensamos no seu primeiro casamento, com Cynthia Powell, no qual teve seu primeiro filho, Julian.

Frank Miller, autor de quadrinhos que escreveu obras de inestimável valor, como “Batman Ano Um”, “Batman: Cavaleiro das Trevas”, “Elektra: Assassina”, entre tantas outras, é conhecido hoje por fazer comentários de alto teor racista a respeito de muçulmanos nos EUA.

Arthur C. Clarke, famoso escritor de ficção científica, autor de “2001: Uma Odisseia no Espaço”, recebeu sérias acusações de praticar pedofilia no final dos anos 90. As acusações foram, aparentemente, infundadas. Contudo, na época, muitos ligaram o fato dele residir no Sri Lanka, país com sérios problemas na questão de preservação dos direitos humanos, aos seus possíveis hábitos sexuais.

Roger Waters, ex-líder do Pink Floyd, também foi chamado de anti-semita no ano passado, por ter feito críticas duras ao governo de Israel. Ele se defendeu, dizendo que não estava criticando o povo judeu, mas sim o Estado de Israel. Independente do que quis dizer, a repercussão de suas críticas não foram das mais favoráveis.

Aliás, se formos para a música, teremos uma lista incontável, com os mais variados delitos. Axl Rose (e outros membros do Guns N Roses) confessaram que vendiam drogas antes de se tornarem famosos. Richie Blackmore, fundador do Deep Purple, era (e possivelmente ainda é) um babaca. Morrissey, fundador do The Smiths, já soltou declarações racistas para meio mundo. E se entrarmos no assunto “infidelidade”, esse post não terá fim.

Enfim, a impressão que tenho é que os “podres” dos artistas parecem só ter importância quando eles são próximos de nós, a ponto dessas manchas em suas histórias terem sido esquecidas pelo tempo. A pergunta que poderíamos fazer é “devemos esquecê-las”? Não acho que seja o caso. Contudo, não consigo também deixar de acreditar que a obra do artista continua sendo mais importante que sua figura. Todos morremos – algumas obras sobrevivem.

Sendo assim, apesar de condenar muitas das atitudes que listei aqui, não sei até que ponto é possível “higienizarmos” toda nossa biblioteca de livros, músicas e acervo de gostos artísticos em geral. Imagine a situação: para cada banda nova legal que ouço na rádio, procuro no Google sobre o passado dos artistas, para ver se eles merecem ou não minha atenção. Isso me parece inviável e, até certa medida, paranóico. Talvez seja mais saudável lembrarmos do clichê “de perto, ninguém é santo”. Nem você.

Woody Allen

É possível separarmos a obra de arte do artista?

Sim, é possível e desejável. A obra de arte, especialmente aquela que sobrevive ao teste do tempo, é sempre mais potente do que o seu criador, seja no meio que for. Gosto de lembrar de Barthes neste momento e pensar que o que define a obra não é seu criador, mas sim o que fazemos com ela. Sei que essa resposta pode parecer covarde, como uma tentativa de isentar o autor de qualquer crime que tenha cometido no passado, mas realmente penso que é esse o caso.

Acho difícil que os Beatles, ao escreverem “Helter Skelter”, imaginavam que Charles Manson aconteceria. O mesmo vale para Salinger, e seu “Apanhador no Campo de Centeio”, no que se refere a Mark Chapman, o assassino de John Lennon. O verdadeiro perigo encontra-se no receptor da obra, e não nela em si – por mais perverso que tenha sido seu idealizador. Com isso, espero já ter destruído aquela noção simplista que você aprendeu em aulas de teoria da comunicação, na qual existe o emissor de uma mensagem e um receptor passivo, que só recebe a informação. O receptor é tão ativo quanto o transmissor. Às vezes, mais.

Outra questão é importante de ser levantada: a capacidade do artista em transformar-se em um Outro. Essa é uma noção que encontramos em vários momentos na obra do teórico russo Mikhail Bakhtin, especialmente quando analisa a obra de Dostoiévski.

A função da Arte não é te tornar uma pessoa melhor. Você pode até tentar fazê-la adequar-se aos seus desejos mais egoístas, mas isso é uma decisão exclusivamente sua.

Sobre isso, lembro da vez que conversei com o escritor Daniel Galera, no AntiCast 42, e perguntei como havia sido a experiência de escrever o livro “Cordilheira”, no qual o personagem principal, que é também o narrador da obra, era uma mulher.

Naquele momento, Galera teve de se demonstrar capaz de transformar-se num Outro – no caso, um do gênero feminino. O contrário também é comum: autoras que escrevem protagonistas homens – e nem precisamos falar de situações mais malucas, como humanos que escrevem sobre elfos, monstros, anjos, demônios etc. Se o artista estivesse confinado em si mesmo, todas as histórias seriam autobiográficas. Graças à capacidade criativa dos autores, podemos garantir que este não é o caso.

Obviamente, não quero isentar ninguém aqui de culpa. No caso de Woody Allen, sou da opinião de que, se cometeu abuso a uma criança, ele deve ser responsabilizado por isso. O mesmo vale para Polanski e qualquer outro que cometa um crime – especialmente com a gravidade dos casos de cada um. Contudo, suas produções artísticas parecem ser maior do que isso, como se elas não tivessem culpa de terem surgido de pais tão ruins.

O que quero dizer, da forma mais direta possível, é o seguinte: se você é fã do trabalho de Woody Allen, isso não te torna um cúmplice de seu suposto crime. Seria preocupante se você concordasse com sua conduta pessoal. Mas o trabalho do artista, por mais que seja, de alguma forma, um reflexo de sua vivência (em maior ou menor grau), é um trabalho de criação que busca extrapolar os limites da sua própria realidade. Importante citar também que, ao menos legalmente, Woody Allen já foi inocentado pela corte estadunidense na década de 1990, como já citamos no início do texto.

Se você é fã do trabalho de Woody Allen, isso não te torna um cúmplice de seu suposto crime

Para tornarmos essas considerações um pouco mais complexas, é interessante percebermos que é possível o autor “ser um santo” (ou pelo menos parecer um) e criar ótimos vilões ou anti-heróis: o romance “Lolita”, de Nabokov, que narra a história de um pedófilo, é um desses casos. O recente filme “O Lobo de Wall Street”, de Martin Scorsese, é outro. Toda a filmografia de Gaspar Noé, diretor do pesadíssimo “Irreversível”, é mais um. A lista de ótimas obras com temas horríveis é também infinita. Você pode não concordar com a atitude ou conduta dos personagens, mas isso não tira o mérito de serem boas histórias/obras, nem necessariamente exigem que se credite uma “mente doentia” ou um passado criminoso ao autor.

Caso você ainda acredite que a biografia do artista é fundamental para seu trabalho, e que um criador que tenha sua “ficha suja” deve ser ignorado pelo seu estimado “bom gosto”, eu lanço aqui uma última provocação: a função da Arte não é te tornar uma pessoa melhor. Você pode até tentar fazê-la adequar-se aos seus desejos mais egoístas, mas isso é uma decisão exclusivamente sua. E se você acredita que essa deve ser a função dela, você não a entende. Ao procurar apenas por autores higiênicos, você diz mais sobre si mesmo e sua visão de como o mundo deveria ser do que sobre as obras que recusa.

Portanto, sujemo-nos.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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12 Feb 22:59

Wagner Moura protagonizará filme sobre o palhaço Bozo

by Diego Santos

Há poucos dias, em uma coletiva de imprensa, Wagner Moura anunciou que interpretará no cinema, um dos atores que deu vida ao famoso palhaço Bozo.

O ator interpretado será Arlindo Barreto, que foi o palhaço entre os anos de 1984 e 1986 no SBT.

Arlindo passou por um duro período ao qual foi viciado em drogas e teve grandes dificuldades de relacionamento com seu próprio filho. Um tempo depois acabou se convertendo e hoje é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil.

 

O filme, cujo título ainda não foi divulgado, terá o roteiro de Luis Bolognesi e será dirigido por Daniel Rezende.

A produção terá início após a gravação do filme sobre a Tríplice Fronteira, no qual Wagner Moura está trabalhando com José Padilha.

Um dos filmes protagonizados pelo ator, filme Praia do Futuro, está concorrendo ao Urso de Ouro, uma importante categoria do Festival de Cinema de Berlim, chamado de Berlinale (que está acontecendo desde o dia 6 de fevereiro e deve se encerrar no dia 16).

O filme é uma co-produção de Brasil e Alemanha e fala sobre um salva-vidas, que ao fracassar em um resgate, decide tentar uma nova vida na Alemanha.

Praia do Futuro foi dirigido por Karim Aïnouz e estreia no Brasil em 1º de maio.

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12 Feb 22:56

Como fazer a leitura da Wikipédia ficar mais agradável

by 1910 Design

Nós amamos a Wikipédia. A ideia de ter uma base de conhecimento constantemente atualizada onde todo mundo pode ler e contribuir é extraordinária, e nos perdemos no meio de todo aquele conteúdo frequentemente. No entanto, após gastar os últimos três anos aprendendo sobre tipografia, nós aqui da 1910 passamos a ver suas limitações. A Wikipédia é excelente para o aprendizado, mas simplesmente não oferece o melhor ambiente possível para isso.

Enquanto grandes partes da internet atravessam uma jornada impressionante em termos de tipografia, a experiência de leitura da Wikipédia parece presa aos anos 90. Nós perdemos alguns dias e criamos uma nova direção para a qual a Wikipédia deveria seguir, com foco em artigos e leitura sem necessariamente ter que mudar muito do que ele é e deve continuar sendo.

Nós sabemos que este humilde experimento não é uniforme, e o que estamos propondo aqui deveria ser reconsiderado caso se tornasse realidade, mas, em resumo, nos focamos em uma coisa: tornar a Wikipédia legível.

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A Wikipédia hoje

A Wikipédia hoje é excelente em termos de conteúdo, mas não de apresentação. Para um site com proposta de entregar artigos para leitores, a experiência de leitura não é como poderia ser. O texto é muito pequeno, as linhas são longas demais e o espaçamento é muito curto. As imagens são pequenas e o layout geral inclui muito ruído visual que distrai da leitura principal.

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Reconstruindo

Vamos começar com a tipografia. Queremos levar o conteúdo para o centro, usar um tamanho de texto legível, consertar a medida a um comprimento apropriado, aumentar o espaçamento, tornar as imagens maiores, e oferecer uma estrutura adequada, com espaço em branco adequado e fácil para seguir a hierarquia.

Na versão para desktop, quisemos abrir espaço para o parágrafo principal de texto e uma barra lateral adicional incluindo as imagens e tabelas na direita. Também criamos um design que poderia ser facilmente adaptável para desktop, tablets e mobile, sem exigir apps adicionais ou versões mobile do site.

Começando com o tamanho do texto (detalhamos aqui), acabamos com uma grade de 8 colunas onde o corpo ocupa as quatro primeiras. A grade então seria diminuída para 4 colunas nos tablets e 2 nos smartphones, movendo a barra lateral para logo abaixo dos seus parágrafos correspondentes.

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Desktop

Com a coluna do corpo principal e a barra lateral já definidas, ocupar o resto da página foi relativamente simples. Fizemos com que o cabeçalho focasse em busca e colocamos o antigo menu lateral agora na horizontal como um cabeçalho secundário, para não distrair durante a leitura.

O resto dos elementos foi basicamente mantido sem alteração, sendo apenas ajustado para a nova estrutura. As fontes e cores ficaram semelhantes. O resultado é esta página que parece muito a Wikipédia atual, só que mais fácil para ler:

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Tablets

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A versão de tablets diminui a grade para quatro colunas, movendo a barra lateral de conteúdo para logo abaixo dos parágrafos correspondentes. Além disso, pouco foi modificado. O menu secundário está escondido e é acessível a partir de um botão de menu no topo da página.

Smartphone

A versão mobile diminui para duas colunas com linhas menores para manter o texto em um tamanho legível. As seções secundárias estão fechadas por padrão e são abertas ao tocar no título, e, assim, os artigos ficam menos pesados para a leitura.

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Conclusão

Esses rascunhos estão longe de estarem completos, mas acreditamos que podem oferecer uma ideia de quão grande é o papel da tipografia e estrutura em grades para tornar a web acessível atualmente. Esta é a Wikipédia que gostaríamos de usar, e queremos muito ver como a Wikipédia vai se desenvolver ao longo dos próximos anos, principalmente no que toca a forma como o site se torna mais prazeroso para ser lido.

O 1910 é um estúdio de design gráfico e direção de arte. Este post apareceu originalmente em seu blog. Ele foi republicado com permissão.

11 Feb 11:41

10 curiosidades sobre o cinema norte-coreano

by Cremilton Souza

 

O objetivo dessa matéria é listar dez curiosidades sobre o cinema norte-coreano, entretanto, primeiro vamos conhecer um pouco da história do cinema mundial. Para isso, tomamos como ponto inicial o livro “História do Cinema Mundial” de Fernando Mascarello que apresenta de forma sucinta um breve histórico sobre o cinema.

No começo do século XX, o cinema inaugurou uma era de predominância de imagens. Mas quando apareceu por volta de 1895, não possuía um código próprio e estava mesclado a outras formas culturais, como os espetáculos da lanterna mágica, o teatro popular, os cartuns, as revistas ilustradas e os cartões-postais. Os aparelhos que projetavam filmes apareceram mais como uma curiosidade entre as várias invenções que surgiram no final do século XIX. Por outro lado, os vinte primeiros anos foram cruciais para a transformação constante. Com o desmembramento das outras artes, o cinema passou a adquirir sua personalidade própria e uma linguagem especificamente cinematográfica com imagens e diálogos.

A história do cinema faz parte de uma biografia mais ampla, que engloba não apenas a história da prática de projeção de imagens, mas também a dos divertimentos populares, dos instrumentos óticos e das pesquisas com imagens fotográficas. As primeiras exibições de filmes com uso de mecanismo intermitente aconteceram entre 1893, quando Thomas A. Edison registrou nos EUA a patente de seu quinetoscópio, e 28 de dezembro de 1895 quando os irmãos Louis e Auguste Lumiére realizaram em Paris a famosa demonstração pública e paga de seu cinematógrafo.

Sabe-se que os irmãos Lumiére não foram os primeiros a fazer uma exibição de filmes pública e paga. Em primeiro de novembro de 1895, os irmãos Max e Emil Skladanowsky fizeram uma exibição de quinze minutos do bioscópio – seu sistema de projeção de filmes – num grande teatro de Vaudevile em Berlim. Auguste e Louis Lumiére, apesar de não terem sido os primeiros na corrida, são os que ficaram mais famosos. Eles souberam tornar seu invento conhecido no mundo todo e fazer do cinema uma atividade lucrativa, vendendo câmeras e filmes.

Helier Cheung

BBC News

O Exército norte-coreano dirige centro de produção de filmes de guerra e fornece figurantes

Confira abaixo dez curiosidades sobre o cinema norte-coreano

1 – Sequestro de diretor sul-coreano

Por ser apaixonado por cinema, Kim Jong-il, financiou muitas verbas para a indústria cinematográfica do país entre 1970 e 1980. Porém ele ficou descontente com a qualidade dos filmes lançados. Para solucionar esse problema, ele coordenou o sequestro do diretor sul-coreano Shin Sang-ok no ano de 1978, obrigando Shin Sang a produzir longas para seu regime. Parece que Kim Jong-il estava mesmo disposto a realizar seus desejos de sucessos de cineasta, pois este também raptou a ex-mulher de Shin, a atriz Choi Eun-hee.

O talento de Shin elevou a qualidade das películas para a Coreia do Norte. Além de ter influenciado novas produções fílmicas no país, o diretor consta no seu currículo os filmes: Fugitivo, um longa de ação que relata campos de trabalhos forçados, e Pulgasari, um filme norte-coreano sobre um monstro, inspirado em Godzilla. Por fim, em 1986, durante uma viagem de negócios a Viena, na Áustria, Shin e a atriz Choi Eun-hee conseguiram escapar das autoridades norte-coreanas.

O diretor continuou sua carreira nos Estados Unidos e na Coreia do Sul até sua morte, em 2006.

2 – Os piores atores eram americanos

Charles Jenkins alega que foi coagido a atuar nos longas norte-coreanos

Os filmes norte-coreanos tinham cunho midiático de propagandas, eram necessários  atores estrangeiros no elenco, principalmente americanos, para se passarem por vilões, já que muitos vilões do cinema norte-americano são personagens com características norte-coreanas – claro que com questões políticas nas entrelinhas.

“Se (a Coreia do Norte) precisasse de estrangeiros para seus filmes, eles pediriam (a estrangeiros) que já vivessem lá”, afirmou Schonherr.

“Quase todo mundo – estudantes estrangeiros, professores e esportistas – poderiam receber uma proposta. E as pessoas geralmente não rejeitavam.” Porém eles não se envolviam com os assuntos retratados no filme e, geralmente, eram péssimos atores.

Alguns dos atores americanos mais conhecidos a atuarem em produções norte-coreanas foram Charles Jenkins, Larry Abshier, Jerry Parish e James Dresnok, que desertaram para a Coreia do Norte na década de 1960.

Os quatro fizeram papéis de capitalistas malvados em uma série de filmes de propaganda, Heróis sem Nome, de 1978.

3 – Poucas opções de entretenimento

Segundo Schonherr “Assistir a filmes é, ou pelo menos costumava ser, um dos passatempos prediletos (no país)”, talvez seja porque a Coreia do Norte tem poucas opções de entretenimento noturno.

No entanto, os filmes norte-coreanos também eram mostrados em fábricas, fazendas coletivas e unidades do Exército, segundo Mark Morris, professor palestrante da Faculdade de Estudos da Ásia e Oriente Médio da Universidade de Cambridge.

“Não é uma questão de comprar o ingresso para ver seu filme favorito – você receberia a programação e, geralmente, era uma boa ideia aparecer na sessão”.

4 – Uma mensagem: promover os Grandes Líderes


Os longas norte-coreanos se enquadram em vários gêneros diferentes, no entanto, possuem a mesma mensagem. Todos os aspectos se voltam para a promoção de Kim Il-sung, Kim Jong-il ou de seu partido. De acordo com Johannes Schonherr,  A Florista mostra a Coreia do Norte sob a ocupação japonesa, com os personagens sofrendo com a opressão dos proprietários de terras, apoiados pelos japoneses. Porém Kim utiliza de meios para se promover, utilizando o poder revolucionários do Exército Coreano para acabar com o domínio dos japoneses sobre a Coreia do Norte, dando a entender que quem salva o país são os militares.

5 – Mas não mostrá-los na tela

Os líderes políticos Kim Il-sung e Kim Jong-il são mostrados de forma indireta nas produções fílmicas. Morris cita que, em um filme sobre guerra, um personagem atende um telefonema de Kim Il-sung dando uma grande sugestão militar.

“Todos vão arrumar as próprias roupas quando o telefone tocar e o general vai pegar o telefone como se fosse um objeto vivo e brilhante.”

Simon Fowler descreve uma cena do longa Maratonista, no qual a protagonista é mostrada correndo em uma colina para tentar ver o comboio de Kim Jong-il.

Ela não consegue ver o comboio, mas toca os rastros dos pneus.

“Ela chora, emocionada, por ter tocado os rastros do pneu (do comboio)”, disse Fowler.

6 – O Exército também atua

A história com o Japão, que colonizou a Coreia do Norte entre 1910 e 1945, é tema central das produções épicas de guerra, sendo parte das estratégias de propagandas políticas. Ainda segundo Morris, o Exército norte-coreano dirige um centro de produção para fins específicos com filmes com temáticas relacionadas a guerra. Os soldados são os principais figurantes.

The Great North Korean Picture Show, documentário dirigido por Lynn Lee, retrata os soldados sendo repreendido por não atuarem de forma satisfatória em um longa sobre guerra dirigido pelo cineasta norte-coreano Pyo Hang, no qual os soldados tinham que se mostrar tristes nas cenas em que eram obrigados a entregarem as armas aos japoneses. Para os soldados chorarem tiveram que aderir ao uso do colírio.

7– Filmes mostram mulheres fortes e homens comuns

Na Coreia do Norte as lideranças políticas são do sexo masculino, porém as propagandas sempre têm as mulheres como personagens fortes e decisivos.

São comuns atletas, espiãs e controladoras de trânsito fazerem parte do elenco dos filmes.

Para Mark Morris.

“Normalmente, as mulheres precisam ensinar os homens a serem bons seguidores”.

Mesmo as mulheres sendo mostradas com maior força sobre os homens nos filmes norte-coreanos, elas tem o destino pré-determinado, que é o casamento.

O que se mostra e o que se esconde diante desses discursos fílmicos na imagem acima? É visível a soberania das mulheres sobre os homens, mas isso é apenas um discurso visual que tenta camuflar a ideologia patriarcal ainda presente no país em questão. Nesse sentido, mesmo sendo mulheres fortes nos filmes, no final elas acabam sendo disciplinadas para o casamento e para o lar.

8– Mr. Bean chegou à Coreia do Norte

Mesmo com a imprensa e a internet sendo controladas no país, alguns filmes estrangeiros conseguiram furar esse bloqueio. Isso graças ao Festival Internacional de Cinema de Pyongyang, que acontece a cada dois anos. Alguns exemplos de filmes exibidos nesse festival são: os longas do Mr. Bean e Elizabeth – A Era de Ouro. O musical Evita provavelmente foi o único filme norte-americano a ser mostrado na Coreia do Norte. A comédia de futebol britânica Driblando o Destino transformou-se no primeiro filme a ser exibido fora do festival, pois foi mostrado na televisão norte-coreana em 2010. Claro que a intenção da Inglaterra era aproximar-se da Coreia do Norte e, nessa perspectiva, os ingleses uniram a sua vontade de aproximação com o amor dos norte-coreanos pelo futebol, visto que o filme exibido tinha na temática o esporte supracitado.

9– Bicicletas estão proibidas

Alguns cineastas como Lynn Lee e James Leong tiveram autorização para gravarem documentários na Coreia do Norte. Os diretores, porém, tinham que seguir de acordo com as censuras impostas pelo governo do país; estas condições eram das mais diversas, tais como mostrar as imagens feitas no final de cada filmagem para as autoridades do Estado. Era, também, inaceitável imagens de pessoas em bicicletas, cabos de eletricidade e pessoas usando camisas com botões abertos. Lee imagina que os censores queriam que a cidade e as pessoas parecessem arrumadas.

10– Enquadre os Kim de forma apropriada

A grande preocupação do diretor Lee era a filmagem das imagens de Kim Il-sung e Kim Jong-il, pois as mesmas teriam que ser enquadradas de forma completa, uma vez que, se cortasse uma parte sequer das imagens ou estátuas dos líderes, as cenas seriam rejeitadas. Boa parte do documentário de Lee teve que ser refilmado, tendo em vista que algumas filmagens no Museu de Cinema da Coreia do Norte e parte das imagens da família Kim não tinham sido enquadradas de acordo com a vontade da censura do país.

FONTE.

Revisado por: Patrícia Oliveira e Pedro Dalboni

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06 Feb 14:26

Sherlock na modernidade: como se apresenta o maior detetive de todos os tempos hoje

by Vinicius Pimenta Silva

Com vasta obra, Arthur Canon Doyle tornou-se referância mundial no gênero policial. Onde exatamente o gênio começou a trabalhar? De onde tirou a ideia? Quais são os desdobramentos atuais que surgiram de sua obra e quais são os ainda possíveis? Essas são as questões propostas aqui.

História  

Sir Arthur Conan Doyle nasceu no dia 22 de maio de 1859 em Edimburgo, Escócia. É conhecido pelas narrativas do detetive Sherlock Holmes. Ainda na escola primária descobriu seu talento para narrar histórias. Estudou medicina na Universidade de Edimburgo, lá o Dr.Joseph Bell influenciou o autor escocês; apresentou a ele o raciocínio dedutivo e a lógica.  Assim, Sherlock Holmes passa a ser concebido.

O estudo em Vermelho, romance publicado em 1887 que apresenta narrativas encaixadas ao estilo de textos de origem insólitas, é o primeiro em que a dupla Holmes e Watson aparecem juntos. Logo após a publicação desse, Doyle decide abandonar a carreira médica para se dedicar a literatura; surge então o Cão dos Baskervilles., obra que deu ao autor grande visibilidade. O autor acumulou mais de 50 contos, esses sendo a maioria sobre o icônico herói.

Influências

De onde surgiu esse personagem? O raciocínio dedutivo, como já mencionado, veio de um professor de Doyle, mas e a aplicabilidade da ciência ao contexto criminal? A resposta para esta pergunta encontramos em um certo texto de Poe chamado Os assassinatos da rua Morgue. Este conto dá ao responsável d’O Corvo o título de pai do gênero policial, mas sem dúvida não de membro mais importante.

Nesse conto, o leitor se depara com dois homens, o narrador e Dupin, através do raciocínio lógico resolvem um assassinato. Para os leitores que tiverem paciência de procurar os contos policiais de Poe, ficará a certeza de que o autor teria feito ainda mais pelo gênero, se não houvesse deixado esse mundo tão cedo.

Assim se deu a origem do gênero policial, com ajuda do intelecto de dois grandes escritores.

Modernidade

Ainda hoje a obra de Doyle é muito apreciada. Editoras publicam e republicam sua obra. O trabalho do autor escocês mobilizou a criação de diversas fans-fictions, releituras dos contos, como o livro O jovem Sherlock Holmes e por fim e, mais importante aqui, séries de televisão que em pelo menos um aspecto lembram o texto do detetive consultor.

O número de séries que trabalham com a temática Holmes é relativamente alta se comparada a outros autores e temas; elenco aqui três: Elementary, Sherlock Holmes e House.

Sherlock (BBC) – por gustavo magnani, idealizador do literatortura

O seriado da BBB é uma das melhores adaptações da obra de Doyle, pra não dizer a melhor. Traz o personagem para os dias atuais e lhe permite o uso de elementos modernos e tecnólogicos para o andamento da trama e conclusão dos crimes. Na pele do maior detetive de todos os tempos, está Benedict Cumberbatch, que após sua primeira temporada, acabou por virar um astro do cinema. Já Watson é vivido por Martin Freeman (Bilbo, o Bolseiro em O Hobbit) [sim, eles contracenam no filme de Peter Jackson! – Benedict interpreta Smaug].

Os roteiros são primorosos, a direção de arte é fenomenal e tudo o que envolve a série é tão grandioso quanto a obra original. Particularmente, para mim, o finale da segunda temporada – as temporadas têm 3 episódios de 1h30min cada – chega a ser ainda melhor do que grande parte dos livros (sacrilégio, eu sei! haha)

A única crítica fica por parte da grande demora da BBC em lançar a terceira temporada (cerca de dois anos!). Abaixo, o Vinícius volta para falar de Elementary, e vocês verão o quão semelhante são os elementos.

[aliás, ainda farei uma matéria só sobre a série. Já fiz isso três vezes, mas lá no comecinho de 2012 haha. Merece um “revival”]

Elementary

Elementary pareceu a mim uma série muito promissora. Coloca o icônico personagem em um contexto atual. Ele ainda faz uso de ferramentas atuais como Google e programas de televisão, enquanto o primeiro SH se utlizava apenas de jornais. Watson nessa série é uma mulher, nada menos que Lucy Liu. Sua personagem também é médica e nutre por seu parceiro relação de companheirismo que vai se desenvolvendo de forma interessante ao longo da série. Esse Holmes também aprecia música clássica e violino.

House

Essa séria não precisava ser apresentada. Muito embora tenha acabado por diversas razões como, por exemplo, o desejo de Hugh Laurie de tocar em sua banda de blues/rock pelo mundo, inclusive no Brasil em um futuro próximo. Esse “Holmes” trabalha em um contexto médico e seu “Watson” são, na verdade, várias pessoas.

A música também é muito presente nessa série. Menos a clássica e mais o estilo mencionado acima.

Sherlock Holmes é o Iron Man?

“Ok, mas e o filme do Robert Downey Junior?”

De fato, para aqueles que apreciam os filmes da franquia Iron Man, para aqueles que curtem o humor de Tony Stark e aqueles que gostam de sequências de ação, o filme é muito bom, entretanto apresenta alguns problemas que fazem os fãs de Doyle coçar a cabeça.

A relação Holmes e Watson. No filme, mais parece de cão e gato do que de companheirismo. Várias vezes durante a película, os personagens principais discutem sobre coisas frívolas e mais raramente trocam alguns tapas. Outro problema, a dinâmica do filme pode causar no aspirante a leitor de Conan Doyle esperanças que não serão supridas, vários tiroteios, explosões e os ataques de “Mãe Diná” que SH no filme tem antes de lutar.

Expectativas

Quando se fala do futuro da obra de Doyle e das histórias que podem surgir a partir da sétima arte, séries e livros, complicado fica traçar um futuro. Mas se podemos conjecturar, e se me é lícito um palpite, diria que os contos serão sim aplicados no presente e no futuro, mas nem sempre de maneira bem sucedida.

Revisado por Paloma Israely.

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06 Feb 13:15

SEXUALIDADE - POR C. S. LEWIS

by Dani Marques...

A regra cristã é clara: "Ou o casamento, com fidelidade completa ao cônjuge, ou a abstinência total." Isso é tão difícil de aceitar, e tão contrário a nossos instintos, que das duas, uma: ou o cristianismo está errado ou o nosso instinto sexual, tal como é hoje em dia, se encontra deturpado. E claro que, sendo cristão, penso que foi o instinto que se deturpou.

Tenho, no entanto, outras razões para pensar assim. O objetivo biológico do sexo são os filhos, da mesma forma que o objetivo biológico da alimentação é a conservação do corpo. Se comêssemos sempre que tivéssemos vontade e na quantidade que desejássemos, é bem verdade que muitos comeriam demais, mas não extraordinariamente demais. 

Uma pessoa pode comer por duas, mas não por dez. O apetite pode sobrepujar um pouco a necessidade biológica, mas não de forma completamente desproporcional. Já um jovem saudável que fosse indulgente com o seu apetite sexual, e que a cada ato produzisse um bebê, em dez anos conseguiria facilmente povoar uma pequena aldeia. Tal apetite excederia a sua função de forma cômica e absurda.
 
Tomemos outro exemplo. É fácil juntar uma grande platéia para um espetáculo de striptease — para ver uma garota se despir no palco. Agora suponha que você vá a um país em que os teatros lotassem para assistir a outro tipo de espetáculo: o de um prato coberto cuja tampa fosse retirada lentamente, de modo que, logo antes do apagar das luzes, se revelasse seu conteúdo - uma costeleta de carneiro ou uma bela fatia de bacon. Você não julgaria haver algo de errado com o apetite desse povo por comida? Será que, em contrapartida, uma pessoa criada em outro ambiente também não julgaria errado o instinto sexual entre nós?

Um crítico disse que, se encontrasse um país onde se fizessem espetáculos de striptease gastronômico, concluiria que o povo desse país estava faminto. O que ele quis dizer, evidentemente, é que o striptease e coisas afins não resultam da corrupção sexual, mas da inanição sexual. Concordo com ele que, estivesse eu num país em que o striptease de uma costeleta de carneiro fosse popular, uma das explicações que me ocorreria seria a fome. Mas, para comprovar essa hipótese, o passo seguinte seria descobrir se o povo desse país consome muita ou pouca comida. 

Caso se demonstrasse que muitos alimentos são consumidos, teríamos de abandonar a hipótese de inanição e tentar pensar em outra. Da mesma maneira, antes de aceitar a inanição sexual como causa do striptease, temos de procurar sinais de que, em nossa época, as pessoas praticam mais a abstinência sexual do que nas épocas em que o striptease era desconhecido. Esses sinais, porém, não existem. Os métodos anticoncepcionais mais do que nunca tornaram a libertinagem sexual menos custosa dentro do casamento e bem mais segura fora dele.

A opinião pública nunca foi tão pouco hostil às uniões ilícitas, e mesmo às perversões, desde a época do paganismo. Não é também a hipótese de "inanição" a única que pode nos ocorrer. Todos sabem que o apetite sexual, como qualquer outro apetite, cresce quando é satisfeito. Os homens famintos pensam muito em comida, mas os glutões também. Tanto os saciados quanto os famintos gostam de estímulos novos.
 
Um terceiro ponto. Não existe muita gente que queira comer coisas que não são alimentos ou que goste de usar a comida em outras coisas que não a alimentação. Em outras palavras, as perversões do apetite alimentar são raras. As perversões do instinto sexual, porém, são numerosas, difíceis de curar e assustadoras. 

Desculpe-me por descer a esses detalhes, mas tenho de fazê-lo. Tenho de fazê-lo porque, há vinte anos, temos sido obrigados a engolir diariamente uma série enorme de mentiras bem contadas sobre sexo. Tivemos de ouvir que o desejo sexual não difere de nenhum outro desejo natural, e que, se abandonarmos a tola e antiquada ideia vitoriana de tecer uma cortina de silêncio em torno dele, tudo neste jardim será maravilhoso. 

No momento em que examinamos os fatos e nos distanciamos da propaganda, vemos que a coisa não é bem assim. Dizem que o sexo se tornou um problema grave porque não se falava sobre o assunto. Nos últimos vinte anos, não foi isso que aconteceu. Todo o dia se fala sobre o assunto, mas ele continua sendo um problema. Se o silêncio fosse a causa do problema, a conversa seria a solução. Mas não foi. Acho que é exatamente o contrário.

Acredito que a raça humana só passou a tratar do tema com discrição porque ele já tinha se tornado um problema. Os modernos sempre dizem que "o sexo não é algo de que devemos nos envergonhar". Com isso, podem estar querendo dizer duas coisas. Uma delas é que "não há nada de errado no fato de a raça humana se reproduzir de um determinado modo, nem no fato de esse modo gerar prazer". Se é isso o que têm em mente, estão cobertos de razão. O cristianismo diz a mesma coisa. 

O problema não está nem na coisa em si, nem no prazer. Os velhos pregadores cristãos diziam que, se o homem não tivesse sofrido a queda, o prazer sexual não seria menor do que é hoje, mas maior. Bem sei que alguns cristãos de mente tacanha dizem por aí que o cristianismo julga o sexo, o corpo e o prazer como coisas intrinsecamente más. Mas estão errados. O cristianismo é praticamente a única entre as grandes religiões que aprova por completo o corpo — que acredita que a matéria é uma coisa boa, que o próprio Deus cornou a forma humana e que um novo tipo de corpo nos será dado no Paraíso e será parte essencial da nossa felicidade, beleza e energia.

O cristianismo exaltou o casamento mais que qualquer outra religião; e quase todos os grandes poemas de amor foram compostos por cristãos. Se alguém disser que o sexo, em si, é algo mau, o cristianismo refuta essa afirmativa instantaneamente. Mas é claro que, quando as pessoas dizem "o sexo não é algo de que devemos nos envergonhar", elas podem estar querendo dizer que "o estado em que se encontra nosso instinto sexual não é algo de que devemos sentir vergonha". Se é isso que querem dizer, penso que estão erradas. Penso que temos todos os motivos do mundo para sentir vergonha.

Não há nada de vergonhoso em apreciar o alimento, mas deveríamos nos cobrir de vergonha se metade das pessoas fizesse do alimento o maior interesse de sua vida e passasse os dias a espiar figuras de pratos, com água na boca e estalando os lábios. Não digo que você ou eu sejamos individualmente responsáveis pela situação atual. Nossos ancestrais nos legaram organismos que, sob este aspecto, são pervertidos; e crescemos cercados de propaganda a favor da libertinagem.

Existem pessoas que querem manter o nosso instinto sexual em chamas para lucrar com ele; afinal de contas, não há dúvida de que um homem obcecado é um homem com baixa resistência à publicidade. Deus conhece nossa situação; ele não nos julgará como se não tivéssemos dificuldades a superar. O que realmente importa é a sinceridade e a firma vontade de superá-las. Para sermos curados, temos de querer ser curados. Todo aquele que pede socorro será atendido; porém, para o homem moderno, até mesmo esse desejo sincero é difícil de ter. E fácil pensar que queremos algo quando na verdade não o queremos.

Um cristão famoso, de tempos antigos, disse que, quando era jovem, implorava constantemente pela castidade; anos depois, se deu conta de que, quando seus lábios pronunciavam "ó Senhor, fazei-me casto", seu cotação acrescentava secretamente as palavras: "Mas, por favor, que não seja agora." Isso também pode acontecer nas preces em que pedimos outras virtudes; mas há três motivos que tornam especialmente difícil desejar — quanto mais alcançar - a perfeita castidade.
 
Em primeiro lugar, nossa natureza pervertida, os demônios que nos tentam e a propaganda a favor da luxúria associam-se para nos fazer sentir que os desejos aos quais resistimos são tão "naturais", "saudáveis" e razoáveis que essa resistência é quase uma perversidade e uma anomalia. Cartaz após cartaz, filme após filme, romance após romance associam a ideia da libertinagem sexual com as ideias de saúde, normalidade, juventude, franqueza e bom humor. Essa associação é uma mentira. Como toda mentira poderosa, é baseada numa verdade - a verdade reconhecida acima de que o sexo (à parte os excessos e as obsessões que cresceram ao seu redor) é em si "normal", "saudável" etc. 

A mentira consiste em sugerir que qualquer ato sexual que você se sinta tentado a desempenhar a qualquer momento seja também saudável e normal. Isso é estapafúrdio sob qualquer ponto de vista concebível, mesmo sem levar em conta o cristianismo. A submissão a todos os nossos desejos obviamente leva à impotência, à doença, à inveja, à mentira, à dissimulação, a tudo, enfim, que é contrário à saúde, ao bom humor e à franqueza. Para qualquer tipo de felicidade, mesmo neste mundo, é necessário comedimento. 

Logo, a afirmação de que qualquer desejo é saudável e razoável só porque é forte não significa coisa alguma. Todo homem são e civilizado deve ter um conjunto de princípios pelos quais rejeita alguns desejos e admite outros. Um homem se baseia em princípios cristãos, outro se baseia em princípios de higiene, e outro, ainda, em princípios sociológicos. O verdadeiro conflito não é o do cristianismo contra a "natureza", mas dos princípios cristãos contra outros princípios de controle da "natureza". A "natureza" (no sentido de um desejo natural) terá de ser controlada de um jeito ou de outro, a não ser que queiramos arruinar nossa vida.

É bem verdade que os princípios cristãos são mais rígidos que os outros; no entanto, acreditamos que, para obedecer-lhes, você poderá contar com uma ajuda que não terá para obedecer aos outros. Em segundo lugar, muitas pessoas se sentem desencorajadas de tentar seriamente seguir a castidade cristã porque a consideram impossível (mesmo antes de tentar). Porém, quando uma coisa precisa ser tentada, não se deve pensar se ela é possível ou impossível. Em face de uma pergunta optativa numa prova, a pessoa deve pensar se é capaz de respondê-la ou não; em face de uma pergunta obrigatória, a pessoa deve fazer o melhor que puder. Você poderá somar alguns pontos mesmo com uma resposta imperfeita, mas não somará ponto caso se abstenha de responder. 

Isso não vale apenas para uma prova, mas também para a guerra, para o alpinismo, para aprender a patinar, a nadar e a andar de bicicleta. Até para abotoar um colarinho duro com os dedos enregelados, as pessoas conseguem fazer o que antes parecia impossível. O homem é capaz de prodígios quando se vê obrigado a fazê-los.
 
Podemos ter certeza de que a castidade perfeita — como a caridade perfeita — não será alcançada pelo mero esforço humano. Você tem de pedir a ajuda de Deus. Mesmo depois de pedir, poderá ter a impressão de que a ajuda não vem, ou vem em dose menor que a necessária. Não se preocupe. Depois de cada fracasso, levante-se e tente de novo. Muitas vezes, a primeira ajuda de Deus não é a própria virtude, mas a força para tentar de novo. Por mais importante que seja a castidade (ou a coragem, a veracidade ou qualquer outra virtude), esse processo de treinamento dos hábitos da alma é ainda mais valioso. Ele cura nossas ilusões a respeito de nós mesmos e nos ensina a confiar em Deus. Aprendemos, por um lado, que não podemos confiar em nós mesmos nem em nossos melhores momentos; e, por outro, que não devemos nos desesperar nem mesmo nos piores, pois nossos fracassos são perdoados. A única atitude fatal é se dar por satisfeito com qualquer coisa que não a perfeição.

Em terceiro lugar, as pessoas muitas vezes não entendem o que a psicologia quer dizer com "repressão". Ela nos ensinou que o sexo "reprimido" é perigoso. Nesse caso, porém, "reprimido" é um termo técnico: não
significa "suprimido" no sentido de "negado" ou "proibido". Um desejo ou pensamento reprimido é o que foi jogado para o fundo do subconsciente (em geral na infância) e só pode surgir na mente de forma disfarçada ou irreconhecível. Ao paciente, a sexualidade reprimida não parece nem mesmo ter relação com a sexualidade.
 
Quando um adolescente ou um adulto se empenha em resistir a um desejo consciente, não está lidando com a repressão nem corre o risco de a estar criando. Pelo contrário, os que tentam seriamente ser castos têm mais consciência de sua sexualidade e logo passam a conhecê-la melhor que qualquer outra pessoa. Acabam conhecendo seus desejos como Wellington conhecia Napoleão ou Sherlock Holmes conhecia Moriarty20; como um apanhador de ratos conhece ratos ou como um encanador conhece um cano com vazamento. A virtude - mesmo o esforço para alcançá-la — traz a luz; a libertinagem traz apenas brumas.
 
Para encerrar, apesar de eu ter falado bastante a respeito de sexo, quero deixar tão claro quanto possível que o centro da moralidade cristã não está aí. Se alguém pensa que os cristãos consideram a falta de castidade o vício supremo, essa pessoa está redondamente enganada. Os pecados da carne são maus, mas, dos pecados, são os menos graves. Todos os prazeres mais terríveis são de natureza puramente espiritual: o prazer de provar que o próximo está errado, de tiranizar, de tratar os outros com desdém e superioridade, de estragar o prazer, de difamar. São os prazeres do poder e do ódio. Isso porque existem duas coisas dentro de mim que competem com o ser humano em que devo tentar me tornar. São elas o ser animal e o ser diabólico. O diabólico é o pior dos dois. É por isso que um moralista frio e pretensamente virtuoso que vai regularmente à igreja pode estar bem mais perto do inferno que uma prostituta. É claro, porém, que é melhor não ser nenhum dos dois.

Trecho retirado de Cristianismo Puro e Simples, de C. S. Lewis
06 Feb 12:13

O prédio que reflete o sol para baixo e torra carros, escritórios e pessoas

by Wagner Brenner
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Continuo colecionando exemplos de design ruins para o nosso novo board “Bad design” no Pinterest, mas este merece seu próprio post.

Trata-se do”Wakie-Talkie”,  um prédio espelhado, com uma fachada curvada para frente, resultando em um raio-da-morte-solar no outro lado da rua.

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O fenômeno acontece durante 3 semanas inteiras durante o verão, duas horas por dia.

O sol reflete no prédio e concentra seus raios do outro lado da rua como uma lupa gigantesca.

O raio é tão forte que consegue:

  1. derreter partes dos carros estacionados na calcada oposta
  2. deixar o carpete dos escritórios do prédio da frente esfumaçando (alguns já pegaram fogo)
  3. queimar pinturas
  4. fritar ovos
  5. estourar vidros
  6. rachar azulejos

Só não torra os pedestres que nem formigas embaixo de lupas porque eles aceleram o passo.

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-”Dafuq…”

O prédio, apelidado de “walkie-talkie” por causa do formato, fica em Londres (20 Fenchurch Street) e a prefeitura precisou interditar as vagas de carros da rua para evitar mais acidentes.

A construtora e os arquitetos responsáveis pelo edifício (Land Securities and Canary Wharf ) alegam que qualquer formato novo em um prédio espelhado implica em riscos deste tipo, mas que não “detectaram o fenômeno nos testes feitos em modelos”. Provavelmente não levaram em consideração a incidência do sol em diferentes épocas do ano.

Da próxima vez que estiver em Londres no verão, vá conhecer o raio da morte da Fenchurch Street. Se sentir um cheirinho de queimado, cuidado, pode ser você.

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Para fazer umas fotos a luz é ótima

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-”Ruá, Ruá, Ruá! Vou transformá-los em mandiopã!!!”

 

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Ouch


    


05 Feb 13:55

Por que ironia e sarcasmo tendem a ser tão devastadores em conversas digitais

by Guilherme Nascimento Valadares

Pergunta: “Oi, Guilherme, tudo bem. Tenho uma curiosidade. Por que você tem aversão à ironia? às vezes eu penso ate que é exagerada essa sua vontade de ‘sem ironias por favor’ por aqui. Não que eu ‘seja’ irônico (em verdade, quando sou, tento ser de forma bem humorada) pois tenho certo problema quando percebo que hoje a ironia é utilizada por alguns como uma forma de demonstrar “inteligência” ou qualquer outra qualidade.

Mas qual é o seu problema com a ironia?”

- Anônimo

Começando pelo começo, e aproveitando para agradecer pela excelente pergunta, as definições:

Ironia: figura de linguagem através da qual se expressa o oposto daquilo que se diz.

Sarcasmo: é o uso ofensivo da ironia, com intuito de escárnio e gozação.

A ironia, em contextos de confiança, sejam digitais ou presenciais, pode ser bem divertida. Quando não há confiança ou as pessoas se conhecem menos, facilmente é interpretada como agressão ou escárnio.

Não é incomum vermos também ironia e sarcasmo como preguiça argumentativa ou uma forma mais sutil e supostamente inteligente de ofensa. Por vezes, parecem nascer de um cinismo ou ceticismo com relação a possibilidade de comunicação.


Link YouTube | Use o recurso caption, no canto inferior direito, para ativar legendas em português

Essas figuras de linguagem, ótimas para apontar e desmontar ilusões, podem ser libertadoras – tomando a forma de poderosos discursos políticos, sociais e artísticos. Mas quando se tornam fins em si mesmas, nos aprisionam.

Quando a ironia e o sarcasmo nos fodem

“Você precisa entender que esse negócio [ironia, sarcasmo, cinismo] permeou a cultura. Se tornou nossa linguagem; estamos tão afundados nisso que sequer nos damos conta que é apenas uma perspectiva, dentre muitas outras possíveis. A ironia pós-moderna se tornou nosso ambiente.”

(trecho retirado de “Conversation with David Foster Wallace“)

Dialogar cara a cara já é difícil pacas. Eu não te ouço, você me suporta, cuspimos palavras apressadas, contaminadas por vieses dos quais nem nos damos conta e, assim, de maneira bastante rudimentar e grosseira, vamos passando o tempo.

Digitalmente é dez vezes pior.

Além da usual falta de paciência, abertura e curiosidade com o outro, entram em campo a dificuldade em nos expressar com a escrita, angústias suprimidas, o manto do anonimato, avatares e apelidos espertinhos no lugar de nomes e fotos reais.

Isso destrói o propósito do PdH.

Se vemos sentido num espaço e gostamos de frequentá-lo, é natural estimular sua continuidade.

Nosso propósito é oferecer conversas significativas, aquelas que nos ajudam a crescer.

Nascemos, há sete anos, de um grupo de homens perdidos buscando se ajudar. Estamos, até hoje, tentando ir além da cultura do mero entretenimento, o que é bem distinto de viciar milhares de pessoas em nos lerem, em transe. Somos duros, buscamos estimular pensamento crítico e a ação.

Essa é nossa razão de existir. Fazemos isso por meio de artigos publicados todos os dias, aprofundados em conversas nas caixas de comentários. Quando proveitosas, tais conversas nos conectam a novos autores e ideias para textos. A comunidade se retroalimenta, num ciclo orgânico. Ou seja, dependemos do diálogo e do cultivo de relações autênticas com as pessoas. Vamos à falência sem isso.

Porém, na maior parte do tempo, transformamos nossa comunicação em disputas de poder e convencimento.

Nos dedicamos pouquíssimo, quase nada, a reais diálogos. Puxo aqui a definição proposta por Humberto Mariotti, da qual gosto bastante:

É um método de conversação que busca melhorar a comunicação entre as pessoas e a produção de idéias novas e significados compartilhados, sem procurar analisá-los ou julgá-los de imediato.

Objetivos do diálogo:

  • Abrir questões
  • Estabelecer relações
  • Compartilhar ideias
  • Questionar e compreender
  • Ver as relações entre as partes e o todo
  • Revelar a pluralidade das ideias

É raro praticarmos esse nível de abertura. A maioria das caixas de comentários, fóruns e grupos web afora se tornam reflexos de nossa inabilidade, tensão e fechamento: ambientes profundamente tóxicos.

Opa, o que seria um ambiente digital tóxico?

Aquele no qual os poucos comentários lúcidos e articulados são sufocados por dezenas de outros agressivos, erráticos, ansiosos, histéricos e auto-centrados.

Esses contextos diminuem a probabilidade de comentários saudáveis surgirem, cada vez mais afundando a conversa num ciclo de negatividade e agressões. Logo, todos vão embora, sem que haja qualquer troca significativa. Todos perdem, alguns poucos egos se estufam.

Uma agressão feita nos comentários costuma ser dirigida a uma única pessoa, mas afeta várias. Há centenas ou milhares de espectadores lendo cada comentário.

As que concordam com a agressão se sentem validadas e estimuladas a manter seu posicionamento, se afastando de um olhar mais aberto e sereno.

A pessoa atacada pode se sentir humilhada e sofrer bastante, conheço relatos terríveis de bullying digital. Pode revidar, tão agressiva quanto conseguir. Ou pode ser silenciada, não mais retornando à conversa e bastante ressentida.

As que não concordam com a agressão tendem a tomar as dores, se sentem como parte do “outro time” e, não raro, revidam.

Agressões em ambientes digitais públicos são como granadas cujos estilhaços se espalham em todas as direções.

Ironia e sarcasmo costumam ser subterfúgios com um tempero satisfatório ao ego, em tese, mais espertos do que um ataque direto. Porém, são tão devastadores quanto. Por não estarmos frente a frente, é fácil interpretar um leve tapa como um murro na boca do estômago.

Como nos comunicar e cultivar um ambiente mais favorável então?

Entendendo que estamos engatinhando em cima dos teclados, na infância do diálogo digital.

Entendendo que nossa intenção é diferente daquilo efetivamente interpretado pelo outro. E há grandes chances da nossa interpretação de sua resposta ser distinta do que se tentou comunicar.

São ruídos naturais de uma conversa.

Antes de criticar, pergunte, isso não é sinal de fraqueza. É abertura e generosidade, com o autor e os envolvidos na discussão.

Na dúvida sobre algo? Dê crédito, cheque. Abra suas percepções e explique por qual motivo interpretou a afirmação alheia de tal modo.

Raivoso? Respire fundo e vá dar uma volta. Grandes chances de, quando voltar, enxergar a questão com outros olhos.

Evite agir baseado em pressupostos – aliás, essa é uma boa prática pra vida, não só para comentários na web.

Por aqui estamos nos esforçando bastante pra construir e manter um espaço que privilegie a comunicação tão direta e clara quanto possível entre as pessoas. Parte disso passa por evitar ao máximo evitar subterfúgios – sejam eles de quaisquer tipo, estéticos, estilísticos, sofismáticos, emocionais ou lógicos.

Não que haja um problema com as linguagens estilísticas em si – naturalmente, a gente pode escolher falar assim.

O problema é que isso pode se tornar uma camada desnecessária, que atrapalha a comunicação. Um obstáculo que a pessoa tem de transpor pra conseguir nos entender – se eu não entendo perfeitamente o seu código, não entendo o que você quer comunicar.

Ou um manto protetor, no caso de apelidos e avatares fictícios, que nos distanciam do outro e facilitam sermos brutos e irônicos de um modo que jamais seríamos cara a cara.

Como estamos lidando com muitas pessoas diferentes, com visões diferentes, nós tentamos limpar ao máximo, facilitamos pro outro para que sejamos entendidos.

A tendência é que os diálogos se tornem cada vez melhores por estarmos ali, “presentes”. Os laços de confiança entre as pessoas se fortalecem. Passamos a conhecer quem está do outro lado. Procuramos falar com atenção e realmente ouvir, por assumirmos de saída que nossa prioridade máxima é a comunicação, não os jogos de linguagem.

Esse é um exercício diário e nada fácil, não basta ler esse texto e magicamente absorver as letrinhas. O verdadeiro desafio é, em sua próxima visita aos comentários, seja aqui ou em qualquer outro site, largar velhos hábitos. Assim a comunidade avança e todos ganham.

Espero ter respondido à pergunta do leitor anônimo.

Grande abraço!

* * *

Para se aprofundar, doze sugestões que valem seu tempo:








04 Feb 17:01

A Copa que ninguém vê

by Danilo Fernandes






Cuca é um personagem do Manoel dC





Persiga o @genizahvirtual no Twitter

 

03 Feb 17:10

Quando um neurocientista se descobre psicopata

by Hélio
Weinne Santos

Caracas

Uma experiência parecida já foi relatada no excelente livro autobiográfico "Uma Mente Inquieta", de Kay Redfield Jamison, mas James Fallon parece ter ido mais fundo ao relacionar genética com determinismo comportamental.



A matéria foi publicada no UOL:

Pesquisador se descobre psicopata ao analisar o próprio cérebro


Um neurocientista americano que fazia estudos com criminosos violentos descobriu, por acaso, que ele próprio tinha "cérebro de psicopata".

Casado e pai de três filhos, James Fallon, professor de psiquiatria e comportamento humano da University of California, Irvine (UCI), disse à BBC Brasil que a descoberta fez com que ele reavaliasse seus conceitos a respeito de quem era. E transformou suas convicções enquanto cientista.

A experiência de Fallon, descrita no livro The Psychopath Inside, teve grande repercussão na internet.

Comentando o caso, um neurologista ouvido pela BBC disse que estamos interpretando os conhecimentos gerados pela genética de maneira "perigosa".

"Os profissionais estão atribuindo importância excessiva para a carga genética de uma pessoa, como se isso, por si só, fosse capaz de determinar o futuro de um ser humano", disse Eduardo Mutarelli, professor do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

Para ele, a experiência de Fallon ajuda a reequilibrar o debate que contrapõe a influência da herança genética à do meio (nesse caso em particular, a influência civilizadora da família e da sociedade sobre o indivíduo).

Revelação perturbadora

A descoberta de Fallon aconteceu em 2005, quando ele analisava tomografias de cérebros de assassinos em série na universidade. Ele queria ver se encontrava alguma relação entre os padrões anatômicos dos cérebros desses pacientes e seu comportamento.

Fallon explicou que, para ter uma base de comparação, tinha colocado na pilha tomografias de membros de sua própria família - a ideia era usá-los como modelos de cérebros "normais".

Ao chegar ao fim da pilha, onde estavam os exames de sua família, o cientista viu uma tomografia que mostrava um padrão claro de patologia. "O exame mostrava baixa atividade em certas áreas dos lobos frontal e temporal que estão associadas à empatia, moralidade e ao auto-controle".

Fallon contou que, no começo, pensou que fosse um engano. Mas feitas as checagens, o neurocientista, que estudava psicopatas há mais de duas décadas, viu-se às voltas com uma realidade um tanto quanto incômoda: o cérebro representado naquele exame era seu.

"As mesmas áreas do cérebro estavam completamente apagadas, como nos piores casos que eu tinha visto", disse Fallon.

Para se certificar, Fallon fez mais algumas investigações.

Exames do seu DNA confirmaram que ele tinha genes alelos associados à ausência de empatia e comportamento agressivo e violento.

Fallon também se submeteu a um teste usado por muitos pesquisadores e psicólogos para avaliar tendências antisociais e psicopáticas, a Robert Hare Checklist.

"Psicopatas alcançam acima de 30 pontos no teste de Robert Hare", disse Fallon. "A pontuação máxima é 40. Eu alcanço 18, 20 ou 22. Tenho vários traços em comum com psicopatas, só não sou criminoso. Nunca matei nem estuprei ninguém e prefiro vencer uma discussão com argumentos do que com força física", diz.

Charme perigoso

Fallon contou que quando compartilhou suas descobertas com a família e com amigos, eles não se surpreenderam. Gradualmente, o neurologista começou a se ver do ponto de vista das pessoas que o conheciam bem.

"Tive várias conversas reveladoras com minha mãe. Ela me disse que sempre percebeu um lado sombrio em mim e tomava cuidado especial para neutralizar essas tendências e incentivar outras, mais positivas", conta.

Nessas conversas, a mãe também contou ao filho que vários antepassados dele pelo lado paterno tinham sido criminosos temidos. Entre eles, Lizzie Borden, acusada de matar o pai e a madrasta em 1892.

Para a esposa, era como se existissem dois James Fallon convivendo num único homem.

"Sou casada com duas pessoas, uma é inteligente, engraçada e afetuosa. A outra é um sujeito perverso, de quem eu não gosto", disse a mulher do neurologista em uma entrevista para a TV.

"Tenho muito jeito para lidar com estranhos, faço muita caridade. Mas sou uma decepção como marido. Posso ver um bebê que não conheço e ficar com os olhos cheios de lágrimas, mas não sinto uma conexão emocional profunda com minha própria família", diz.

Fallon descreveu alguns dos traços típicos de um psicopata: "Psicopatas possuem um narcisismo agressivo, charme, desenvoltura aliada a superficialidade, senso de superioridade, tendência a manipular, são emocionalmente rasos, não sentem culpa, remorso ou vergonha".

"Podem ser magnânimos e generosos, mas são emocionalmente frios", afirma.

Teria Hitler, por exemplo, sido um psicopata?

"Não. Hitler era capaz de sentir empatia pelas pessoas e tinha relacionamentos próximos, então eu diria que ele não era um psicopata. Já Stalin, por exemplo, tenho quase certeza de que sim. Ele não era próximo nem dos próprios filhos", observa.

"A capacidade - ou não - de sentir empatia é essencial para se establecer se uma pessoa é um psicopata", diz o neurologista.

Amor de mãe

James Fallon diz não ter dúvidas de que foi o amor da família que impediu que ele realizasse seu "potencial" e se tornasse um criminoso violento.

"Sou uma pessoa agressiva e vingativa, gosto de manipular as pessoas, sinto prazer no poder. Mas todos foram tão amorosos comigo, tenho uma mãe afetuosa e uma esposa maravilhosa", afirma.

"Além disso, não tive experiências de abandono, abuso ou traumas violentos na infância. Tudo isso neutralizou minha biologia", relata.

O neurologista confessou que não teria feito essa afirmação cinco anos antes. "Eu costumava achar que a genética era tudo. Hoje, estou convencido de que a biologia é importante, mas a genética pode ser modificada pelo meio ambiente", diz.

Gene X meio

As revelações de James Fallon, descritas no seu livro e em palestras - algumas disponíveis na internet - revivem um debate que há muito intriga especialistas: somos produto da nossa herança genética ou do meio em que vivemos?

Para o neurologista da USP e do Hospital Sírio Libanês Eduardo Mutarelli, o caso de Fallon reforça o papel da sociedade (ou seja, do meio) na formação do indivíduo. E ajuda a combater uma certa tendência "determinista" na forma como nosso potencial genético vem sendo interpretado por médicos hoje.

"A genética hoje trabalha muito com probabilidades, com potencial genético e fatores de risco", disse Mutarelli.

O médico citou como exemplo doenças como o mal de Alzheimer ou o mal de Parkinson.

"Com o conhecimento atual, sabemos que existe uma certa carga genética associada a essas doenças. Mas você carrega um certo fator de risco e isso vai se transformar em doença caso outras coisas contribuam para isso", explicou.

"Você não se cuida, não come direito, esses são fatores de risco para que a pessoa venha a desenvolver a doença", observa.

Mas trazendo a discussão de volta para o caso de James Fallon, Mutarelli faz uma ressalva: "No caso dele, se ele tem um exame de imagem de cérebro que é igual ao de um psicopata, ele só não é psicopata porque foi bem educado".

"O lobo frontal está desregulado, a alteração existe na experiência dele e a ressonância mostra a alteração, ou seja o gene foi ativado. Ele só não é um serial killer por causa da família", reforçou o professor.

E concluindo: "O jeito de mudar o mundo é educando".







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03 Feb 14:44

Carta Aberta da filha de Woody Allen sobre abuso sexual que sofreu do pai: “Qual o filme de Woody Allen é o seu favorito?”

by Diego Santos

A polêmica sobre o suposto abuso sexual de Dylan Farrow quando criança, pelo pai adotivo Woody Allen ganha novos capítulos.

Durante a homenagem ao diretor na cerimônia do Globo de Ouro, Mia Farrow (ex-esposa do cineasta e mãe adotiva de Dylan) e Ronan Farrow, (filho de Mia) fizeram questão de lembrar sobre os escândalos em declarações nas redes sociais. No twitter, foram postadas frases como

 ”Perdi o tributo ao Woody Allen – eles colocaram a parte em que uma mulher confirmou ser molestada por ele aos 7 anos antes ou depois de Annie Hall?”

“Uma mulher detalhou publicamente ser molestada por Woody Allen aos 7 anos de idade. O tributo do Globo de Ouro mostra um desrespeito a ela e a todos os sobreviventes de abusos.”

Em meio a todo esse debate, ressurgido após 21 anos, Dylan Farrow, a suposta vítima envolvida, faz a sua primeira declaração sobre o ocorrido. Por meio de uma carta aberta, publicada por um colunista do The New York Times, a jovem dá detalhes do abuso e fala sobre alguns traumas após aquele dia.

Confira a versão traduzida da carta:

Qual o filme de Woody Allen é o seu favorito? Antes de responder, você tem que saber: quando eu tinha sete anos, Woody Allen me tomou pela mão e me levou a um sótão escuro, tipo um armario, no segundo andar da nossa casa. Ele me disse para deitar de bruços e brincar com o trenzinho elétrico do meu irmão. Em seguida, ele abusou sexualmente de mim. Enquanto o fazia, ele sussurrava que eu era uma boa menina, que aquele era o nosso segredo, que iríamos para Paris e eu seria uma estrela dos seus filmes. Eu me lembro de fixar naquele trenzinho, concentrando-me nos seus movimentos enquanto ele circulava ao redor do sótão. Desde esse dia, acho difícil mirar trenzinhos de brinquedo.

Ate onde consigo lembrar, meu pai sempre tinha feito comigo coisas de que eu não gostava. Não gostava das inúmeras vezes que me afastava da minha mãe, dos meus irmãos e amigos para ficar sozinha com ele. Eu não gostava quando ele enfiava o polegar na minha boca. Eu não gostei quando eu tive que me enfiar na cama, debaixo dos lençóis com ele só de cueca. Eu não gostava quando ele colocava a cabeça no meu colo nua e ficava ofegando. Eu costumava me esconder debaixo da cama ou me trancar no banheiro para evitar esses encontros, mas ele sempre me achava. Estas coisas aconteceram tantas vezes, tão rotineiramente, tão habilmente escondidas de uma mãe que teria me protegido se soubesse, que eu pensei que fosse normal. Pensava que era como os pais amavam suas filhas. Mas o que ele fez comigo no sótão eu senti que era diferente. Eu não podia manter o segredo.

Quando perguntei para minha mãe se o pai dela fez com ela o que Woody Allen fez comigo, eu sinceramente não sabia da resposta. Também não sabia da tempestade que isso iria desencadear. Eu não sabia que meu pai usaria seu relacionamento sexual com a minha irmã para encobrir o abuso que ele cometeu contra mim. Não sabia que ele acusaria minha mãe de colocar essas coisas na minha cabeça e a chamaria de mentirosa por me defender. Eu não sabia que eu seria obrigada a contar e recontar minha história para um medico atras do outro, pressionada para ver se eu admitia que eu estava mentindo,  como parte de uma batalha legal que eu nao podia sequer entender. A certa altura, minha mãe me sentou e me disse que eu não seria castigada se estivesse mentindo – que eu podia voltar atras. Mas eu não podia.  Era tudo verdade. Mas alegações de abuso sexual contra alguém poderoso se emperram mais facilmente. Não faltaram especialistas querendo atacar a minha credibilidade. Médicos desejosos de confundir a cabeça de uma criança abusada.

Depois de uma audiência de custódia negando ao meu pai o direito de visita, minha mãe desistiu de continuar com a ação criminal, devido, nas palavras do procurador, à fragilidade da “criança vitimada” - apesar da asserção dos indícios de culpabilidade pelo Estado de Connecticut. Woody Allen nunca foi condenado por qualquer desses atos. Que ele tenha conseguido se safar de tudo que fez contra mim, me perseguia como um fantasma na medida em que me tornei adulta.  Me afligia a culpa de haver permitido que ele se aproximasse de outras meninas. Eu tinha pavor de ser tocada por homens. Eu desenvolvi um transtorno alimentar. Eu comecei a me cortar. Esse tormento foi piorado pela atititude de Hollywood. Todos, exceto alguns poucos preciosos indivíduos (meus heróis) fecharam os olhos. A maioria achava mais fácil aceitar a ambiguidade, dizer, “quem pode afirmar com certeza o que aconteceu,” fingir que não havia nada de errado. Atores o elogiavam nas cerimonias de premiação. As redes o mostram na TV. Os críticos o colocavam nas revistas. Cada vez que eu via o rosto do meu agressor – em um cartaz, uma camiseta, na televisão eu só conseguia conter meu pavor até achar algum lugar onde pudesse ficar sozinha e desabar.

Na semana passada, Woody Allen foi nomeado para o seu Oscar mais recente. Mas desta vez, eu me recuso a desmoronar. Por longo tempo, a aclamação de Woody Allen me silenciou. Era como uma repreensão pessoal, como se os prêmios e elogios fossem uma maneira de me mandar ir embora. Mas os sobreviventes de abuso sexual têm me estendido a mão  – para me apoiar e compartilhar comigo seus medos de seguir adiante, de serem chamados de mentirosos, de ouvir que suas lembranças não são suas lembranças – me deu um motivo para não ficar em silêncio, ainda que apenas para que outros saibam  que eles também não têm que ficar em silêncio.

Hoje, me considero uma pessoa com sorte. Sou casada e feliz.  Tenho o apoio de irmãos e irmãs maravilhosos. Tenho uma mãe que encontrou dentro de si um manancial de força que nos salvou do caos que um predador trouxe para dentro da nossa casa.

Mas existem outros que ainda estão com medo, vulneráveis e lutando para ter coragem de dizer a verdade. A mensagem que Hollywood manda é importante para eles.

E se tivesse sido seu filho, Cate Blanchett? Louis CK? Alec Baldwin? E se tivesse sido você, Emma Stone? Ou você, Scarlett Johansson? Você me conheceu quando eu era uma garotinha, Diane Keaton. Se esqueceu de mim?

Woody Allen é um testemunho vivo da forma como nossa sociedade falha para com os sobreviventes de abusos e violência sexual.

Agora, Imagine sua filha de sete anos de idade, sendo levada para um sótão por Woody Allen. Imagine que ela passe a vida tendo ataques de náuseas à simples menção do seu nome. Imagine um mundo que celebra o seu tormento.

Imaginou? Agora diga, qual filme de Woody Allen é o seu favorito?

[Traduzido por Rose Ferreira]

***

Até então, apenas Cate Blanchett, citada na carta se manifestou, ao dizer:

“Tem sido obviamente uma situação longa e dolorosa para a família e espero que eles consigam encontrar alguma resolução e paz.”

O agente de Allen declarou que “Woody Allen leu o artigo e considera-o falso e vergonhoso”. Segundo ele, em breve Woody, que nunca chegou a ser processado pelo caso, irá se declarar a respeito da carta.

Robert B. Weide, diretor de Woody Allen – Um Documentário lembra o primeiro depoimento de Dylan em 1993, feito em vídeo, que segundo ele foi completamente editado, o que leva as suspeitas de que Mia induzisse a filha a fazer isso, explicando o que ela devia dizer durante os cortes do vídeo. Weide citou ainda que Moses Farrow, um dos filhos adotivos do casal, teria afirmado que “o ambiente na casa da mãe era de lavagem cerebral”.

Até mesmo o médico responsável pela investigação, havia afirmado que:

“Trabalhamos com duas hipóteses: uma, que estas foram declarações feitas por uma criança emocionalmente perturbada e que, em seguida, tornou-se algo fixo em sua mente. E a outra hipótese era de que ela foi treinada ou influenciada por sua mãe. Nós não chegamos a uma conclusão firme. Penso que é, provavelmente, uma combinação das duas.” [Adoro Cinema]

Como é fácil notar, o caso ainda está longe de sua conclusão.

Aguardamos, por enquanto, o pronunciamento e a versão de Woody Allen sobre as acusações.

As polêmicas tiveram início quando Woody Allen deixou Mia Farrow, após começar um relacionamento com Soon-Yi Previn, filha adotiva da atriz, de outro casamento.

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02 Feb 20:38

Rapaz perde conta de US$ 50.000 no Twitter após PayPal e GoDaddy falarem mais do que deviam

by Daniel Junqueira

Por sete anos, Naoki Hiroshima foi dono de uma conta bem fácil de se lembrar no Twitter – ele era o @N. Ele chegou a receber propostas de US$ 50.000 pelo username, e por diversas vezes foi alvo de ataques de hackers que queriam se apropriar da sua arroba seguida de uma simples letra “N”. Ele resistiu. Por muito tempo. Mas, na semana passada, perdeu. Por causa do PayPal e do GoDaddy.

Na semana passada, a conta de Hiroshima no PayPal foi alvo de um ataque. Ele recebeu uma mensagem de texto com um código que valia por apenas uma vez. Como não pediu pelo código, simplesmente ignorou a mensagem e seguiu com a sua vida. Mas o responsável por tentar invadir a conta do PayPal foi adiante, e conseguiu os últimos quatro dígitos do cartão de crédito de Hiroshima ao enganar um funcionário do PayPal. Em um primeiro momento, parece uma informação inútil, mas permitiu um ataque muito mais elaborado por parte do hacker.

Eis o que fez o sujeito: com os quatro dígitos finais do cartão de crédito de Hiroshima, ele entrou em contato com o GoDaddy, responsável pelo registro de domínios nos Estados Unidos, e usou essa informação para se passar por Hiroshima. Com isso, conseguiu descobrir o endereço de email do rapaz.

Hiroshima entrou em seu email e viu uma mensagem bastante incomum – um email enviado pelo GoDaddy detalhando as mudanças de configurações de conta. Ele tentou acessar a conta do GoDaddy para desfazer as mudanças – feitas pelo hacker – mas não conseguiu. A conta estava comprometida.

Neste momento, Hiroshima percebeu  que o objetivo do rapaz era a sua conta do Twitter. O email vinculado à conta do Twitter estava registrado em um domínio no GoDaddy, então o hacker poderia ter acesso ao email para resetar a senha, e, assim, poderia assumir controle do @N. Hiroshima, então, mudou o endereço de email vinculado ao Twitter.

Por fim, o hacker enviou um email para Hiroshima, e o rapaz percebeu que precisaria negociar. Era a sua conta no Twitter ou todos os seus registros no GoDaddy. Sem conseguir recuperar a sua conta ao relatar ao GoDaddy o que aconteceu, ele decidiu ceder.

Assim, com dois serviços de internet liberando dados aparentemente inúteis sobre a sua conta, e com um hacker bem esperto que certamente elaborou muito bem esse plano, Hiroshima perdeu uma conta que, um dia, recebeu uma proposta de US$ 50.000.

A história bizarra foi contada pelo próprio Naoki Hiroshima pelo Medium – você pode conferir aqui, em inglês. É um daqueles casos tristes em que uma empresa de posse de informações pessoais não toma o devido cuidado com elas e prejudica a sua vida das pessoas.  Claro, é apenas uma conta do Twitter, mas se é tão fácil conseguir informações de cartão de crédito do PayPal, quem sabe o que mais pode ser perdido da mesma maneira? [Medium via The Verge]

30 Jan 11:17

Google não vendeu Projeto Ara para a Lenovo

by Renê Fraga

projeto-ara

Enquanto a unidade de celulares da Motorola Mobility segue rumo as mãos da Lenovo, o Google manteve o grupo Advanced Technology and Projects – desenvolvedora do telefone modular Projeto Ara – longe da fabricante chinesa. De acordo com o The Verge, a equipe será integrada ao time do Android, sob a chancela do VP do Chrome e do Android Sundar Pichai.

Se o Project Ara é o celular do futuro, o Google está agora completamente livre para investir tempo e dinheiro na ideia.








30 Jan 11:17

Motorola anuncia atualização do Moto G para Android 4.4.2 KitKat

by Renê Fraga

kitkat-android

A Motorola, uma ex-propriedade do Google, anunciou hoje que o Moto G receberá a versão Android 4.4.2 (KitKat).

De forma gradativa, os primeiros usuários a receber o upgrade serão os que compraram o aparelho nas lojas do varejo. Em breve, a nova versão chegará também para quem possui contrato com as operadoras.

Confira algumas novidades que chegam com o Android KitKat:

  • O Google Hangouts poder ser definido como aplicativo de SMS padrão.
  • O telefone passa a contar com o recurso de busca de contatos direto no teclado, com visualização e seleção dos mais frequentes.
  • Para quem gosta de fotos, o aplicativo Galeria ganha novas opções de edição, incluindo mais efeitos de filtro, recursos de desenho nas imagens, recorte avançado, ajustes de cor, exposição, contraste e muito mais.
  • Novos formatos nas barras de navegação e de status.
  • Novo modo de tela cheia, com maior aproveitamento do espaço útil.







30 Jan 03:03

"O marido é meu. Jeová vai te pegar!"

by Gutierres Siqueira
Weinne Santos

OMG O QUE É ISSO MINHA GENTE?

Por Gutierres Fernandes Siqueira

Caros leitores,

Vejam o vídeo abaixo. É mais uma amostra como parte considerável da Igreja Evangélica- e Pentecostal- perdeu o senso do ridículo. Sim, é urgente o resgate das Escrituras não só para a qualidade doutrinária, mas também para a recuperação do, repito, senso do ridículo.

a) Observe a histeria das "irmãs". "O marido é meu", canta uma. Enquanto outra fica empolgada com essa afirmação de posse.

b) Veja como o culto cristão virou uma espécie de Programa do Ratinho.

c) Observe a falta do senso do sagrado, a bagunça, as movimentações, a falta de ordem... Sim, é um programa de auditório bizarro.

d) O culto é para adorar a Deus, mas a música é uma reafirmação da "mulher macha".

e) E o velho espírito de vingança está, como sempre, no ar. Junto, é claro, com a "teologia do cangaço": "Jeová vai te pegar"!

E há quem acredite que a música pentecostal não está em crise. Caros, esse tipo de manifestação não é exceção, ou uma minoria. Infelizmente, hoje é a regra.



29 Jan 14:04

Amei a Loki, e Odiei a Thor

by contato@iprodigo.com
Weinne Santos

Uma reflexão sobre Thor e Loki a partir da história de Esaú e Jacó. Vale a pena. :)

O grande lançamento de 2012, Os Vingadores, levou milhares de espectadores a pedir por mais Loki, personagem interpretado por Tom Hiddleston. E Thor: O Mundo Sombrio não decepcionou esses fãs. Loki rouba toda cena em que aprece. Acho que tem um jogo de palavras na última frase.

A dinâmica familiar entre Thor e Loki me lembra outra famosa rivalidade entre irmãos, Jacó e Esaú. Esaú e Thor são os irmãos mais velhos, Jacó e Loki, os mais novos. Thor e Esaú desfrutam do amor de seus pais, enquanto suas mães favorecem Loki e Jacó. Thor é um bruto cabeludo. Esaú é um bruto cabeludo. Loki é um trapaceiro tentando roubar a primogenitura do irmão. Jacó é um trapaceiro que rouba a primogenitura do irmão. Esaú casa com uma mulher que seus pais não aprovam. Thor passa seu tempo atrás de uma mulher que Odin desaprova. Jacó disfarça-se como seu irmão. Loki disfarça-se de todo mundo.

Por quem deveríamos torcer ao assistirmos Thor: O Mundo Sombrio? A Bíblia aprova Jacó, então eu acho que isso significa que deveríamos apoiar Loki. Mas ele não é um vilão? Bem, sim, mas mesmo o deus do trovão admite que ele tem mais de governante que Thor. Deixe as pessoas fazerem aquilo no que elas são boas.

Mas não me entenda mal. Eu adoro Thor como personagem. Mas, quando ele está contra seu irmão mais novo, não consigo não torcer por Loki. A versão de Hiddleston para o enganador “fascina” – no sentido mais arcaico da palavra.

O fascínio de Loki vem de sua complexidade. Eu passei o filme todo perguntando: “Esse é o Loki verdadeiro?”. Após o final do filme, eu pensei sobre a cena em que Thor visita Loki na prisão. No começo, Loki mantém sua  compostura, e ele zomba de seu irmão. Thor diz: “Basta!” e a ilusão desaparece. Nós vemos o verdadeiro Loki, despenteado e desconsolado, sentado no chão. Foi uma cena excelente na qual nós vemos Loki devastado pelas escolhas que fez.

Mas ele estava realmente devastado? Era o Loki verdadeiro? Depois do filme, eu comecei a imaginar. E se a cena contivesse uma ilusão dupla? E se Loki mostrou a Thor o que Thor desejava ver para poder sair da prisão. Como Loki é o enganador, todas as suas cenas estão abertas a questionamento. É possível ir ao desespero tentando enxergar o verdadeiro Loki.

Eu cheguei a uma maneira alternativa de interpretar o personagem. Eu decidi que a genialidade de Loki é que nada daquilo é ilusão. Seu desdém por Thor, real. Seu amor por Thor, real. Sua necessidade desesperada da aprovação de Odin, real. Seu auto-sacrifício, real. Sua natureza autocentrada, real. Sua arrogância, sua bravata, sua penitência, sua dor – é tudo real. Loki é o enganador supremo porque ele acredita em cada uma de suas ilusões. Ele não está enganando os outros tanto quanto ele engana a si mesmo. Loki é o personagem mais complexo que eu já vi em um filme de super-herói (embora o Homem de Ferro de Robert Downey Jr. alcance um segundo lugar extremamente próximo).

Eu acho mais fácil me identificar com Loki que com Thor. Thor é um herói. Eu queria ser um herói. Loki queria ser um herói também. Loki e eu percebemos que há uma lacuna entre o que nós somos e o que aspiramos ser. Algumas vezes, nós fingimos. Às vezes, o reconhecimento da lacuna causa ações destrutivas que, na verdade, aumenta a lacuna. Loki e eu temos corações complexos e perversos. Algumas vezes, nós dois acreditamos em nossas próprias mentiras. Loki só quer ser amado, mas, se ele não conseguir isso, ele tentará ser temido. Isso resume muito bem meu relacionamento com meus alunos.

Assim, pelo menos por enquanto, estou na torcida por Loki. Eu quero descobrir o que ele fará a seguir, e espero que o próximo filme contenha graça suficiente para libertá-lo de suas próprias ilusões. Nem Loki, nem eu podemos nos libertar de nossos próprios corações enganosos.

Essa é minha abordagem agostiniana para um filme de super-heróis, se é que isso tem algum sentido.

28 Jan 12:42

Maridos Solitários, Esposas Solitárias

by Augustus Nicodemus Lopes
O isolamento de outras pessoas nem sempre é ruim. O próprio Jesus tinha o hábito de isolar-se regularmente das multidões e ficar a sós com Deus, depois de um dia de trabalho em meio às multidões. Nessas ocasiões, ele orava e renovava suas forças. 

Mas, existe uma solidão maléfica, característica da sociedade em que vivemos. As pessoas podem viver numa mesma casa com muitas outras e ainda assim viver isoladas delas. Já que fomos criados como seres sociais, viver em isolamento geralmente provoca tristeza, depressão, angústia e, em casos extremos, o suicídio.

O isolamento acontece mesmo entre pessoas tão íntimas como marido e mulher. Diversas forças ativas na sociedade moderna estão separando marido e mulher cada vez mais para longe um do outro, em vez de produzir intimidade e mutualidade: 

1) Numa sociedade tão complexa como a em que vivemos, experiências diferentes e sistemas de valores diferentes separam os casais. Antigamente, as pessoas nasciam e cresciam juntas num mesmo lugar. Hoje, elas vêm de passados completamente diferentes. 

2) A sociedade moderna tem passado a idéia de que o casamento é um relacionamento na base de 50/50 (fifty-fifty). Isso é, cada um dá um pouco de si. Mas isso não funciona, na verdade. O padrão cristão é 100/100. No casamento, temos de nos dar inteiramente. 

3) O egoísmo é provavelmente a maior ameaça à unidade do casal. Ser egoísta é buscar realização pessoal deixando o cônjuge de fora. Uma ilusão bastante comum é que marido e mulher podem obter sucesso independentemente um do outro e ainda ter um casamento bom. Na prática, quase nunca isso dá certo. 

4) Outro fator de isolacionismo são problemas não superados. Os pesquisadores mostram que cerca de 70% dos casais que passam por experiências traumáticas - como perder um filho num acidente, ou ter um filho gravemente deficiente - se separam ou se divorciam. 

5) A mídia tem popularizado a idéia de que aventuras extramaritais é algo normal. O fato é que, não somente o adultério consumado, mas o adultério emocional - uma amizade muito íntima com alguém do sexo oposto - provoca o isolamento dos cônjuges. 

6) A pressão contínua do estilo de vida acelerado em que vivemos contribui para que cada vez mais vivamos estilos de vida separados uns dos outros. 

7) Outro fator é a dependência cada vez maior das mídias sociais. Marido e mulher podem estar sentados na mesma mesa, sentados no mesmo sofá ou deitados na mesma cama, mas cada um está checando seus e-mails, Facebook, Twitter, Google+ ou outros aplicativos sociais. Estão juntos apenas fisicamente. Membros de uma família podem estar juntos na mesma sala e estar perfeitamente isolados uns dos outros. À medida em que nos enfiamos em nossos casulos virtuais, mais e mais nos desconectamos uns dos outros.

O isolamento é uma ameaça séria mesmo para casais cristãos. Estes cristãos precisam perceber que se não tomarem as providências necessárias e se não tratarem dessa ameaça juntos, acabarão por viver isolados uns dos outros, mesmo debaixo do mesmo teto. Muitos casais casados têm sexo mas não amor. O erro típico que muitos casais cometem é não antecipar que problemas desse tipo podem ocorrer com eles. E quando os problemas surgem, são apanhados desprevenidos.

Vivemos num mundo cheio de problemas. A tentação de muitos, debaixo de pressão, é isolar-se, hibernar como um urso em sua caverna no inverno. Embora essa pareça uma alternativa atraente, é somente com o apoio de amigos que poderemos suportar as misérias desta vida. 


O que podemos fazer, como cristãos, para vencer o isolamento? Aqui vão algumas dicas: 

1) Busque maior intimidade com Deus, pela leitura da Bíblia e pela oração diária. Quando nos aproximamos de Deus, podemos melhor nos aproximar dos outros. 

2) Planeje gastar tempo com seu cônjuge fazendo coisas que ambos apreciam. 

3) As vezes o isolamento foi causado por uma atitude errada sua, com a qual o seu cônjuge ofendeu-se ou magoou-se. É preciso pedir perdão e buscar a reconciliação. 

4) Às vezes quando a situação já se tornou muito complicada e difícil, é preciso vencer o orgulho e procurar ajuda.


Não permita que o isolamento acabe a alegria do seu casamento. Casados também podem ser felizes juntos!



28 Jan 12:40

Óculos inspirados em tipografia

by Samanta Fluture

A empresa japonesa Type quer que você use óculos cujo design foi totalmente inspirado em tipografia.

Para começar, foram cridas duas linhas de óculos, cada uma baseada nas fontes Helvetia e Garamond, aprofundando modelos a partir de suas variações.

Cada linha possui três versões de óculos – light, regular e bold – que delineiam a espessura das armações. Além disso, todos os produtos estão disponíveis em preto, transparente (“clear”) e estampado (“tortoise”).

A empresa faz um bom trabalho ao extrair as principais características de cada fonte, e usá-las para personificar seus produtos.

Enquanto a linha Helvetica tem um design mais comum ao retratar as características que tornam a fonte tão popular e compatível com diversas funções e necessidades, a linha Garamond segue uma abordagem mais diferenciada e busca destacar seus diferenciais, resultando em um design de curvas que une ousadia e vintage ao mesmo tempo.

type-glasses-h2
type-glasses-h1
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As armações custam a partir de $231, disponíveis no site da Type.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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27 Jan 16:05

Ira! de volta

by Paulo Finatto Jr.

Foram sete anos separados.

Nessa semana, o Ira! anunciou que vai voltar, pelo menos para uma longa turnê. O giro, batizado com o nome Núcleo Base, vai percorrer o Brasil inteiro nos próximos dois anos, com mais de 200 shows marcados até 2015.

A banda, no entanto, não voltará a tocar ao vivo com a sua formação original. O vocalista Nasi contou ao jornal O Globo que ele e Edgar Scandurra serão acompanhados por músicos de suas respectivas bandas solo. “Das vezes que conversamos com o Ricardo Gaspa, ele demostrou que tem outro projeto de vida. E sobre o André Jung, achamos que existem outros músicos mais afinados com o nosso projeto com o Ira!”, explicou.

A turnê do Ira! deve começar em maio. O último disco da banda – “Invisível DJ” – você pode ouvir aqui:

27 Jan 14:01

Dor de amor

by Jader Pires
Weinne Santos

os comentários são os melhores.

estou tendo dores desde que ela me deixou. não sabe como é isso?

imagine seu coração, não naquele formato científico horroroso cheio de gordura e assimetria. pense em um vistoso coração romântico, com duas saliências macias e iguais uma de cada lado. pois bem, agora continue imaginando que, a cada respirada, uma nova bola vai nascendo.

respira, uma bola, respira, outra bola. vai pensando daí, um torrão de carne nascendo, bolhas gigantes toda vez que se inspira e que o ar sai para fora dos pulmões.

não. não há coração que aguente.

daí é que vem minhas dores. do coração.

pareço criar uma novela, não tome como enganação. se a medicina não está do meu lado, há de estar todo aquele que algum dia deixou de ser amado por alguém. e que dor que dá e que burrice que é, pois, sempre que possível, a coisa toda se repete. se ama, se engana e o coração volta a doer.

o amor é uma insalubre peste que se pega no ar, que causa febre e perda de memória e taquicardias. a visão fica comprometida e o ânimo cai pela metade e sobe mais que o dobro e os cinco sentidos ficam sensíveis e o sono não aparece nessas épocas. uma boa quarentena não seria o suficiente. já cansei de ouvir histórias de pessoas que passam a vida todinha amando uma outra pessoa, sem nunca cessar um instante. nunca soube dizer se fico feliz ou entristecido quando ouço esses racontos.

teve uma vez que uma menina ficou doente por mim, digo, se apaixonou pelo meu eu mais jovem. era doidice atrás de doidice e ela aparecia na minha janela a tarde e me mandava bilhetinhos na escola. bolhas e mais bolhas naquele coraçãozinho dela. eu tive que dizer pra ela não continuar enferma naquele tanto, daquele jeito. eu não era doente por ela, sequer lembrava o nome da pobrezinha.

na escola, ela veio me dizer oi dentro da minha sala. cercado pelos amigos e pelas meninas que eu tinha real vontade, eu achincalhei a tadinha de um jeito que não se faz. maldisse de suas roupas, dos cabelos dela, contei vantagens e diminui ela e sua família e suas intenções. foi violento e descabido e desnecessário. a pequena chorou ali mesmo na sala, na frente de todo mundo. eu quase conseguia ouvir o barulho de seus ossinhos batendo, joelho contra joelho debaixo da saia longa. ela ficou ali pois não conseguia correr. chorava um choro de cachos de uva, uma coisa pesada e densa que caía aos montes, que poderia, caso passasse a tarde toda parada, encher toda a sala, quiça toda a escola.

quanto mais ela chorava, menos eu entendia porque havia tratado a pequena daquela maneira. talvez seria para justificar o que passo hoje, com essas dores no coração que não vão embora. quando desembrulho minhas lembranças, tento formar o mapa para perceber onde foi que descarrilou o que eu tinha com a Helena.

sabe raio? foi um desses que levei quando a vi. aquele sorriso de cientista maluca, aquela flor na cabeça, as unhas vermelhas nos pés, todos aqueles homens em volta dela e ela olhou para mim e parou de dançar, como se a mesma corrente elétrica que passara por mim atingisse o solo e corresse direto para transpassar o corpo dela também. namoramos naquele mesmo dia e nove meses depois estávamos casados, passeando a europa de mãos dadas, Helena e eu.

a gente ria um do outro e comprávamos livros um para o outro e acumulávamos discos que ouvíamos juntos na vitrola que ganhamos de casamento da melhor amiga dela, a mesma mulher que apresentou à Helena o homem com quem ela vive hoje.

quando ela me disse, pensei ter tomado um soco ou um tiro e depois foi como se o clarão de luz que vibrava em nossos corpos de repente sumisse e se enfiasse para todo o sempre debaixo da terra, uma faísca de amor aterrada. eu fiquei mole, como se me levassem toda a energia vital, como se eu fosse um espectador de nós dois a presenciar minha maior humilhação. a Helena conhecera o homem na piscina do clube, um jovem assaz gostoso, forte mesmo, que guardava todo o vigor para si. a Helena instantaneamente molhou e naquela mesma tarde eles transariam seis vezes. mais uma semana e ela sairia de casa, mas não sem me contar os pormenores da paixão por ele que fez encerrar o amor que ela tinha por mim. o que ela me disse não ouso repetir e, desde então, cada vez que eu inspiro me sobe uma bola no coração e, cada vez que eu expiro, outra lombada me salta no peito.

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e dói, amigo.

dói.








24 Jan 18:47

Ok, Google, você oficialmente superou o Siri

by Márcio Cyrillo
Há cerca de um ano e meio, eu estava para lá de animado com o aplicativo Siri e as possibilidades que a Apple poderia explorar com esse assistente pessoal. Escrevi um artigo em que argumentava como o Siri passou a ter uma abordagem mais pessoal e, por isso, poderia se envolver e aprender mais do que nunca sobre o usuário.

Até me arrisquei a dizer que os serviços de busca poderiam mudar com um serviço como o Siri; e que o software poderia aprender sobre você de uma forma única e, em seguida, começaria a antecipar resultados que fossem mais relevantes.

Lembro-me claramente de uma noite, em que o Siri me surpreendeu de uma forma sem precedentes. Eu estava acostumado a pedir-lhe para me acordar de manhã. Eu me sentia melhor, psicologicamente, ao dizer “me acorde às 7 horas” em vez de acionar manualmente o aplicativo de alarme.

Uma noite, estava indo para a cama bem mais tarde que de costume e proferi a mesma ordem. Para minha surpresa, ela acrescentou à mensagem padrão a frase: “não se preocupe, não vou esquecer”. Não é essa a mensagem tranquilizadora que você quer ouvir quando tem medo que o alarme não funcione e você perca a hora por causa da curta noite de sono? Achei que era um toque incrível, um sinal de que alguma camada de inteligência estava, de fato, sendo adicionada ao Siri.

Mas, infelizmente, esse foi o único momento de felicidade no meu relacionamento com o Siri…

Continuo a usar o serviço de vez em quando, mas na maioria das vezes, fico irritado com a demora do aplicativo em simplesmente entender o que estou dizendo. Uma gravação da minha voz precisa chegar até à nuvem para ser traduzida para texto antes que o Siri me responda. O software também não aprendeu até mesmo uma única coisa sobre mim ou minha personalidade. Em geral, parece que suas habilidades só crescem quando a Apple decide que é hora de fazer isso.

Uma noite, em Nova York, eu estava fazendo as malas para uma viagem ao Brasil e perguntei ao Siri como estava o tempo em São Paulo. Para meu espanto, ela respondeu: “Aqui está o tempo em Brasília, Brasil, na quarta-feira da próxima semana.” Bem, Brasília fica mais de mil quilômetros distante de São Paulo, e seu clima é tão diferente que poderíamos até dizer que se trata de outro país.

Então, decidi testar o novo mecanismo de pesquisa por voz do Google com a mesma pergunta. “Ok Google, como está o tempo em São Paulo?” – Consegui ver as palavras sendo interpretadas pelo Google da maneira como eu falei, o que é ótimo. Um instante depois, eu ouvi de volta: “Aqui está a previsão do tempo para São Paulo, Brasil, para a noite de domingo.” Ou seja, o software sabe que eu estou viajando no voo da manhã e que vou chegar à noite? Igualmente impressionante, o Google usou um serviço da web para corrigir o que havia entendido errado da minha pergunta para uma frase que fazia completo sentido. O Siri geralmente pede desculpas por não conseguir entender o que eu disse.

A melhor resposta do Google para o Siri veio na forma de um serviço móvel chamado “Google Now”, que tem uma versão iOS e, claro, outra mais poderosa do Android. Ambas as versões podem proporcionar uma busca por conversação mais significativa como a que me referi acima.

Enquanto a Apple ainda faz um melhor trabalho posicionando o Siri como um assistente pessoal, o Google Now parece considerar o contexto com muito mais propriedade do que o Siri. Por exemplo, há alguns dias, eu estava na minha sala com a TV ligada quando eu chequei o Google Now em meu novo telefone Android. Na tela apareceu um cartão com a pergunta: “Você está assistindo TV ao vivo?” Com essa funcionalidade, o Google Now poderia me apresentar mais informações sobre o programa que eu estava assistindo, apenas ouvindo a TV por alguns segundos.

Porém, quando tentei mostrar esse recurso para um amigo que me visitou durante o dia, ele não funcionou. Mas continuava a trabalhar à noite. Sei que o Google pode detectar se a minha TV está conectada à mesma rede Wi-Fi que o meu telefone, mas o Google agora está considerando também o fato de que eu não costumo assistir TV durante o dia? Eu acho possível.

Outro exemplo de contexto e aprendizagem aconteceu na manhã do meu último voo para o Brasil. Depois de várias viagens, o Google Now “sabe” que eu costumo pegar o trem para o aeroporto, e me enviou uma notificação sobre a hora em que deveria seguir para o Aeroporto JFK de Nova York, considerando os horários das linhas de trem que ficam próximas de onde eu estava. O assistente pessoal do Google também me mantém informado até sobre mudanças de portão de embarque, antes mesmo da American Airlines.

Google Now é definitivamente uma ótima resposta ao Siri. Até mesmo a abordagem impessoal encontrada nas versões anteriores do Google Voice Search mudou com comandos como “OK Google”, “OK Google Now” ou “OK Glass”. Google, Glass e outras “entidades” vão se tornar nossos assistentes pessoais do jeito que imaginamos que o Siri seria.

Entre as principais vantagens competitivas do Google está a evolução de seus serviços em nuvem, que estão progredindo muito mais rapidamente do que os de seus concorrentes. Além disso, o Google está adicionando camadas de inteligência para a maioria de seus serviços que podem utilizar padrões encontrados nos comportamentos das pessoas.

Seja qual for o futuro dos assistentes digitais, está claro que o software deve compreender o contexto, ser supersensível e, o mais importante, ser capaz de aprender mais sobre o usuário. Se a Apple não munir o Siri com um verdadeiro cérebro digital, o serviço em breve se tornará uma piada quando comparado com as melhorias significativas do Google Now.

Mal posso esperar para ver o que vem a seguir, quando a Apple resolver sanar as deficiências do Siri e o Google continuar melhorando os algoritmos do seu mecanismo de busca. A camada de inteligência foi o ponto mais significativo de minha experiência com os assistentes pessoais. Como todas as relações centradas no ser humano, vamos continuar a cair de amor pelos assistentes pessoais da Apple ou do Google à medida que encontrarem novas maneiras de se conectar conosco em um nível pessoal e emocional.

Conexões emocionais se tornam mais fortes ao passo que se conhecem mais e convivem mais tempo com o outro. Talvez o caso de amor seja mais avassalador se eles continuarem a encontrar novas maneiras de nos surpreender. Ok Google Now, você me conquistou.

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24 Jan 16:21

Padre recebe exu de Anitta e canta paródia das superpoderosas. Agora foi!

by Danilo Fernandes
Weinne Santos

hoje é o dia das bizarrices ;d



Pois é, meus amigos. Desta vez foi um PADRE. Não foi nenhum pastor. O que prova que o surto de demência está atacando religiosos de todas as fezes, ops! 

O padre do vídeo é Wewerton de Castro Alves e a performance inusitada teve lugar em uma cerimônia de formatura em Recife, Pernambuco, não durante uma missa.

1, 2, 3 ... Temos um pastor fazendo quadradinho até embaixo!












A letra da paródia

Prepara, que agora é a hora
do Cristo Poderoso
Que desce, encarna
afronta os inimigos
Só os que incomodam
Expulsam os invejosos
Que ficam de cara quando toca
Prepara
Se não tá mais à vontade, sai por onde entrei
Quando começo a louvar, eu te enlouqueço, eu sei
Meu exército é pesado, e a gente tem poder
Ameaça coisas do tipo: Você!
Sai!
Solta o som, que é pra me ver louvando
Até você vai ficar rezando
Para o baile pra me ver louvando
Chama atenção à toa
Perde a linha, fica louco





Persiga o @genizahvirtual no Twitter

 

24 Jan 16:20

“A Arte da Presença”. Ou como lidar com a tragédia alheia?

by Gutierres Siqueira
Por Gutierres Fernandes Siqueira

É difícil lidar com a tragédia alheia. É complicado encontrar palavras diante de uma pessoa enlutada. Quem nunca pensou em evitar algum velório? Ou quem nunca usou expressões como “Deus tem um propósito nesse sofrimento”. Bom, na maioria das vezes essa verdade não serve de consolo.

Na riqueza das Sagradas Escrituras encontramos o gênero do lamento. Mas hoje na igreja há pouco espaço para lamentações. Há muito “consolo” meio piegas e despropositado para o momento do luto.

David Brooks, colunista do jornal norte-americano The New York Times e um dos melhores escritores da imprensa americana, escreveu um interessante artigo intitulado The Art of Presence (A Arte da Presença). Nesse texto, o colunista Brooks indica um outro blog escrito por Catherine Woodiwiss, vítima de uma grande tragédia.  A história Woodiwiss é triste. Ela perdeu a irmã mais velha morta no Afeganistão em 2008 e, agora no último ano, a Catherine  foi atropelada em Washington enquanto andava de bicicleta. O fruto do atropelamento foi um rosto tão desfigurado que só era possível se alimentar por sonda.

Catherine ensina “dez lições do trauma”. Vejamos:

O trauma, ou tragédia, nos transforma permanentemente. Não existe essa de “traz de volta o que é meu” ou “você voltará a ser o que era antes”. A tragédia é uma marca tão profunda que não se apaga. É interessante observa que Cristo, mesmo triunfante, carrega em si as marcas da crucificação.  “Não existe um ‘de volta para o velho eu’. Você está diferente agora, ponto final”, escreve Woodiwiss .

A presença sempre é melhor do que a distância. Estar perto é essencial. A vítima da tragédia “não precisa de mais espaço”, mas sim de espaço ocupado. É melhor errar pela presença do que pela ausência.

A cura é sazonal. Não é linear. A cura do trauma não é um passo a passo progressivo. O luto pode passar rapidamente e, depois de algum tempo, voltar com força.

Há amigos que são bombeiros e outros são construtores. Difícil é ser ambos. O bombeiro arrisca a vida nas primeiras horas da tragédia. O construtor é menos enérgico, mas permanece mais tempo na gestação de uma nova e mais confortável realidade. “A dura lição do trauma é aprender a perdoar e amar o seu parceiro, o melhor amigo, ou familiar, mesmo quando eles falham em um desses papéis. Por outro lado, uma das maiores alegrias é encontrar os dois tipos de companheiros ao seu lado na viagem”, escreve Woodiwiss.

A angústia é social, assim como a cura. Nesse sentido, como é preciosa a oração coletiva de uma igreja ou mesmo a família reunida em torno do enlutado.

Não ofereça comparações. “Eu sei como você sente a perda do seu filho. Perdemos o nosso querido cãozinho recentemente”. Não, nunca faça comparações.

Permita que o sofredor do trauma conte a sua própria história. Deixe essa pessoa se abrir, falar profundamente, mesmo que tal conversa soe como murmuração.

A manifestação do amor que surpreende ajuda a curar. O cartão de um velho amigo da faculdade, por exemplo, ajuda nesses momentos. Ora, como é alentador receber o carinho de alguém cujo contato se perdeu há anos.

A tragédia pode deixar alguns lugares coloridos com tons de cinza, ou seja, muito do que trazia alegria pode ser motivo para tristeza. É importante entender isso.

A tragédia pode tornar o sofredor mais resiliente, forte e transformar momentos de alegria em profundidade de espírito.

Ora, são lições preciosas. Que o Senhor nos ajude em sabedoria diante da dor.

Leia em inglês aqui e aqui.
22 Jan 19:22

A escravidão moderna no Brasil e como ajudar a acabar com ela

by Jader Pires

E se eu dissesse que um menino doce e inteligente de 12 anos, recém chegado da Bolívia, mora em uma casa de apenas 90m² no centro de São Paulo com mais 27 pessoas, entre parentes e desconhecidos? Que essa casa velha e úmida mal comporta todas as beliches cobertas com roupas de cama maltrapilhas, porque tem que ceder espaço para colunas babilônicas de tecidos e máquinas de costura?

E se eu dissesse que esses 28 trabalham cerca de 13 horas quase ininterruptas por dia, no mesmo lugar em que moram e comem e vão ao banheiro e dormem e acordam e começam tudo outra vez, por R$350,00 mensais?

E se eu dissesse ainda que todos os 28, por não terem como pagar pela casa velha e pela comida úmida, contraem dívidas absurdas e infindáveis com o indivíduo que os contratou, e, por isso, tem seus passaportes e pertences apreendidos até que o pagamento venha?

E se eu dissesse que quem financia isso tudo é você?

Quantos escravos trabalham pra você?

Em abril do ano passado, a Anna Haddad veio ao PapodeHomem para falar sobre o trabalho escravo no mercado da indústria têxtil no Brasil.

Abrindo o leque, temos essa informação bem pesada. No final do ano passado, foi divulgado pela ONG Walk Free Foundation — de acordo com números do Índice de Escravidão Global, que o Brasil tem 200 mil pessoas em situação de trabalho escravo.

Em sua primeira edição, de 162 países, a pesquisa revela que o Brasil se encontra em 94º lugar no ranking dos países com maior registro de trabalho escravo. No mundo, são 29 milhões de pessoas vivendo em regime de escravidão moderna,  uma situação de trabalho em que pessoas são forçadas a realizar atividades contra a sua vontade, sob diversos tipos de ameaça.

São vítimas de trabalho forçado, tráfico humano, trabalho servil derivado de casamento ou dívida, exploração sexual e exploração infantil.

[...] No Brasil, o trabalho quase escravo se concentra nas indústrias madeireira, carvoeira e de mineração, de construção civil e nas lavouras de cana, algodão e soja. Outro campo sensível é o turismo sexual no Nordeste e a exploração da mão de obra de imigrantes bolivianos em oficinas de costura.

Jornal O Globo – 17/10/2013

A gente come, veste e senta em cima de algo que, com grande probabilidade, tem ligação direta com algum tipo de trabalho escravo. Estamos em 2014, caso seja necessária a informação.

Pensar que se trata de 0,1% da nossa população ou que parte dessa fatia é formada por imigrantes que vieram se arriscar em nosso país é normal. Pensamentos infelizes, mas mais comuns do que imaginamos. No mesmo texto, a Anna também nos mostra um vpideo muito interessante do escritor, psicólogo e jornalista da ciência, Daniel Goleman, sobre a nossa capacidade de desconexão com o outro e/ou com o processo passado pelas coisas que consumimos.

Fácil nos distanciar dessa realidade, uma vez que consumimos o produto final e podemos imaginar que o problema não é nosso, mas de quem vendeu ou das autoridades.


Link Vídeo | Daniel Goleman fala da sua desconexão

Mas ainda há muitas pessoas que veem essa conexão e buscam maneiras de limar o seu cotidiano do trabalho escravo. Mais há ainda, existe gente engajada em denunciar as práticas de trabalho escravo no Brasil.

Conheçam o Repórter Brasil

Um grupo formado por jornalistas, cientistas sociais e educadores. Esse é o pessoal que faz correr o Repórter Brasil, ONG focada em denúncias de trabalho escravo no Brasil.

Nos últimos 19 anos, mais de 45 mil pessoas foram libertadas do trabalho escravo em fazendas, carvoarias, oficinas de costura e canteiros de obras espalhados pelo país.

Para que essa violação aos direitos humanos cesse é necessário, antes de mais nada, informação de qualidade. Reportagens que mostrem onde o problema está, investigações que desvendem quem ganha com ele, análises que indiquem como resolvê-lo.

As informações da Repórter Brasil são usadas, há 13 anos, pelo poder público, o setor empresarial e a sociedade civil como instrumentos de combate a esse crime e na promoção da dignidade de milhões de brasileiros.

do Repórter Brasil.

Há, no site deles, uma lista detalhada — intitulada “Lista Suja do Trabalho Escravo” — sobre as empresas que possuem, hoje, alguma prática de trabalho escravo no Brasil. Eles também divulgam as exclusões, quando há, de empresas que se adequaram.

São denúncias importantes e pesquisas de extrema relevância que apontam todas as pontas do trabalho escravo por aqui. E, para isso, eles precisam de ajuda.

R$9,00 é o valor pedido pela ONG, para ajudar a manter a operação do Repórter Brasil por aí.

Com apenas R$ 9,00, que serão descontados automaticamente todo o mês do seu cartão de crédito, você vai ajudar a Repórter Brasil a continuar produzindo conteúdo totalmente aberto, gratuito e de qualidade sobre a escravidão contemporânea no Brasil.

Todos os apoiadores receberão, ao final de cada ano de sua contribuição, um relatório digital mostrando como a Repórter Brasil aplicou o seu dinheiro, e um balanço feito por uma empresa independente de auditoria.

O Brasil está em um caminho bom

Voltando ao estudo divulgado pela Walk Free, o Responsável pelo ranking — o sociólogo norte-americano Kevin Bales — disse que o Brasil está trilhando um bom caminho contra a escravidão moderna:

No Brasil, segundo o estudo, cerca 1 em cada mil moradores trabalha em condições análogas à escravidão.

Bales disse que o país é o que “provavelmente criou o melhor conjunto de políticas do mundo” para combate da escravidão, mas é necessário acelerar a sua implantação.

Entre as medidas elogiadas pelo sociólogo está a “lista suja”, cadastro oficial de empregadores que foram flagrados explorando mão de obra análoga à escravidão.

Folha de S. Paulo, 17/10/2013

A ideia é continuar a luta e minar cada vez mais a ação de quem, com uma facilidade grande de desconexão, possa ampliar esses números de escravidão forçada. fechando com o Goleman, lindamente citado pelo texto da Anna:

“Os objetos que compramos e usamos têm consequências ocultas. Somos todos vítimas passivas do nosso ponto cego coletivo. Nós não notamos. E não notamos que não notamos. Somos indiferentes às consequências ecológicas, de saúde pública, sociais e econômicas das coisas que compramos e usamos. De certa forma, a própria sala é o elefante branco na sala, e nós não vemos. E nos tornamos vítimas de um sistema que nos aponta para o outro lado.”

Update! Operação flagra trabalho escravo e infantil em carvoarias do interior (de São Paulo)

Dezenove trabalhadores foram encontrados nesta terça-feira (21) em condições análogas à de escravos em carvoarias do interior de São Paulo. Sete crianças e adolescentes também foram flagrados trabalhando durante uma megaoperação conjunta para combater o crime em Pedra Bela, Joanópolis e Piracaia. Ao todo, dez estabelecimentos foram alvo da blitz, e seis acabaram interditados.

[...] Segundo ele [o superintendente regional do Trabalho e Emprego de São Paulo, Luiz Antonio de Medeiros], os produtos abastecem grandes supermercados da capital. “Eles precisam saber de onde compram o carvão. Não podem se eximir.” Medeiros afirma que toda a cadeia será investigada. “Agora é dar continuidade à operação. São milhares de carvoarias que querem competir entre si recorrendo, para isso, a um trabalho degradante.”

G1 São Paulo, 21/01/2014 (ontem), 18h35.

Está acontecendo. Todos os dias.








22 Jan 18:05

Advogado que revelou pseudônimo de J. K. Rowling é multado

by Fernando Azevedo

Chris Gossage terá que pagar uma multa de 1000 libras (cerca de R$3900,00) por ter revelado a uma amiga que Robert Galbraith, autor estreante, era ninguém mais que J. K. Rowling, a consagrada criadora da série Harry Potter, disfarçada.

“Com a revelação de informações confidenciais sobre um cliente a uma terceira pessoa, o senhor Gossage violou os princípios 4 e 6 da carta da SRA”, a ordem que regulamenta a atividade dos advogados, afirma a decisão de 26 de novembro e divulgada apenas esta semana.

Gossage é um dos sócios do escritório de advogados Russells, denunciado por Rowling logo após a revelação de seu pseudônimo pelo jornal britânico Sunday Times, em julho de 2013. A informação chegou aos ouvidos da mídia através de Judith Callegari, amiga de Chris Cossage.

O escritório anunciou que Rowling recebeu uma quantia “substancial” em razão dos danos pelo vazamento de informação, que foi revertida para a organização Soldiers’ Carity de ajuda a militares e suas famílias.

Como descobriram Rowling?

Segundo o editor-chefe do Sunday Times em conversa com o The New York Times, tudo começou com um tweet de um leitor que havia apreciado a obra e foi respondido por um anônimo que J. K. Rowling era, na verdade, a verdadeira autora do livro.

O editor do Sunday Times buscou a pessoa e perguntou: “como você pode ter tanta certeza?” E recebeu em resposta: “eu apenas sei”. Logo em seguida o usuário anônimo teria apagado todos os tweets e desligado sua conta.

Intrigada, a equipe do Sunday Times procurou a ajuda de especialistas em linguística que afirmaram que haviam semelhanças substanciais entre a linguagem de Roberth Galbraith e J. K. Rowling.

Assim, quando questionaram o editor da britânica se ela era Roberth Galbraith, Rowling decidiu vir a público e anunciar que havia s lançado com um pseudônimo para se livrar das pressões que a publicação como autora consagrada trariam.

Até recentemente, muitos ainda achavam que a cena não passou de um golpe de marketing de Rowling, entretanto a multa do advogado serve como prova de que a autora talvez tivesse realmente a intenção de manter-se em segredo. Além do mais, como leitor assíduo de Rowling, posso afirmar que uma jogada de marketing desse tipo não combina em nada com seu estilo tão crítico à fama e à angústia que ela demonstra em seus livros sobre toda a polvorosa midiática. Vide a própria série Harry Potter, em que o personagem muitas vezes é vítima de mentiras em maior ou menor grau de jornais que expõem sua vida de forma distorcida. No próprio The Cuckoo’s Calling, descobrimos que a personagem era angustiada pela perseguição midiática e sofria efeitos psicológicos com sua fama.

E você, acha que Rowling teria armado um palco de marketing ou acredita no desejo de anonimato da autora?

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22 Jan 17:55

Vídeo Anti-Racismo volta a ter destaque após 14 Anos

by Diego Santos
Weinne Santos

Recomendo o texto linkado. Muito bom!

Um vídeo português, produzido no ano 2000, trazendo uma abordagem contra o preconceito racial tem recebido destaque pelo mundo novamente, por meio da internet.

O vídeo mostra uma senhora que, ao entrar no avião, reclama à aeromoça que a troque de lugar já que ela está sentada ao lado de um negro. O desfecho do vídeo é realmente muito bom e com uma mensagem “Coloque o racismo no lugar dele” ou “Dê ao racismo o que ele merece”.

O vídeo foi produzido em comemoração ao 50º aniversário da adoção da Declaração dos Direitos Humanos pela ONU (há 14 anos) e o alvo de sua crítica, apesar de um tanto camuflado, ainda é muito presente na sociedade, não apenas na Europa, onde o vídeo foi produzido, mas também no Brasil.

Essa discussão me remete a um texto escrito pela baiana, mestra em lingüística, Cris Oliveira, para o Blogueiras Negras. No texto, a autora que se desloca frequentemente do Brasil para a Alemanha, fala sobre como ela lida com o racismo em ambos os países. Segundo ela, no Brasil é muito mais difícil de lidar com o preconceito racial que na Alemanha.

A blogueira conta ainda uma experiência, que achei até semelhante ao vídeo acima.

“Teve uma vez que eu estava em um trem e um outro passageiro estava muito incomodado com minha presença. Não estava entendendo bem qual era o problema dele comigo até que ele fez um comentário racista se referindo a mim. Me levantei com a intenção de dizer umas poucas e boas a ele, mas antes de poder abrir minha boca, TODOS os passageiros do vagão (umas 15 pessoas ) se revoltaram e tomaram a frente, discutindo com ele de uma forma que me surpreendeu. A estória terminou com uma mulher que exigia que ele se desculpasse comigo e como ele se recusou os demais passageiros chamaram a polícia.”

Sobre o Brasil, Cris conta que fica chocada com o fato de que, no Brasil, em Salvador “é possível ser a única negra no restaurante, na aula de ballet, na sala de espera de consultório chique, na sala dos professores da escola particular”.

Além disso, ela fala ainda das iniciativas de inclusão: “Tem um monte de gente que fala como se tivessem sido pessoalmente ofendidas com toda e qualquer iniciativa que busca melhorar a situação social de um grupo que não goza dos mesmos benefícios que o resto da sociedade.”

Esta questão citada pela blogueira também é um debate totalmente necessário. Recentemente, a nossa filial Causas Perdidas, publicou um debate que discorre sobre a necessidade das cotas raciais nas universidades. [aqui]

Infelizmente, é perceptível que mesmo em tempos em que Nelson Mandela é aclamado como herói por suas lutas, o racismo continua sendo um empecilho na sociedade.

Um vergonhoso fato que faz com que uma campanha como essa, no vídeo produzido há quase 15 anos atrás, ainda seja tão atual.

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15 Jan 14:22

O Amor Dos Fatos

by Luiz Bueno

Um idoso, com suas rugas, costas e testa sentou-se em um banco de praça, esperando o vento passar, o tempo soprar nas narinas, talvez descansar de tarde, ou para sempre, não sabia quando, sabia que estava sentado quando viu uma garota, bufando contra o chão e chutando folhas, passando.
Pararam, se encararam, ela percebeu que ele queria falar algo, sentiu que demoraria pelo silêncio que o senhor portava, cheio de preparação de discursos, então sentou-se, e num ato de compreensão, quem sabe para redimir a má impressão anterior, sentou-se e disse:

– Pode dizer, ouvirei tudo que o senhor quer que eu ouça.

E ele sem pressa ou paixão, começou:

– A vida toda, tentei entender as pessoas com compreensão, tentei enxergar lógica nos atos e dar o que queriam com base no que deveria ser seguido. Foi uma das maiores frustrações que passei, sem sombra de dúvidas. A felicidade minha foi ter a oportunidade de entender isto antes de estragar tudo, de exigir demais de todos. Não somos máquinas ou equações, infelizmente para uns, felizmente para outros.
Algo que notei no fluxo das décadas foi como as palavras perderam seu peso, seu valor, em dias atuais vejo que declarações sérias são nada mais do que pontos desconexos, o mundo está dinâmico demais para levar em conta promessas ou eternidades de fidelidade, isto mais me entristece, porque não sei lidar com esse panorama sem achar que os valores reais estão se dissolvendo no meio dos momentos que devem ser ignorados, novamente, sou de tempos em que o que era dito tinha peso muito alto, onde a honra era algo que sufocava, mas que mantinha, então sou naturalmente mais tranquilo com tal quadro, não me dou nem um pouco bem com essa frequência alucinante da banalização das coisas de hoje, tudo por um pouco mais de atenção?
Não sei.

Após uma pausa, respiradas, olhares, retomou:

– E aí, tive de parar e perceber que tão recentemente quanto o fenômeno da banalização está seu ponto positivo: A elevação do amor mais puro, o amor do ser. Este eu obtive quando estive em situações delicadas com muitos irmãos de alma e demonstrei quando estive em situações igualmente difíceis. É o amor que só é demonstrado por quem te conhece, aquele amor que é específico da atenção real. Explico: Te conheci por toda a vida, sei quem és, sei que tens uma alma doce e sincera, mas como qualquer ser humano – que não é matemático – teves seus momentos de falha, onde os fatos falaram mais alto do que toda tua vida. Daqueles momentos em que sua trajetória inteira foi resumida num ato ruim. Quem nunca ouviu falar de você, ou mesmo quem ouviu falar e não te conhece de fato ou conhece e não está num momento bom, irá te condenar sumariamente por aquilo – não só sua atitude, mas você inteiramente, tudo que você representa. Bem como você pode se encontrar na situação oposta, num ato brilhante, e ser amada por muitos, em que você se resumirá somente ao ato específico, independente do que foi realizado durante a existência.
Este é o amor dos fatos. Traiçoeiro, causa muitos desentendimentos e só atrasa a vida. É um laço frágil que não recomendo para ninguém, porém pode – pela terceira vez, infelizmente – ser necessário para sobreviver. O que é uma verdadeira lástima.
O amor do ser é o amor que tenho por ti, minha filha. Sei que falhastes, reagi como pai, o que te irritou profundamente, até agora. Fico feliz que tenha me dado crédito para ouvir. O amor do ser é o que nutro por ti, é maior e amplo, é o que perdoa incondicionalmente e com certeza é mais fácil de ser elucidado em tempos de hoje. Como as palavras estão se dissolvendo, seremos mais forçados a desenvolver esse amor do que nunca. Claro que tal poderá, num efeito contrário, desaparecer terminantemente se caírmos em um estado onde nos deixamos levar pelo fluxo dinâmico das banalizações diárias, em que não analisamos os atos e só os deixamos acontecer sem pensar ou calcular sequer por um minuto, desligando nossas mentes e entrando em modo automático, sim, o amor do ser pode sumir.
Mas prefiro acreditar que não, que no momento em que digo isto, e vejo seus olhos lacrimejando, sinto que entedestes a ideia, percebo que ela não morrerá aqui. E este é o sentido do amor do ser, sobressair qualquer amor dos fatos. Te amo por quem você é, pela sua vida inteira, não pelo que você fez hoje ou ontem, isso não é você, mas um fragmento ínfimo de tempo dentro de uma existência tão rica.

O longo abraço encerrou a conversa e o dia.


15 Jan 12:38

[Entrevista] Rick Osterloh, da Motorola, fala sobre Google, a linha Moto e mais

by Brent Rose

Os últimos cinco anos foram de total reinvenção para a Motorola: ela deixou de ser um dinossauro para se tornar a empresa responsável pela linha Droid, que fez bastante sucesso nos EUA. E aí foi engolida pelo Google em uma parceria que resultou em alguns dos smartphones mais simples de se usar da atualidade – estamos falando do Moto X e do Moto G. Foi uma montanha russa de emoções.

Na CES, tive a oportunidade de conversar com Rick Osterloh, vice-presidente sênior de produtos da Motorola Mobility, e ele comentou um pouco sobre a relação da Motorola com o Google e a Verizon – operadora norte-americana que possui exclusividade da linha de smartphones Droid – e ele também aproveitou para falar um pouco sobre o que podemos esperar do futuro da empresa.

GIZ: Há alguns anos, vocês lançavam diversos produtos no mesmo ano. Agora parece que vocês planejam soltar um ou dois dispositivos por ano, além da linha Verizon Droid. Fale um pouco sobre como essa estratégia foi alterada.

RO: É a nossa visão desde que nos juntamos ao Google, de que nós queremos manter o foco em apenas alguns produtos muito, muito bons e que conquistam os consumidores. No passado a empresa lançava até 40 produtos em um ano, mas agora estamos apenas com alguns e queremos que eles sejam excepcionais. Essa é a nossa estratégia.

GIZ: Como tem sido a recepção?

RO: Está sendo excelente. 2013 foi um grande ano para nós. Muita coisa mudou. Nós saímos daquilo que o mercado vê como um estado dormente para uma transformação total na qual lançamos dois produtos realmente bem-sucedidos, Moto X e Moto G. Eles foram lançados nos últimos cinco meses. Você os viu e sei que escreveu coisas boas sobre eles. E eu agradeço. Nós tivemos sorte o bastante para entrar em 32 listas de “melhores do ano” com os dois dispositivos. Estamos muito orgulhosos disso.

Nosso primeiro passo foi criar uma franquia realmente boa e global. E então fizemos isso com o Moto X e com o Moto G. Observamos uma ótima trajetória de vendas em ambos os dispositivos, crescimento muito forte, e um sentimento positivo dos consumidores em relação a eles. Então estamos felizes em ver como tudo está caminhando. Nossa marca agora está numa posição que faz com que mais pessoas se interessam e conheçam os aparelhos, então algumas coisas interessantes sobre isso: o conhecimento que o consumidor tem da nossa marca e a consideração que ele tem por ela cresceram cerca de 30% desde que apresentamos esses dois produtos, e essa foi uma mudança grande e importante para nós. Avançamos muito em apenas alguns meses, apesar de estarmos trabalhando nisso há muito mais tempo e estamos bastante animados em relação ao que temos guardado para este ano.

GIZ: Acredito que tenha muita especulação e confusão sobre como a relação com o Google funciona. Então, como ela funciona?

RO: Nós somos claramente uma parte do Google, mas operamos independentemente da equipe do Android. Trabalhamos dessa forma desde o primeiro dia depois da aquisição e continuaremos fazendo assim. É importante para o ecossistema. Nosso foco é tentar levar a internet móvel para milhões de pessoas e é isso que estamos fazendo. Estamos tentando dar a eles ótima tecnologia móvel que não seja comprometida, que seja de alta qualidade, que ofereça diversas escolhas e que valha seu preço. Essa é mais ou menos a nossa missão. A equipe do Android, acreditamos, faz um bom trabalho. Somos a única OEM focada em Android, então isso ajuda bastante. Como temos um portfólio focado em Android, podemos fazer várias coisas interessantes que outras pessoas talvez não consigam, mas nem por isso recebemos algum tipo de tratamento especial do pessoal do Android.

GIZ: Eu amei alguns dos recursos do Moto X, e esperava vê-los no Nexus 5 e no KitKat, mas me surpreendi quando eles não estavam lá. Deve haver algum tipo de conversa entre vocês. Como é isso?

RO: Bem, nós nos comunicamos com a equipe do Android, mas apenas como qualquer outra OEM faz, de maneira bem estruturada. Nós não conseguimos coisas como acesso avançado a códigos, então essa é meio que a linha divisória para nós. Mas nos comunicamos como qualquer outra fabricante faria. Então nós fazemos coisas diferentes, como nossa experiência com Touchless Control e Active Display, coisas assim. Esses são recursos únicos desenvolvidos por nós. Acreditamos que eles acentuam muitas coisas boas do Android e do Google, mas são coisas feitas pela Motorola de maneira independente.

GIZ: E o motivo do Android não receber esses recursos, é uma coisa não-competitiva? Ou vocês pretendem ter uma gama ampla de produtos?

RO: Não há orquestração aqui. Então nós olhamos para nossas necessidades de mercado, vemos o que os consumidores querem e tentamos solucionar esses problemas. A equipe do Nexus e a equipe do Android provavelmente fazem coisas parecidas, apesar do posicionamento do Nexus ser mais sobre um design de referência para uma nova visão do Android. Nosso foco é tentar levar smartphones a milhões e milhões de pessoas.  Queremos repetir o que fizemos com com o Moto X e Moto G: escolhas, alta qualidade, valorização do dinheiro.

GIZ: Sobre a forma como você adapta o OS ao seu próprio smartphone, vocês certamente estão bem mais próximos ao Android puro do que a maioria das fabricantes. Qual é o pensamento por trás disso?

RO: Bem, temos várias coisas. Primeiro achamos que o Android evoluiu muito bem, tem uma ótima experiência de usuário. E acreditamos que é uma experiência melhor se estiver no núcleo da essência do Android, então entregamos isso ao usuário. Há também outros benefícios enormes, como o fato de atualizarmos nossos smartphones para a versão mais recente do Android com muito mais rapidez. Essa é uma parte fundamental da nossa estratégia: queremos garantir aos usuários atualizações rápidas. Então fomos os primeiros a oferecer atualização para o KitKat através de operadoras, e fizemos isso com a Verizon no Moto X, o que foi, achamos, bem legal para os usuários finais. E pretendemos continuar assim, perseguindo essa estratégia.

Também é o caso de você perceber que nossos smartphones têm um desempenho espetacular para as suas especificações. A experiência de uso é bem rápida, você tem uma boa autonomia de bateria, e francamente isso ocorre porque não introduzimos camadas ao software que não achamos que são necessárias, como nossos concorrentes fazem. Então é por isso que perseguimos essa estratégia. Adicionamos coisas onde achamos que elas podem melhorar a experiência do Google, como no caso do Touchless Control e Active Display, e em outras partes tentamos nos manter presos às definições padrão do Android.

GIZ: Você acha que um dia veremos o Touchless Control e outras coisas assim no Android stock?

RO: Não sei, é uma boa pergunta para a equipe do Android. Certamente é algo que acredito ser melhor para usuários, então queremos usar essa capacidade para torná-lo melhor e melhor.

GIZ: Mas não há nada que impeça que isso aconteça?

RO: Nós certamente temos tecnologias de hardware que tornam isso possível. E esse é um dos principais atributos.

GIZ: Como a tela AMOLED?

RO: Sim, no caso do Active Display, a combinação do trabalho que fizemos com a tela que escolhemos tornou possível oferecer esse tipo de experiência de notificações no smartphone. Com o Touchless Control, também há um hardware específico que está sempre esperando para ouvir a frase-chave que acorda o dispositivo, para então você perguntar outra coisa para ele.

GIZ: É o processador X8, certo?

RO: Sim.

GIZ: Nossos leitores mais nerds sempre perguntam por que vocês escolheram esse processador no lugar do Snapdragon 800, que é mais rápido, mas também tem núcleos de baixo consumo de energia e teoricamente seria capaz de fazer a mesma coisa.

RO: Alguns motivos. Nós fizemos uma escolha específica pelo 8960 Pro como o SoC-núcleo para o smartphone porque achamos que ele tinha a potência que precisávamos. E muitas das operações que os usuários veem em termos de performance vem da GPU. E o 8960 Pro tem uma GPU fantástica. E depois, francamente, a Motorola por anos e anos teve uma equipe excelente que sabia como fazer otimização de performance e software, e sabemos como trabalhar com o 8960 Pro muito bem. E com os núcleos adicionais que colocamos – aqueles que cuidam do controle dos sensores que ouvem sua voz em busca das palavras-chave – esses núcleos ajudaram a melhorar a experiência de uso e torná-la mais rápida. E não precisamos nem colocar um chipset caro de alta potência. Então pudemos traduzir isso em valor para o usuário final.

GIZ: Vocês conseguiram liberar o KitKat bem rápido na Verizon. Essa provavelmente é a principal reclamação que ouvimos de usuários do Android: as atualizações demoram demais. É por isso que, entre o público hardcore, o programa Nexus é tão popular. Como vocês conseguiram fazer isso? Nós sabemos que muito da culpa dos atrasos é das operadoras.

RO: Precisamos de um grande parceiro e a Verizon foi muito boa nisso. Em primeiro lugar, nossa estratégia de software permitiu fazer isso rapidamente. E, em segundo lugar, nós ouvimos os usuários, eles querem atualizações rápidas. Então nosso objetivo é esse. E, em terceiro lugar, colocamos um grande foco em software, perseguimos essa meta e conseguimos fazer primeiro com a Verizon, mas tentamos com outros parceiros também. Agora está disponível na AT&T, Sprint e outros lugares [e também no Brasil]. Isso é importante para nós e acho que você pode esperar isso no futuro.

GIZ: Parece que vocês fizeram a versão própria do OS mais modular. Com o Moto X, os usuários inicialmente enfrentaram problemas na câmera, e então uma atualização para ela foi lançada. Como isso se aplica a essa estratégia? Vocês não precisam fazer uma grande mudança, mas podem mexer em pequenas partes?

RO: Isso também está inserido na ideia de foco no consumidor. Ouvimos muita gente falando que se decepcionou pois o melhor dia da vida do smartphone deles era o primeiro dia de uso. E nós queremos que a experiência de uso do aparelho melhore conforme o tempo. E achamos que, a longo prazo, isso funciona bem para usuários. Então, nos bastidores, nós trabalhamos muito para fazer muitos recursos de experiência-chave atualizável através da PlayStore. E acho que já fizemos 26 atualizações dessas através da PlayStore desde quando anunciamos o Moto X. É algo que planejamos continuar fazendo. Acreditamos que é uma boa tendência para usuários que querem continuar agregando valor. E acreditamos que a nossa estratégia de software é bastante ágil, e que essa mudança é algo bom para levarmos aos nossos consumidores.

GIZ: Vocês ainda trabalham na linha Droid? Vocês começaram com algo óbvio, é algo que planejam continuar fazendo?

RO: Sim. Nós temos nossos produtos Moto e a linha Droid. São bastante distintos. A linha Droid é algo antigo, e que vai continuar com a Verizon.

GIZ: Você acha que um dia veremos um Motorola Nexus? Você deve ouvir isso constantemente.

RO: Não sei! Sim, nos perguntam bastante isso, mas não temos planos de anunciar nada assim, mas talvez aconteça, talvez não. No momento, estamos focados no Moto X e no Moto G. O Moto G foi lançado no fim do ano, e cresceu incrivelmente bem. Está disponível na América Latina e Europa, e em ambos os mercados está se dando muito bem, e agora chega aos EUA. Você deve ter visto ele sendo anunciado por US$ 99, então é bem atrativo. Até onde sei, é o melhor custo-benefício em mobile, e é algo que pretendemos continuar fazendo no futuro. [No Brasil, de acordo com o Buscapé, o Moto G está custando entre R$571 e R$899.]

GIZ: Quando veremos coisas novas?

RO: Fique atento. Não aqui, mas no futuro próximo.

GIZ: Segundo trimestre?

RO: Entraremos em contato.

GIZ: Haha. Tive que tentar. Algo mais que gostaria de dizer?

RO: Apenas que estamos felizes por estar de volta. Acho que fizemos grandes mudanças nos últimos meses e estamos animados para ver o que vai acontecer com nossos produtos. É um mercado bastante competitivo, e estamos tentando fazer o nosso melhor para mudá-lo para melhor para o usuário final.

15 Jan 12:32

Estudo afirma que a espionagem telefônica feita pela NSA não ajuda a evitar ataques terroristas

by Adam Clark Estes
Weinne Santos

HAHAHA

Como você provavelmente já suspeitava, a enorme coleção de registros telefônicos da NSA “não teve nenhum impacto na prevenção a atos de terrorismo”, de acordo com um novo estudo. Na verdade – o que talvez seja mais interessante – o problema da agência não era a ausência de informações, mas o excesso de segredos.

No estudo, a New American Foundation revisou 225 casos de terrorismo e descobriu que investigações tradicionais e ações policiais foram mais importantes para a prevenção de ataques. Cerca de um terço das informações em casos de terrorismo vieram de denúncias ou de informantes, enquanto mandados de segurança tradicionais foram usados em 48 casos. Dito isso, a enorme coleção de metadados telefônicos forneceu evidências em apenas um caso, e nem era uma real ameaça de ataque contra os Estados Unidos.

Os resultados do estudo da New America Foundations são notáveis, mas não surpreendentes. Afinal, a cúpula do Presidente Obama disse há algumas semanas que o programa NSA não era essencial para a prevenção contra ataques, e que evidências realmente úteis “poderiam ser obtidas usando mandados judiciais tradicionais.” Eles também concordam que os segredos da NSA estão trazendo mais problemas do que soluções.

O momento da divulgação do estudo não poderia ser melhor. O presidente Obama vai anunciar grandes reformas na NSA e em outras áreas da vigilância governamental americana no dia 17 de janeiro e espera-se que ele siga muitas das recomendações de seus conselheiros. No fim das contas, talvez a NSA consiga fazer alguma coisa que não seja espionar pessoas pelo mundo. Talvez eles possam fazer alguma coisa útil! [New America Foundation via Washington Post / Imagem via AP]

10 Jan 17:31

A visão de C. S. Lewis sobre: PAIXÃO, AMOR, CASAMENTO, SUBMISSÃO E DIVÓRCIO

by Dani Marques...
Weinne Santos

Muito bom.


Ao ler uma das melhores obras de apologética do grande mestre e escritor C. S. Lewis - Cristianismo Puro e Simples - deparei-me com um dos argumentos mais inteligentes, sóbrios e bem estruturados sobre o relacionamento a dois. Não poderia ser diferente. Resolvi então compartilhar com vocês. Achei por bem adaptar alguns trechos e reestruturar algumas frases para tornar a leitura mais acessível, mas o conteúdo permanece intacto. 

Bom, vamos ao que interessa! :)


"A ideia cristã de casamento se baseia nas palavras de Cristo de que o homem e a mulher devem ser considerados  "uma só carne"- ou um único organismo, numa linguagem mais moderna. Os cristãos acreditam que quando disse isso, ele não estava expressando um sentimento, mas afirmando um fato - da mesma forma que expressa um fato quem diz que o trinco e a chave são um único mecanismo, ou que o violino e o arco formam um único instrumento musical. O inventor da máquina humana queria nos dizer que as duas metades desta, o macho e fêmea, foram feitas para combinar-se aos pares, não simplesmente na esfera sexual, mas em todas a esferas. A monstruosidade da relação sexual fora do casamento é que, cedendo a ela,  tenta-se isolar um tipo de união (a sexual) de todos os outros tipo de união que deveriam acompanhá-la para compor a união total. O cristianismo não toma como errado a existência do prazer no sexo, como não considera errado o prazer que temos quando nos alimentamos. O erro está em querer isolar esse prazer e tentar buscá-lo por si mesmo, da mesma maneira que não se deve buscar os prazeres do paladar sem engolir e digerir a comida, apenas mastigando-a e cuspindo-a.

O cristianismo também nos ensina que o casamento deve durar a vida toda. O divórcio seria como cortar ao meio um organismo vivo, como um tipo de cirurgia. Algumas denominações acham que essa cirurgia é tão violenta que não deve ser feita de forma alguma. Outras, a admitem como um recurso desesperado em casos extremos. Mas todas asseveram que o divórcio se parece mais com uma amputação das pernas do corpo do que com a dissolução de uma sociedade comercial. O que os cristãos realmente repudiam, é a visão moderna de que o divórcio é simplesmente um reajustamento de parceiros, a ser feito sempre que as pessoas não se sentem mais apaixonadas umas pelas outras, ou quando uma delas se apaixona por outra pessoa.

A ideia de que "estar enamorado" é o único motivo válido para permanecer casado é totalmente contrária a ideia do matrimônio como um contrato ou promessa de união eterna. Se tudo se resume a paixão, o ato da promessa nada lhe acrescenta; e, assim, nem deveria ser feito. Uma coisa curiosa é que os próprios amantes, enquanto permanecem apaixonados, sabem disso muito mais que os que só falam de amor. As canções de amor do mundo inteiro estão repletas de juras de fidelidade eterna. A lei não exige do amor algo que é alheia a sua natureza: exige apenas que os amantes levem a sério algo que a própria paixão os impele a fazer.

E é evidente que a promessa de ser fiel para sempre, que fiz quando estava apaixonado e porque o estava, deve ser cumprida mesmo que deixe de estar. A promessa diz respeito a ações, a coisas que posso fazer: ninguém pode fazer a promessa de ter um determinado sentimento para sempre. Seria o mesmo que prometer nunca mais ter dor de cabeça ou nunca mais ter fome. Pode-se perguntar, no entanto, qual o sentido de manter unidas duas pessoas que não se amam mais. Existe um motivo do qual estou bastante convencido, mesmo que o julgue difícil de explicar.

É difícil porque tanta gente não consegue se dar conta de que, mesmo que B seja melhor que C, talvez A seja melhor que ambos. As pessoas gostam de raciocinar com os termos "bom" e "mau", e não com os termos "bom", "melhor" e "melhor de todos". Elas perguntam se você julga o patriotismo uma coisa boa; se você responde que ele é muito melhor que o egoísmo dos indivíduos, mas bastante inferior a caridade universal, e que deve ceder lugar a esta sempre que os dois estiverem em conflito, elas acham sua resposta evasiva... Espero que ninguém cometa o mesmo erro com o que tenho a dizer agora.

O que chamamos de "estar apaixonado" é um estado maravilhoso e , sob diversos aspectos, benéfico para nós. Ajuda-nos a ser mais generoso e corajoso, abre nossos olhos não apenas para a beleza do objeto amado, mas para toda a beleza, e subordina (especialmente no início) nossa sexualidade animal; nesse sentido, o amor é o grande subjugador do desejo. Ninguém que tenha o uso perfeito da razão negaria que estar apaixonado é melhor que a sensualidade ordinária ou o frio egocentrismo. Mas, como eu disse antes, "a coisa mais perigosa que podemos fazer é tomar um certo impulso de nossa natureza como padrão a ser seguido custe o que custar". Estar apaixonado é muito bom, mas não é a melhor coisa do mundo. Existem muitas coisas abaixo, mas também muitas outras acima disso. 

A paixão amorosa não pode ser a base de uma vida inteira. É um sentimento nobre, mas mesmo assim, é apenas um sentimento, e não podemos garantir de forma alguma que um sentimento vá conservar para sempre sua intensidade total, ou mesmo que vá perdurar. E, o que quer que as pessoas digam, a verdade é que o estado de paixão amorosa normalmente não dura. Se o velho final dos contos de fadas: "E viveram felizes para sempre" quisesse dizer que "pelos cinquenta anos seguintes sentiram-se atraídos um pelo outro como no dia anterior ao casamento", estaria se referindo a algo que não acontece na realidade, que não pode acontecer e que, mesmo que pudesse, seria pouquíssimo recomendável.

Quem conseguiria viver nesse estado de excitação mesmo por cinco anos? Que seria do trabalho, do apetite, do sono, das amizades? E claro, porém, que o fim da paixão amorosa não significa o fim do amor. O amor nesse segundo sentido - distinto da "paixão amorosa" - não é um mero sentimento. É uma unidade profunda, mantida pela vontade e deliberadamente reforçada pelo hábito; é fortalecida ainda (no casamento cristão) pela graça que ambos os cônjuges pedem a Deus e dele recebem. Eles podem fruir desse amor um pelo outro mesmo nos momentos em que se desgostam, da mesma forma que amamos a nós mesmos mesmo quando não gostamos da nossa pessoa. Conseguem manter vivo esse amor mesmo nas situações em que, caso se descuidassem, poderiam ficar "apaixonados" por outra pessoa. Foi a "paixão amorosa" que primeiro os moveu a jurar fidelidade recíproca. O amor sereno permite que cumpram o juramento. 

É através desse amor que a máquina do casamento funciona: a paixão amorosa foi a fagulha que a pôs em funcionamento. Tome o cuidado, porém,  para não embasar seu julgamento em ideias derivadas de romances ou de filmes. E isso não é tão fácil de fazer quanto as pessoas pensam. Nossa experiência é preenchida pelas cores dos livros, peças de teatro e filmes do cinema, e é necessário ter paciência para delas desentranhar e para separar o que aprendemos da vida por nós mesmos. As pessoas tiram dos livros a ideia de que, se você casou com a pessoa certa, viverá "apaixonado" para sempre. Como resultado, quando se dão conta de que não é isso o que ocorre, chegam à conclusão de que cometeram um erro, o que lhes daria o direito de mudar - não percebem que, da mesma forma que a antiga paixão se desvaneceu, a nova também se desvanecerá. Nesse departamento da vida, como em qualquer outro, a excitação é própria do início e não dura para sempre. 

A emoção intensa que um garoto tem quando pensa em aprender a pilotar um avião não sobrevive quando ele se junta à Força Aérea, onde realmente vai aprender o que é voar. A palpitação de conhecer um lugar novo se esvai quando se passa a morar lá. Acaso quero dizer que não devemos aprender a voar ou não devemos morar num lugar aprazível? De jeito nenhum. Em ambos os casos, se você perseverar, o arrepio da novidade, quando morre, é compensado por um interesse mais sereno e duradouro. Além disso (e mal consigo lhe dizer o quanto isto é importante), são exatamente as pessoas dispostas a sofrer a perda do frêmito inicial e a acatar esse interesse mais sóbrio que têm maior probabilidade de encontrar novas emoções em campos diferentes. 

Segundo me parece, essa é uma pequena parte do que Cristo quis dizer quando afirmou que nada pode viver realmente sem antes morrer. Simplesmente não vale a pena tentar manter viva uma sensação forte e fugaz: é a pior coisa que podemos fazer. Deixe o frisson ir embora — deixe-o morrer. Se você passar por esse período de morte e penetrar na felicidade mais discreta que o segue, passará a viver num mundo que a todo tempo lhe dará novas emoções. Mas, se fizer das emoções fortes a sua dieta diária e tentar prolongá-las artificialmente, pulando de relacionamento em relacionamento, elas vão se tornar cada vez mais fracas, cada vez mais raras, até você virar um velho entediado e desiludido para o resto da vida. 

É por serem tão poucas as pessoas que entendem isso que encontramos tantos homens e mulheres de meia-idade lamentando a juventude perdida, na idade mesma em que novos horizontes deveriam descortinar-se e novas portas deveriam abrir-se. É muito mais divertido aprender a nadar que tentar resgatar incessantemente (e inutilmente) a sensação da primeira vez que chapinhamos na água quando garotos. Outra ideia que apreendemos de romances e peças de teatro é que a paixão amorosa é algo irresistível, algo
que simplesmente "contraímos", como sarampo. Por acreditar nisso, certas pessoas casadas largam tudo e se atiram a um novo amor quando se sentem atraídas por alguém. Penso, porém, que essas paixões irresistíveis são muito mais raras na vida real que nos livros, pelo menos depois de chegarmos à idade adulta. Sem dúvida, se nossa cabeça está cheia de romances, peças e canções sentimentalistas, e nosso corpo está cheio de álcool, vamos tender a transformar qualquer amor nesse tipo específico de amor, da mesma forma que, se houver uma valeta junto à estrada num dia de chuva, toda a água vai correr por ela, ou, se você estiver usando um par de óculos de lentes azuis, tudo ficará azulado. A culpa será sua.


Bom, resta tratar de outra coisa, ainda menos popular. As esposas cristãs fazem o voto de obedecer a seus maridos. No casamento cristão, diz-se que os homens são a "cabeça". Duas questões obviamente se levantam: Por que a necessidade de uma "cabeça" — por que não a igualdade? e Por que a "cabeça" deve ser o homem?
 

Respondo:

1 - A necessidade de uma cabeça segue-se da ideia de que o casamento é permanente. E claro que, na medida em que o marido e a esposa estão de acordo, a necessidade de um líder desaparece; e gostaríamos que esse fosse o estado de coisas normal no casamento cristão. Mas, quando existe um desacordo real, o que se deve fazer? Conversar sobre o assunto, é claro; estou partindo da ideia de que tentaram fazer isso e mesmo assim não conseguiram chegar a um acordo. O que fazer então? O casal não pode decidir por votação, pois não existe maioria absoluta entre duas pessoas. Certamente, uma das duas coisas pode acontecer: podem separar-se e cada um ir para o seu lado, ou então uma das partes deve ter o poder de decisão. Se o casamento é permanente, uma das duas partes deve, em última instância, ter o poder de decidir, visando sempre o bem da família como um todo. Não se pode ter uma associação permanente sem uma constituição.

2 - Se há a necessidade de um líder, por que o homem? Em primeiro lugar, pergunto: existe uma vontade generalizada de que isso caiba à mulher? Pelo que vejo, nem mesmo a mulher que quer ser a chefe de sua própria casa admira essa situação quando a observa na casa ao lado. Nessas circunstâncias, costuma exclamar: "Pobre sr. X! Por que ele se deixa dominar por aquela mulherzinha horrível? Isso está acima da minha compreensão." Também não penso que ela fique lisonjeada quando alguém menciona o fato de ser ela a "cabeça" ou a líder do lar. Deve haver algo de anti-natural na proeminência das esposas sobre os maridos, pois as próprias esposas ficam bastante envergonhadas disso e desprezam maridos que se submetem as suas mulheres".

Trecho retirado de Cristianismo Puro e Simples, de C. S. Lewis (adaptado por Daniela Marques)