larissaveosl
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Salvem as Galinhas Pintadinhas!
Os Bob Esponjas
Tentei serragem, vinagre na gaiola, o que você puder imaginar, mas só o que adiantou foi um produto chamado Pipi Pet WC.
Se trata de uns grânulos de celulose que absorvem líquido de forma rápida. Basta jogar um pouco em cima e voilà, chupa tudo que nem uma esponja, uma verdadeira maravilha. Em poucos segundos todo o xixi do hamster vai embora.
Mas não era sobre isso que eu queria falar, isso foi só um preâmbulo, o que eu queria falar mesmo é que observando o Pipi Pet WC em ação lembrei da imensa maioria da juventude universitária brasileira de hoje e sempre (mas muito mais a de hoje).
Todas aquelas cabecinhas ocas chegam na academia tal qual um grão de Pipi Pet WC: esperando algo que as preencha. Eles querem saber, querem conhecer, querem contestar e, se sobrar espaço entre o trote e a choppada, mudar o mundo.
E esse furor contestatório da juventude agora se uniu à falta de tempo dos pais, à internet, à esculhambocracia que virou nossa sociedade e deu origem a um pessoal que não sabe o que quer, porque parece já ter tudo.
Não vivemos sob uma repressão moral e sexual como nossos pais e avós (imagina alguém da tal "classe média" dançando funk carioca na década de 50?), não estamos sob uma ditadura, essa turma de 20 e poucos anos que viveu dos anos 2000 para cá não conhece a censura prévia, não tem medo do DOPS, só precisam começar a se sustentar perto do trinta e curiosamente se comportam como se vivessem numa Coréia do Norte tropical.
É marcha da maconha, das vadias, dos jogadores de RPG, dos alimentadores de pombo. É cartaz ofendendo a religião alheia, a preferência quase paranoica pelo ateísmo militante (chega a parecer uma religião dedicada a ser uma não-religião) e a eterna necessidade de chocar, sempre.
A palavra de ordem parece ser "qual é o problema?". Uma ratazana ensopada servida no jantar (como dizia o grande Nelson Rodrigues)? Qual é o problema? Moças andando com os seios de fora pela rua? Qual é o problema? Rapazes também não andam sem camisa?
Transar no balcão do Mc Donald's? Fumar skank no batizado da sobrinha? Mostrar o piercing genital para a sogra na primeira visita à família do namorado? Falar sobre posições sexuais e secreções durante as refeições? Qual é o problema?
Que hipocrisia, gente! (outra frase cultuadíssima).
Mas já me desviei de novo, ainda que, novo parêntese, ache que um pouco de hipocrisia mantém a sociedade coesa, salva nossas relações sociais e impede que todos matem uns aos outros.
O que realmente queria dizer é que essa juventude chega na universidade com a cabeça tão vazia e sedenta por algo que a preencha como um grão de Pipi Pet WC, só que encontra pouca coisa diferente de xixi de hamster para aprender.
Na idade mais ativa, com mais "fome" de saber, de discutir e debater soluções para o futuro, eles são levados por um tsunami de entulho ideológico e ficam ali aprendendo sobre luta de classes, ditadura do proletariado, hegemonia cultural, aparelhos ideológicos de Estado, enfim, um conteúdo que no final acaba indo para o mesmo lugar de um grânulo de celulose vegetal, inerte, atóxico, empapado de mijo, ou seja, o lixo, já que não tem muita utilidade.
Mas ao que parece, está tudo bem, os Bob Esponjas de boina se contentam com pouco. Se chocar a tiazinha passeando com o poodle pelo meio da marcha dos adeptos do enema, tudo bem.
O que vale é botar o "Bloco do Che Guevara Doido" na rua.
O que eles querem de mim
Dora Super Aventureira
Eu quero descer!
Photo Credit: Alex Campos ♂ via Compfight cc |
2013, o ano em que abandonei o rock.
larissaveoslÉ como eu me sinto e olha que ainda sou adolescente!
Tell me, tell me won't you understand
Show me, show me, show me a better plan
It’s summer lies, it’s someone else’s nothing
Here it comes now...
One Way Trigger - Strokes
Este é só um título impactante para chamar a sua atenção.
Também tive um momento ótimo recentemente quando, brincando, alguns amigos disseram que é preciso ter alguma tatuagem da banda para se dizer fã dela. Esse foi outro ponto de ruptura, por que sei que para algumas pessoas essa regra existe de verdade. É insano.
Eu não quero mais levar o rock à sério.
Sem drama, Holden.
Holden Caulfield (O Apanhador no Campo de Centeio) por Grumpy Finina. |
E Se o Oxigênio Do Mundo Acabasse Por 5 Segundos?
Mas...ainda ia ter videogame ou....?!
http://wordpress.anarusche.com/4464/
texto publicado originalmente em blogueirasfeministas no dia 4/06.
“Um país em que as mulheres não escrevem,
este país, este país vai mal”
- foi o que me disse a Lília Momplé um dia desses.
hoje dedico às Bárbaras – Araújo e Lopes
I. O pretexto: a estatística
“Bastante homogênea, dominada por autores homens, brancos, de classe média, moradores de Rio e São Paulo”. Se você pensou na produção literária brasileira, acertou.
A pesquisadora Regina Dalcastagnè, na obra Literatura brasileira contemporânea: um território contestado, traz uma pesquisa quantitativa extensa, em que analisa a produção de romances pelas principais casas editoriais do Brasil. O resultado comprova a homogeneidade do campo literário – nas palavras de Rosana Lobo sobre as estatísticas:
“É então que Regina revela em números a perpetuação de lugares comuns ou constata tendências da produção contemporânea: quase três quartos dos romances publicados (72,7%) foram escritos por homens; 93,9% dos autores são brancos; o local da narrativa é mesmo a metrópole em 82,6% dos casos; o contexto de 58,9% dos romances é a redemocratização, seguida da ditadura militar (21,7%). O homem branco é, na maioria das ocorrências, representado como artista ou jornalista, e os negros como bandidos ou contraventores; já as mulheres, como donas de casa ou prostitutas”.
Aproveitando o gancho que este livro nos traz, pensei em escrever algumas dicas sobre como publicar um livro e também contar mais sobre projetos editoriais que invertem um pouco estes números, ao menos no que diz respeito a gênero.
II. Publicar-se, empoderar-se
Ainda contaminada pelo grito “Para o armário nunca mais” da 17ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, fico pensando se a gaveta não é um tipo de armário. Sim, aquela gaveta onde se guardam os originais, onde os contos dormem esquecidos e os poemas ficam silenciados, cheios de rabiscos incertos. A gaveta também pode ser aquela pasta perdida no computador, uns documentos de word com capítulos de um romance sempre por terminar. A gaveta, o inverso do livro, outra forma de espera.
Dizer-se escritora, para muitas, não é fácil. E quem te nomeia “escritora”? De minha parte, acho que só você mesma. Ou você supõe que uma nota de dez linhas num caderno de cultura tem este condão? Vamos, anime-se. A boa notícia é que muitos dos medos guardam parentesco com grandes desejos.
III. Algumas dicas – a tua gaveta: se transformará num barco, numa casa ou numa nave estelar?
Assim como as paixões, cada livro nasce de uma maneira própria. Dessa forma, pouco posso ajudar. Apenas dou uns pitacos sobre o “como publicar”. Aí vão eles.
- Ler a produção contemporânea. Parece um conselho bobo, mas é incrível como escritorxs nutrem pouco apreço ao que é produzido nas vizinhanças. Procuram os clássicos, os recém-traduzidos das grandes casas editoriais, sei lá quais. Há algo fundamental no garimpo de obras de novos autorxs, de fuçar blogs, sites e descobrir livros, estabelecer diálogos, cavar possibilidades, afinidades.
- Conhecer outrxs escritores. É uma das melhores formas de compartilhar inseguranças, vontades e traçar planos impossíveis. Saia de casa, compareça a lançamentos, festivais literários, leituras públicas (já dou a dica que em São Paulo, de 20 a 22 de setembro, haverá a FLAP!). Por algum motivo, fica difícil? A internet é maravilhosa em proporcionar esses encontros. Tente!
- Concursos e editais. Acompanhe os concursos literários e editais públicos. Há muitos voltados a estreantes. Encare como uma loteria. Uma chance de fechar um texto, de terminar um projeto.
- Organizar publicações coletivas. Antes de publicar o tal do grande livro, organizar publicações coletivas traz um aprendizado importante. Desde aspectos técnicos, ou seja, entender o processo editorial minimamente, até por à prova o teu texto, trocar referências, compartilhar proximidades. Aí vc vai entender que o principal é se divertir. E ter boas discussões. E fazer amigxs.
- Mas quero mesmo publicar um livro! Antes de tudo, é interessante você procurar uma editora – pesquise as linhas editoriais, compareça a lançamentos, converse. Há várias pequenas e atenciosas que recebem originais. E tenha calma, aguarde um retorno. Não é de uma hora para a outra que se decidem estas coisas, não é? Sempre se coloque no lugar do editor.
- E a autopublicação? Você também pode optar pelo faça-vc-mesmo, por exemplo, em uma gráfica rápida, com uma tiragem que você consiga distribuir. É a forma mais comum de livros de estreia, chama-se “edição do autor”. E se achar pouco digno, saiba que grandes livros do Drummond, Bandeira e João Cabral foram publicados assim.
- Então, um passo-a-passo: as etapas são mais ou menos estas: (a) Uma última leitura crítica: convide algumas pessoas queridas para lerem o original. Sempre haverá o que cortar e melhorar. (b) Revisão: assim que vc realmente “fechar o livro”, é necessário passar pela revisão de alguém com prática. (c) Diagramação: transformar o texto em word no formato de livro – procure alguém experiente e que entenda o teu projeto. (d) Impressão: faça vários orçamentos, visite mais de uma gráfica, entenda qual o papel que vc usará, formato, tipo de acabamento, isso tudo impacta o preço do livro e a impressão final. (e) Divulgação: conte a todxs! Amigxs, vizinhxs, familiares, professores, colegas de trabalho, sites de literatura, isso tudo. (f) Distribuição: capriche no lançamento. Organize uma forma de distribuir on-line, converse com livrarias, pequenos livreiros, isso tudo. + leia outras dicas práticas do Fábio C. Martins
- No papel de luz. Com exceção da gráfica, os passos acima são válidos para o processo digital. Não se trata simplesmente em transformar um “arquivo em word” em “um arquivo de pdf”. A revisão, projeto gráfico e distribuição são muito importantes e decisórios para a qualidade da publicação. Ah, sim, nunca subestime a publicação eletrônica – se pra vc ela ainda não tem todo o charme & cheiro do papel, tem um alcance incrível. + leia aqui “A era dos autopublicados”
IV. Exemplos de projetos coletivos
Fiz uma foto com projetos coletivos que gosto. Não são “projetos editoriais feministas”, mas, de alguma forma, trazem gênero como um aspecto importante do projeto:
- Revista Mininas: revista que reuniu “escritoras, poetas, artistas gráficas, ilustradoras e fotógrafas em um formato charmoso e acessível”, feita em BH pela Milena de Almeida (editora) e Elisa Andrade Buzzo (coordenadora de edição). O site continua no ar, vale a visita.
- 8 femmes: “8 femmes surgiu no rastro do filme homônimo de François Ozon, uma comédia com 8 conhecidas atrizes francesas. A ideia: 8 poetas mulheres, 8 estilos de linguagem, em ritmo de curta-metragem. Et voilà”. A plaquete foi organizada por Virna Teixeira (2006) e teve lançamentos em vários lugares do Brasil.
- Colección Chicas de Bolsillo: a argentina María Eugenia López publicou, com o apoio da Universidad de La Plata, esta série de livrinhos, que são envoltos em um bolsinho de tule costurado e com uma bonequinha. Seus chicos y chicas foram levados a inúmeros festivais de poesia. Na foto, vc pode ver Bonkei da própria María Eugenia e o Fin de ciècle (bilíngue espanhol português) da brasileira Virna Teixeira.
- Fio, fenda, falésia: um dos livros que mais gostei de 2010, escrito a três mãos por Érica Zíngano, Renata Huber e Roberta Ferraz. Generoso, denso, complexo. O projeto gráfico incrível foi feito por Fernando Falcon. Os poemas são um fio de outro, tecidos pelas 6 mãos.
- Moda y pueblo: caneca do atelier de criação literária chileno Moda y Pueblo, que trabalha como uma editora, tratando “o livro como um objeto único de arte, inclassificável e incontrolável”. Funciona no centro cultural Carnicería Punk, um antigo açougue de bairro no centro de Santiago, que agora abriga discussões sobre literatura queer, perfomances e ações de arte, entre outros assuntos.
V. Exemplos de livros
Para finalizar, separei alguns livros que contém temas e formas literários diferentes da estatística apresentada pela Regina Dalcastagnè. Assim, se vc é simplesmente um leitor, poderá aproveitar tb este post. São apenas sugestões, livros que gosto e que tinha à mão em casa. Também faço a ressalva que não são exatamente “livros feministas”, mas trazem uma outra perspectiva a respeito de gênero.
- Esperando as Bárbaras (Ed. Blanche, 2012) | Marilia Kubota traz uma seleção de poemas sobre o “fazer poético, sua inquietação e inutilidade como sobra de luminosidade no mundo pós-moderno”. Ainda acrescento sobre sua vivência como descendente de japoneses. O poema que dá título ao livro é uma resposta indignada a certo mundo e, ao mesmo tempo, uma homenagem a personagens da cultura americana.
- Neighbours (Porto Editora, 2012) | Separei este livro especialmente, pois é um caso interessante no mercado editorial lusófono: escrito em português pela moçambicana Lília Momplé, foi publicado pela Penguin com o título Neighbours: The Story Of A Murder (2009). Esgotado em português, vc podia encontrar o livro somente em inglês. Felizmente a Porto Editora supriu esta lacuna no ano passado, com uma nova edição em português. O livro conta “o que se passa em Maputo, em três casas diferentes, desde as 19 horas de um dia de maio de 1985 até às 8 horas da manhã seguinte”, narrado principalmente pela perspectiva das mulheres, apontando os efeitos do apartheid da vizinha África do Sul em Moçambique.
- Ponciá Vicêncio (Ed. Mazza, 2003) | Este livro impactante é da Conceição Evaristo, que “deixa claro em sua obra a preocupação de fazer emergir um discurso subalterno, através de personagens negras, pobres e mulheres. Sua trajetória militante acompanha as mudanças que caracterizaram o movimento negro brasileiro ao longo das últimas décadas” – leia o artigo da Bárbara Araújo aqui. Ponciá Vicêncio é construída de memórias, força e estórias desgarradas. + post no blogueirasfeministas
- Desnorteio (Ed. Patuá, 2011) | Desnorteio é o romance de estreia de Paula Fábrio. Engraçado que esta história de ser o primeiro não me convence. É um livro maduro. Isso das estórias desgarradas que leio na Conceição Evaristo tem seu eco por aqui, aparece a loucura também, penúrias. A editora caprichou – fez até o livro em capa dura. Merecido. Uma leitura que fica.
- Pleno Deserto (Edições Rumi/Nephelibata, 2009) | Livro de poemas de Maiara Gouveia, traz o corpo, o íntimo, o sonho e o místico. Também há a sedução e o que é desencontro – “Não vemos:/ pois estamos no escuro”, nas palavras de Marcelo Ariel, “uma pulsão erótica que não descarta uma laicização do sagrado é uma das características da poética de Maiara”. Você pode ler on-line este livro.
- Você me deixe, viu? Eu vou bater meu tambor! (Mazza Edições, 2008) | A própria autora, Cidinha da Silva, descreve o livro assim: “é um livreto singelo que aborda o amor e a solidão, vistos e sentidos por personagens femininas, principalmente. São olhares críticos, ácidos, vez ou outra líricos, outras tantas humorados e com mais uma dose de acidez”. Bem gostoso mesmo de ler.
- Naquele Dia (edição de autor, 2011) | Aqui ainda vai o convite para você conhecer o “Naquele Dia”, livro de contos da Renata Corrêa, aqui das BF: “É digital e pronto pra ler no seu smartphone, tablet ou mesmo computador”. Ela já conta com 600 downloads. Acesse aqui: https://www.facebook.com/NaqueleDia/info.
VI. Enfim, pense bem
Aqui, fora da gaveta, a vida até pode ser meio arriscada. Mas é bem divertida.
Como diria a Juliana Bernardo em seu novo livro Vitamina, “triste de quem não escuta a ópera de um copo d’água”.
lettie, a estranha
Eu não entendo as pessoas que dizem com orgulho que são perfeccionistas. O perfeccionismo não faz com que você alcance a perfeição, só faz de você uma pessoa neurótica. Aliás, segundo o primeiro verso dessa música do Silver Jews, aproximar-se da perfeição pode fazer você baixar no hospital, então se liga. ;)
Eu estive pensando bastante sobre isso na última semana, sendo eu própria uma pessoa perfeccionista (tô tentando largar, comprei até uns chicletes?). É de fato muito frustrante se encontrar em um momento em que tudo o que você pode fazer é o seu melhor e esperar a avaliação dos outros pra descobrir se você fez o bastante (segundo as expectativas deles) ou não. É ainda mais frustrante descobrir que não. Ou nem ouvir nada em resposta. Tipo um looooongo rufar de tambores que termina e… nada acontece. Aí você tem que se apegar à ideia de que, né, você tentou, toma aqui uma estrelinha.
Aí eu tava viajando em toda essa maionese e acabei lembrando de um episódio de quando eu tinha 5 anos e tava na alfabetização. A gente fez um ditado de palavras e eu errei a palavra “saci”. Acho que meti uma cedilha em algum lugar. Eu fiquei muito puta por dois motivos: o primeiro e mais óbvio é que eu queria ter acertado TODAS as palavras (dããã). O segundo é que saci era uma palavra que não faltava de onde colar dentro da sala: várias crianças levavam aquela pipoca doce do plástico rosa (aquela que 99% do conteúdo do saco tem gosto de isopor, aí de repente você pega UMA que tem gosto de alguma coisa comestível e você acha a coisa mais gostosa do mundo) e uma das marcas mais populares era Saci.
Sei que por conta disso eu comecei a chorar inconsolavelmente. Aí tinha esse menino, Renatinho? Robertinho? Que seja, Robertinho. Ele curtia me chatear e adorou a oportunidade de rir bem alto da minha cara enquanto eu chorava.
Foi aí que aconteceu uma daquelas coincidências maravilhosas que o universo te proporciona apenas uma vez na vida. O tipo de coisa que aconteceria de qualquer forma, mas acontecendo 20 segundos antes ou depois, não teria o mesmo efeito.
O Robertinho se contorcia de rir da minha cara e eu lancei meu melhor olhar de ódio em sua direção.
Naquele exato momento, a garrafa de refrigerante que ele levou pra beber no recreio explodiu.
Nunca vi riso se transformar em choro tão instantaneamente. E vice-versa.
Depois daquele dia, o menino Robertinho nunca mais mexeu comigo.
o mesmo encontra-se parado neste andar
É o 14º andar de um prédio empresarial. Chamo o elevador para descer, que chega sem demora, provavelmente pela “situação de feriado”. É um daqueles dias que eu não entendo muito bem. Não é feriado, mas não se espera que as pessoas apareçam.
Entro no elevador. Sigo sozinha até que ele para no 6º andar, onde entram dois rapazes. Um deles diz “boa tarde”, apesar de ainda ser manhã. Acontece.
O elevador para no 5º andar, onde entra uma moça futucando o celular (ela nada diz).
O elevador parece descer normalmente por um tempo, até parar e a porta abrir no 5º andar de novo. Fechamos as portas.
O elevador segue. Para, abre a porta, é o 5º andar de novo.
Estamos presos em um loop. Resolvemos sair do elevador.
Saímos do elevador e… ele desce normalmente. “Aaaah!”, exclamamos em uníssono. Ficamos ali por uns segundos esperando que algum dos outros dois elevadores pare, mas leva tempo, o prédio tem 18 andares. De algum lugar do corredor, soa uma voz:
- TODO DIA É ASSIM? TODO DIA TEM QUE SER ASSIM? A GENTE TEM QUE DISCUTIR A NOSSA RELAÇÃO TODOS OS DIAS?
O constrangimento natural que se sente ao dividir o elevador com desconhecidos tinha sido quebrado pela situação inusitada em que nos encontrávamos, mas agora estava de volta. Precisávamos sair dali o mais rápido possível. Um dos outros elevadores para. Entramos, eu e a outra moça, mas descobrimos antes de sair que ele está subindo, então corremos de novo pra fora.
Um dos rapazes decide entrar no elevador do loop (que subiu e parou de novo no 5º andar). Tentamos convencê-lo de que não é boa ideia, mas em todo programa de sci-fi tem aquele elemento do elenco que resolve fazer alguma coisa tola apesar do que diz o bom-senso.
O elevador fechou e abriu novamente cerca de 15 segundos depois.
O rapaz não estava mais lá.
Notícias dão conta de que foi visto pela última vez na companhia de um fauno.
Olhos vermelhos
Abreviatura de "atenciosamente"
Aposto que não.
A abreviatura oficial de "atenciosamente" é "at.te".
A maioria escreve "att.", que na verdade é a abreviatura do inglês “attention”.
E você certamente é um dos que escrevem assim.
Estou errado?
Mas agora, depois de ler esta postagem, ao encerrar suas correspondências, você escreverá a forma certa: “at.te”.
Não é mesmo?
Se você quer passar num concurso, não pode deixar de ler este LIVRO.
A liberdade é questionável.
O que é ser livre pra você pode não ser para o seu vizinho.
Você tem que aceitar e se adaptar a todas escolhas e liberdades dos outros, ou não.
Esse é Meu Filho
='(
ahAUShaUShauShuahsuaHsuaHsuAHsuAHsuAHsuaHsuaHusaHUShAUshUAshuAHsuAHsuAHs
Adele é gorda
Sabe quando aquela amiga gorda publica uma foto no Facebook e logo vem alguém e comenta "lindaaaaa"? Mulher, claro. Homem nenhum consegue ser tão falso. Pois é uma pessoa assim que vai sair por aí dizendo que "amaaa" a Adele. E vai defender com unhas e dentes o fato da Adele ser gorda. Vai dizer que é libertador, que é disso que o mundo precisa, que a mulher não precisa ser magra para ser linda. Aham, senta lá Cláudia. Porque lá no seu íntimo e obscuro cantinho da consciência, ela sabe muito bem que é mais magra que a Adele. E isso é o bastante para que ela sorria discreta e diabolicamente, sentindo-se melhor com ela mesma.
Eu odeio pessoas. Porque pessoas são escrotas. Novamente, peço que não leve para o pessoal. Todos somos escrotos. Eu mesma sou dessas que defende o fim da opressão da mídia por um ideal intangível de magreza, mas estou aqui de dieta, morrendo de fome e me privando das delícias comestíveis da vida.
Engordei dez quilos em quatro anos. Sou bem alta, a gordura se espalha ao longo dos meus 1,78m. Mas a balança não mente. Muito menos meu manequim. Para voltar ao peso dos meus vinte aninhos, a vida precisa ser um pouco pior. Então eu decidi que não ia mais sofrer. Dane-se todo mundo. Eu gosto de comer e ninguém precisa ser esquelética para ficar bem no vídeo. Mas meu discurso se desfaz no instante em que a figurinista reclama que eu não caibo mais nas roupas que as marcas emprestam para o programa. E afunda ainda mais, palmos e palmos abaixo da terra, quando vem um babaca na internet e me compara com a Adele. E só para ficar claro, não, eu não sei cantar.
Pergunte a qualquer uma dessas mulheres que dizem amar a Adele se elas gostariam de ser a Adele. Entre ter talento e ser magra, te garanto que a maioria vai preferir ser modelo da Victoria's Secret.
Nesse ponto do texto, alguns já devem querer me crucificar. Tudo bem, eu não ligo. Meu povo está acostumado com crucificações. Mas a grande verdade é que as mesmas pessoas que saem por aí declarando seu amor aos gordos serão as primeiras a comentar "nossa, mas fulano tá gordo, hein?" Como quando a Nigella engordou horrores e todo mundo disse "olha, a Nigella engordou horrores". Vamos deixar de ser hipócritas. Toda essa indústria que nos faz acreditar que devemos ser esquálidos só funciona porque nós deixamos, porque nós queremos. Porque a magreza já se tornou commodity.
Gorduras à parte, devo admitir que não amo a Adele. Se ela fosse magra, talvez eu a odiasse, mas a questão não é essa. O que realmente importa e vale a pena ser discutido é que cheddardoubleburguer. Não, não. Eu quis dizer pizzamanteigasubway. E na próxima temporada eu estarei tão magra, mas tão ridiculamente magra, que aquela pessoa otária que me chamou de Adele vai precisar de terapia e remédios para se sentir melhor consigo mesma. Muito embora, enquanto eu planejo minha ardilosa vingança dietética e tenho alucinações constantes com comida, essa mesma pessoa, muito provavelmente, está rindo para cima com sua taça de champanhe, completamente indiferente à minha existência e à minha balança. Browniesundae. Bacon.
Bem menos, bem mais.
Vamos diminuir o passo, já que não estamos indo a lugar nenhum. Estamos aqui a passeio.
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Você é legal, mas nem
Nada diz “nem te quero” mais que um beijo na testa. O beijo na testa é carinhoso, mas pertence exclusivamente ao território da amizade. E não é só isso: o beijo na testa sabe que você queria mais. É o prêmio de consolação.
Sempre relacionei o beijo na testa ao fim de namoro. É o gesto que vem logo após ao “eu quero que você seja feliz”. Porque o beijo na testa quer que você seja feliz – mas não com ele.
A etiqueta não prevê o beijo na testa. Não existe maneira apropriada de se reagir a ele. Talvez o melhor seja aquele sorriso amarelo que responde “eu sei, mas valeu a tentativa”. Claro que sair correndo e se esconder debaixo da cama também é uma opção.
“Aplaudir até sentindo dor é amar”
Estou escrevendo uma carta de amor.
Sim, eu sei quão brega isso soa, e quão ridículo é na prática. Dizem não há carta de amor que não seja ridícula. Eu prefiro organizar a frase de outra forma: se não for ridícula não é uma carta de amor (acredito que existe diferença, ainda que sutil; quem ama entenderá).
Acontece que estou escrevendo porque de quando em quando meus sentimentos me enchem e me transbordam e eu preciso represá-los em algum lugar. Meus amigos não agüentam mais ouvir as minhas angústias – parece que o senso-comum dita que, após um certo tempo, você deve superar um amor que passou, mesmo que pra você não tenha passado, mesmo que seja, talvez, o maior que você está destinado a ter em toda a sua vida –, então que solução me resta?
Escrevo à única pessoa a quem pode interessar, mesmo que eu não espere disso qualquer resultado concreto – sou mais romântica que pragmática. Se enviarei ou não é questão a ser resolvida depois.
E para adiar a decisão, me esmero no processo. Escrevo rascunhos, seleciono papéis importados na minha coleção, traço bem de leve linhas a lápis, componho uma paleta de cores de canetas, faço o envelope, amarro uma fita. Só não pingo perfume, numa débil tentativa de permanecer no campo do bom-gosto.
Estou escrevendo uma carta de amor porque não há no mundo alguém que escreva uma para mim.
Por Pedro Catarino: “Interlúdio Musical”
Coluna de autores convidados, texto por Pedro Catarino
Como é de costume e corriqueiro, meu fone de ouvido parou de funcionar. Ela me olhou e disse: “Vamos comprar um fone bem legal para você!”. Eu concordei. O tempo passou e, ainda que sobre as insistências dela, procrastinei.
Com pressa, numa tarde de sábado, entrei numa loja qualquer e pedi o primeiro fone que vi pela frente. Alguns trocados e “problema resolvido”. “Esse fone não vai prestar…” ela disse. Assim que o liguei percebi que o lado esquerdo pipocava e o direito não tinha um som limpo.
“Pedro, eu pago, vamos comprar um BOM fone” ela me disse. Como de costume, despreocupado, respondi “Imagina, esse aqui ainda tá funcionando”.
“Meu amor, precisamos conversar” ela me disse. Como de costume, eu respondi “A gente se ama, vai ficar tudo bem!”. O tempo passou e os problemas ficaram, “Não tá tudo bem, senta aqui, vamos resolver…” ela pediu. “Preta, eu te amo. Vai tudo passar, é só a gente ficar junto…”.
O tempo passou, meu fone quebrou, e eu não ouço música já tem um bom tempo. O tempo passou, ela foi embora, e eu não ouço meu coração já tem um bom tempo. Deveria ter aceitado o fone, deveria ter aceitado a conversa. Deveria.
Pedro Catarino
A VIDA É INCONSTANTE
Dia das Mães taí e você ama a sua. Mas tem dias que você odeia ela, né? Seu namorado, a mesma coisa. Você casaria e teria uma porrada de filhos, mas, às vezes, queria matá-lo. Não é verdade? Até o que você sente pelos seus melhores amigos não é constante.
“O mundo oscila na beirada dos seus olhos”. Conversando com uma amiga que não se conforma em viver em uma eterna inconstância, perguntei: “Você já parou para pensar que a vida é inconstante? Você pode ter segurança no seu trabalho, em casa, no amor, mas nunca em todos os departamentos da vida, ao mesmo tempo.”.
De um ano para cá, morei em quatro cidades: entreguei meu apartamento em São Paulo, BH, Rio de Janeiro e agora voltei para Salvador. Por que? Porque aprendi a lidar com a inconstância. Eu também quero constância de grana, amor e saúde. Constância acho que só quando estiver morto.
O Japão tem mais de cem terremotos POR DIA. Alguns são imperceptíveis e outros causam Tsunames. Os japoneses que parecem tão constantes aprenderam a lidar com a inconstância do seu próprio chão.
Isso é fácil? Nem um pouco. Mas a vida é surpreendente justamente por isso. Às vezes, você está lá em cima da roda gigante e, depois, lá embaixo. É por isso que eu amo as mudanças. Mas tem gente que tem muito medo delas, porque vai abalar a sua “constância”.
Hoje não me preocupo em encontrá-la, apenas em aprender com as mudanças e inconstâncias. Não sou eu que estou dizendo, é Quintana: “Deficiente é aquele que não consegue modificar sua vida.”.
Cabelos
Cortar a franja
Ficar uma merda
Usar grampo por três semanas
Não lavar o cabelo por três dias
Acreditar na sujeira como solução
Andar por aí com ele solto
E feliz como nunca até então
Escrevendo versos desses
Envergonhando a Guadalupe e o Camilo
Parando de pensar tanto no meu cabelo
E comprando um boné de esquilo
Photo Credit: Dan Morelle via Compfight cc |
Todo mundo vai pra Europa
Photo Credit: camil tulcan via Compfight cc |