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28 Oct 00:30

Evitando a Fadiga

by Clara Gomes

10 Apr 15:55

Existential Bug Reports

ISSUE: If we wait long enough, the Earth will eventually be consumed by the Sun. WORKAROUND: None.
22 Aug 02:05

Um FAQ curto

by Pedro
Saraluizahoff

Pedro e suas sempre sábias e profundas palavras falando tudo aquilo que eu sempre quis dizer.

Uma amiga precisava entrevistar alguém para um trabalho de faculdade, o assunto era religião. O foco: ateísmo. Expliquei que sou agnóstico, mas ela informou que servia. Assim, aceitei responder. Seguem abaixo as perguntas que ela enviou, as respostas que devolvi. Nada foi modificado, embora, relendo depois, tenha percebido que em diversos pontos fui vago, que muitas vezes poderia ter sido mais específico, talvez elaborado melhor, não sei. É parte do meu entendimento do que é a religião, a fé, de todas essas coisas bastante difíceis de explicar e muito complicadas de se definir, de si para os outros ou de si para si. Enfim, ficam dúvidas e novas questões em aberto conforme a conversa abaixo, mas sobre tudo isso posso vir a tratar mais à frente, caso algum leitor queira saber mais – ou até bater boca, seus barraqueiros.

(ATENÇÃO: o fato de eu não negar a existência de deus pode dar a entender que eu aceito que deus existe. Não confundam aceitar uma possibilidade – que, para mim, não diz nada, e não faz qualquer diferença – com afirmá-la. Até onde me consta, deus é tão real – e plausível – quanto o Superman.)

Você acredita em alguma coisa?

Não que eu saiba. Se acredito em algo, ainda não me dei conta disso.

Caso não acredite, qual o motivo da “falta de fé”?

Perguntar “por que você não tem fé?” me parece tão válido quanto perguntar a alguém “por que você tem fé?”. Não consigo conceber uma explicação para nenhuma das duas coisas. Acho que fé é mais uma propensão do que uma linha de pensamento, não é algo que se aprende. É uma dessas coisas que você tem e que são inerentes a você. Ao menos é como percebo a fé em outras pessoas e é a impressão que tenho com o fato da fé não se manifestar em mim. Não é algo recente. Me lembro de ir à igreja com sete, oito anos, uma época em que qualquer ser humano é impressionável, e me sentir deslocado. Não entendia aquelas manifestações e ainda não entendo.

Deixo claro que estou falando de fé de verdade aqui, daquela crença na existência de algo como uma certeza na qual alguém facilmente apostaria a própria vida. Conheço muita gente que não tem fé, tem hábito (o segundo sentido é acidental). Essas pessoas não me causam nenhum espanto. Mas gente que tem fé de verdade? Legítima, que não se abala, que se alia ao conhecimento, em vez de ir contra ele? Essas pessoas me aterrorizam. Imagino que gente como eu causa nelas o mesmo efeito.

O que, na prática, torna você diferente dos ateus?

Bom, um ateu nega que deus existe. Peremptoriamente. Ele não tem pudor nenhum em afirmar, como quem conhecesse tudo o que há no universo, que deus não existe e fim. Eu sou um agnóstico (a – não; gnose – conhecimento). O que eu assumo é que não sei se deus existe ou não. Fui um ateu por muitos anos até perceber que não era a idéia de deus que eu negava, o que eu negava – e ainda nego – eram as idéias de deus que me eram apresentadas pelas religiões. O deus dos cristãos, o deus dos judeus, o deus dos muçulmanos, buda, os orixás, os deuses do olimpo, o monstro de espaguete voador… todos eles têm para mim o mesmo nível de plausibilidade: ZERO. Mas eu aceito que pode existir um deus que seja um conceito de tal maneira grandioso e imensurável que não existe nenhum ser humano capaz de compreendê-lo, de saber quais são seus desejos e seus desígnios, se é que ele(s) os têm (querer atribuir desígnios e desejos a um deus já me parece uma forma de torná-lo implausível, de humanizar algo que, se está aí, certamente não partilha desse tipo de traço humano).

Sua família é religiosa?

Eles falam mais do que fazem. Minha vó é católica pouquíssimo praticante, minha mãe é uma dessas pessoas que acreditam que deus existe e vivem se decepcionando com todas as religiões, porque uma religião é uma coisa menor, pequena. Ela já foi católica (sou batizado na igreja católica, mas só porque era pequeno demais pra me defender), espírita, evangélica… não faço idéia do que ela é agora. Muita gente da minha família é espírita, alguns com um pé na umbanda, mas ninguém fala disso. Sei lá se é porque é um tabu ou se é porque eles não se vêem dessa maneira. Meu pai é um ateu empedernido, como eu já fui. É um ateu que não entende que existe uma diferença entre negar o deus bíblico e negar o conceito de deus.

Você lembra quando se descobriu agnóstico?

Como eu disse, quando percebi que minha divergência não era – e continua não sendo – com “deus”. Meu problema é com esse deus que é pintado, um deus presente, ativo, que sabe que a gente está aqui e, mais do que saber, se importa, participa, intervém… porque esse deus que empurram para nós nas igrejas, nas religiões todas, é inerentemente humano. Ele tem sentimentos humanos, e dos piores possíveis! Ele tem inveja, ele tem raiva, ele tem rompantes de ira, ele é exigente, ele é ciumento… e ele é bom? Você não diria que o marido de uma amiga sua é bom, se essa fosse a descrição feita dele. Por que diabos aceitamos que essa descrição é a descrição de um deus bom? Se você me diz que deus de fato está por aqui, participando, e é um sádico, me parece plausível. Mas deus está entre nós, agindo dentro de nós, a vida é essa tragédia que se desenrola infinitamente, o mundo é um lugar onde jacas nascem a 15 metros de altura e morangos nascem ao rés-do-chão, o ornitorrinco existe e crianças de 2, 3 anos têm câncer… e esse deus é bom? Não é. Não tem como ser. Isso é impossível. Sempre neguei essa idéia de deus. Mas não nego que exista um deus. Foi quando larguei o ateísmo e entendi que o que me falta é o arcabouço pra conceber um deus plausível pra essa realidade. O que não quer dizer que não exista um.

Você se sente ou se sentiu deslocado socialmente por isso?

Sim, várias vezes. Se dizer ateu (e, para a maior parte das pessoas, dizer que você é ateu e dizer que você é agnóstico é basicamente a mesma coisa) é sempre uma experiência constrangedora. Se negar a dar as mãos e rezar um pai-nosso, não responder “amém” a um “vai com deus”, não dizer “graças a deus”. Escrever deus em minúsculas. Essas coisas geram um confronto, as pessoas te questionam, sentem-se intimamente ofendidas porque você não partilha e não quer partilhar da fé. “Mas o que custa você rezar com a gente?”. O mesmo tanto que te custa não rezar na minha presença. Por que EU tenho que me sujeitar ao seu hábito e você não se sujeita ao meu? Coisa de dois anos atrás saiu um estudo que apontava que o índice de rejeição de um ateu é maior do que o de um presidiário, com aids, viciado em drogas e homossexual. JUNTO. O ateu sempre é retratado como um crápula, um sacana, um sujeito sem princípios. E acho que as melhores pessoas que eu conheci, as mais generosas, as mais gentis, as mais corretas, não acreditavam em deus.

Você acha que a fé emburrece as pessoas?

Já achei. Hoje em dia acho que era um preconceito. Não acho que a fé emburrece, acho que a credulidade emburrece. Entendo um pouco o princípio, essa vontade de acreditar em algo, de querer que o universo faça sentido… acho justo que se procure um sentido, mas não dá pra ser uma busca cega, não dá pra gente simplesmente inventar explicações e se prender a elas por medo de aceitar que as coisas podem ser muito mais difíceis de entender do que nós gostaríamos. Ou, pior, que não temos capacidade de entender ainda, que talvez nunca tenhamos. Não dá pra partir da percepção de um fenômeno para a explicação sem análise, sem estudo, sem um método científico que seja. Não dá também pra adotar a ciência como uma religião, tomando tudo o que os cientistas, os pesquisadores, os estudiosos dizem como a manifestação plena da verdade. Até os cientistas tiram sarro de cientistas. Tá aí o prêmio IgNóbel que não me deixa mentir. É difícil, acho que é perfeitamente possível ter fé e manter uma visão crítica do mundo. Ou talvez não seja, como é que eu vou falar de um negócio que nunca vivenciei?

11 Aug 23:03

Linkagem de domingo {61}

by Thais Godinho