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22 Jul 01:08

NÃO RECONCILIADOS

by aa
Desconfio sempre dos apelos ao consenso. Por mais repletos de boas intenções que estejam, costumam soar em demasia a tentativas de manter o status quo e de fazer prevalecer uma linha de pensamento ou acção, supostamente merecedora de aprovação consensual, em detrimento de outras. Esse tal pensamento ou essa tal acção, na óptica destes patrióticos e responsáveis apelos à concórdia, seriam por definição partilhados por todas as pessoas de bom senso e só o espírito de facção leva a que alguns façam finca-pé em posições heterodoxas.

A crise política que atravessou as últimas semanas, com epicentro em Belém, São Bento e Largo do Caldas e sucursal nas Ilhas Selvagens, encaixa em pleno neste figurino. (Uso o tempo presente, mas não duvido de que o Senhor Presidente da República se encarregará de pôr cobro à crise com uma comunicação sábia e certeira, hoje mesmo, às 20h30, tempo médio de Greenwich.)

A democracia implica a coexistência de opiniões diversas. Pretender que essa diversidade deve ser anulada em nome de um rumo comum é falacioso e perigoso. Acenar com o carácter excepcional da situação pode ser um eficaz meio de coerção, mas não representa um argumento real. Ainda que com fortes constrangimentos, ainda que sob um programa de assistência, governar Portugal pressupõe ainda fazer política e implica escolhas. E quem se responsabilize por essas escolhas, como é óbvio.

É nestas ocasiões que mais sinto vontade de ver filmes de Danièle Huillet e Jean-Marie Straub.