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30 Apr 12:13

Escravos não têm os nossos privilégios, afirmam médicos cubanos

by Leonardo Sakamoto

O programa Mais Médicos convocou profissionais brasileiros e estrangeiros para trabalharem em locais carentes de atendimento. Se por um lado, isso gerou o descontentamento por parte dos médicos brasileiros (com argumentos que vão do fato de que o programa não resolve o déficit estrutural, material e de equipamentos até o puro corporativismo), por outro as manifestações de apoio mostram que ele foi bem recebido pela camada mais pobre da população.

No meio do tiroteio da falsa dicotomia entre “o Brasil precisa de médicos atendendo a população carente” contra “o Brasil precisa de condições para os médicos trabalharem”, o programa também foi criticado por conta da forma de contratação de médicos estrangeiros. Entidades de classe de medicina exigem que o diploma seja revalidado no país através de prova e chegaram a questionar a capacidade técnica dos visitantes.

Ao mesmo tempo, alguns críticos do programa e parlamentares de oposição ao governo federal afirmam que os médicos cubanos estão em situação análoga à de escravo, como os trabalhadores que são libertados de fazendas de cana ou de oficinas de costura. Um dos motivos seria o fato de não recebem a mesma remuneração que o restante dos médicos que fazem parte do programa (R$ 10 mil mensais), pois a maior parte fica com a empresa cubana responsável pelas missões médicas do país. Outro montante é pago a eles aqui e o restante era depositado em sua conta em Cuba.

Para falar do paradigma da saúde no Brasil, da reação da população à sua presença e de sua situação trabalhista, dois médicos cubanos pertencentes ao programa que atuam no município de Carapicuíba, um dos mais pobres da região metropolitana de São Paulo, concederam ao UOL uma entrevista.

Maria de Los Angeles Reyes e Mario Martinez elogiaram a competência dos médicos brasileiros, afirmam que o acolhimento dado pelo povo ao seu trabalho só é comparável ao de suas próprias famílias e – falando um bom “portunhol” – dizem que a língua não tem sido uma barreira. E demonstraram indignação ao serem questionados se seriam escravos do governo cubano.

Acreditam, contudo, que a presença dos médicos cubanos e sua prioridade com a medicina familiar e preventiva pode ajudar a mudar a forma com a qual encaramos o nosso sistema de saúde. “Não se precisa de muito dinheiro para fazer saúde preventiva. Os recursos que se necessitam são recursos humanos”, afirma Mario. “Cuba é um país subdesenvolvido, mas temos resultados na medicina comparados aos de países desenvolvidos”, completa Maria.

E citam os índices de mortalidade infantil de Cuba (4,2 mortes para cada mil nascidos vivos). Para efeito de comparação, o Brasil – que tem liderado a redução global desse indicador – apresentou, em 2012, 15,7 mortes para cada mil nascidos vivos, de acordo com o IBGE.

Para Mario, não se pode analisar a doença longe do estrato social onde a pessoa mora. “É a doença dentro do lugar onde mora, onde desenvolve sua vida.”

Contam que a maioria da população mais pobre, que não estava acostumada a ter médicos à disposição, ainda está entendendo o que a presença deles significa. Mario diz que teve que convencer pacientes de que ele estaria lá o tempo todo. “Não, senhora, não precisa agendar a consulta para seis meses, um ano. Vou ficar aqui de segunda a sexta. Se você precisar, você vem e eu atendo você.”

Questionados sobre as denúncias de que estariam submetidos a trabalho escravo contemporâneo, demonstram indignação. “Quem tá falando isso? Que somos presos? Que somos escravos? Escravos não têm esses privilégios”, responde Mario. Ele diz que sua família tem à disposição um sistema educacional e de saúde gratuitos e que funcionam. E que fez faculdade de medicina, residência e mestrado sem ter que pagar pelos cursos, livros ou materiais. Portanto acha justo colaborar para que esse sistema continua funcionando.

“Se não ajudamos nosso país com nosso aporte monetário, quem vai ajudar? Além do mais, nossa família fica lá. Recebem saúde e educação gratuita e quem vai ajudar? E por isso somos escravos?”, pergunta Maria. Também reclamam de “sensacionalismo” com relação à divulgação da saída de alguns cubanos do programa. Rebatem que, apesar de serem milhares os participantes, “não chegam a 20″ os que deixaram o Mais Médicos.

E afirmam que, com as críticas, o programa mudou a forma de remuneração. Eles estão recebendo mais do governo cubano para custear a sua presença, mas também passaram a receber no Brasil o que antes era depositado em Cuba. O que, para eles, é pior. Com o depósito na ilha, o dinheiro permanecia lá rendendo juros. Agora perderão ao pagar impostos e trocarem o câmbio quando levarem o dinheiro de volta.

“Nós viemos com vários objetivos. Ajudar nossa família, ajudar nosso país, ajudar a melhorar nossa condição econômica e ajudar este país, à população que estava carente de médicos”, afirma Maria.

Também conversei com Janos Valery Gyuricza, médico brasileiro de família e comunidade e supervisor de sete cubanos dentro do programa Mais Médicos.

“No Brasil, apesar de termos 300 mil médicos, poucos são capacitados para trabalhar na atenção básica, diferentemente da maioria que tem vindo para trabalhar no Mais Médicos”, afirma. “Precisaríamos de uns 100 mil médicos capacitados para trabalhar na atenção primária para dar conta da população brasileira.”

De acordo com ele, a presença de médicos que saibam ouvir e se comunicar com o paciente de uma forma que ele entenda e que estejam sempre presentes nas comunidades, prevenindo o que for possível para que não se gaste remediando, pode mudar a forma como encaramos a saúde por aqui. “A partir do momento em que 35 milhões de pessoas virem que existe outro jeito de ser atendido, talvez haja mudanças na formação médica brasileira”, explica.

Sobre a relação trabalhista, comenta que os cubanos sabiam da divisão do dinheiro como seria feita e não se sentem injustiçados. “Eles não se sentem escravizados.” Contudo, tem ouvido que o dinheiro não é suficiente em alguns municípios com custo de vida mais alto – Cuba repassa o mesmo valor independentemente do local onde os trabalhadores estejam.

Conversei com auditores fiscais do trabalho e procuradores do trabalho e não há um consenso sobre a questão da remuneração. Alguns apontam que o modelo de remuneração é correto, pois faz parte da contratação de uma missão de outro país. Parte afirma que o ideal seria se os médicos recebessem o mesmo que profissionais de outras nacionalidades e, caso necessário, o Brasil pagaria, à parte, pelos serviços à empresa cubana de saúde. Cuba aumentou em pouco mais de 200 dólares o repasse, além de pagar a totalidade da remuneração no Brasil, como já foi dito acima. Mas independentemente disso, a questão da remuneração dos médicos cubanos do programa em centros urbanos como São Paulo, Rio e Brasília terá que ser repensada por conta do custo de vida elevado.

Por fim, Janos lembra que o desafio é grande não é só financeiro. E vai levar tempo para ser vencido: “Temos uma massa amorfa de médicos no Brasil, não temos um grupo de médicos organizado para que dê conta de toda a população. A vinda dos cubanos tem um potencial transformador porque eles estão entrando em um lugar em que existe uma falta importante. Não acho que isso seja a única coisa que deva ser feita, é uma ação emergencial, mas que tem o potencial de mudar o entendimento da população em geral sobre o que é ter um sistema de saúde”.

12 Apr 12:01

Jandira Feghali ameaçada de morte; Polícia Federal inicia investigação

by Conceição Lemes

POLÍCIA FEDERAL DÁ INÍCIO A INVESTIGAÇÃO SOBRE AMEAÇA DE MORTE CONTRA BANCADA COMUNISTA

da assessoria de imprensa da deputada Jandira Feghali, via e-mail

A líder da bancada do PCdoB na Câmara, deputada Jandira Feghali (RJ), junto do deputado Protógenes Queiroz (SP), protocolou hoje (10) três requerimentos de investigação na superintendência da Polícia Federal, em Brasília. Os documentos fazem menção a mais de 20 ameaças de morte à parlamentar e outros deputados comunistas registrados nas últimas três semanas.

Recentemente, Jandira entrou no alvo de grupos ultraconservadores organizados em redes sociais e fóruns na internet, que enviaram ameaças por mensagens privadas e e-mail, inclusive ameaçando o perímetro domiciliar: “Identificamos que os IP’s dos usuários se repetiam em perfis diferentes e com origem apócrifa. Também tive informações sobre rondas na minha casa, acendendo o alerta de que deveríamos nos precaver e garantir a segurança de minha família”, argumentou.

As ameaças tiveram ápice de agressividade depois que a líder do PCdoB agiu politicamente no aniversário do Golpe de 50 anos: “Fomos autores de projetos, por exemplo, que revisa a Lei da Anistia, garantindo a prisão de criminosos do Regime Militar, assim como o pedido de tornar ilegítimos os mandatos dos presidentes militares. Esse grupo reacionário se sentiu extremamente incomodado e passou a apelar desta forma. Contudo, eles precisarão responder na Justiça quando tiverem suas identidades reveladas”, apontou Jandira Feghali.

O superintendente da PF, Wesley Soares, deu início ao processo junto à seção de crimes cibernéticos do órgão: “A polícia tem capacidade de identificar de onde partem as ameaças e dar prosseguimento aos processos judiciais em casos que tipifiquem o crime apontado. Não é difícil chegar a estes usuários”, explicou.

 Leia também:

O procurador Janot e o discurso de ódio de Sheherazade

PCdoB quer cortar dinheiro público para o SBT de Sheherazade

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12 Apr 01:41

O céu que nos protege. Paul Bowles(via Marcio Effgen)



O céu que nos protege. Paul Bowles
(via Marcio Effgen)

05 Apr 00:34

Estudante da UNESP é chamada de macaca, preta e safada

by negrobelchior

O Estado

Estudantes protestaram na Unesp de Presidente Prudente (SP) em apoio à aluna Thais Evandra de Carvalho Telles dos Santos, vítima de racismo

PRESIDENTE PRUDENTE – A estudante Thais Evandra de Carvalho Telles dos Santos, de 26 anos, registrou um boletim de ocorrência por injúria após ter sido vítima de racismo. Nesta quinta-feira, 4, ao entrar no banheiro feminino da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente (SP), onde estuda, encontrou a mensagem: “Thais Telles, preta, safada, macaca”.

Colegas da universitária repudiaram o insulto e protestaram com batucada, exibindo faixas com frases contra o racismo. “Por uma Unesp livre do racismo” e “com quanto racismo e machismo se faz uma Geografia cinco estrelas”, diziam as mensagens dos estudantes que, como Thais, cursam Geografia. Com a manifestação, aulas do curso foram paralisadas.

A Delegacia da Mulher vai investigar o caso, que repercutiu nas redes sociais. A aluna recebeu apoio e também se manifestou afirmando que o que aconteceu com ela “é apenas uma amostra grátis da sociedade brasileira”.

Thais tem atuação destacada na Unesp. Ela é integrante do Coletivo Mãos Negras, criado em novembro do ano passado, que discute a valorização do negro e da cultura. A estudante morava em São Paulo e veio para Presidente Prudente em 2011.

Inadmissível. A diretoria da Unesp também se manifestou e afirmou que vai investigar o caso de racismo, que considera “inadmissível”. A universidade condenou qualquer tipo de preconceito e discriminação no meio estudantil.

 

 

Lei contra o Racismo

29 Mar 00:53

paolaneyhaus: <3

23 Mar 23:44

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23 Mar 23:39

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17 Mar 15:10

Nem a Folha aguenta o jornalixo de Veja

by mariafro

Nem a Folha dá conta do jornalixo da Veja, Ricardo Melo, na Folha de hoje critica a reporcagem da Veja.

Por sugestão de Adriano Diogo.

A fixação do jornalixo de Veja por Dirceu e o PT nem Freud explica, mas a política explica.

 O linchamento de José Dirceu

Por: Ricardo Melo, Folha

17/03/2014

Irritados com o que consideram manipulação da mídia, vários interlocutores afirmam ter deixado de ler a publicação x ou y. Trata-se de um luxo vedado a jornalistas.

Concordando ou discordando, somos permanentemente obrigados a passar os olhos, que seja, pelo maior número possível de publicações. Até para poder comentar, criticar, elogiar ou simplesmente nos informar.

Ainda assim, é difícil encarar com naturalidade a cobertura dispensada a presos do chamado mensalão. Sim, é dela mesma que eu falo: da reportagem de capa da revista de maior circulação nacional sobre a vida na cadeia do ex-ministro José Dirceu e outros condenados.

Com um tom acusatório, a revista brinda os seus leitores com frases do tipo: “Lá ele [José Dirceu] gasta o tempo em animadas conversas, especialmente com seus companheiros do mensalão [....] só interrompe as sessões de leitura para receber visitas, muitas delas fora do horário regulamentar e sem registro oficial algum, e para fazer suas refeições, especialmente preparadas para ele e os comparsas. “O cardápio? ‘Aqui já teve até picanha e peixada feitas exclusivamente para eles’, conta um servidor”.

A lista de pretensas mordomias não tem fim, bem como o ridículo da reportagem. “Como o lugar fica longe dos olhos dos presos comuns, os mensaleiros podem desfrutar o tratamento especial sem que seus colegas de prisão reclamem. Dentro da cela, já foram recolhidos restos de lanche do McDonald’s”. Não, não escrevi errado. A transcrição está exata. Prova do tratamento diferenciado, especial, transgressor, ilegal dos presos estão “restos de lanche do McDonald’s”!

A coisa não fica por aí. “No banheiro, em vez da latrina encravada no chão, que os detentos chamam de ‘boi’, há um civilizado vaso sanitário.” A reportagem não esclarece se entre os privilégios está o uso de papel higiênico. Mas Dirceu não é o único alvo. Sobra também para o ex-deputado petista José Genoino. “Numa conversa entreouvida por um servidor, um médico que atendia Genoino revelou ter escutado do próprio petista a admissão de que deixara de tomar alguns remédios para provocar uma arritmia cardíaca e, assim, poder pleitear a prisão domiciliar.”

O sigilo de fontes é salvaguarda crucial para o trabalho dos jornalistas e geralmente é usado como ponto de partida de uma investigação. Deve ser defendido incondicionalmente. Isso não isenta o autor de medir a gravidade do que escreve. O malabarismo verbal costuma ser uma defesa antecipada de quem faz denúncias impactantes sem ter como prová-las. Exemplo: “Uma conversa entreouvida por um servidor” serve de base para acusar um preso de arriscar a própria vida para ter acesso a benefícios aos quais, por sua vez, já teria direito.

Tão espantoso quanto tudo isso é o fato de, em nenhum momento, a reportagem lembrar ao distinto público que José Dirceu está preso ilegalmente. Mérito do julgamento à parte, queira-se ou não, concorde-se ou não, o ex-ministro foi condenado ao regime semiaberto. Pois bem: desde que a sentença foi promulgada, Dirceu vive em regime fechado ao arrepio da lei. “Ah, mas ele come McDonald’s”…

Cinquenta anos depois do golpe de 1º de abril de 1964, paralelos surgem de todos os lados. Um governo com rótulo de popular, lideranças conservadoras insatisfeitas com tanto tempo longe do Planalto, uma nova derrota eleitoral se desenhando no horizonte. Há diferenças importantes, contudo. Algumas: no momento presente, não se fala da estatização de empresas, reforma agrária radical e ampliação de mecanismos de poder da população. Os donos do dinheiro não têm muito do que reclamar. Agora, ficar esperto não atrapalha ninguém. Nunca é bom dar sopa para o azar.

ricardo melo

Ricardo Melo, 58, é jornalista. Na Folha, foi editor de ‘Opinião’, editor da ‘Primeira Página’, editor-adjunto de ‘Mundo’, secretário-assistente de Redação e produtor-executivo do ‘TV Folha’, entre outras funções. Também foi chefe de Redação do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), editor-chefe do ‘Diário de S. Paulo’, do ‘Jornal da Band’ e do ‘Jornal da Globo’. Na juventude, foi um dos principais dirigentes do movimento estudantil ‘Liberdade e Luta’ (‘Libelu’), de orientação trotskista.

18 Feb 19:49

Rodrigo Vianna: No Brasil e na Venezuela, a guerra da desinformação

by Luiz Carlos Azenha

Black Bloc venezuelano, na concepção de Vitor Teixeira

A batalha da América Latina

Brasil e Venezuela: a guerra da informação

publicada domingo, 16/02/2014 às 21:16 e atualizada segunda-feira, 17/02/2014 às 14:00

por Rodrigo Vianna, em seu blog

São tristes, preocupantes, mas não chegam a surpreender as cenas de violência e confronto aberto na Venezuela. Nos últimos 6 anos, estive lá cinco vezes – sempre na função de jornalista. Há um clima permanente de conflagração.

As TVs privadas, com amplo apoio das classes médias e altas, tentaram dar um golpe em 2002 contra Hugo Chavez (sobre isso, há umdocumentário excelente – “A Revolução Não Será Televisionada”). Chavez resistiu ao golpe com apoio dos pobres de Caracas – que desceram os morros para apoiá-lo – e de setores legalistas do Exército. Desde então, o chavismo se organizou mais, criou uma rede de TVs públicas para se contrapor ao “terror midiático” (como dizem os chavistas), e se organizou  no PSUV (ainda que o Partido Comunista, também chavista, tenha preferido manter sua autonomia organizacional).

Jornais e meios de comunicação jamais tramaram golpes no Brasil com apoio da CIA…

É preciso lembrar que TVs e revistas brasileiras (Globo e Veja) comemoraram o golpe contra Chavez em 2002 – e se deram mal porque ele voltou ao poder 2 dias depois.

Nas ruas de Caracas, ano a ano, só senti o clima piorar. Confronto permanente. Acompanhei na região de Altamira, em Caracas, o ódio da classe média pelos chavistas. Com a câmera ligada, eles não se atrevem a tanto, mas em conversas informais surgiam sempre termos racistas para se referir a Chavez – que tinha feições indígenas, mestiças, num país desde sempre dominado por uma elite (branca) que controlava o petróleo.

O chavismo tinha e tem muitos problemas: dependia excessivamente da figura do “líder”, a gestão do Estado é defeituosa, há problemas concretos (coleta de lixo, segurança etc). Mas mesmo assim o chavismo significou tirar o petróleo das maõs da elite que quebrou o país nos anos 80. Além disso, enfrenta o boicote econômico permanente de uma burguesia que havia se apropriado da PDVSA (a gigante do Petróleo venezuelana).

O chavismo sobreviveu à morte de Chavez. O chavismo, está claro, não é uma “loucura populista” ou uma “invenção castrista” – como querem fazer crer certos comentaristas na imprensa brasileira. O chavismo é o resultado de contradições e lutas concretas do povo venezuelano – lutas que agora seguem sob o comando de Nicolas Maduro, que evidentemente não tem o mesmo carisma do líder original.

Vejo muita gente dizer que o “populismo” chavista quebrou a Venezuela. Esquecem-se que a economia venezuelana cambaleava muito antes de Chavez. Esquecem-se também que o tenente-coronel Hugo Chavez Frias não inventou a multidão nas ruas. A multidão é que inventou Chavez. A multidão precedeu Chavez. Em 89, o governo neoliberal de Andres Perez ameaçou subir as tarifas públicas – seguindo receituário do FMI. O povo foi pra rua, sem nenhuma liderança, noCaracazo (uma rebelião impressionante que tomou as ruas da capital).

O chavismo foi a resposta popular à barbárie liberal, foi uma tentativa de dar forma a essa insatisfação diante do receituário que vinha do Norte. Os responsáveis pela barbárie liberal tentam agora retomar o poder – com apoio dos velhos sócios do Norte. E nada disso surpreende…

O que assusta é o nível dos comentários sobre a Venezuela nos portais de notícia brasileiros.

Há pouco, eu lia uma postagem do “Opera Mundi” (sítio de esquerda, mas hospedado no UOL). Quem tiver estômago pode conferir as pérolas dos leitores… Resumo abaixo algumas delas:

– “A VENEZUELA SERÁ PALCO DA PRIMEIRA GUERRA CIVIL PLANEJADA PARA A TOMADA DO PODER COMUNISTA NA AMÉRICA LATINA.”

– “O chavismo conseguiu levar a Venezuela à falência. Um país sem papel higiênico e muita lambança comunista para limpar.”

– “Aquele pais virou um verdadeiro lixo, podia ser uma potencia de tanto petroleo que tem, mas o socialismo acabou com tudo. O que sobrou foi uma latrina gigante.”

– “Vai morar na Venezuela então , por mim os venezuelanos tem que matar o maduro.”

– “É fácil quando a eleição é manipulada. Maduro ganhou pq roubou a eleição como foi comprovado.”

Envenenados pela “Veja”, “Globo” e seus colunistas amestrados, esses leitores são incapazes de pensar por conta própria. Repetem chavões anticomunistas, e seriam capazes de implorar pela invasão da Venezuela pelos EUA.

Desconhecem a história da Venezuela pré-Chavez… Não sabem o que é a luta pela integração da América Latina – diariamente combatida pelos Estados Unidos.

Se Maduro sofrer um golpe, se os marines desembarcarem em Caracas, muitos brasileiros vão aplaudir e comemorar. Não são ricos, não são da “elite”. São pobres. Miseráveis, na verdade. Indigentes em formação. Vítimas da maior máquina de desinformação montada no Brasil: o consórcio midiático (Globo/Veja/Folha e sócios minoritários) que Dilma pretende enfrentar na base do “controle remoto”.

A América Latina pode virar, nos próximos anos, mais um laboratório das técnicas de ocupação imperialista adotadas no século XXI. Terror midiático, ataques generalizados à “política”, acompanhados de ações concretas de boicote e medo – sempre que isso for necessário.

Não é à toa que movimentos “anarquistas” e “contra o poder” tenham se espalhado justamente pelos países que de alguma forma se opõem aos interesses dos Estados Unidos.

O imperialismo não explica, claro, todos os problemas de Venezuela, Brasil, Argentina. Temos nossas mazelas, nossa história de desigualdade e iniquidade. Mas o imperialismo explica sim as seguidas tentativas de bloquear o desenvolvimento independente de nossos países.

A morte de Vargas no Brasil em 1954, a derrubada de Jacobo Arbenz na Guatemala no mesmo ano, e depois a sequência de golpes no Brasil, Uruguai, Argentina e Chile (anos 60 e 70) são exemplos desse bloqueio permanente. Não é “teoria conspiratória”. É a História, comprovada pelos documentos que mostram envolvimento direto da CIA e da Casa Branca nos golpes.

A Venezuela não precisou de golpes. Porque tinha uma elite absolutamente domesticada. Com Chavez, essa história mudou. A vitória de Chavez foi o começo da “virada” na América do Sul.

Os Estados Unidos e seus sócios locais empreendem agora um violento contra-ataque. Na Venezuela, trava-se nas ruas um combate tão importante quanto o que se vai travar nas urnas brasileiras em outubro. Duas batalhas da mesma guerra. E pelo que vemos e lemos por aí, o terror midiático fez seu trabalho de forma eficiente: há milhares de latino-americanos dispostos a trabalhar a favor da “reocupação”, da “recolonização” de nossos países.

Por isso, essa é uma guerra que se trava nas ruas, nas urnas e também nos meio de Comunicação. Uma guerra pelo poder nunca deixa de ser também uma guerra pelos símbolos, uma guerra pela narrativa e pela informação.

Leia também:

FrancoAtirador: Como a Veja transformou Sininho em líder dos black blocs

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16 Feb 22:57

Uma história sobre Paulo César, o Tinga

by negrobelchior

De Douglas Belchior

Ainda sobre as manifestações racistas sofridas pelo jogador TINGA:

Paulo César, preto, filho de mãe trabalhadora empregada doméstica, moradores da Restinga, bairro pobre e mais populoso de Porto Alegre – RS. Ele poderia ter sido só mais uma vítima da violência policial ou  - se desse sorte, mais um trabalhador de serviços insalubres e mal remunerado, regra para os que se parecem com ele.

Mas o enorme talento nos pés o salvou. Mudou sua vida, até um determinado limite. Sua história é mais uma daquelas que parecem encomenda: fama e dinheiro não são capazes de resolver o problema do racismo no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo.

O relato emocionante dessa história foi feito pelo colega Daniel Cassol, do Blog Impedimento, direto de Porto Alegre.

Vale a pena conferir!

 

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Por Daniel Cassol, do BLOG Impedimento

A Restinga é um dos bairros mais populosos de Porto Alegre. O censo de 2010 indicava que sua população era de 51.560 moradores. Sua formação, a partir dos anos 60, tem a ver com a urbanização da cidade – e tem a ver também com exclusão social. Para abrir avenidas e solucionar os problemas de habitações insalubres, moradores das Vilas Theodora, Marítimos, Ilhota e Santa Luzia foram removidos para um novo bairro do extremo sul porto-alegrense, a 22 quilômetros da região central.

Foi na Restinga que dona Nadir criou seus quatro filhos com o salário de faxineira. Quando pegava o ônibus de manhã cedo, pensava: “Quando será que vou parar de trabalhar?” Numa tarde de 1997, seu filho Paulo César foi encontrá-la no serviço. Tinha 19 anos, estava acompanhado de uma equipe de televisão e vinha contar de seu primeiro salário como profissional: 2,5 mil reais.

Tinga já era uma revelação do time do Grêmio, aparecendo ao grande público com um golaço contra o Sport Recife. Diante do repórter Régis Rösing, chorou ao ver a mãe limpando chão.

- Já prometi pra ela que isso aí vai mudar, e vai mesmo, disse, deixando bem claro: “trabalhar não é vergonha pra ninguém”.

A vida da família mudou rapidamente, porque Tinga logo se tornaria um jogador importante para o Grêmio, ao ponto de sua torcida reproduzir, na arquibancada do Olímpico, o grito de guerra daEstado Maior da Restinga, uma das mais populares escolas de samba de Porto Alegre:

- Tinga, teu povo te ama!

Tinga mudou a condição de vida da família rapidamente, mas há outras coisas que demoram a mudar. Num jogo de 2001, Ronaldinho fez um gol pelo Grêmio e correu para abraçar Tinga no banco de reservas: “Esse gol é pra nós, que somos da vila”, disse, num episódio não registrado mas muito conhecido em Porto Alegre. Ser da vila e, principalmente, ter a pele bem escura, ainda representam um problema.

Carregando no nome o bairro onde nasceu e seu criou, Tinga é respeitado em todos os clubes por onde passou e é ídolo de vários deles. No Internacional, afirmar que foi bicampeão da Libertadores e autor do gol do título em 2006 é, na verdade, diminuir sua importância histórica na reconstrução do clube. Jogador de fibra, presente em todos os cantos do campo, pegador e goleador, Tinga foi um dos jogadores mais importantes do Inter no período entre 2005 e 2006. No Borussia, da Alemanha, a reverência e o respeito com que dirigentes, torcedores e companheiros se despediram em 2010 é a melhor prova da trajetória que construiu.

Tinga sempre foi um jogador sério, dentro e fora de campo. Um treinador do Internacional disse certa vez que Tinga puxava os companheiros pelo exemplo, dedicando-se nos treinos e nas partidas como se estivesse em início de carreira. No Cruzeiro, o técnico Marcelo de Oliveira afirmou que o jogador era referência para os mais jovens do grupo. Foi assim em todos os clubes.

Nada disso, porém, foi suficiente para mudar o preconceito, que nos estádios de futebol emerge na vazão dos sentimentos levianos que expomos quando em multidão. Tinga, que em 2005 já havia ouvido imitações de macaco quando pegava na bola no estádio Alfredo Jaconi, teve de ouvir a ofensa mais uma vez na noite desta quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014, no Estadio de Huancayo, no Peru.

Ao final do jogo entre Cruzeiro e Real Garcilaso, uma equipe de TV pediu que Tinga comentasse o episódio. Ele tomou ar, respirou o ar da Restinga, o cheiro do colo da mãe Nadir, os golaços que fez, os títulos que conquistou, o respeito que adquiriu no futebol, todas as entrevistas ponderadas e inteligentes que deu ao longo da carreira, e disse com a serenidade e a altivez dos grandes:

- Se pudesse não ganhar nada e ganhar esse título contra o preconceito, eu trocaria todos meus títulos por igualdade em todos os lugares, todas as áreas, todas as classes.

Não precisa nos dar mais nada em troca, Tinga. Teu exemplo é o suficiente.

Daniel Cassol

15 Feb 22:50

Bandeira de Mello pede o impeachment de Barbosa e Gilmar

by Miguel do Rosário

Ah, quem dera que isso acontecesse! Mas receio que Bandeira de Mello tenha razão: a grande mídia conservadora ainda é muito poderosa, e uma ação de impeachment de Barbosa teria dificuldade de prosperar porque contaria com uma oposição ferocíssima dos meios de comunicação.

O dia que Barbosa sair do Supremo, a parte do Brasil que não sofreu lavagem cerebral da Globo irá sair em festa pelas ruas. Só de pensar que essa besta fera pode permanecer à frente da mais alta corte do país durante todo o processo eleitoral, tenho calafrios.

*

Bandeira de Mello ao 247: “impeachment faria bem”

247 – O jurista Celso Bandeira de Mello, um dos mais respeitados do País, está estarrecido com as atitudes recentes de dois ministros do Supremo Tribunal Federal: Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Ambos, na sua visão, estão desmoralizando o Poder Judiciário e mereceriam até sofrer processos de impeachment. “Serviria de alerta a comportamentos extravagantes numa suprema corte”, diz ele, em entrevista exclusiva ao 247.

Bandeira de Mello, no entanto, duvida que iniciativas nessa direção prosperem. “A chance seria de um em um zilhão, porque, infelizmente, quem governa o Brasil ainda é a grande mídia conservadora”. A prova concreta seria o julgamento da Ação Penal 470, onde o comportamento dos ministros foi pautado pela agenda e pelos interesses políticos desses grupos. “O STF foi apenas a longa manus dos meios de comunicação”, diz ele. Como um pedido de impeachment teria que transitar pelo Senado, a chance seria remotíssima.

Bandeira de Mello ficou chocado com atitudes recentes dos dois ministros mais polêmicos do STF. No caso de Gilmar, o que o incomodou foi a contestação da vaquinha feita por militantes do PT a réus como José Genoino e Delúbio Soares. “Uma das primeiras coisas que um juiz aprende é que só se fala nos autos, até para que opiniões publicadas não comprometam a isenção, a sobriedade e a equidistância em julgamentos futuros”, afirma. “Gilmar não apenas fala, mas age como um político”.

O jurista diz ainda que, ao enviar uma carta irônica ao senador Eduardo Suplicy, sugerindo que o PT devolvesse R$ 100 milhões ao País, Gilmar “desbordou”. “Agiu muito mal e de maneira muito distante do que se espera de um juiz”. Em tese, ele deveria até ser declarado suspeito no julgamento dos embargos infringentes, em que estarão sendo julgados direitos de réus como o próprio Delúbio.

Sobre Joaquim Barbosa, Bandeira de Mello diz ser mais “indulgente”, até porque a própria mídia estaria a cobrar uma definição sobre se ele seguirá ou não por um caminho político. Mas afirma que ele não é juiz. “Seu comportamento é de evidente perseguição a alguns réus, especialmente ao ex-ministro José Dirceu”, afirma. Segundo Bandeira de Mello, ao revogar uma decisão anterior de Ricardo Lewandowski e ignorar a recomendação do Ministério Público para que José Dirceu pudesse trabalhar, Barbosa agiu “de maneira muito estranha para um magistrado”. “Como pode um juiz, presidente de uma suprema corte, suprimir direitos e garantias de um cidadão brasileiro?”, questiona.

Bandeira de Mello avalia que Barbosa se encantou pelos elogios de parte da grande imprensa, que o trata como herói. “A grande imprensa no Brasil representa os interesses mais conservadores e tem ainda o papel de domesticadora das classes populares”, afirma.

Embora diga nunca ter presenciado uma degradação institucional tão profunda no Brasil, com a desmoralização completa do Poder Judiciário – mais “no meio jurídico do que na mídia” –, ele aposta que o País poderá sair do atoleiro. “Tudo dependerá das próximas nomeações”.

Bandeira de Mello afirma que a presidente Dilma Rousseff acertou na escolha dos ministros Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso. Diz ainda que outros que já estiveram no STF, mas votavam de modo conservador, como Cezar Peluso, eram juízes – o que não seria o caso, segundo Bandeira de Mello, dos “políticos” Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. “Com nomeações acertadas no futuro, o supremo poderá restaurar sua dignidade”, diz o jurista.

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08 Feb 22:23

Gilmar e seus escândalos

by Miguel do Rosário

Estou em estado de choque com essa lembrança do Tijolaço. Agora a gente entende porque inventaram o mensalão. O escândalo serve para acobertar todas as falcatruas protagonizadas pelos protegidos da mídia. Enquanto a população é bombardeada com páginas e páginas sobre Pizzolato, informada sobre se ele comia espaguete al sugo, carbonara ou bolonhesa, ninguém fala nada de Gilmar Mendes, o “vigilante de doações”.

Fernando Brito inicia o post com um comentário melancólico, explicando que não tem muita esperança de que o ministro será devidamente investigado pelo Conselho Nacional de Justiça, por esse escândalo recente envolvendo o tribunal da bahia, que contratou o IDP, de Gilmar, sem licitação, por R$ 12 milhões.  O desalento de Brito tem uma razão:  Gilmar já esteve envolvido em outra denúncia cabeluda e não aconteceu nada. Ele integra o rol dos “intocáveis”. 

Confira esse trecho de denúncia (cuja íntegra está aqui) feita pelo Procurador Luíz Francisco de Souza contra Gilmar Mendes, em 2002. É estarrecedor, sobretudo se pensarmos que a ação foi extinta, e a imprensa jamais disse nada. Bem, talvez agora com a blogosfera em cima, o MP seja um pouco mais combativo. Ou será que o MP só funciona movido a reportagens da Globo?

*

A AGU efetuou, com o conhecimento e a anuência tácita do Dr. Gilmar, 451 ( quatrocentos e cinqüenta e um) contratos informais ímprobos, com a empresa do próprio Dr. Gilmar, locupletando-o, enriquecendo-o ilicitamente. Os responsáveis por tais despesas eram membros da AGU, subordinados ao Dr. Gilmar e dependentes do mesmo para manterem cargos de chefia e funções gratificadas ( DAS etc).

O primeiro réu, Dr. Gilmar, permitiu que seus subordinados usassem o poder da entidade e do órgão que dirigia para beneficiar-se, para que sua empresa obtivesse, ilicitamente, receitas e lucros, recursos oriundos da AGU. Beneficiou-se com 451 contratos ilícitos, cada um destes, um ato de improbidade.

O Dr. Gilmar, com a ajuda do Dr. Barletta, permitiu e/ou promoveu contratações informais e pagamentos irregulares e ímprobos, efetuados pela AGU, por serviços do Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP Ltda., empresa pertencente ao Dr. Gilmar Ferreira Mendes, contrariando o artigo 9º da Lei de Licitação (que proíbe ao dirigente de órgão ou servidor contratar, direta ou indiretamente, com o órgão onde trabalha ou dirige), violando também vários artigos da Lei de improbidade administrativa, na medida em que ele era ao mesmo tempo Ministro de Estado Titular da Advocacia-Geral da União e professor e sócio do referido instituto, que é uma empresa privada que visa lucros.

Além disso, o Dr. Gilmar lecionava em sua própria empresa, no horário de trabalho, e permitia a liberação de subordinados para assistirem as aulas em sua empresa, no horário do trabalho, ganhando, destarte, pró-labores indevidos e ainda fazendo atividades privadas durante o expediente, onde teria que ter dedicação exclusiva.

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08 Feb 17:32

Menino negro é espancado e amarrado nu em poste na zona sul do Rio

by negrobelchior

Negro amarrado a poste

 

Por Douglas Belchior

 

Nu, orelha cortada com faca, marcas de espancamento no corpo, amarrado pelo pescoço em um poste na Avenida Rui Barbosa, no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Assim foi encontrado um adolescente negro, “acusado” de praticar furtos na zona sul carioca.

A situação foi relatada por Yvonne Bezerra, ativista de direitos humanos no Rio, através das redes sociais e teria ocorrido na noite da sexta-feira 31.

Depois de ter sido socorrido pelos bombeiros, que removeram a trava de bicicleta que o prendia, o adolescente contou ter sido abordado por três homens que se denominaram “Os Justiceiros” e usavam motos. Em nome da “justiça”, o trio espancou o jovem com uma facada na orelha. Depois, tiraram a sua roupa e o amarraram ao poste.

O Brasil mestiço e a carne mais barata do mercado

 

Poderia aqui discorrer sobre os vários significados da cena forte, inadmissível e ao mesmo tempo banal e naturalizada apresentada pela foto acima. Nossa realidade é tão perversa que não seria exagero dizer que esse adolescente “teve sorte”. Afinal, os grupos de extermínio aqui denominados “justiceiros” (quase sempre compostos por policiais e ex-policiais) não costumam ser tão bondosos. Seu modus operandi é outro: matar e, se possível, sumir com o corpo.

Não por acaso, é exatamente o perfil deste garoto, jovem e negro, o alvo prioritário da violência no país, em uma absurda proporção de 7 para cada 10 vítimas de assassinatos, conforme já relatei aqui diversas vezes.

Mas o sentimento de repulsa à naturalização racista da violência dirigida ao corpo negro foi mais bem relatado nos parágrafos que encontrei no BLOG do Controversias:

“Dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá. Enquanto o samba acontecia na Pedra do Sal, a poucos quilômetros dali, no bairro do Flamengo, puseram um negro nu preso pelo pescoço num pelourinho improvisado. Ele estava assaltando pessoas (ou foi o que disse quem publicou a foto). Pra servir de exemplo aos pretos ladrões. Recentemente, um caso semelhante aconteceu na praia.

Esse jovem não estava na Pedra do Sal ouvindo a alta poesia da música negra, tomando cerveja e conversando com seus amigos sobre o trabalho do mestrado porque tenha um delírio malévolo de assaltar pessoas, fruto de uma natureza mais maligna ou menos humana que qualquer pessoa, mas porque não existe espaço objetivo para dignidade e felicidade de todos no projeto capitalista, racista e violento de país que dirige o Brasil. Sem entender isso, não se entende nada e, facilmente, até mesmo sem perceber, se cai no colo dos fascistas.

Não existe vacina política histórica, nada está garantido e nada está assegurado; a humanidade se reinventa todos os dias. Repúdio absoluto e urgência de responder isso à altura. Não pode deixar naturalizar de jeito nenhum. Peço a todos que façam chegar a todas as organizações políticas, mandatos, movimentos e entidades democráticas de que tenham conhecimento.”

 

Leia também no Facebook da Carta Capital

 

03 Feb 19:43

Carta a D. André Gorz. pág. 18  (via Priscila Jardim)



Carta a D. André Gorz. pág. 18 
(via Priscila Jardim)

30 Jan 16:30

Photo



29 Jan 18:42

Lapa, Rio de Janeiro



Lapa, Rio de Janeiro

29 Jan 14:17

A jardineira

by Juliana Cunha

Existem pais que passaram toda a infância dos filhos fazendo promessas vazias sobre uma futura viagem à Disney que nunca se concretizou ou sobre um presente caro que eles sempre quiseram, mas que ficava além das posses familiares. Dizem que isso é muito bom para a formação da criança: ensina a lidar com as frustrações, ensina que na vida nem tudo é possível.

Quando eu era criança, um ônibus bonito, de janelas grandes e banquinhos que mais pareciam bancos de parque rodava os pontos turísticos de salvador. As pessoas chamavam aquilo de jardineira. Era um ônibus especial, com uma tarifa levemente acima da tarifa convencional e um trajeto um pouco fora de mão para os moradores já que o objetivo era apresentar a cidade e não levar do ponto A ao ponto B. Eu e minha irmã sempre quisemos andar nesse ônibus. Minha mãe prometia que um dia nos levaria, mas nós crescemos, o ônibus saiu de circulação e ela nunca levou. Minha mãe me negou não uma viagem à Disney, não o carrinho de Jorge Del Salto, mas um mísero passeio em um ônibus bonito.

Isso não apenas me ensinou que nem tudo é possível como me deu uma demonstração precoce da aleatoriedade dessas impossibilidades. O universo não lhe negará apenas aquilo que está distante de seus bracinhos curtos. No mais das vezes ele lhe negará coisas extremamente simples e plausíveis, coisas que foram feitas impossíveis só de brinks. O universo não lhe negará somente o que for muito caro ou muito longe ou muito difícil, ele lhe negará também o que é barato, simples e perto apenas porque ele é grande e você é pequeno, ele é o universo e você é você.

Creio que esse ensinamento tenha me dado grandes vantagens em relação aos meus pares que aprenderam apenas que algumas coisas são muito caras e papai não pode pagar.

Hoje, quando já tenho 26 anos e achava que minha educação estava completa, minha mãe me manda um Whatsapp dizendo que está passeando de jardineira pela primeira vez e se divertindo muito. (As jardineiras voltaram a circular há alguns anos). Pois hoje eu aprendi que o universo não apenas é aleatório em suas negações como às vezes ele também é escroto e te manda mensagens avisando que aquilo que era tão simples e lhe foi negado é mesmo excelente.

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20 Jan 23:46

Confio no seu amor, mas onde eu assino o contato?



Confio no seu amor, mas onde eu assino o contato?

19 Jan 17:13

A despedida dói tanto que o verbo partir só deveria ser...



A despedida dói tanto que o verbo partir só deveria ser conjugado se o sujeito voltar.

13 Jan 14:46

O que são os “rolezinhos”?

by Miguel do Rosário

Um texto para debater.

*

Por que a juventude pobre e negra das periferias de São Paulo está sendo criminalizada nos rolezinhos?

Os novos “vândalos” do Brasil

Por Eliane Brum, no El Pais (Via Diario do Centro do Mundo)

O Natal de 2013 ficará marcado como aquele em que o Brasil tratou garotos pobres, a maioria deles negros, como bandidos, por terem ousado se divertir nos shoppings onde a classe média faz as compras de fim de ano. Pelas redes sociais, centenas, às vezes milhares de jovens, combinavam o que chamam de “rolezinho”, em shopping próximos de suas comunidades, para “zoar, dar uns beijos, rolar umas paqueras” ou “tumultuar, pegar geral, se divertir, sem roubos”.

No sábado, 14, dezenas entraram no Shopping Internacional de Guarulhos, cantando refrões de funk da ostentação. Não roubaram, não destruíram, não portavam drogas, mas, mesmo assim, 23 deles foram levados até a delegacia, sem que nada justificasse a detenção.

Neste domingo, 22, no Shopping Interlagos, garotos foram revistados na chegada por um forte esquema policial: segundo a imprensa, uma base móvel e quatro camburões para a revista, outras quatro unidades da Polícia Militar, uma do GOE (Grupo de Operações Especiais) e cinco carros de segurança particular para montar guarda. Vários jovens foram “convidados” a se retirar do prédio, por exibirem uma aparência de funkeiros, como dois irmãos que empurravam o pai, amputado, numa cadeira de rodas.

De novo, nenhum furto foi registrado. No sábado, 21, a polícia, chamada pela administração do Shopping Campo Limpo, não constatou nenhum “tumulto”, mas viaturas da Força Tática e motos da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) permaneceram no estacionamento para inibir o rolezinho e policiais entraram no shopping com armas de balas de borracha e bombas de gás.

Se não há crime, por que a juventude pobre e negra das periferias da Grande São Paulo está sendo criminalizada?

Primeiro, por causa do passo para dentro. Os shoppings foram construídos para mantê-los do lado de fora e, de repente, eles ousaram superar a margem e entrar. E reivindicando algo transgressor para jovens negros e pobres, no imaginário nacional: divertir-se fora dos limites do gueto. E desejar objetos de consumo. Não geladeiras e TVs de tela plana, símbolos da chamada classe C ou “nova classe média”, parcela da população que ascendeu com a ampliação de renda no governo Lula, mas marcas de luxo, as grandes grifes internacionais, aqueles que se pretendem exclusivas para uma elite, em geral branca.

Antes, em 7 de dezembro, cerca de 6 mil jovens haviam ocupado o estacionamento do Shopping Metrô Itaquera, e também foram reprimidos. Vários rolezinhos foram marcados pelas redes sociais em diferentes shoppings da região metropolitana de São Paulo até o final de janeiro, mas, com medo da repressão, muitos têm sido cancelados. Seus organizadores, jovens que trabalham em serviços como o de office-boy e ajudante geral, temem perder o emprego ao serem detidos pela polícia por estarem onde supostamente não deveriam estar – numa lei não escrita, mas sempre cumprida no Brasil.

Seguranças dos shoppings foram orientados a monitorar qualquer jovem “suspeito” que esteja diante de uma vitrine, mesmo que sozinho, desejando óculos da Oakley ou tênis Mizuno, dois dos ícones dos funkeiros da ostentação. Às vésperas do Natal, o Brasil mostra a face deformada do seu racismo. E precisa encará-la, porque racismo, sim, é crime.

“Eita porra, que cheiro de maconha” foi o refrão cantado pelos jovens ao entrarem no Shopping Internacional de Guarulhos. O funk é de MC Daleste, que afirma no nome artístico a região onde nasceu e se criou, a zona leste, a mais pobre de São Paulo, aquela que todo o verão naufraga com as chuvas, por obras que os sucessivos governos sempre adiam, esmagando sonhos, soterrando casas, matando adultos e crianças. Daleste morreu assassinado em julho com um tiro no peito durante um show em Campinas – e assassinato é a primeira causa de morte dos jovens negros e pobres no Brasil, como os que ocuparam o Shopping Internacional de Guarulhos.

A polícia reprimiu, os lojistas fecharam as lojas, a clientela correu. Uma das frequentadores do shopping disse a frase-símbolo à repórter Laura Capriglione, na Folha de S. Paulo: “Tem de proibir este tipo de maloqueiro de entrar num lugar como este”. Nos dias que se seguiram, em diferentes sites de imprensa, leitores assim definiram os “rolezeiros”: “maloqueiros”, “bandidos”, “prostitutas” e “negros”. Negros emerge aqui como palavra de ofensa.

O funk da ostentação, surgido na Baixada Santista e Região Metropolitana de São Paulo nos últimos anos, evoca o consumo, o luxo, o dinheiro e o prazer que tudo isso dá. Em seus clipes, os MCs aparecem com correntes e anéis de ouro, vestidos com roupas de grife, em carros caros, cercado por mulheres com muita bunda e pouca roupa.

Diferentemente do núcleo duro do hip hop paulista dos ano 80 e 90, que negava o sistema, e também do movimento de literatura periférica e marginal que, no início dos anos 2000, defendia que, se é para consumir, que se compre as marcas produzidas pela periferia, para a periferia, o funk da ostentação coloca os jovens, ainda que para a maioria só pelo imaginário, em cenários até então reservados para a juventude branca das classes média e alta. Esta, talvez, seja a sua transgressão. Em seus clipes, os MCs têm vida de rico, com todos os signos dos ricos. Graças ao sucesso de seu funk nas comunidades, muitos MCs enriqueceram de fato e tiveram acesso ao mundo que celebravam.

Esta exaltação do luxo e do consumo, interpretada como adesão ao sistema, tornou o funk da ostentação desconfortável para uma parcela dos intelectuais brasileiros e mesmo para parte das lideranças culturais das periferias de São Paulo. Agora, os rolezinhos – e a repressão que se seguiu a eles – deram a esta vertente do funk uma marca de insurgência, celebrada nos últimos dias por vozes da esquerda. Ao ocupar os shoppings, a juventude pobre e negra das periferias não estava apenas se apropriando dos valores simbólicos, como já fazia pelas letras do funk da ostentação, mas também dos espaços físicos, o que marca uma diferença. E, para alguns setores da sociedade, adiciona um conteúdo perigoso àquele que já foi chamado de “funk do bem”.

A resposta violenta da administração dos shoppings, das autoridades públicas, da clientela e de parte da mídia demonstra que esses atores decodificaram a entrada da juventude das periferias nos shoppings como uma violência. Mas a violência era justamente o fato de não estarem lá para roubar, o único lugar em que se acostumaram a enxergar jovens negros e pobres. Então, como encaixá-los, em que lugar colocá-los?

Preferiram concluir que havia a intenção de furtar e destruir, o que era mais fácil de aceitar do que admitir que apenas queriam se divertir nos mesmos lugares da classe média, desejando os mesmo objetos de consumo que ela. Levaram uma parte dos rolezeiros para a delegacia. Ainda que tivessem de soltá-los logo depois, porque nada de fato havia para mantê-los ali, o ato já estigmatizou-os e assinalará suas vidas, como historicamente se fez com os negros e pobres no Brasil.

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Jefferson Luís, 20 anos, organizador do rolezinho do Shopping Internacional de Guarulhos, foi detido, é alvo de inquérito policial, sua mãe chorou e ele acabou cancelando outro rolezinho já marcado por medo de ser ainda mais massacrado. Ajudante geral de uma empresa, economizou um mês de salário para comprar a corrente dourada que ostenta no pescoço. Jefferson disse ao jornal O Globo: “Não seria um protesto, seria uma resposta à opressão. Não dá para ficar em casa trancado”.

Por esta subversão, ele não será perdoado. Os jovens negros e pobres das periferias de São Paulo, em vez de se contentarem em trabalhar na construção civil e em serviços subalternos das empresas de segunda a sexta, e ficar trancados em casas sem saneamento no fim de semana, querem também se divertir. Zoar, como dizem. A classe média até aceita que queiram pão, que queiram geladeira, sente-se mais incomodada quando lotam os aeroportos, mas se divertir – e nos shoppings? Mais uma frase de Jefferson Luiz: “Se eu tivesse um quarto só pra mim hoje já seria uma ostentação”. Ele divide um cômodo na periferia de Guarulhos com oito pessoas.

Neste Natal, os funkeiros da ostentação parecem ter virado os novos “vândalos”, como são chamados todos os manifestantes que, nos protestos, não se comportam dentro da etiqueta estabelecida pelas autoridades instituídas e por parte da mídia. Nas primeiras notícias da imprensa, o rolezinho do Shopping Internacional de Guarulhos foi tachado de “arrastão”. Mas não havia arrastão nenhum. O antropólogo Alexandre Barbosa Pereira faz uma provocação precisa: “Se fosse um grupo numeroso de jovens brancos de classe média, como aconteceu várias vezes, seria interpretado como um flash mob?”.

A ideia da imaginação como uma força criativa apresenta-se fortemente no funk ostentação.”

Por que os administradores dos shoppings, polícia, parte da mídia e clientela só conseguem enquadrar um grupo de jovens negros e pobres dentro de um shopping como “arrastão”? Há várias respostas possíveis. Pereira propõe uma bastante aguda: “Será que a classe média entende que os jovens estão ‘roubando’ o direito exclusivo de eles consumirem?”. Seria este o “roubo” imperdoável, que colocou as forças de repressão na porta dos shoppings, para impedir a entrada de garotos desarmados que queriam zoar, dar uns beijos e cobiçar seus objetos de desejo nas vitrines?

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07 Jan 19:29

The Auteurs of Christmas

by Cássia Pires

Como seria o Natal sob o ponto de vista de Steven Spielberg, Sergei Eisenstein, Wes Anderson, Woody Allen, Lars von Trier, Martin Scorsese, Michael Moore, Stanley Kubrick, Werner Herzog e Baz Luhrmann? Quem ama cinema, vai adorar o vídeo (e rir alto!).

Feliz Natal!

Fonte: Ana Maria Bahiana.


Arquivado em:Cinema
07 Jan 19:24

Ligue os Pontos: Poemas de Amor e Big Bang. Gregório Duvivier...

Lívia.

"Pois para ser feliz é preciso querer uma coisa só e saber deitar ao lado dela - quieto."



Ligue os Pontos: Poemas de Amor e Big Bang. Gregório Duvivier
(via Rafaela Siqueira)

06 Jan 23:31

Photo



06 Jan 00:12

Estrela da Vida Inteira. Manuel Bandeira. pág. 152



Estrela da Vida Inteira. Manuel Bandeira. pág. 152

04 Jan 15:58

http://tantoscliches.blogspot.com/2014/01/nao-tenho-um-post-de-retrospectiva.html

by noreply@blogger.com (Renata)
Não tenho um post de retrospectiva porque o blog inteiro é uma retrospectiva - e essa é a parte mais legal de ter blog e o motivo por que eu ainda tenho um, mas tenho desejos para 2014.

Eu adoro anos novos e desejo que o nosso ano novo seja cheio de sorrisos, nossos e para nós.

"Para onde eu vou, vai-me o coração também, que ainda não arranjei modo de o largar pelo chão." (de O filho de mil homens, do Valter Hugo Mãe)

Então, vamos com cuidado, que a gente tá carregando um coração, mas sem medo.

Feliz ano novo!
02 Dec 13:49

Novidades sobre o helicóptero do pó

by Miguel do Rosário

Dono do helicóptero do pó ganhou 3 contratos sem licitação de Aécio Neves

Por Miguel do Rosário, no Tijolaço.

Escrevo há uns quinze anos sobre política, de maneira quase ininterrupta, e tendo ideais progressistas, sempre fui crítico à grande imprensa brasileira. No entanto, nunca me deparei com um grau de degradação tão avassalador como vejo nos últimos dias. O Globo insiste nos “privilégios” dos presos petistas, sem refletir que, ao fazer esse tipo de campanha, contradiz a si mesmo. Afinal, que raio de privilégio é esse em ser achincalhado diariamente nos jornais, mesmo após estar preso injustamente?

Através do Globo, agora já sabemos os negócios de todos os familiares dos proprietários do hotel que empregará José Dirceu.

Enquanto isso,  a imprensa trata com inexplicável discrição aquele que pode ser o maior escândalo das últimas décadas, rivalizando até mesmo com o trensalão paulista.

O Ministério Público de Minas Gerais vai propor, nos próximos dias, uma Ação Civil Pública, para investigar repasses do governo do estado, na gestão de Aécio Neves, para a empresa Limeira Agropecuária e Participações Ltda, proprietária do helicóptero apreendido com meia tonelada de pó. Os repasses aconteceram em 2009, 2010 e 2011.

Achei reportagens do ano passado com informações sobre suspeitas do Ministério Público contra a Limeira, empresa dos Perrela. O MP apurava possível contratação irregular, sem licitação, pelo governo do estado, além de superfaturamento. A compra da fazenda Guará, avaliada em R$ 60 milhões, também estava sob a mira dos procuradores, visto que o bem havia sido ocultado pelo senador Zezé Perrela.

Hoje há uma matéria no Globo sobre o tema, mencionando as suspeitas do Ministério Público, mas sem chamada na primeira página e sem qualquer citação ao partido do governo do estado, e às relações quase íntimas entre os Perrela e o provável candidato do PSDB à presidência da república, Aécio Neves. A reportagem informa que o senador Zezé Perrela (PDT-MG) também pagou com sua verba de gabinete o combustível usado no famoso helicóptero. Zezé e Gustavo, pai e filho, estão cada vez mais enredados no caso.

O assunto não é interessante? Um possível presidente da república ser tão próximo de políticos suspeitos de serem grandes traficantes de cocaína não é do interesse da nossa imprensa “livre”, “independente”, “profissional”? Será que mais uma vez, os blogueiros terão que assumir a dianteira dessa investigação, com grande risco pessoal?

Perrela pai e Aécio Neves

Perrela pai e Aécio Neves

30 Nov 00:27

Jornalismo Wando e o suposto papo de piloto

by Luiz Carlos Azenha

A imprensa e o suposto caso de tráfico

Por Jornalismo Wando | Jornalismo Wando

A imprensa está sendo acusada de minimizar um suposto caso de tráfico internacional que supostamente envolveria parlamentares oposicionistas supostamente ligados a Aécio Neves. Até o insuspeito Zé Simão entrou na onda acusatória:
“se o helicóptero fosse de alguém do PT, seria abertura do Jornal Nacional”. Rarará!”

Pesquisei o assunto com cuidado e posso garantir aos meus leitores que trata-se do mais absoluto trololó. Vamos aos fatos: Gustavo Perrella, deputado estadual mineiro pelo Solidariedade e filho do senador Zezé Perrella, foi traído por um de seus melhores funcionários. Infelizmente, o empregado abusou da confiança – e vocês sabem como está complicada essa gente hoje em dia! – e foi flagrado usando o helicóptero particular de Perrella para transportar quase meia tonelada de pasta de cocaína.

A confiança que o deputado depositava no piloto era tanta que chegou a lhe empregar numa das empresas da família, além de indicá-lo para um cargo na Assembleia Legislativa de Minas. Lá ele ganhava um salário e uma ajuda de custo pra encher o tanque do possante voador de Perrelinha.

O deputado mineiro foi tão surpreendido com a barbaridade que estava sendo cometida em sua aeronave, que imediatamente acusou o piloto de outro crime: o roubo do helicóptero. Diante do desmentido do funcionário, Perrela subitamente lembrou que havia autorizado aquela viagem através de duas mensagens de celular, e então mudou sua versão. Admitiu que a aeronave não tinha sido roubada e confirmou a liberação do transporte de “insumos agrícolas”.

Bom, por que a acusação dirigida a nós da grande imprensa é injusta? Ora, com Dirceu, Delúbio e Genoíno presos, estádios da Copa desabando, e todo o caos político, econômico e social que vivemos, um caso desses automaticamente ganha menor importância. Um simples piloto que trafica drogas escondido do patrão não é e não deve ser um assunto do interesse público.

Eu e outros colegas da imprensa, por exemplo, mal estávamos “acompanhando esse caso”:

Entenderam por que não damos tanto destaque ao assunto? Isso é papo de piloto, uma pauta no máximo para o jornalismo especializado em aviação civil, não para quem cobre os acontecimentos políticos do dia a dia.

Perguntam também o que nos levou a abafar um suposto escândalo de 2011 envolvendo a família de Aécio Neves, apenas porque esta é intimamente ligada à família Perrella. Conto-lhes mais este trololó: Tancredo Aladin Rocha Tolentino, primo de Aécio, carinhosamente conhecido como “Quêdo”, foi preso por chefiar uma quadrilha acusada de vender absolvições para traficantes de drogas, além de ter sido condenado em 97 por crime contra o patrimônio e contra a economia popular. Quase na mesma época, outro primo de Aécio, Rogério Lanza Tolentino, havia sido condenado a 7 anos e 4 meses de prisão por lavagem de dinheiro. Todos esses assuntos não tiveram destaque no Jornal Nacional, não tocaram na CBN e não foram analisadas na A2 da Folha. Claro! As provas contra eles são escassas. Isso fica claro quando constatamos que Quêdo conseguiu um habeas corpus e, logo em seguida, tentou sair candidato à prefeitura de Claudio (MG) pelo PV, quando foi barrado pelo Ficha Limpa.

Poucos sabem, mas Quêdo é uma pessoa muito família, um cara do bem. Organiza as cavalgadas com familiares seus (e dos Perrella) em sua fazenda, comanda a cachaçaria da família Neves em Cláudio (MG) e sempre foi muito querido por todos da região. Quando Aécio caiu do cavalo quebrando 5 costelas, quem estava lá oferecendo o ombro amigo? Ele, o dono da fazenda, o primão Quêdo.

Mas o que o helicóptero de Perrellinha fazendo tráfico internacional* tem a ver com Aécio Neves, que indicou Zezé Perrella para o Senado e cujo primo vendia absolvição para traficantes de drogas? Absolutamente nada. Mas, claro, os patrulhadores da pauta alheia insistem em enxergar nuvens nesse céu de brigadeiro. Tudo isso para tirar foco do que realmente interessa: a prisão dos mensaleiros e os escândalos que a envolve. A gente sabe muito bem como se comporta essa gente chicaneira. #AcordaBrazil

* (atualização via @rei_lux) “Faltou informar que o helipóptero fez uma parada em Divinópolis, onde o primo Tancredinho (Quêdo) liberava traficantes.”

Leia também:

Plano de carreira na Assembleia de Minas

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30 Nov 00:18

Marcos Coimbra: Barbosa passou dos limites em seu desejo de vingança

by Conceição Lemes

Quem lida com pesquisa de opinião vê o aumento de eleitores que dizem odiar algo ou tudo na política

por Marcos Coimbra, em CartaCapital, encaminhada via e-mail por Julio Cesar Macedo Amorim

A figura de Joaquim Barbosa faz mal à cultura política brasileira. Muito já se falou a respeito de como o atual presidente do Supremo conduziu o julgamento da Ação Penal 470, a que trata do “mensalão”. Salvo os antipetistas radicais, que ficaram encantados com seu comportamento e o endeusaram, a maioria dos comentaristas o criticou.

Ao longo do processo, Barbosa nunca foi julgador, mas acusador. Desde a fase inicial, parecia considerar-se imbuído da missão de condenar e castigar os envolvidos a penas “exemplares”, como se estivesse no cumprimento de um desígnio de Deus. Nunca mostrou ter a dúvida necessária à aplicação equilibrada da lei. Ao contrário, revelou-se um homem de certezas inabaláveis, o pior tipo de magistrado.

Passou dos limites em seu desejo de vingança. Legitimou evidências tênues e admitiu provas amplamente questionáveis contra os acusados, inovou em matéria jurídica para prejudicá-los, foi criativo no estabelecimento de uma processualística que inibisse a defesa, usou as prerrogativas de relator do processo para constranger seus pares, aproveitou-se dos vínculos com grande parte da mídia para acuar quem o confrontasse.

Agora, depois da prisão dos condenados, foi ao extremo de destituir o juiz responsável pela execução das penas: parece achá-lo leniente. Queria dureza.

Barbosa é exemplo de algo inaceitável na democracia: o juiz que acha suficientes suas convicções. Que justifica sua ação por pretensa superioridade moral em relação aos outros. E que, ao se comportar dessa forma, autoriza qualquer um pegar o porrete (desde que se acredite “certo”).

Sua figura é negativa, também, por um segundo motivo.

Pense em ser candidato a Presidente da República ou não, Barbosa é um autêntico expoente de algo que cresceu nos últimos anos e que pode se tornar um grave problema em nossa sociedade: o sentimento de ódio na política.

Quem lida com pesquisas de opinião, particularmente as qualitativas, vê avolumar-se o contigente de eleitores que mostram odiar alguma coisa ou tudo na política. Não a simples desaprovação ou rejeição, o desgostar de alguém ou de um partido. Mas o ódio.

É fácil constatar a difusão do fenômeno na internet, particularmente nas redes sociais. Nas postagens a respeito do cotidiano da política, por exemplo sobre a prisão dos condenados no “mensalão”, a linguagem de muitos expressa intenso rancor: vontade de matar, destruir, exterminar. E o mais extraordinário é que esses indivíduos não estranham suas emoções, acham normal a violência.

Não se espantam, pois veem sentimentos iguais na televisão, leem editorialistas e comentaristas que se orgulham da boçalidade. Os odientos na sociedade reproduzem o ódio que consomem.

Isso não fazia parte relevante de nossa cultura política até outro dia. Certamente houve, mas não foi típico o ódio contra os militares na ditadura. Havia rejeição a José Sarney, mas ninguém queria matá-lo. Fernando Collor subiu e caiu sem ser odiado (talvez, apenas no confisco da poupança). Fernando Henrique Cardoso terminou seu governo reprovado por nove entre 10 brasileiros, enfrentou oposição, mas não a cólera de hoje.

O ódio que um pedaço da oposição sente atualmente nasce de onde? Da aversão (irracional) às mudanças que nossa sociedade experimentou de Lula para cá? Do temor (racional) que Dilma Rousseff vença a eleição de 2014? Da estupidez de acreditar que nasceram agora os problemas (como a corrupção) que inexistiam (ou eram “pequenos”)? Da necessidade de macaquear os porta-vozes do conservadorismo (como acontece com qualquer modismo)?

Barbosa é um dos principais responsáveis por essa onda que só faz crescer. Consolidou-se nesse posto nada honroso ao oferecer ao País o espetáculo do avião com os condenados do “mensalão” rumo a Brasília no dia 15 de novembro. Exibiu-o apenas para alimentar o ódio de alguns.

A terceira razão é que inventou para si uma imagem nociva à democracia. O papel que encena, de justiceiro implacável e ferrabrás dos corruptos, é profundamente antipedagógico.

Em um país tão marcado pelo personalismo, Barbosa apresenta-se como “encarnação do bem”, mais um santarrão que vem de fora da política para limpá-la. Serve apenas para confirmar equívocos autoritários e deseducar a respeito da vida democrática.

Leia também:

Banco do Brasil: Recuperar “desvios” do mensalão pode provocar reviravolta

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25 Oct 20:10

"AQUELA MULHER LUTOU MUITO PARA NÃO MORRER"

by lola aronovich
Estou sem tempo, mas não posso deixar de registrar essa notícia pavorosa. O crime, daqueles bem típicos que a mídia chama de "passional" -- em vez de chamar pelo nome correto, que é feminicídio -- aconteceu no dia 13 de outubro. 
Francisco das Chagas Filho, ou Alan Terceiro, como é conhecido, 47 anos, ex-vereador em Fortaleza pelo PTdoB, atual suplente, matou a facadas a ex-mulher, a pedagoga Andréia Jucá, 39 anos. O assassinato aconteceu dentro da casa, no bairro Rodolfo Teófilo, numa tranquila tarde de domingo.
Nada de novo no front: a estatística que conheço é que 28% das mulheres assassinadas são mortas dentro de casa, o que reforça a violência doméstica (entre os homens, este índice é de menos de 10%). Mas há estatísticas que dizem que 40% das vítimas de feminicídio morrem em casa. 
Faz um mês, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) lançou um estudo provando que a Lei Maria da Penha sozinha, sem a infraestrutura necessária, não é suficiente para conter os feminicídios. 15 mulheres continuam sendo mortas por dia no Brasil. São mais de 5 mil mortes por ano, 50 mil vítimas nos últimos dez anos. Essas mulheres são mortas por serem mulheres. Em 40% dos casos, o assassino é o companheiro (só 6% dos assassinatos de homens são cometidos pela companheira). 
Alan Terceiro e Andréia ficaram juntos durante 18 anos e tinham três filhos menores de idade. Haviam se separado um mês antes. Como tantos homens que veem a mulher como posse, Alan não aceitam a separação. Ele premeditou o crime: levou os três filhos ao shopping e depois voltou à casa, alegando ter esquecido a carteira. 
Andrea recebeu vinte golpes de faca. 
"Sou pessoa de bem e fui traído", disse o ex-vereador após ser preso em flagrante.
Como sempre, essa não foi a primeira agressão de Alan à mulher. As brigas eram frequentes. Segundo uma vizinha, “Numa das últimas brigas que eles tiveram, [Andréia] gritou muito por socorro. Os filhos deles estavam lá e houve muita quebradeira". 
Vizinhos chocados
Mas o que mais me chocou foi a notícia que saiu hoje, que mostra bem o desespero dos vizinhos naquela tarde. Andréia não foi morta passivamente. Ela lutou, gritou por socorro. A rua foi tomada por berros, e os vizinhos ligaram para o 190. A primeira ligação foi registrada às 14:14. A operadora escreve que há uma "briga de família" e uma "mulher gritando por socorro". Ela tenta mandar uma viatura pra lá, mas todas estão indisponíveis (embora haja um posto policial próximo daquela rua). 
A mesma vizinha liga de novo, e de novo (no total, foram cinco ligações só dela), dois minutos depois. Desta vez um operador registra: "solicitante pede, muito nervosa, uma viatura. Ela informa que a vizinha está gritando por socorro". Ele registra também que há outras ligações denunciando o mesmo crime em andamento. 
Numa dessas ligações, um outro vizinho alerta para "uma briga de casal próxima ao número 1190” e “pede uma viatura para local, pois o marido está batendo muito na mulher". Depois, para o jornal, o vizinho diz: “a covardia de Alan Terceiro transformou aquele domingo quieto num dia de terror. Aquela mulher lutou muito para não morrer”.
A vizinha que ligou cinco vezes para o 190 sai gritando pela rua. 
Só depois do silêncio na casa de Andréia, os vizinhos decidem arrombar a porta. A polícia chega a tempo de impedir que Alan seja linchado.
A Segurança Pública alega que levou 23 minutos para chegar ao local. Segundo os vizinhos, foi mais de 40. 
Até quando?

E isso que o Ceará é um dos estados que matam menos mulheres... Ele está na 7a posição entre estados com a menor taxa de femicídios. São "apenas" 5,26 mulheres mortas por cada grupo de 100 mil. No Brasil, uma mulher é morta a cada hora e meia. 19% das mortes acontecem no domingo.
27 Sep 14:52

"Vou-me embora pra Pasárgada." Rua 11, Passaré, Fortaleza-CE



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