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01 Aug 01:01

Experimento prova que julgamos os livros pelas capas [?]

by literatortura

Por Gustavo Magnani,

uma matéria bastante interessante e curiosa. Vamos lá:

Você provavelmente já ouviu falar de Cinquenta Tons de Cinza, o romance erótico que virou um tremendo sucesso do dia para a noite.

Apesar de tanta gente ler (e gostar) do livro, nem todos os críticos ficaram impressionados com a qualidade da sua escrita. Ainda assim, é um declarado best-seller que conseguiu arrastar outras literaturas eróticas ao topo com ele.

Brian Brushwood e Justin Young, anfitriões do NSFW Podcast, notaram essa tendência enquanto Brian estava tentando vender seu livro sobre truques de mágica, “Scam School Book 2: Fire”.

Olhando para o gráfico do iTunes, eles perceberam que o top 10 de livros mais vendidos era formado inteiramente por ficção erótica.

A primeira coisa que pensaram? “Nós poderíamos fazer isso”. E é assim que um experimento inteligente começou.

Eles pediram para seus ouvintes enviá-los capítulos do livro, com um personagem principal e muitas cenas de sexo mal escritas. Entã,o eles reuniram os capítulos, criaram uma capa muito parecida com a de Cinquenta Tons de Cinza, atribuíram o livro a uma escritora ficcional (Patricia Harkins-Bradley), e o postaram no iTunes por 0.99dólares (cerca de R$ 2).

Eles pediram a seus leitores para comprá-lo, e assim empurrá-lo um pouco nos gráficos, e aguardaram. Intitulado “The Diamond Club” (O clube do diamante, em português), o livro completamente escrito pela internet com um roteiro bagunçado e incoerente subiu para a 4ª posição de mais vendido no iTunes.

Por quê? Porque tinha uma capa inspirada em Cinquenta Tons de Cinza, personagens com trabalhos característicos que podem ser considerados “na moda”, como designer de cupcake, blogger, etc, e muito, mas muito sexo.

Isso é o suficiente para transformar um livro em um best-seller? Sim. Mesmo com as opiniões ruins de quem realmente leu o livro, só porque ele se parecia com qualquer outro romance erótico, vendeu como bala. Alegadamente, a dupla já ganhou mais de $20.000 (cerca de R$ 40 mil) com o romance.

Esta não é a primeira vez que algo do tipo aconteceu. Em 1969, 24 jornalistas escreveram um romance (Naked Came the Stranger) cheio de sexo com uma trama incoerente, má escrita, diálogo sem sentido e mais um pouco de sexo, só para provar o quão profundo a cultura literária americana tinha afundado. E nem precisou que a internet os ajudasse: o livro também se tornou um best-seller.[retirado de Hype Science]

*****

Diferente da matéria, não sei se isso prova, necessariamente, a questão da capa [a não ser que ela tenha um sentido mais amplo, e não tão literal]. Até porque, já vi especialistas falando sobre a importância da capa em e-book, afirmando que outras coisas chamam mais atenção. Ainda assim, é um experimento altamente válido que me intrigou muito. Lembrou-me, também, de um episódio de Family Guy, onde o Brian – o cachorro – escreveu um livro de autoajuda completamente insano, dando espaço para seus leitores escreverem dentro do livro quais eram seus sonhos etc etc etc. Tudo na brincadeira e na experimentação. Aconteceu, então, que a obra virou um best seller. Difícil não fazer a ligação.

O caso, ao meu ver, prova mais que somos altamente influenciados pelas modas que estão sendo ditadas, do que necessariamente pela capa. Foi todo um conjunto que influenciou os compradores do livro. Desde a capa, à trama, à venda crescente, ao título. O que, para mim, não desmerece o experimento. Pelo contrário, vai muito além do que talvez tenha sido proposto inicialmente.

Também praticamente deteriora um argumento bastante usado por leitores de determinados best sellers “se vendeu muito é porque tem algo de bom”. Quem acompanha o literatortura, sabe que não sou nem um pouco “elitista de livros” – adjetivação ao qual acho extremamente injusta, mesmo com aqueles que odeiam essas obras -, vejo pontos positivos em livros muito famosos como Crepúsculo e outros. Mas, também já evidenciei que, ao meu ver, os méritos literários de tais obras são bastante questionáveis, que nem por isso devem ser execradas e condenadas.

Esse é um dado científico bastante interessante de apresentar: Clube do Diamante, uma porcaria de livro, que só apresenta sexo e uma trama propositalmente confusa e ruim, vendeu muito. Claro, isso não prova, jamais, que todo best seller é uma porcaria. Mas também prova que “ser o mais vendido”, não significa, necessariamente, algo a mais. Apenas que a obra é a mais vendida. Diferente do que muitos gostam de afirmar, não existe nenhuma correlação absoluta entre qualidade e mais vendidos. Nem para baixo [livro ruim], nem para cima [livro bom]. Os fatores de serem mais vendidos vão muito além de um livro ser bom ou ruim. Ainda que, infelizmente, acredito – sem nenhuma pesquisa científica, ou dados técnicos – que a maioria dos livros das listas sejam bastante simplórios e rasos – o que é muito diferente de ter um história simples etc.

E vocês, o que acham? Também julgaram bastante curioso o experimento? Deixem seus comentários! Não esqueçam de curtir/compartilhar e, agora você pode votar no literatortura para TOPBLOG2012! [estamos no segundo turno \o/]. Muito obrigado.

O Literatortura foi para o segundo turno graças a vocês! Todos os votos são zerados, por isso, pode-se votar novamente. Vote no literatortura para TOPBLOG 2012: Mais informações clique aqui.

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Gustavo Magnani, estudante de Letras da UFPR, proprietário do literatortura.
Está revisando o primeiro livro, mas sente dificuldades hercúleas para escrever uma bio. [e, como pode-se notar, adora metalinguagem]

22 Jul 00:05

Úteros não são espaços públicos

by Iara

O aborto foi a bandeira feminista que tive mais dificuldade de abraçar. Desde muito nova eu reconhecia que a situação das mulheres neste mundo é de extrema desvantagem e que algo deveria ser feito a esse respeito. Sempre achei o aborto mais complicado. Mas uma vez entendendo do que se trata e aceitando essa causa como importantíssima e urgente, não consigo compreender um feminismo que não defenda a legalização do aborto como uma causa fundamental.

O meu trajeto em relação a este tema pode ser explicado pela naturalização da alienação das mulheres (falo neste momento pelas cissexuais, não sei como isso se dá com as mulheres e homens trans* exatamente) em relação ao corpo. É muito comum encontrar mulheres cissexuais que tem filhos, mas nunca usaram um espelho ver suas genitais. Ou que se apavoram com a possibilidade de usar algo tão comum quanto um absorvente interno (não estou dizendo que todas devem achar confortável, mas simplesmente que há mulheres pra quem a possibilidade de introduzir, por si mesmas, algo em suas vaginas, é impensável). Já ouvi conhecidas que, com vida sexual ativa, sequer entendiam como a uretra e a vagina “não são o mesmo buraco”.

Eu mesma, feminista, tive de me encher de coragem pra questionar o médico em quem eu confio sobre a necessidade de realizar um exame invasivo. Veja bem doutor, se eu fiz uma ultrassonografia transvaginal ano passado, se meu papanicolau está normal, se não tenho nenhuma queixa, preciso MESMO fazer outra ultrassonografia transvaginal este ano? É, Iara, tem razão, não precisa. Não era má vontade ou abuso dele, mas uma ideia de que, quantos mais exames, melhor, né? Quantas pacientes se queixam? Pois é, mas não precisava. Não fiz.

E onde tudo isso se relaciona com o aborto? Bom, estamos acostumadas a não decidir sobre nossos corpos. A achar que marido, Igreja, médicos, todo mundo pode decidir sobre eles com mais propriedade do que nós mesmas. E, sendo assim, porque se recusar a gerar um feto? Inclusive é comum ao defendermos o aborto ouvirmos o argumento de que sempre é possível entregar a criança para adoção.

Uma gravidez, por mais tranquila que seja, envolve desgaste físico, risco a saúde e impacto nas relações sociais. Sempre. Consequências estas que devem ser plenamente assumidas por mulheres (ou homens trans*) que assim o desejem.

Mas a dificuldade é sempre pensar que o feto é um ser humano em potencial. Que o aborto é um assassinato.

E aqui voltamos a alienação do corpo. As mulheres sempre abortaram. Não foi a medicina e muito menos o feminismo que inventaram o aborto. Até entre mulheres muito religiosas há quem já tenha tomado chá “pra descer a menstruação”. Porque olhem só, o desenho humanizado e quase autônomo do feto só existe em livros e em panfletos anti-aborto. Quando se tomava chazinho pra descer a menstruação o que saía não era um bebê mas.... sangue. Sim, havia um feto ali. Talvez perdido em alguém coágulo, como são comuns coágulos na menstruação.

A tecnologia médica moderna faz com que saibamos de uma gravidez ao primeiro atraso da menstruação. E isso é ótimo quando falamos em cuidar da saúde de quem gera. Mas péssimo quando se pretende elevar este feto a categoria de indivíduo. Sim, podem alegar que há outro DNA etc, etc. Mas ainda não existe tecnologia que possibilite a este feto sobreviver fora do organismo da ou do gestante [nota importante: sei muito bem que há tecnologia pra ajudar bebês nascidos muito prematuros, mas não estou falando aqui de bebês formados, mas de fetos ainda em desenvolvimento, com poucas semanas no útero].

Não existe individualmente este feto bem desenhadinho. Ele está lá, no útero de uma pessoa cujos os desejos não podem ser ignorados. Quando humanizamos um feto contra a vontade de quem o gera, estamos desumanizando esta pessoa. Estamos dizendo que, para todos os efeitos, nos próximos meses sua vida deve existir em função de seu útero.

Há quem diga que se trata de exatamente a mesma situação de um bebê nascido, o que não poderia ser falácia maior. Se sabemos que uma criança corre risco vivendo com a família, o que fazemos? Denunciamos à polícia, ao conselho tutelar, esperamos que ela seja protegida e afastada de quem lhe ameaça. Mas o que fazer com o nascituro? Veja bem, a segurança dele está, justamente, em um útero. Não há como apartá-lo desta possível “ameaça”, porque não se pode – ou melhor dizendo, não se deveria – legislar sobre o corpo de outrem.

Portanto eu entendo quem lamenta o aborto. Quem jamais o faria. Entendo quem tem desconforto com o tema. Olhem só: eu também me sinto desconfortável. Mas não se pode obrigar alguém a levar uma gravidez adiante - e isso eu não tenho desconforto algum em afirmar, pelo contrário. A legalização do aborto diz respeito a garantir a liberdade e a dignidade de quem quer ter autonomia do próprio corpo. Mesmo que essas decisões se choquem com os credos e opiniões de outrem. Mesmo que esta decisão não seja a minha ou a sua. Não importa. O que importa é que úteros não são espaços públicos e não deveríamos dar palpite sobre o que acontece dentro deles sem sermos convidados a fazê-lo.


Imagem: Campanha Internacional pelo Direito ao Aborto Seguro


PS: comentários eram moderados por motivos óbvios. E por motivos de não sei se vou ter internet no final de semana, não sei quando vão aparecer.


PS2: MAS É UM BEBÊ MAS É UM BEBÊ. Não tem bebê sem útero. De novo. NÃO TEM BEBÊ SEM ÚTERO. Que fique claro: não adianta tentar argumentos pra separar ambos. A gente só fala de coisas separadas quando houver viabilidade de existirem separadas. E tem útero sem feto, mas não tem feto sem útero. E tem pessoa sem útero, mas não tem útero sem pessoa que decide por ele. A pessoa decide pelo útero. Ficou claro? É hierárquico mesmo, ué. Já aviso: não insista, é perda de tempo.
07 Oct 03:33

Circenses

by Fábio Coala

05 Oct 11:41

Mentirinhas #337

by Fábio Coala
Brunna Nunes

bom dia :)

Quem disse que não existem palavras mágicas?