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09 Feb 23:37

Sim, a TV transmitia futebol em fevereiro de 1955

by Juca Kfouri

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Ao contar aqui que vi pela TV a decisão do Campeonato Paulista de 1954, o do IV Centenário, acontecida em 6 de fevereiro de 1955, houve quem pusesse em dúvida (alguns sem nenhuma educação) que, então, já fosse possível transmitir acontecimentos fora dos estúdios da televisão.

Minhas duas testemunhas, meus dois irmãos mais velhos, confirmam que vimos o jogo, mas temi ser uma alucinação coletiva, embora alguns comentaristas no blog também dessem conta de terem visto.

O pior é que o “Guia dos Curiosos”, de meu sério amigo Marcelo Duarte, informa que a primeira transmissão de um jogo de futebol na TV teria sido apenas em setembro de 1955, na Vila Belmiro, entre Santos e Palmeiras.

Pois não foi mesmo!

Aliás, nem sei qual foi, nem posso dizer que tenha sido o da decisão do IV Centenário.

Sílvio “Olho no Lance” Luiz, 80 anos, com quem acabo de falar, trabalhou como repórter de campo no jogo pela TV Record e confirma as participações de Raul Tabajara, o narrador, Iazetti (só não tem certeza se José ou Flávio Iazetti), o comentarista de arbitragem, e Paulo Planet Buarque, comentarista do jogo em si, ao lado de Leônidas da Silva, de quem minha memória não se lembrou.

Silvio Luiz acrescenta que o jogo da Vila Belmiro, citado no “Guia dos Curiosos”, foi o primeiro fora da capital paulista, transmitido pela TV Tupi, e informa que a Record já transmitia jogos antes do Corinthians x Palmeiras de fevereiro.

Diz ele que havia uma disputa entre a Record e a Tupi.

Como a primeira transmitia da capital, a segunda foi a Santos e anunciou: “TV Tupi, 80 quilômetros na frente”.

A Record então foi a Campinas e transmitiu um jogo de lá com a “Record 100 quilômetros na frente” e depois ao Rio de Janeiro, “400 quilômetros na frente”.

Estou esperando por mais depoimentos de quem se envolveu na transmissão do jogo de fevereiro.

Assim que os obtiver, acrescentarei à nota.

Ainda não estou delirando…

Veja abaixo, uma câmara da Record no Pacaembu.

Poderia, é claro, ser que qualquer outro jogo, mas confira AQUI que é do jogo em questão.

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E no livro de Celso Unzelte, “Timão 100 anos, 100 jogos, 100 ídolos”, você pode ler na página 75: “O jogo decisivo do Paulista de 1954, entre Palmeiras e Corinthians, foi transmitido ao vivo do Pacaembu para poucos aparelhos de televisão que existiam na época”.

(Gracias, Paulinho, pela pesquisa)

17 Jul 01:59

A tal da “elite branca”

by Juca Kfouri

Passada a correria da Copa do Mundo, será interessante retomar um tema que suscitou polêmica criada pelos que entendem tudo ao pé da letra ou são intelectualmente desonestos, raivosos, furibundos.

Interessa falar apenas aos primeiros, os do pé da letra, e é para estes que conto um episódio vivido num taxi, em Fortaleza, com um motorista pobre e negro que, inconformado com ameaças de manifestação antes de um jogo da Seleção Brasileira, dizia que os ativistas precisavam trabalhar mais e reclamar menos.

O motorista, embora pobre e negro, é um legítimo representante da elite branca, expressão usada pela primeira vez pelo ex-governador de São Paulo, o insuspeito, e também de honestidade inatacável, Cláudio Lembo, um político de centro.

Nestes dias em que Aécio Neves se diz à esquerda de Lula e Dilma, a quem chama de “direitistas”, é bom recuperar o que escreveu Francisco Bosco, em “O Globo”, no dia 26 de junho passado, para clarear conceitos e posições:

“O que me interessa aqui é me deter sobre a própria expressão. Pois não faltaram os que, compreensivelmente, questionaram a pertinência de seu sentido e suspeitaram de uma contradição entre ela e seu emprego por pessoas brancas de classe média ou alta. Diante do imbróglio, é necessário deslindar os fios.

Fazem parte da “elite branca” todos os sujeitos de grupos sociais privilegiados que denunciam difusamente as desigualdades do Brasil mas repudiam qualquer ato político real que as combata; todos os sujeitos incapazes de pensar e agir coletivamente, sempre colocando em primeiro, senão único lugar as suas vantagens pessoais; todos os sujeitos que, para dar um exemplo entre inúmeros possíveis, não apoiaram a greve dos vigilantes, que reivindicavam um piso salarial de pouco mais de R$ 1 mil (e R$ 20 de vale-refeição), diante dos bilhões de reais que os bancos lucraram no ano passado”.