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10 Feb 12:49

Quem é o ator que mais vezes interpretou um herói nos cinemas?

by Gustavo Giglio

Gráfico interessante de uma edição da revista Empire do ano passado.

1graficoHerois

28 Nov 17:13

Banco do Brasil: Recuperar “desvios” do mensalão pode provocar reviravolta

by Luiz Carlos Azenha


Vai aparecer a verdade sobre os R$ 73,8 milhões da Ação Penal 470?

por Paulo Moreira Leite, em seu blog

A iniciativa de tentar recuperar fundos supostamente desviados no mensalão pode ter uma função de esclarecimento, desde que se tenha a humildade de procurar fatos

A notícia de que o Banco do Brasil resolveu ir atrás dos recursos que teriam sido desviados para o esquema de Marcos Valério pode ser uma grande oportunidade para se passar a limpo um dos grandes mistérios da ação penal 470.

A condição é que se tenha serenidade para se esclarecer o que foi feito com o dinheiro, uma bolada de R$ 73,8 milhões, que, conforme o relator Joaquim Barbosa, foi desviada para subornar parlamentares e garantir a base de apoio do governo Lula no Congresso.

Essa iniciativa pode ter uma função de esclarecimento, desde que se tenha a humildade de procurar fatos, sem receio de descobrir que as provas que irão surgir podem sustentar aquilo que se diz – mas também podem desmentir tudo o que se falou até aqui e produzir uma visão inteiramente nova sobre o julgamento.

Pelos dados disponíveis até aqui, ocorre o seguinte. Ao contrário do que se disse no Tribunal, duas auditorias do Banco do Brasil não apontaram para os desvios de recursos, muito menos da ordem de R$ 74 milhões. No julgamento, essa constatação foi ignorada pelo Ministério Público, por Joaquim Barbosa e pela maioria dos juízes.

Eles mantiveram a acusação até o final e ela foi um dos pontos altos de todo o julgamento. O problema é que o desvio foi denunciado, mas não foi demonstrado nem explicado. Se este novo exame não apontar para um desvio, será possível sustentar que não houve crime. E se não houve crime, é preciso revisar o processo.

Quando se fala em ir atrás dos recursos, as pessoas podem pensar numa tarefa simples, uma cena de filme, em que os bravos homens da lei chegam ao esconderijo dos criminosos e pegam o dinheiro que teria sido desviado. Não é assim.

O total de R$ 73,8 milhões é apenas o resultado de uma somatória simples. Envolve a soma de recursos do Visanet que altos executivos do Banco do Brasil – Henrique Pizzolato foi apenas um deles – destinaram para campanhas da DNA entre 2003 e 2004. O pressuposto é que cada centavo enviado para a DNA pela Visanet serviu única e exclusivamente para fins escusos.

Essa tese se apoiou no depoimento de uma ex-gerente do núcleo de mídia do Banco do Brasil. Foi ela quem afirmou que as campanhas da DNA eram simples cobertura para os desvios e acusou Pizzolato, com quem não tinha relações diretas, de ser responsável pelos desmandos.

Embora tenha sido até mencionado no julgamento, este depoimento teve a credibilidade afetada quando a Polícia Federal encontrou, em sua conta, recursos de origem difícil de explicar. A ex-gerente teve seus 15 segundos de celebridade e depois sumiu dos jornais e revistas.

O problema real, no entanto, é outro. Uma má testemunha não basta para desmentir uma história – desde que seja verdadeira.

Os dados disponíveis, hoje, colocam em questão a simples ideia de que o esquema financeiro clandestino do PT tenha sido alimentado pelos cofres da Visanet, a multinacional que distribuía recursos para as instituições que usam a bandeira Visa – entre elas o Bradesco, além do Banco do Brasil – para promover seus cartões de crédito.

Existem dois levantamentos conhecidos sobre o destino desse dinheiro. Nenhum deles aponta desvios que chegariam perto de 100% dos recursos entregues, como sustentou-se no tribunal. Longe disso. O que estes levantamentos mostram é que a maioria, se não a totalidade, dos recursos destinados a eventos de publicidade foram consumidos nesta atividade.

Um levantamento do escritório Simonaggio Perícias, de São Paulo, chegou ao destino final de 85% dos gastos, e aponta que todo esse dinheiro foi gasto em campanhas de propaganda e eventos de propaganda para promover o cartão Ourocard.

Conforme o advogado Silvio Simonaggio, contratado pelos antigos proprietários da DNA, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, que já cumprem altas penas em função da ação penal 470, não foi possível chegar aos 15% restantes porque não se teve acesso à documentação que se encontra nos arquivos da empresa Visanet, hoje Cielo, no Banco do Brasil e no Instituto de Criminalística da Polícia Federal.

Claro que sempre se poderá desconfiar da opinião de um perito contratado por uma das partes, mas, além de impressões negativas, será necessário contrapor fatos consistentes para contestar o que estes peritos, de um escritório privado, afirmam.

Outro levantamento, feito pelo jornalista Raimundo Pereira, da revista Retrato do Brasil, aponta na mesma direção. A partir da declaração da Visanet para a Receita Federal, o trabalho mostra uma contabilidade coerente entre pagamentos e gastos. Também dá nomes a boa parte dos beneficiários dos recursos da DNA. Explica campanhas realizadas, eventos patrocinados.

Como é natural em campanhas de publicidade, muitos recursos foram entregues aos meios de comunicação, o que torna muito fácil verificar se eles foram desviados ou não – desde que as empresas indicadas tenham disposição de colaborar.

Apenas a TV Globo recebeu uma soma aproximada de R$ 5 milhões, quantia que, a ser verdadeira, já implica numa redução equivalente do total. Outras empresas de porte também receberam quantias de vulto, ainda que menores.

Há outro ponto a ser debatido. O STF, em sua determinação, deixa claro que considera o Banco do Brasil como verdadeiro proprietário dos recursos desviados. O problema é que uma auditoria do próprio banco, em 11 de janeiro de 2006, demonstrou o contrário.

Afirma-se, ali, que o regulamento que criou o Fundo de Incentivo Visanet, que pertence à multinacional Visa, estabelece com todas as letras que a empresa “sempre se manterá como legítima proprietária do Fundo, devendo os recursos serem destinados exclusivamente para ações de incentivo, não pertencendo os mesmos ao BB Banco de Investimento nem ao Banco do Brasil.”

Diz ainda a auditoria que “as despesas com as ações seriam pagas diretamente pelo Visanet” às agências de publicidade ou reembolsadas pelo incentivador.

Analisando ainda a operação de entrada e saída de recursos, onde seria possível imaginar a ocorrência de desvios, a auditoria afirma que “o Banco optou pela forma de pagamento direto, por intermédio da empresa fornecedora, sem trânsito dos recursos pelo BB.” (“Sintese do Trabalho de Auditoria,” ofício número 100/p).

*****

Laudo comprova legalidade de verba repassada à DNA Propaganda pela Visanet

A análise da documentação foi feita após as condenações de sócios pelo Supremo Tribunal Federal no escândalo do mensalão

Publicação: 14/08/2013 10:54, no Correio Braziliense

Laudo pericial, divulgado ontem pelo escritório Simonaggio Perícias, em São Paulo, atesta que 85,34% dos R$ 73,8 milhões repassados à DNA Propaganda pela Visanet, nos anos de 2003 e 2004, foram efetivamente empregados no pagamento de fornecedores para divulgação dos produtos do Banco do Brasil, como os cartões de débito e crédito com a bandeira Visa.

A conclusão foi possível com base na análise de 80% de toda a documentação, referente às transações, que foi recolhida pelos ex-sócios da DNA, por meio da Graffite Participações Ltda., Cristiano de Mello Paz e Ramon Hollerbach Cardoso, depois de suas condenações pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento no escândalo do mensalão.

De acordo com o laudo, o restante do valor referente a 15% do total do repasse não foi examinado porque depende da análise de outras centenas de documentos de posse da empresa Cielo, do Banco do Brasil e do Instituto de Criminalística Nacional.

Ontem, Cristiano Paz e Ramon Rollerbach informaram que já requisitaram o restante da papelada e esperam concluir e comprovar a lisura total das transações na próxima semana. Os publicitários, ao lado do advogado Sílvio Simonaggio, explicaram que o esforço é para tentar convencer o Supremo de que não houve desvio de recurso para pagamento de políticos da base aliada do governo em troca de apoio a projetos de seu interesse, conforme descrito na Ação Penal 470.

No processo, Cristiano Paz está condenado a 25 anos e seis meses de prisão e multa de R$ 2,5 milhões. Ramon, foi sentenciado em 29 anos e oito meses de prisão e multa de R$ 2,8 milhões.

Para comprovar a licitude da aplicação da verba, eles pretendem também convocar todos os fornecedores que se beneficiaram dos recursos para demonstrarem publicamente que aplicaram os recursos em benefício da Visanet.

Financeiro

Para elaborar o laudo, o advogado Sílvio Simonaggio explicou que não se deteve na análise contábil da DNA Propaganda, considerada inidônea em laudo da Polícia Federal. Diz que a análise foi financeira, identificando a “origem dos recursos da Companhia Brasileira de Meios de Pagamento (CBMP) — Visanet repassados pelo Banco do Brasil como fonte de pagamento e os pagamentos realizados pela DNA com base em autorizações do BB e em documentos emitidos pelos prestadores de serviço e fornecedores de bens”.

Dessa análise, se verificou que R$ 32 milhões, ou seja, 54,6% foram para pagamento de divulgação na mídia, e outros R$ 16,8 milhões destinados aos mais diversos patrocínios, entre eles de atletas, como o nadador César Cielo, o tenista Gustavo Kuerten e a jogadora de vôlei Shelda, além de patrocinar também encontro de magistrados em Salvador (BA) no valor de R$ 1,2 milhão, em 2004. Por ironia do destino, o evento foi aberto pelo então presidente do STF.

“Houve utilização adequada dos recursos pertencentes à CBPM e repassados à DNA, com base no limite dos documentos apresentados a exame. O somatório dos desembolsos comprovados e das receitas realizadas pela DNA por ordem do Banco do Brasil, com base em documentos comprovam pagamentos efetuados pela DNA a prestadores de serviços de propaganda e publicidade”, atesta o documento.

Em outro trecho, a perícia atesta também que havia vinculação entre os documentos analisados e as operações para fomento e divulgação de produtos da bandeira Visa.

Tanto Cristiano Paz quanto Ramon não conhecem os efeitos práticos que a conclusão da perícia possa causar no entendimento dos ministros do Supremo, que inicia hoje a análise dos embargos apresentados no processo do mensalão. No entanto, eles afirmam que tudo será encaminhado a seus advogados para estudo da melhor forma de uso das conclusões.

Todo o levantamento da documentação foi feito pelos publicitários que foram pessoalmente em busca de arquivo morto da DNA Propaganda, hoje extinta, e de ex-funcionários, entre os meses de janeiro até maio, quando o conjunto de documentos foi entregue à consultoria.

Os números:

Repasses Valor (em R$)

Nota técnica de 5 de maio de 2003 23,3 milhões
Nota técnica de 3 de novembro de 2003 6,4 milhões
Nota técnica de 20 de janeiro de 2004 35 milhões
Nota técnica de 11 de maio de 2004 9 milhões
Total 73,8 milhões

Valores desembolsados pela DNA (em R$)

Prestador/fornecedor 55,7 milhões
Impostos retidos 1,8 milhão
Comissão a outras agências 1,2 milhão
Total 58,7 milhões

Valores de receitas realizadas pela DNA (em R$)

Comissão de agência 2,8 milhões
Bônus de volume 1,3 milhão
Total 4,2 milhões

Trecho do laudo pericial: O somatório dos desembolsos comprovados e das receitas realizadas pela DNA por ordem do Banco do Brasil, com base em documentos, comprovam pagamentos efetuados pela DNA a prestadores de serviços de propaganda e publicidade.

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Abaixo, documentos recentemente divulgados no Megacidadania mostrando o contrato entre a TV Globo e a DNA, de Marcos Valério. 

O contrato sigiloso confirma que a Globo pagava à DNA de Marcos Valério o “BV”, o Bônus de Volume, que nunca poderia ser considerado dinheiro público e muito menos ter sido desviado, pois se trata de uma relação particular entre duas empresas privadas, a Rede Globo e a DNA. No entanto o STF condenou Pizzolato por este “crime”. Os valores pactuados pertenciam EXCLUSIVAMENTE à DNA e era VEDADO repassar qualquer quantia oriunda deste contrato ao Banco do Brasil. No item “GESTÃO” está bem definido que foi a própria Rede Globo quem instituiu o PROGRAMA (= bônus de volume).

A íntegra deste contrato está na AP 470 no STF conforme os carimbos nas imagens comprovam. Fica óbvio que se trata de relação estritamente PRIVADA entre a Rede Globo e a DNA, como de resto qualquer valor que PARTICULARES do segmento publicitário — por extensão — pactuem como BV, o bônus de volume, por exemplo agendas, brindes e etc.

Leia o que a Conceição Lemes escreveu a respeito (e ajude aqui a investigação dela):

1. “Segredo no inquérito 2474 vai na contramão da Lei de Transparência”

2. Barbosa não responde a perguntas sobre o inquérito 2474

3. STF ignora prova da inocência de Pizzolato no mensalão

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28 Nov 15:38

Assembleia de Minas pagou combustível de helicóptero de Perrella

by Luiz Carlos Azenha

PERRELLA

Combustível de helicóptero  é custeado pela Assembleia

Deputado usou verba indenizatória do Legislativo para abastecer aeronave apreendida com cocaína

PUBLICADO EM 28/11/13 – 04h00

TÂMARA TEIXEIRA, no jornal O Tempo, sugerido pelo José Henrique Cerqueira Mariani

A Assembleia Legislativa de Minas banca o combustível do helicóptero do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD), flagrado com 445 kg de pasta base de cocaína, no último domingo, no Espírito Santo. Entre janeiro e outubro deste ano, o parlamentar gastou R$ 14.071 com querosene para avião, segundo o relatório do Portal da Transparência do Legislativo. O Ministério Público de Minas informou que irá investigar o caso. A Casa ainda pagava, desde abril, o salário de R$ 1.700 para o piloto que dirigia a aeronave, Rogério Almeida, exonerado nessa terça.

O valor gasto só neste ano é suficiente para a compra de 2.814 litros, levando em consideração que o litro de querosene de avião custa R$ 5, segundo uma pesquisa da reportagem em empresas especializadas. Com o total seria possível percorrer, no mínimo, 6.500 quilômetros.

O deputado Gustavo Perrella confirmou ontem que utiliza a verba indenizatória para encher o tanque da aeronave Robinson R-66, que pertence à sua empresa Limeira Agropecuária e Participações Ltda. Perrella reconhece, inclusive, que usa a máquina para deslocamentos pessoais e da sua empresa, em sociedade com a irmã Carolina Perrella e o primo André Almeida Costa.

Os abastecimentos com recursos da verba indenizatória são regulares e só não aconteceram em fevereiro e abril deste ano. Em junho, por exemplo, o valor gasto chegou a R$ 3.483. Em julho, no recesso parlamentar, o deputado gastou R$ 1.547 em querosene de avião.

Por mês, cada parlamentar pode gastar R$ 5.000 com combustível e lubrificante. A assessoria da Casa afirmou ontem que o valor não poderia ser gasto com transporte aéreo, mas depois voltou atrás e disse que os pagamentos, desde que fossem para viagens a trabalho, eram legais.

Ministério Público. O promotor Eduardo Nepomuceno disse que há suspeita de irregularidade e que irá abrir uma investigação. “Os gastos só podem ser para uso do exercício do mandato. Lembro que o MP já investiga os gastos da mesma natureza referentes a Zezé Perrella (senador, pai de Gustavo) no período em que este foi deputado estadual”, explicou o promotor.

Gustavo Perrella afirma que não há irregularidade em abastecer o helicóptero de sua empresa com o dinheiro da Assembleia. “Todas as vezes que abasteci com a verba da Assembleia foi a trabalho, para visitar as minhas bases”, disse.

Além do transporte aéreo, o deputado não dispensa o uso de carros. Só neste ano, o abastecimento de seus veículos demandou R$ 27.185 da sua cota de verba indenizatória. A Assembleia não exige a comprovação das gastos. “Subentende-se que foi a trabalho”, disse a assessoria da Casa. (Com Larissa Arantes)

[Quer nos ajudar a ir fundo na investigação deste caso? Clique aqui]

[Gerson Carneiro pediu para conversar...]

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POLÍCIA FEDERAL

Contradições nos depoimentos

PUBLICADO EM 28/11/13 – 04h00

LUCAS PAVANELLI, no jornal O Tempo

O piloto do helicóptero da empresa do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD), Rogério Almeida Antunes, afirmou no depoimento à Polícia Federal do Espírito Santo (PF), na última segunda-feira, ao qual O TEMPO teve acesso, que sabia que transportava mercadoria “ilícita” na aeronave. A declaração é contrária ao que afirma seu advogado, Nicácio Tiradentes, que nega que seu cliente sabia do frete ilegal.

Além da versão contraditória entre piloto e advogado, Rogério e o copiloto Alexandre José de Oliveira Júnior também deram explicações diferentes à PF.

Rogério disse que foi “pressionado” pelo copiloto Alexandre José de Oliveira Júnior a aceitar o transporte e que receberia R$ 106 mil pelo frete, mais as despesas com o helicóptero.

Por sua vez, o copiloto afirmou que o valor do frete prometido a ele por um terceiro era de R$ 60 mil, que seria dividido com Rogério quando retornassem.

Alexandre negou que soubesse que a aeronave transportava droga, “pois o bagageiro estava trancado” quando ele entrou no helicóptero. No entanto, ele reconheceu que não é um “comportamento normal” aceitar qualquer tipo de frete sem saber o que é transportado.

Trajeto. Ainda de acordo com os depoimentos prestados na última segunda-feira à Polícia Federal, o piloto Rogério Antunes afirmou que os 445 kg de cocaína foram carregados em uma localidade próxima a Avaré, no interior paulista. A aeronave, segundo ele, fez duas paradas para abastecimento. No Campo de Marte, em São Paulo, e em Divinópolis, na região Centro-Oeste.

PS do Viomundo: Versão do piloto Rogério e do advogado dele não batem, como podemos ver aqui.

PS2 do Viomundo: Como escreveu um amigo de Facebook, o helicóptero é do Perrella, o piloto é do Perrella, a fazenda-destino é do Perrella, agora o combustível é do Perrella — mas a cocaína não tem dono.

Ouça também:

A entrevista com o advogado do piloto Rogério Almeida Antunes

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27 Nov 20:59

THE EVIL CLERGYMAN (1987)

by Felipe M. Guerra

(Esta postagem é dedicada ao Leo Dias, um dos maiores fãs de H.P. Lovecraft que eu conheço - se não o maior!)

Qual adaptação para o cinema de um conto de H.P. Lovecraft reúne os atores Jeffrey Combs, Barbara Crampton e David Gale, num roteiro de Dennis Paoli produzido pela Empire Pictures, de Charles Band? Bem, até 2012 só havia uma resposta possível: o clássico “Reanimator” (1985), de Stuart Gordon. Mas de 2012 em diante, a pergunta também pode ser respondida citando-se THE EVIL CLERGYMAN, um curta-metragem que reúne a mesma equipe talentosa de “Reanimator” já citada, apenas substituindo Stuart Gordon pelo produtor Charles Band na cadeira de diretor.

THE EVIL CLERGYMAN foi filmado entre 1987 e 88, mas só foi oficialmente finalizado e lançado 25 anos depois (!!!). Mais precisamente em 11 de agosto de 2012, quando o curta teve uma concorridíssima premiére na mostra Chicago Flashback Weekend, sendo depois lançado em DVD, em outubro do mesmo ano.


Para entender porque esta adaptação esquecida de H.P. Lovecraft passou 25 anos no limbo, é preciso fazer uma pequena viagem no tempo, de volta à década de 1980. Naqueles tempos, a Empire Pictures, de Charles Band, era garantia de produções divertidas feitas com pouco dinheiro, como o já citado “Reanimator”, e também “Do Além” (1986, também de Stuart Gordon), “Puppet Master / Bonecos da Morte” (1989, de David Schmoeller) e "Duro de Prender" (1988, de Renny Harlin), entre outros.

Embora sempre tenha investido uma merreca em seus filmes, a Empire enfrentava sérias dificuldades financeiras lá por 1987, quando THE EVIL CLERGYMAN começou a ser filmado. Assim, o produtor Band surgiu com um projeto arriscado: diminuir futuros longas que produziria para segmentos de meia hora, que iriam compor uma coletânea em longa-metragem chamada “Pulse Pounders”!

Anúncio da época destaca fim das filmagens de "Pulse Pounders"

Eu desconheço se realmente era mais barato filmar três curtas de meia hora, cada um com sua história e elenco independentes, do que três longas inteiros. Seja como for, o próprio Charles Band dirigiu os três segmentos sem relação entre si, sendo que apenas um deles era original (a adaptação de Lovecraft sobre a qual estamos falando), e os outros dois eram continuações de filmes populares da Empire, “Trancers” (que Band dirigiu em 1985) e “The Dungeonmaster” (1984, de vários diretores).

Dessa forma, “Pulse Pounders” era composto por THE EVIL CLERGYMAN, “Trancers 2 – The Return of Jack Deth” (com Tim Thomerson, Helen Hunt e Grace Zabriskie) e “The Dungeonmaster 2 - A Sorcerer's Nightmare” (com Jeffrey Byron e Richard Moll). A ideia em si é bem curiosa, e você pode pensar nesta coletânea como uma espécie de “Grindhouse”, aquele projeto fracassado de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, só que 20 anos antes (chupa, Tarantino! chupa, Rodriguez!).

Assim seria o pôster da coletânea "Pulse Pounders"

Enfim, os três filminhos de meia hora foram completados e Band já começava a divulgar sua antologia com o título “Pulse Pounders Volume 1”, comprovando que havia a intenção de produzir mais coletâneas no futuro, quem sabe até trazendo mini-sequências de meia hora para outros belos filmes da Empire Pictures, como “Metalstorm” ou “Patrulheiros do Espaço”, e quem sabe mais adaptações curtinhas de contos de Lovecraft.

Mas embora “Pulse Pounders” tenha sido anunciado e divulgado, inclusive com trailer em fitas da produtora (veja abaixo), a crise financeira da Empire Pictures decretou seu sepultamento: não demorou para a pequena empresa de Band ir à falência, e a prometida antologia acabou nunca sendo lançada. Pior: os negativos em 35mm foram extraviados no inferno que se desencadeia sempre que uma companhia fecha, e o projeto parecia perdido para sempre.


Trailer do nunca lançado "Pulse Pounders"


Pouco tempo depois, Charles Band abriu uma nova empresa, a Full Moon, e retomou diversos projetos antigos, com ainda menos grana e direto para o mercado de vídeo. Com “Pulse Pounders” perdido para sempre (ou ao menos assim se imaginava), o produtor resolveu dirigir até um novo “Trancers 2” em 1991, descartando completamente aquele curta filmado alguns anos antes.

Já “The Dungeonmaster 2” ficou perdido no limbo, enquanto outras adaptações baratas de contos de H.P. Lovecraft (como “Aprisionados pelo Medo”, de 1994, e “O Castelo Maldito”, de 1995) ajudaram a manter THE EVIL CLERGYMAN devidamente esquecido durante décadas.


Mas esta é uma história com final feliz, apesar de demorado: em 2011, Charles Band anunciou aos quatro ventos que encontrou uma velha fita VHS contendo a “workprint” (cópia de trabalho) de “Pulse Pounders”. Os negativos originais continuam perdidos, mas já era alguma coisa, considerando que muita gente aguardava para ver pelo menos um dos segmentos da coletânea há vinte e poucos anos!

Como bom espertalhão e comerciante que é, Band resolveu desmembrar “Pulse Pounders” e lançar os três curtas separadamente, um por ano, fazendo o possível e o impossível para dar-lhes um mínimo de restauração – já que, lembre-se, estamos falando de imagens capturadas de uma velha fita de vídeo, e sem música nem efeitos sonoros!


THE EVIL CLERGYMAN foi o primeiro episódio a ser lançado, considerando o grande culto que existe às velhas adaptações de Lovecraft produzidas pela Empire. E para este ano (2013) estava programada a estréia do “Trancers 2” bastardo, agora rebatizado “Trancers 1.5 – City of Lost Angels” por causa da existência da outra Parte 2! Já “The Dungeonmaster 2” deve ficar para 2014, a não ser que Band invente alguma das suas...

Bem, encerrada a aula de história, vamos ao que interessa: o que se pode dizer do mítico THE EVIL CLERGYMAN? Valeu a pena esperar 25 anos, ou seria melhor que o curta tivesse ficado perdido para sempre?


A resposta é simples: é óbvio que o que temos aqui não chega nem aos pés das adaptações mais clássicas de Lovecraft produzidas por Charles Band, como “Reanimator” e “Do Além”. Até porque o velho Charles não é nenhum Stuart Gordon. Mesmo assim, o resultado é bem acima da média. Talvez pela nostalgia de rever quase todo o time de “Reanimator” junto num outro filme inspirado em Lovecraft. Ou talvez pelo fato de as produções assinadas por Band hoje serem tão ruins que até os trabalhos menos expressivos da antiga Empire parecem bem melhores em comparação.

O conto homônimo que inspirou THE EVIL CLERGYMAN foi publicado no Brasil como “O Clérigo Diabólico” numa velha antologia de contos do autor chamada “A Tumba e Outras Histórias", lançada pela Francisco Alves Editora em 1991 (e republicado em 2007 no formato pocket pela  L&PM). Trata-se de um conto bem curto (apenas cinco páginas) que Lovecraft escreveu em 1933, mas só foi publicado em 1939, depois da morte do autor (que foi em 1937), na revista “Weird Talers”. (Você pode ler o conto completo, em inglês, clicando aqui)


A história original é até bem inexpressiva, narrada por um homem que visita uma velha casa e é atraído até o sótão. Ali, encontra um clérigo queimando velhos livros de magia negra na lareira. Outros religiosos, incluindo um bispo, aparecem para confrontar o “clérigo diabólico”, mas ele os confronta usando um objeto mágico que estava sobre a mesa.

Quando o próprio narrador é ameaçado pela diabólica figura, ele resolve utilizar o mesmo objeto para se livrar do clérigo. Mas, ao tentar fugir da casa, se olha num espelho e percebe que está diferente: o reflexo não é dele, mas sim do “clérigo diabólico”. E o conto termina assim: “Pelo resto da minha vida, exteriormente, eu seria aquele homem!”.


Nada muito inspirador, certo? Assim, não é de se espantar que o roteirista Dennis Paoli, o mesmo que escreveu diversas adaptações de Lovecraft para Stuart Gordon dirigir (de “Reanimator” a “Dagon”), tenha aproveitado bem pouco do conto ao escrever THE EVIL CLERGYMAN. E, mais uma vez, sexo e perversão são a mola-mestra da trama, a exemplo do que já havia acontecido em “Reanimator” e “Do Além”.

O narrador anônimo (e homem) do conto aqui foi transformado numa bela mulher, Said Brady, que obviamente é interpretada pela delícia da época Barbara Crampton (aquela mesma que quase foi estuprada por uma cabeça decepada em “Reanimator”). Ela vai visitar um velho castelo onde viveu e morreu um clérigo chamado Jonathan (Jeffrey Combs, o Dr. Herbert West de "Reanimator"), que não era exatamente um exemplo de pureza - lembre-se: ele é o “clérigo diabólico” do título!


Ocorre que Said e Jonathan foram amantes no passado. Ao saber da morte misteriosa do religioso, ocorrida há alguns dias, a garota resolve visitar o quarto onde ele vivia e onde ambos dividiram momentos de intimidade. Porém, no momento em que a moça fica sozinha no local, Jonathan reaparece. E não se trata de uma assombração, conforme ela irá confirmar por conta própria. No momento seguinte, os dois estão na cama “tirando o atraso”.

Pelos próximos vinte e poucos minutos, aparecem ainda um misterioso bispo (interpretado pelo excelente David Warner), que acusa Jonathan de assassinato, e uma bizarra criatura meio homem, meio rato (“interpretada” por David Gale, o Dr. Hill de “Reanimator”, aqui debaixo de carregada maquiagem). É quando Said começa a desconfiar das boas intenções do clérigo por quem se apaixonou...


Como se trata de um curta-metragem de 27 minutos, não dá para falar muito mais sobre THE EVIL CLERGYMAN para não estragar a surpresa. Mas, para quem já leu o conto original de Lovecraft, é bom salientar que quase tudo que se vê na tela saiu da mente do roteirista Paoli, e a única coisa que realmente lembra a história em que o filme se inspira é a conclusão - mesmo que (infelizmente) sem usar o recurso do reflexo no espelho.

A exemplo do que já havia feito em seus roteiros de “Reanimator” e “Do Além”, Dennis Paoli escapa da armadilha de tentar adaptar Lovecraft com muita fidelidade, descartando a narrativa em primeira pessoa e buscando uma abordagem que mistura horror e erotismo – aqui, como acontecia em “Reanimator”, a pobre Barbara também leva umas lambidas em lugar estratégico do vilão interpretado por David Gale!


Aliás, é impossível não lembrar de “Reanimator” quando THE EVIL CLERGYMAN parece uma reunião da equipe técnica daquele filme. Se não existisse um intervalo de tempo de pelo menos dois anos entre as duas produções, eu poderia até jurar que o curta tinha sido filmado nos intervalos das gravações de “Reanimator”. Além de dividir o mesmo elenco e o mesmo roteirista, o curta traz ainda o diretor de fotografia Mac Ahlberg e o técnico de efeitos especiais John Carl Buechler, que também trabalharam naquele filme.

É uma pena que Stuart Gordon também não tenha voltado para assinar a direção e deixar o clima ainda próximo do universo dos seus “Reanimator” e “Do Além”. Band até que se sai bem ao tentar emular esse clima, mas é impossível não ficar imaginando como o curta ficaria caso Gordon estivesse no comando, ainda mais conhecendo sua paixão pelos contos e pelo universo de Lovecraft.


Curiosamente, apesar do reencontro da turma de “Reanimator”, para mim a melhor coisa do curta é a pequena participação do lendário David Warner, que deve ter gravado todas as suas cenas em algumas poucas horas. Seu personagem, o bispo misterioso, aparece para reforçar as verdadeiras intenções de Jonathan, e justificar o porquê de ele ser o “clérigo diabólico” do título original.

O restante da turma manda muito bem, e, além dos quatro já citados, completa o reduzido elenco a veterana Una Brandon-Jones, no papel da proprietária do castelo. Eu só lamento o pouco tempo em cena de David Gale e seu homem-rato, já que, depois de anos lendo sobre o curta em minhas pesquisas sobre a antologia “Pulse Pounders”, eu sempre imaginei que o monstrinho teria um papel muito maior na trama. (O curta é dedicado ao ator, que faleceu em 1991.)


Irmão de Charles, o compositor Richard Band (que, vejam só, também é o responsável pela antológica trilha de “Reanimator”, aquela chupada do tema de “Psicose”!) foi convidado para compor a música de THE EVIL CLERGYMAN mais de vinte anos depois do fim das filmagens. A trilha tem seu charme e lembra os melhores momentos do músico; se eu não soubesse que é coisa nova, juraria que ele tinha composto a música lá em 1987!

Claro que, como o curta foi resgatado de uma cópia em VHS de quase 30 anos atrás, a qualidade da imagem não é das melhores, um problema que é ainda mais perceptível nas cenas escuras. Infelizmente, não há muito o que fazer nesse departamento, a não ser que os negativos originais reapareçam e permitam fazer uma nova montagem – quem sabe até com cenas que não foram aproveitadas na “workprint” daquela época.


Considerando o nível das podreiras que Charles Band produz e dirige hoje, repletas de CGI de quinta categoria e roteiros tosquíssimos sobre bongs e biscoitos assassinos, THE EVIL CLERGYMAN promove um autêntico retorno ao passado, a uma época não tão distante em que mesmo os filmes de horror mais baratos tentavam buscar um mínimo de sofisticação, e dependiam bastante do talento e criatividade do técnico em efeitos especiais, e não do computador.

É interessante constatar que os efeitos da criatura “homem-rato” não foram produzidos em stop-motion, como era comum naquela época nas produções da Empire. Pelo contrário, o pobre David Gale vestiu uma roupa de rato em tamanho natural e foi obrigado a zanzar de quatro por um cenário repleto de estruturas aumentadas, para dar a ideia de que o monstrinho é bem menor do que realmente era.


Isso exigiu bastante criatividade do time dos efeitos especiais, principalmente para a cena em que o homem-rato aparece dando umas lambidas na bunda da mocinha. Mesmo com pouco dinheiro em caixa, Band dispensou truques fotográficos ou montagens porcas e mandou construir uma réplica da bunda de Barbara Crampton em dimensões gigantes (!!!) só para poder filmar essa cena.

No bate-papo realizado na premiére do filme, em agosto do ano passado, a atriz inclusive lembrou com surpresa da réplica gigante dessa bela parte da sua anatomia, e questionou Band sobre o destino do “bundão”; segundo o diretor-produtor, alguém da equipe deve ter guardado de recordação, sabe-se lá com que propósito!


No mesmo bate-papo, Band lembrou que a equipe dos efeitos tentou fazer uma complicada trucagem em que o rosto de Jeffrey Combs se transformava no de Barbara Crampton; porém, após alguns testes, eles abandonaram a ideia e preferiram deixar a “transição” para a imaginação do espectador. Confesso que fiquei curioso para ver como resolveram algo tão complicado tecnicamente com os efeitos práticos da época...

Por falar em DVD, THE EVIL CLERGYMAN está disponível no formato desde outubro de 2012, mas o material é a típica picaretagem do mercenário Charles Band: ao invés de esperar para finalmente lançar o tão sonhado “Pulse Pounders” num único DVD, o maquiavélico produtor optou por lançar discos separados com cada um dos curtas. Assim, você é obrigado a desembolsar o preço de um longa para ter o DVD com um curta e alguns extras mixurucas que foram gravados hoje. Bem, é justamente nesses casos que o download de filmes funciona como uma espécie de justiça poética, já que Band definitivamente não merece o dinheiro que está cobrando pelo material.


Picaretagens à parte, THE EVIL CLERGYMAN é muito divertido e vale principalmente pelo fator nostalgia, já que todo fã das produções da extinta Empire, e de suas clássicas adaptações de Lovecraft, passou os últimos anos sonhando com esse curta-metragem. Vê-lo hoje, nesses tristes tempos em que o gênero parece dominado por refilmagens e overdose de CGI, é como fazer uma viagem no tempo até uma época que transpirava simplicidade e criatividade.

E, confesso, dá a maior saudade daquelas adaptações classe B de Lovecraft que a turma da Empire/Full Moon adorava produzir. Porque se hoje boa parte dos cinéfilos sonha com a tão comentada adaptação de “Nas Montanhas da Loucura” por Guillermo Del Toro, a única coisa que realmente me deixaria animado seria um retorno do velho Stuart Gordon aos textos de Lovecraft.

Mas como isso parece um sonho cada vez mais distante, o que nos resta são esses 27 minutos de THE EVIL CLERGYMAN para quebrar o galho...


Cena de THE EVIL CLERGYMAN


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The Evil Clergyman (1987-88, EUA)
Direção: Charles Band
Elenco: Barbara Crampton, Jeffrey Combs,
David Gale, David Warner e Una Brandon-Jones.