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30 Jun 12:56

O fenômeno do cara legal e a balela da friendzone

by Mari

[SPOILEIR!] Sabe o que o personagem Joe Caputo, de Orange is the New Black, e os caras que acreditam em friendzone tem em comum? Eles são caras legais e isso é terrível.

No episódio 11 da terceira temporada de OITNB conhecemos melhor Joe Caputo, o atual diretor da prisão. Nele, vamos criando uma teia de histórias que nos ajudam a desvendar o personagem. Primeiro, ele surge como um jovem com um futuro promissor na luta greco-romana se lesiona em um evento extra competitivo. Na verdade, ele se oferece para lutar contra jovens com síndrome de down e é enaltecido pelo treinador pois “não precisava”, mas é tão bondoso que quis dar essa alegria aos jovens especiais. Um pouco adiante no tempo, ele se casa com sua namorada, que está grávida de outro e perde a oportunidade de fazer sucesso com sua banda. Em um debate sobre o tema ele não demora em tocar na cara da mulher que ela lhe deve isso, que ele se sacrificou por ela (mas ela deixa claro que nunca pediu nada).

O NY Times alerta:

Joe Caputo pode não ser um cara legal, mas ele persegue desesperadamente o sentimento que tem quando é percebido como bondoso.

joe-caputo

É essencial notar que esse empenho em ser percebido como alguém nobre vai, ao longo dos anos, fazendo com que Caputo perca todas as reais oportunidades de sucesso da sua vida e termine sendo o personagem solitário e decepcionado que conhecemos. Mas o martírio está longe de ser abnegado. O Salon explica:

A falha central de Caputo é que ele se vê como um “cara legal” quando, na verdade, tudo que ele faz é esperando que o mundo lhe dê algo em troca – a medalha de ouro do heroísmo, a faixa azul por presença (…) O problema não é só que ele acredita que deveria ser um herói: o problema é que ele acredita que merece algo especial por ser assim heróico.

Tudo isso pode parecer besteira, mas o discurso que costura essa ideia de que o homem merece um troféu por ser legal (coisa que deveria ser o mínimo, convenhamos) é o mesmo que costura campanhas como aquela dos esmaltes e ideias terrivelmente babacas e perigosas como friendzone.

E tendemos a levar friendzone como piada, mas ela está profundamente inserida na cultura do estupro, porque coloca a mulher como um commodity, um objeto, que deve ser recebido em troca de gentileza. E quando isso não acontece, ela está manipulando o homem ou ela é burra demais para perceber quem são os caras legais.

Mas, ei, nós não somos idiotas, e caras que acreditam nisso não são nada legais.

Porque friendzone nada mais é que um homem se sentindo lesado por não receber o que quer. E esse discurso carregado de ódio é uma maneira de enfraquecer o direito de escolha feminino.

friendzone2Te diz que tu é um ótimo ouvinte, talentoso e um partidão. Tu entrou para friendzone (onde aprendemos que não rola ser educada com moleque escroto)

Um homem que internalizou que um comportamento gentil ou bondoso é um escambo que deve resultar em algo que lhe favoreça é o oposto de um cara legal. A Amanda Marcotte ressalta, também, o que une conceitos como friendzone de coisas imbecis como PUA:

É a teoria de que as mulheres não curtem tanto sexo quanto curtem atrair atenção. Então caras que dão atenção para elas de livre e espontânea vontade são vistos como fontes de atenção infinita e mulheres só dão sexo para homens que as fazem trabalhar por isso. A noção de que friend zone é permanente deriva da ideia de que ela te vê como um babaca que dá atenção sem que ela precise se esforçar. A possibilidade que uma mulher, de fato, goste da tua companhia e ache que tu também gosta da dela é deixada de lado. A possibilidade de ela ter te rejeitado polidamente e que tu só fique orbitando em torno dela, abusando da boa vontade e da educação que a faz não te mandar sumir é totalmente ignorada. Se tu mergulhar nessa mentalidade por tempo suficiente, a ideia de pickup artists sendo uns trouxas e tentando manipular as mulheres para fazerem sexo com eles parece terrivelmente boa.

No final, o cara legal só se revela pela frustração. Ao se frustrar diante de não ter sido reconhecido como a pessoa maravilhosa que acredita ser, ele se torna quem realmente é. Mas, eis uma novidade, caras: o mundo não te deve nada, as mulheres não te devem nada.

Esse comportamento pode parecer ter muitas semelhanças com o de uma criança mimada e, talvez, seja o caso do personagem Caputo. Mas certamente não é o caso da friendzone, porque a misoginia sente o direito de se impor. E, como bons babacas, em nenhum momento ocorre para estes homens tentar ver as coisas pelo que são. Se fizessem isso seriam capazes de notar que o mundo não gira em torno deles e as coisas costumam ser bem mais simples que parecem.

Deixo aqui essa dica:

Nós mulheres somos apenas seres humanos mesmo. E a maioria dos homens não está pronta pra aceitar plenamente essa mínima verdade universal

— Catarina (@BinahIre) May 31, 2015

26 Jun 15:37

Ouvir merda da família: quem nunca?

by Polly

Quem nunca ouviu merda da família, né? Recebi um e-mail pedindo ajuda para lidar com isso.

Eu sempre fui muito magra, muito magra mesmo. Mas era uma magreza doentia porque eu tinha depressão e transtorno de ansiedade que me impediam de comer. Até que eu resolvi me tratar há uns 3 anos e hoje, ainda em tratamento médico, estou muito feliz. Tenho uma vida produtiva, estudo, trabalho, namoro e, o mais importante, me alimento.

Eu engordei uns quinze quilos desde que comecei a fazer o tratamento, não vejo problema nisso, porque o inferno que vivi sem me tratar não desejo nem para meu pior inimigo. Acho que o mais importante é estar feliz como estou hoje, bem longe de depressão e ansiedade.

Só que de uns tempos pra cá, toda vez que minha família se reúne, vem alguém dizer que eu estou gorda. Semana passada eu cheguei mais tarde em uma festa de família, estava todo mundo lá e veio um infeliz falar que eu estou barriguda, a outra complementou: Amanda está muito gorda.

Eu me senti muito humilhada e triste por não ter conseguido falar nada, absolutamente nada. Apenas abaixei a cabeça e me retirei. O pior de tudo: a festa era na minha casa. Quer dizer, a pessoa vai na minha casa para dar opiniões não requisitadas sobre meu corpo.

Quando foi todo mundo embora, eu chorei com a minha namorada, chorei muito.. não por estar gorda, mas por não conseguir falar nada para essas pessoas.  SEMPRE que elas me encontram, elas falam que eu estou gorda, sabe? Não sei qual a finalidade disso.

Quando eu estava no fundo do poço, querendo me matar, ninguém falava nada porque, afinal de contas, eu estava magra. Agora que eu estou bem, essas pessoas ficam me humilhando, querendo acabar com a minha paz.

Me ajude, Polly, o que falo para essas pessoas? Eu não aguento mais ficar ouvindo opiniões não requisitadas, em tom de humilhação e repreensão.

 

Olha, geralmente eu só respondo com essa cara aqui e saio de perto:

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ou essa:

detox

 

Mas se quiser usar palavras, eis algumas sugestões:

 

– Como você tá barriguda.  

– Em qual momento eu pedi seu parecer? 

– Que isso foi só uma piada! 

– Então por favor não faça mais esse tipo de piada. 

 

Ou então…

 

– Nossa, como você engordou. 

– E isso é da sua conta por qual motivo mesmo? 

– Credo, estou só preocupado com a sua saúde. 

– Então paga meu boleto da unimed. 

 

Ou então…

 

– Tá precisando emagrecer um pouco, hein? 

– E você tá precisando cuidar da sua vida, hein? 

– Que horror, não posso nem mais dar minha opinião. 

– Quando eu quiser sua opinião pode deixar que eu peço. 

 

O importante é deixar claro que não vai mais tolerar esse tipo de comentário. Eu sei que é difícil se impor, principalmente com a família. Ninguém quer ser a pessoa que causa climão na festa, mas melhor causar climão que ir dormir chorando, né?

15 Jun 15:13

Nobel de Medicina perde a chance de ficar calado

by Lady Sybylla

E o que tivemos essa semana?

Sim! Mais um homem falando groselhas machistas sobre as mulheres na ciência.

E desta vez veio de um laureado pelo Prêmio Nobel, o que prova que tem muita gente por aí que é premiada e misógina. Neste caso a figura que cometeu a groselha é Tim Hunt, bioquímico britânico, ganhador do Nobel, em 2001, em parceria com Paul Nurse, por descobrir genes e moléculas envolvidos na regulação da divisão celular.

Professor Tim Hunt.

Professor Tim Hunt.

Mas o laureado cientista, de 72 anos, fez comentários machistas, desagradáveis e completamente desnecessários durante a Conferência Mundial de Jornalistas Científicos, na Coreia do Sul. Segundo membros da audiência, Tim disse que tem problemas com mulheres nos laboratórios:

Três coisas acontecem quando as mulheres estão no laboratório: você se apaixona por elas, elas se apaixonam por você, e quando você as critica elas choram.

Quando a coisa explodiu e ele percebeu a merda que fez, logo correu para se desculpar. Primeiro disse que tentou ser ~espirituoso~, depois que não queria realmente dizer aquilo e que lamentava ter dito aquilo em voz alta, porque ele não queria ofender. A repercussão pela internet foi imensa. Hunt é membro da Royal Society, um dos mais eminentes corpos de ciência britânicos, tendo sido condecorado pela Rainha Elizabeth II em 2006. A Royal Society logo se posicionou a respeito do comentário de um de seus membros em um comunidado:

(…) muitos indivíduos talentosos não atingem plenamente seu potencial cientifico por questões como gênero, e a sociedade está comprometida a ajudar a corrigir isso.

Muita gente reclamou que “foi só uma piada”, que ele “só estava brincando”, que não era para ter toda essa chiadeira, que como sempre somos “feMIMIMIstas”. E eu pergunto: quantas moças ele deve ter desencorajado a seguir carreira na ciência por se comportar desta maneira “espirituosa”? Você acha que isso é apenas uma piada inofensiva ou um reflexo do que ele realmente pensa a respeito de mulheres na ciência? A piada ainda é uma forma eficaz de espalhar preconceito e é defendida, normalmente, por aqueles que não se ofendem com ela.

WU6bs

“Mas foi só uma piada”

Mas a melhor resposta possível para o comentário sem noção de Tim Hunt partiu das próprias mulheres que fazem ciência todos os dias e que ainda precisam aturar atitudes sexistas de colegas e orientadores. Usando a tag #DistractinglySexy no Twitter, elas mandaram respostas hilárias para o comentário do professor.

— mark haddon (@mark_haddon) 11 junho 2015

(Legenda: CUIDADO! Este laboratório misto! Choro e se apaixonar são proibidos)

I made it through these brain dissections without falling in love or crying. Phew! #distractinglysexy #TimHunt pic.twitter.com/q5PVkM9zCx — Sonja Vernes (@Sonja_Vernes) 11 junho 2015

(Legenda: Consegui passar por estas secções de cérebro sem me apaixonar ou chorar. Ufa!)

Idk how any men were able to function when I was in this bunny suit and integrating a satellite. #distractinglysexy pic.twitter.com/XjFVpgQsnL

— Stephanie Evans (@StephEvz43) 10 junho 2015

(Legenda: Queria saber como os homens podem se controlar quando estou

nessa roupa e construindo esse satélite.)

Que bom que minhas lágrimas não distraíram minhas bactérias! #DistractinglySexy Pq mulher só sabe chorar! #SQN pic.twitter.com/41bVMI1rYk — Mara Rubia L S (@MaraRubiaLS) 12 junho 2015

I fell in love with the microcentrifuge… typical woman in the lab. #DistractinglySexy pic.twitter.com/JFXZPrjWgv

— Point Mutation (@Point_Mutation) 11 junho 2015

(Legenda: Apaixonada pela minha centrífuga. Típica mulher no laboratório.)

Yes I know I am #distractinglysexy in my Level A PPE. The suit totally flatters my curves. pic.twitter.com/LUb5nXx9yO — Geeky Girl Engineer (@gkygirlengineer) 11 junho 2015

(Legenda: Sim, sei que sou perturbadoramente sexy na minha roupa de

proteção nível A. Essa roupa valoriza minhas curvas.)

Still #distractinglysexy after a full day of cell culture. Didn’t even cry this time, so proud! #HeyaTimHunt pic.twitter.com/RdAxxLJ1fY

— Lucie de Beauchamp (@lu_debeauchamp) 11 junho 2015

(Legenda: Ainda sendo perturbadoramente sexy depois de uma dia inteiro

cultivando células. Nem chorei dessa vez, tô tão orgulhosa!)

Nothing like a sample tube full of cheetah poop to make you #distractinglysexy pic.twitter.com/tdBTLRos4p — Sarah Durant (@SarahMDurant) 11 junho 2015

(Legenda: Nada como um tubo de amostra cheio de cocô de guepardo pra

fazer de você perturbadoramente sexy)

Later that day, I filled this Bronze Age ditch with my womanly archaeology tears #distractinglysexy pic.twitter.com/r8UTTCCqSg

— Becca⚡️ (@BeccaPritchy) 11 junho 2015

(Legenda: Mais tarde eu enchi essa escavação da Idade do Bronze com

minhas lágrimas arqueológicas femininas.)

Depois de tantas respostas brilhantes de mulheres que fazem ciência e ainda precisam aguentar professores machistas na orelha, o professor honorário Tim Hunt se demitiu de seu cargo na University College London (UCL). A universidade também emitiu um comunicado esclarecendo que os comentários de Tim não são compatíveis com a iniciativa da instituição de promover igualdade de gêneros, sendo que ela foi a primeira universidade inglesa a admitir mulheres e lhes deu os mesmos direitos que os estudantes homens.

Para emendar o que já estava muito ruim, ele soltou outra declaração:

Já me apaixonei por pessoas no laboratório, e pessoas no laboratório já se apaixonaram por mim. Isso causa uma perturbação na ciência, porque é extremamente importante que pessoas no laboratório estejam no mesmo patamar. Descobri que esses envolvimentos emocionais tornam a vida muito difícil. Peço desculpas se eu ofendi alguém, isso é terrível. Eu certamente não queria isso. Só queria ser honesto, na verdade. (…) É muito importante que você possa criticar as ideias das pessoas, e, se elas começarem a chorar, isso significa que você é impedido de chegar à verdade absoluta. E a ciência nada mais é que chegar à verdade.

Professor, na boa, fica quieto que você ganha mais e nós também.

15 Jun 15:13

A grande surpresa de Game of Thrones: Mulheres têm pelos.

by Polly

Ontem foi ao ar o último episódio da quinta temporada de Game of Thrones e de todas as coisas surpreendentes a que mais me chocou foi a reação das pessoas aos pelos pubianos da Cersei.

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Tenho nem palavras.

Primeiro porque uma certa dose de realidade vai bem. Cersei estava presa, sendo torturada e literalmente lambendo o chão pra conseguir um pouco de água. Essa pessoa acha o quê? Estavam negando água mas liberando a cera quente? Qual é a surpresa exatamente dela estar peluda?

Segundo que durante uma das cenas mais pesadas que a série já teve, com uma mulher sendo brutalmente agredida e humilhada, o que causa agonia na pessoa são os pelos pubianos dela? Tá na hora de rever suas prioridades na vida se um punhadinho de pelos te desestabiliza tanto assim.

Ai, lá vem a feminazi querendo que todas as mulheres sejam peludas. 

Eu não quero nada, mas acho que refletir um pouco é sempre bom. Que valor você dá para uma mulher quando a depilação dela é o mais importante?

Tudo bem atravessar a cidade nua sendo agredida física e verbalmente, mas peluda não, né? Tudo tem limite.

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07 Jun 20:37

Sexo é apenas sexo

by Clara

Aconteceu de novo.

Mais mulheres foram vítimas de pornô de revanche.

E dessa vez nem foram apenas vítimas de guris de merda: um colunista sem noção, machista e moralista, resolveu que era ok expor as meninas.

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Este Senhor Não Quis Ir Cagar 

Mais uma vez centenas de pessoas culpam as vítimas, mais uma vez chamam as meninas de “burras” por “não terem se valorizado” e “confiado em quem não devia”. Basta ler os comentários para perder a fé na humanidade.

Mais uma vez garotas têm suas intimidade devassadas por ter feito sexo.

SEXO.

SEXO.

É APENAS SEXO.

Elas não mataram, não roubaram, não enganaram.

Elas fizeram sexo. As pessoas fazem sexo. As pessoas trepam. Fodem. Metem. Se chupam. Se lambem. Suam. Gozam. E isso é uma coisa BOA. Não vou entrar no mérito das pessoas que escolhem não fazer sexo, pelo motivo que seja. Estamos falando das que fazem. Das mulheres que fazem sexo e automaticamente viram “vadias” porque um grupo de machistinhas de merda decidiram revelar esse momento de intimidade. Porque pra eles nunca  sobra nada. Eles são os espertões, os comedores, os que podem tudo.

As meninas? Burras. Vadias. Não se deram respeito, então não mereceu respeito. Que porra é essa de respeito seletivo?

Eu não aguento mais ver isso acontecer. Eu não aguento mais ver mulheres tendo a vida destruída porque fizeram sexo. SEXO, GENTE. Sexo.

Que desespero viver nesse mundo.

 

18 Feb 02:54

...desvio o olhar do quadro por um segundo.

18 Feb 02:53

...tô querendo emagrecer e deixo de comer uma refeição.

Thais Bueno

HUAHUAHUAHUAHUAH eu,

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18 Feb 02:52

...eu decido reler todos os livros do Harry Potter.

18 Feb 02:50

...todo mundo no ponto vê o ônibus chegando mas ele passa reto.

Thais Bueno

minha história de vida.

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18 Feb 02:49

...saio pra jantar com os amigos quando tô de dieta.

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18 Feb 02:46

...tá tudo indo bem e alguma coisa estraga no último segundo.

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25 Jan 21:17

Consulta médica em três atos

by Clara

Minha filha teve uma avulsão no pé há um mês e hoje fomos ao ortopedista tirar a bota. Ortopedista tiozão, vovozão, bonachão, piadista, sabe o tipo? Pois então. Nas outras vezes eu estava preocupada demais com o pé pra prestar atenção em qualquer outra coisa, mas hoje estava relaxada e de boa pois sabia que já estava tudo bem.

Estava.

Mas, em uma consulta de 10 minutos, eis o que ocorreu.

I.

Médico perguntou para a Catarina, em tom jocoso, quando ela disse que ainda não tinha almoçado, se estava de dieta “pois o verão está chegando”. Lembrando que ela tem quantos anos? 11. Depois, quando Cata subiu naquele cubo de espelho pra ver como é a sola do pé, o doutor fez uma piadinha sobre quanto peso a parada aguentava (“Você tem 26 quilos, né? Mais do que isso quebra o espelho!”). Fiquei incomodadíssima. Na primeira eu disse “ih doutor, com a gente não tem essas paradas de dieta não” e na segunda só suspirei, querendo que a consulta acabasse logo.

Acabou? Não acabou.

II.

“Toda mulher deveria usar um saltinho de ao menos dois, três centímetros pra distribuir melhor o peso. Isso aí é lixo”, disse ele apontando para minhas belíssimas sapatilhas doiradas.

“E homem, não tem que usar salto?”

“O ideal seria que sim, mas já viu homem de salto?”

“Já sim, doutor.”

III.

Catarina examinada, bota tirada, fisioterapia caseira indicada, ele vira pra mim:

“Seu marido é mais baixo do que você?”

“Não tenho marido.”

“Ah, sim, mas o pai dela?”

Pensei que era alguma coisa em relação ao crescimento da Catarina, sei lá.

“Pai dela é mais baixo que eu, sim. Uns 5 centímetros.”

“Então por isso que você não usa salto!”

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“Doutor, eu USO salto. Eu só não saio de salto pela rua no dia a dia porque é desconfortável. Por isso eu uso essas maravilhosas e macias sapatilhas.”

“Você fala isso agora, aposto que quando estava casada ele nem deixava você usar salto. Homem não gosta de se sentir menor, sabe? No casamento da minha filha eu até tive que fazer um saltinho pro noivo, ficou escondido na barra da calça, ela queria usar salto com o vestido…”

“Quando eu estava casada eu usava saltos enormes. Nunca deixei de usar salto. Algumas mulheres não estão nem aí pra isso, sabia? Mas olha a hora, precisamos ir, muito obrigada, doutor!”

Era pra ter sido uma simples consulta acerca do pé de minha filha. Virou isso aí.

Mudou alguma coisa eu falar essas coisas prum médico de 70 (+) anos? Provavelmente não.

Dava pra ficar calada? Não, não dava.

E isso que eu nem era a paciente.

25 Jan 21:02

“Mas o que aconteceu com você?”

by Clara

A pior coisa de engordar nem é engordar; é ter que lidar com toda uma sociedade que se acha no direito de opinar acerca do seu corpo e de fazer perguntas invasivas.

Ocorre o seguinte: amiga minha engordou. Segue linda, apenas alguns números maior. Sabe o que ela me contou? Que não se sente mal consigo, mas evita sair de casa e ir a determinados lugares que algumas pessoas que ela conhece frequentam porque sente os olhares de “GORDA!” e sabe que vai ser ela sair do ambiente para que comecem a comentar. Pior, uma dessas pessoas chegou a chamar ela no cantinho e perguntar: mas o que aconteceu com você?!

COMO ASSIM, GENTE?!

Essas pessoas não têm vergonha? Não têm noção?

A mina está bem, linda, conhece vários países, tem um emprego massa, é uma mulher incrível, por que tem que ter acontecido alguma coisa com ela? Nunca vi ninguém chegar nesse tom pra alguém que emagreceu 10 quilos, e é bem mais possível que alguém emagreça porque está doente, né? Quando são 10 quilos a menos é sempre: “nossa, tá linda, tá magra, o que você fez?”

Já contei mil vezes aqui: quando emagreci muito e muito rápido por causa de uma depressão, pouquíssimas pessoas se preocuparam com minha saúde física ou mental e eu ouvia muito que estava linda. Nem estava. Estava apenas magra. Magra e louca. Mas ouvi “tá linda, tá magra” mil vezes.

Quero começar esse 2015 propondo: vamos nos importar mais com a felicidade das pessoas e menos com os pneus delas? Vai ser bem mais legal pra todo mundo.

25 Jan 20:13

COMO MORREM OS MÉDICOS

by lola aronovich
Um tempão atrás a Ana Luiza me enviou o link para um artigo espetacular em inglês sobre como os médicos, apesar de tentarem sempre prolongar a vida dos pacientes, não fazem o mesmo quando eles -- os próprios médicos -- têm uma doença incurável ou dolorosa. 
Pedi a Ana Luiza (que é médica em Recife) se ela poderia traduzir o artigo de Ken Murray pra mim e ela o fez... um ano e meio depois (algumas pessoas são ainda mais lerdinhas do que eu). Neste meio tempo muita gente já traduziu e publicou o artigo, mas antes tarde do que nunca. Espero que renda uma ótima discussão nos comentários, porque fala de um tema que, cedo ou tarde, afetará a nós todxs -- a morte.

Anos trás, Charlie, um ortopedista altamente respeitado, meu mentor, descobriu um caroço na barriga. Ele procurou um cirurgião para investigar e o diagnóstico foi câncer de pâncreas. Este cirurgião era um dos melhores do país. Ele até inventou um novo procedimento exatamente para este tipo de câncer que podia triplicar a sobrevida dos pacientes em 5 anos -– de 5% para 15% -- porém, com uma baixa qualidade de vida. Charlie não estava interessado. Ele foi para casa no dia seguinte, fechou o consultório e nunca pisou num hospital novamente. Ele focou em gastar seu tempo com a família e em se sentir o melhor possível. Alguns meses depois, ele morreu em casa. Não teve nenhuma quimioterapia, radioterapia ou procedimento cirúrgico. O plano de saúde não gastou muito com ele. 
Este não é um tópico de discussão frequente, mas os médicos morrem também. E não morrem como o resto de nós. O que é incomum neles não é a grande quantidade de tratamento que recebem comparados aos demais americanos, mas a baixa quantidade. Devido ao tempo que passam sentindo pela morte de outros, eles tendem a ser serenos quando encaram a própria morte. Eles sabem exatamente o que vai acontecer, sabem as opções e geralmente têm acesso a todo tipo de tratamento médico disponível. Mas eles vão devagar.
É lógico que os médicos não querem morrer. Eles querem viver. Mas conhecem o suficiente sobre a medicina moderna para saberem seus limites. E sabem o bastante sobre a morte para saberem o que mais dá medo: morrer com dor e morrer na solidão. Já falaram sobre isso com suas famílias.
Eles querem ter certeza, quando a hora chegar, que não haverá medidas heroicas, que não vão passar seus últimos instantes com alguém quebrando suas costelas numa tentativa de reanimação cardiopulmonar (RCP). E isso acontece quando a reanimação é feita corretamente. 
Quase todos os profissionais médicos já viram tratamentos inúteis serem aplicados nas pessoas. É quando os médicos trazem a vanguarda da tecnologia para dar suporte àquela pessoa no fim da vida. O paciente será cortado, aberto, perfurado com tubos, conectado a máquinas e usará muitas drogas. Tudo isso acontece em unidades de terapia intensiva ao custo de dezenas de milhares de dólares por dia. Tudo o que isso compra é sofrimento que não infligiríamos a um terrorista. Não sei quantas vezes colegas médicos me disseram “prometa que se um dia eu estiver assim, você me matará”. Eles querem mesmo dizer isso. Alguns médicos usam medalhas escritas “NÃO REANIMAR” para avisar médicos a não proceder a RCP neles. Já vi até tatuagens!
Proceder tratamentos que fazem as pessoas sofrerem é angustiante. Médicos são treinados para informar sem deixar transparecer seus próprios sentimentos, mas entre os médicos, de forma privada, eles se perguntam “Como alguém pode fazer isso com membros da família?”. Esta pode ser uma das causas de médicos terem índices de abuso de álcool e depressão mais altos do que em profissionais da maioria das outras áreas. É a causa por eu ter me afastado dos cuidados hospitalares nos últimos 10 anos.
Como chegamos a isso – que médicos administrem tratamentos que não gostariam para si próprios? A resposta simples, ou não tão simples: pacientes, médicos e o sistema.
Para verem o papel do paciente, imagine o seguinte cenário: alguém perdeu a consciência e foi admitido na sala de emergência. 
Como é frequente, ninguém planejou esta situação, e membros da família chocados e assustados estão num labirinto de escolhas. Quando o médico pergunta se desejam que se faça “de tudo”, a resposta é “sim”. Aí o pesadelo começa. Algumas vezes, a família realmente quer dizer “faça de tudo”, mas geralmente, eles querem dizer “faça tudo o que é razoável”. O problema é que eles não sabem o que é o razoável e na confusão e tristeza, não fazem perguntas ou escutam o que o médico tem a dizer. E os médicos que são mandados fazer de tudo farão de tudo, razoável ou não. 
O cenário acima é bem comum. Alimentando o problema, estão as expectativas irreais a respeito da medicina. Muitos acham que a RCP seguramente salva vidas, quando na verdade os resultados são pobres. Já vi centenas de pessoas chegando à emergência após parada cardíaca. Exatamente um, um homem saudável que não tinha nenhum problema cardíaco (parou devido a um pneumotórax hipertensivo), saiu andando do hospital. Se o paciente sofre de doença grave, senilidade ou doença terminal, as chances de um bom resultado após uma RCP são infinitesimais, enquanto as chances de sofrimento são esmagadoras. Baixo conhecimento e expectativas mal guiadas levam a muitas más decisões. 
Mas é claro que não são só os pacientes que fazem isso acontecer. Médicos são permissivos também. O problema é que até os médicos que odeiam cuidados fúteis devem administrar as vontades dos pacientes e suas famílias. Imagine, novamente, uma sala de emergência com todos os familiares chorosos, às vezes histéricos. Eles não conhecem o médico. Estabelecer uma relação de confiança nessas circunstâncias é muito delicado. As pessoas acham que o médico age por motivos escusos, como tentar economizar tempo, dinheiro ou esforço, especialmente quando o médico não recomenda mais tratamentos.
Alguns médicos são comunicadores melhores do que outros, alguns são mais inflexíveis, mas a pressão a que são submetidos é semelhante. Quando confronto situações que envolvem escolhas sobre o fim da vida, eu adotei a abordagem de explicar as opções que eu acho razoáveis o mais cedo possível. Quando os pacientes ou familiares trazem as opções não razoáveis, eu tento explicitar os pontos negativos. E quando insistem em tratamentos que eu considero sem propósito ou prejudiciais, eu sugiro que continuem com outro médico ou transfiram para outro hospital.
Deveria ter sido mais insistente algumas vezes? Eu sei que algumas dessas transferências ainda me assombram. 
É fácil ver culpa nos médicos e nos pacientes, mas ambas as partes são vítimas de um sistema que encoraja o tratamento excessivo. Em alguns tristes casos, os médicos fazem tudo o que podem como meio de receber mais honorários. Mais comumente, porém, os médicos têm medo de processos judiciais e fazem tudo o que é pedido. 
Mas médicos não tratam demais a si próprios. Eles veem as consequências constantemente. Quase todo mundo pode achar um modo de morrer em paz em casa, e a dor vem sendo tratada cada vez com mais eficiência. Cuidados paliativos, que focam no conforto e dignidade dos pacientes terminais, e não em tentativas de cura fúteis, dão às pessoas melhores últimos dias. 
Por mim, meus médicos já conhecem minhas escolhas. Foram facilmente tomadas, como são para a maioria dos médicos. Não haverá tentativas heroicas, e eu irei em paz para o sono profundo. Como meu mentor Charlie. Como meus colegas médicos.
25 Jan 20:13

COMO AFASTAR MULHERES E NEGROS DAS ÁREAS DE CIÊNCIAS QUANDO MAIS SE PRECISA DELXS

by lola aronovich
Este artigo de Jennifer Selvidge mostra algumas das dificuldades que uma mulher enfrenta na área tecnológica, uma área ainda vista como masculina. Pedi à querida Elis para que o traduzisse:

Todxs nós já ouvimos as notícias preocupantes: precisamos de um milhão de novos profissionais formados nas áreas de CTEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática), estamos em uma crise. [No Brasil também é assim: calcula-se que temos um déficit de pelo menos 40 mil engenheiros]. No entanto, nós, como sociedade, parecemos estar sofrendo de alguma espécie de dissonância cognitiva, porque com o mesmo fervor, ou ainda mais, estamos desencorajando sistematicamente mulheres e pessoas negras de buscarem formações e carreiras nos campos de CTEM.
Estou no último ano da minha graduação no MIT (Massachusetts Institute of Technology), sou engenheira de materiais, uma estudante com notas altas, e sou mulher. E também já ouvi centenas de vezes que não mereço estar onde estou. As decisões de admissão do MIT são divulgadas no dia 14/03 todos os anos. Às oito horas da manhã do dia 15, todo mundo na minha escola sabia que eu havia sido aceita. Muitas pessoas vieram me parabenizar naquele dia e posteriormente. Mas, estranhamente, elas pareceram insistir em me lembrar que “é muito mais fácil entrar quando você é mulher, porque eles têm muito menos candidatas mulheres".
A ideia de que havia algum tipo de cota para mulheres seria repetida para mim muitas e muitas vezes nos meses seguintes, e as coisas só pioraram quando cheguei ao MIT. Eu ouvia comentários maliciosos de meus colegas o tempo todo, variando de “estão forçando alunos negros e hispânicos que nem querem estar lá a fazerem faculdade” a “estão rejeitando candidatos qualificados em favor de candidatas menos qualificadas”.
Ingenuamente, imaginei que as coisas melhorariam conforme eu ficasse mais velha. Achei que a minha comunidade começaria a me respeitar e deixaria de atacar meu direito de estar ali. Pelo contrário, as coisas pioraram. Os professores, sem cerimônia, faziam comentários sobre a metalurgia ser um “campo masculino” e tentavam humilhar publicamente nossas poucas professoras. Um dos assistentes de ensino tentou me convencer de que pessoas negras são geneticamente inferiores em decorrência das práticas de reprodução empregadas na época da escravidão. Outro assistente tentou me usar como serviço de encontros online, pedindo que eu lhe desse o telefone de uma mulher que estava em uma foto comigo no Facebook e tentando me persuadir a ir à casa dele, o que configura assédio sexual.
A misoginia e o racismo que sofri e testemunhei no MIT se tornaram cada vez mais preocupantes, com professores fazendo piadas do tipo “voltem para a cozinha” e o que pareciam ser legiões de alunos de PhD assediando sexualmente alunas de graduação. Eu vi muitas de minhas colegas negras trocarem de departamento e ouvi histórias de terror sobre seus conselheiros que as pressionavam a fazê-lo. Ao mesmo tempo, as vi passar de alojamento a alojamento e por fim deixarem os alojamentos do MIT em busca de um lugar onde pudessem viver livres de assédio. 
E essas coisas têm consequências. Trocar repetidamente de departamento pode forçar as pessoas a se formarem com atraso. Trocar de alojamento com frequência dificulta encontrar um grupo fixo de amigos com quem estudar. Dinheiro e oportunidade vão pelo ralo. Como é que eu, minhas colegas e meus colegas negros podemos esperar prosseguir em doutorados, mestrados e conseguir trabalhar no setor, quando as pessoas que distribuem as aprovações, notas e cartas de recomendações, bem como nossos futuros colegas, nos veem como “pedaços de carne” e/ou geneticamente inferiores?
Neste ano, estou andando pelos corredores do MIT pela última vez e escrevendo minha tese. E enquanto eu certamente preencherei meus dias com a caracterização óptica (trabalho com óptica), minha mente também ficará cheia de preocupações com o futuro. Eu sei que meu nome -- Jennifer -– no topo do currículo terá um papel tão decisivo para determinar meu valor como candidata a um doutorado quanto os vários artigos em que sou listada como autora. E sei que mesmo tendo quase todas as notas máximas, ainda não serei bem recebida em minha comunidade científica e como engenheira. 
Competirei com homens brancos com desempenho inferior e menos experiência em pesquisa que provavelmente serão escolhidos em meu lugar, como acontece com os professores nos comitês de graduação. Afinal, alguns desses mesmos membros dos comitês das escolas de graduação provavelmente se lembram com nostalgia "daqueles dias em que homens eram engenheiros e mulheres eram comissárias de voo". 
Os problemas das áreas de CTEM são as pessoas dessas áreas. Eu não deveria ter que me esforçar para alcançar as pessoas, quando já estou na frente delas.
15 Dec 21:41

...chego em casa e meus bichinhos vêm todos correndo me encontrar.

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13 Dec 11:48

...o prazo final da entrega de um trabalho tá se aproximando.

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13 Dec 11:44

...a J.K Rowling anunciou 12 novos contos de Harry Potter pra esse mês.

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29 Nov 12:39

1428 – A infância de Jesus 7

by Carlos Ruas

2938

29 Nov 12:39

Diferenças

by Carlos Ruas

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29 Nov 12:30

Trabalho Extra

by Clara Gomes
Thais Bueno

eu e o relatorio de estagio

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28 Sep 01:38

...resolvo ficar em casa e ler Harry Potter pela quinta vez.

28 Sep 01:31

...bato sem querer em alguém.

Thais Bueno

desculpa sociedade rssssssssssss

Em uma pessoa:

Em um animal:



(by ohmygodiloveit)

28 Sep 01:29

...acordo no meio da noite e vejo que tenho mais umas 3 horas de sono antes do alarme tocar.

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28 Sep 01:29

...uma das minhas músicas favoritas tá na trilha de um filme que eu tô assistindo.

27 Sep 23:22

...escuto minha mãe chegando em casa e percebo que não fiz nada que ela pediu.

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27 Sep 22:50

...faz um calor infernal no inverno.

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27 Sep 22:29

...flagro alguém jogando lixo no chão.

Minha vontade é de:

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27 Sep 03:17

...meus pais me deixam sozinho(a) em casa.

O que eles acham que eu vou fazer:

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O que eu faço:

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25 Sep 00:53

...vou ao salão e peço pra cortarem só as pontas.

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