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18 Feb 14:07

Belo Horizonte e as bicicletas: pedalar na cidade é possível

by André Schetino

Sou nascido em Belo Horizonte, onde moro atualmente. Dos meus trinta e poucos anos de vida, a grande maioria foram vividos aqui (4 anos no Espírito Santo, outros 2 no Rio de Janeiro, pra amenizar o “vício de praia” que acomete os bons mineiros). Em todos esses anos, e especialmente nos últimos 13, quando passei a utilizar a bicicleta regularmente como meio de transporte, tenho visto algumas “verdades absolutas” da vida nessa cidade rolarem ladeira abaixo. E porque não dizer ladeira acima também.

"Essa é a ladeira da preguiça..."

“Essa é a ladeira da preguiça…”

Ah, as ladeiras de Belo Horizonte! Os amigos do Rio de Janeiro, quando vem me visitar, sempre se espantam. Na verdade nós chamamos de morros, mas pro carioca morro é outra coisa. Ladeira ou morro, fato é, que sempre disseram que eles eram o grande obstáculo para que o uso da bicicleta não fosse estimulado na cidade.

Há alguns anos atrás era até difícil dizer “Belo Horizonte e as bicicletas”. A voz embargava, gaguejava, pensava-se duas vezes. E logo surgiam os estudos, os especialistas, as pesquisas, todas condensadas e resumidas na seguinte frase que partia – dessa vez, sem titubear – da voz de mais um algoz das magrelas: “Belo Horizonte não possui o relevo propício para usar a bicicleta”.

O velho mimimi: "Belo Horizonte não possui relevo propício para a bicicleta"

O velho mimimi: “Belo Horizonte não possui relevo propício para usar a bicicleta”

Pronto. A frase decretava o fim da discussão. Mas por que o famoso “ali de mineiro”, onde o longe vira perto, nunca serviu para as bicicletas?

Só que havia um detalhe, uma constatação, talvez até um sentimento universal, que aflora em qualquer lugar por onde ande uma bicicleta. Seja no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, ou em qualquer lugar do mundo; seja no asfalto ou na terra,  morro acima ou morro abaixo:

Andar de bicicleta é bom demais da conta!

"Olha mãe, sem as mãos!"

“Olha mãe, sem as mãos!”

Recorro ao “mineirês” apenas para mostrar que nós, moradores de Belo Horizonte, que sempre gostamos de pedalar, assim o fizemos por todos esses anos. A despeito do discurso anti-bicicletas na cidade, pedalamos desde sempre. Quando a situação era desfavorável, o fazíamos de forma silenciosa. Mas agora, chegou a hora de fazer barulho.

Para que a bicicleta saísse dessa condição de “extra-terrestre” e começar a fazer seu filme na cidade, entraram em cena justamente elas, as ladeiras. Mas não na cidade propriamente dita, e sim, nas trilhas. O mountain bike sempre foi prática forte em BH e seu entorno. E eram muitos desses praticantes que também colocavam suas bikes no asfalto de Belo Horizonte durante os dias de semana. Além deles, trabalhadores, que por necessidade ou opção utilizam suas bicicletas como meio de transporte passaram a  enfrentar o trânsito da cidade proibida para as bikes.

E.T. - O Extraterrestre

Ciclista em BH: como os outros veem.

Junto a isso vieram outras ações. Grupos de pedal noturno, movimentos mundiais como a Massa Crítica, além dos meios de comunicação (especialmente a internet) que permitiram maior visibilidade e troca de experiências entre ciclistas de todo Brasil e do mundo alavancaram o uso da bicicleta em Belo Horizonte.

E por último, mas não menos importante, um movimento próprio de BH. Por aqui, as elites políticas que sempre dirigiram a cidade gostavam (e ainda gostam) de vender (literalmente) a ideia de que mineiro “adora receber em casa”, “é caseiro” e blá blá blá. Tudo isso pra não ver as praças e ruas ocupadas pela população (os bares e shoppings podem). Sim, são os mesmos que diziam que Belo Horizonte não era uma cidade para as bicicletas.

Depois de muito viver sob o tédio absoluto, abandonar a cidade a cada Carnaval, e cansados de ostentar o título de “bicho do mato”, eis que surge um outro grupo, formado por pessoas que gostam de se divertir e que queriam (e ainda querem) mudar a cara de Belo Horizonte. Não é de se estranhar que dentro dessa turma que quer “botar o bloco na rua” estejam muitos ciclistas!

Quem não tem mar, vai pra Praia da Estação, em BH.

Quem não tem mar, vai pra Praia da Estação, em BH.

Pronto! De forma bastante simplificada (imagine que tudo isso foi acontecendo ao mesmo tempo) está formado o grande caldo que está colocando cada vez mais bicicletas nas ruas de BH. E “de repente”, o que era uma grande verdade agora já não é mais.

Já encontramos muitas dobráveis, híbridas, urbanas e até algumas fixas, mas até hoje, as mountain bikes ainda são as bicicletas que mais caracterizam o ciclista urbano da cidade. Os grupos de ciclismo cresceram muito, e a noite de Belo Horizonte está repleta de bicicletas, de segunda a domingo, seja com o RUT’s, do Mountain Bike BH, o Le Velo, Pedal da Madrugada e muitos outros ajuntamentos de ciclistas, felizmente já difíceis de serem contabilizados.

Galera do RUT's no mirante das Mangabeiras. Foto: Vinícius Túlio

Galera do RUT’s no mirante das Mangabeiras. Foto: Vinícius Túlio

As novas pesquisas e estudos agora planejam 350 km de ciclovias, que pouco a pouco (bem pouco), vão sendo colocadas em seus devidos – e indevidos – lugares. A cidade acaba de ganhar uma associação de ciclistas urbanos com forte atuação junto aos órgãos públicos, a BH em Ciclo. Tem também o pessoal do Bike Anjo BH, sempre pronto para ajudar a colocar cada vez mais ciclistas nas ruas de forma segura e consciente.

Bike anjo Javert em ação. Foto: Bike Anjo BH

Bike anjo Javert em ação. Foto: Bike Anjo BH

E o movimento não para por aí. A Massa Crítica vem acontecendo regularmente e crescendo o número de participantes a cada edição. E como quem pedala também sabe se divertir, movimentos como o Velódromo Raul Soares, a turma do Bike Polo e das bikes roda fixa (sim, de fixa em BH!) vão ganhando as ruas da cidade. Esse ano teve até bloco de Carnaval com bicicletas, o Bike Fantasy!

Massa... Crítica! Foto: Facebook Massa Crítica BH.

Massa… Crítica! Foto: Facebook Massa Crítica BH.

Mas e as ladeiras? Elas sumiram?

De forma alguma. Na verdade, ela nunca foram o problema. Não eram no passado, e não são hoje, quando as bicicletas confortáveis e cheias de marchas deixaram tudo mais fácil.

Que esse seja apenas o começo da ocupação de Belo Horizonte pelas bicicletas. Ciclistas ou não, queremos todos uma cidade menos careta, mais bonita, e melhor pra se viver.

16 Feb 13:13

Photo



15 Feb 15:56

meme-meme: fuckyeahdementia: how to write good [via]



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14 Feb 21:34

When I go anywhere on Valentine's Day

and I’m just like…

08 Feb 17:34

Inauguração com gol contra

by douglasceconello
Paulotf

Post meu no Impedimento sobre o clássico de domingo, a volta do Mineirão e o tropeirão que nunca aconteceu.

mineirão
Posso me considerar um veterano de inaugurações de estádios. Durante os 973 dias em que o futebol esteve afastado do Mineirão, estive presente nas reinaugurações da Arena do Jacaré, em Sete Lagoas (Atlético 2×2 Atlético-GO), e do Independência (América 2×1 Argentinos Juniors). Antes disso, bati ponto na primeira inauguração da Arena do Jacaré (um Democrata 3×0 Atlético em 2006), e em 2007, no Rio de Janeiro, assisti um Brasil 4×0 Uruguai, jogo de futebol feminino que ao que me recordo foi o segundo evento recebido pelo Engenhão. Em comum entre todos esses eventos? Nenhuma das canchas foi inaugurada em condições de atender o público que se fez presente. Informações desencontradas, bares inexistentes, trânsito (ainda mais) caótico, banheiros sem água e luz, autoridades dando entrevistas se eximindo de culpa. Racionalmente, deveria ter levado isso em conta e esperado alguns meses para conhecer o Novo Mineirão. Mas futebol não é racional, e o Mineirão é a minha MECA particular das tardes de domingo.

Um dérbi Cruzeiro x Atlético foi marcado para a reestreia do Gigante da Pampulha, o jogo capaz de mobilizar toda Minas Gerais. Porém, nas semanas anteriores ao clássico os torcedores não discutiam sobre goleiros e centroavantes, não trocavam acusações sobre práticas sexuais envolvendo mastros de bandeira, como deveria acontecer sempre, mas trocavam flautas sobre ECONOMIA E FINANÇAS. Os cadernos de esporte davam manchetes sobre os acordos comerciais assinados com Minas Arena e BWA (empresas que administram Mineirão e Independência, respectivamente), e pouco se falou sobre os méritos do Galo em segurar todo o time titular vice-campeão brasileiro, ou sobre as contratações feitas pelo Cruzeiro para evitar que a temporada desastrosa de 2012 se repita.

Dentro de campo, o Galo deixou visíveis os mesmos erros do final de 2012. A falta de um meia que jogue próximo a Ronaldinho, a insistência em utilizar dois centroavantes quando em desvantagem no placar, Réver tornando-se o principal armador da equipe, os lançamentos desde o campo de defesa para algum dos grandalhões que povoam a grande área adversária. Méritos para Bernard, que mesmo muito marcado conseguiu criar duas ou três grandes oportunidades no início do segundo tempo, e para Vítor, que impediu uma derrota maior quando esteve na alça de mira dos contragolpes cruzeirenses.

panorâmica
54 mil pagantes no clássico – cerca de 6 mil assentos padrão Fifa ficaram vagos

Pelo lado cruzeirense, Marcelo Oliveira conseguiu armar bem o time, com jogadores leves no ataque (Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart, Éverton e Anselmo Ramón), marcação forte principalmente sobre Ronaldinho e Bernard, e muita velocidade nos contra-ataques. Em um desses contra-ataques nasceu o segundo gol, cruzamento de Anselmo Ramón para cabeçada de Dagoberto (que havia substituído Ricardo Goulart). E em outras jogadas semelhantes, os azuis tiveram chances de ampliar a vitória, mas terminaram satisfeitos com o 2×1 e a taça do TROPEIRÃO BOWL.

E o citado tropeirão, uma das grandes marcas do Mineirão, não apareceu nesse jogo festivo. Cheguei a comprar uma ficha em um dos poucos bares abertos, mas após uma hora de espera (com muitas reclamações, pequenos tumultos e centenas de IMAGINA NA COPA), os bares esgotaram seus estoques de água e refrigerante e FECHARAM AS PORTAS, devolvendo o dinheiro aos que haviam depositado suas esperanças de almoço nas lembranças daquele prato de feijão tropeiro, arroz, couve, vinagrete e bife de porco com um ovo estrelado por cima. Os vendedores ambulantes não conseguiam AMBULAR, pois logo ao saírem de seu ponto de abastecimento eram cercados por torcedores em busca de qualquer coisa que pudesse ser ingerida. Bebedouros, que no setor onde eu estava não existiam, e banheiros ficaram sem água (e alguns foram depredados).

torcida galo
A vã esperança pelo tropeiro inexistente

Como eu já sabia, não se pode esperar uma inauguração sem falhas, mas todos esses problemas ocorridos no dia do jogo, somados à saga da compra de ingressos e à drenagem que se mostrou falha na véspera – felizmente, nao choveu no domingo – conseguiram fazer com que o maior estádio de Minas Gerais fosse reinaugurado com um gol contra. O gol contra de Marcos Rocha, que abriu o placar do clássico, acabou fazendo jus à história desse 3 de fevereiro.

Ainda acredito que nas cadeiras desse “Novo Mineirão” os belorizontinos poderão viver tardes tão agradáveis quanto nos tempos pré-Padrão Fifa. Mas apenas quando o estádio estiver concluído e em pleno funcionamento, talvez a tempo do aguardado BURKINA FASO X TAHITI pela Copa das Confederações. (Para esse, consegui comprar meu ingresso sem transtornos. Já é um bom começo.)

Paulo Torres

03 Feb 00:54

Íbis vence a Corrida de Mascotes em Olinda

Paulotf

Brilhante desempenho do Pássaro Preto!

Íbis vence a Corrida de Mascotes em Olinda Íbis vence a Corrida de Mascotes em Olinda
Disputa animada misturou carnaval e futebol

Tempo: 01:28 | Mais vídeos: globoesporte | afiliada pe
03 Feb 00:35

Curte um lugar? Volte sempre!

by Ricardo Freire
| Praia do Toque, São Miguel dos Milagres – AL | Um dos mais felizes efeitos colaterais de viajar é você descobrir lugares onde se sente incrivelmente em casa — ou que despertam a vontade de um dia vir a sentir-se em casa. Se você já sentiu isso alguma vez, é sinal de que aquele é um [...]
30 Jan 19:03

Home Alone

Starring Macaulay Culkin.
30 Jan 11:11

111 movie sequels currently in the works

by simonbrew
Paulotf

Hot Tub Time Machine 2! Hot Tub Time Machine 2! Hot Tub Time Machine 2! Hot Tub Time Machine 2!

Simon Brew Feature Jan 28, 2013

Ready for our 2013 rundown of the numerous movie sequels currently in some stage of development? Here it comes...

29 Jan 12:17

A complicada missão de encontrar o distintivo no uniforme

by Cassio Zirpoli
Paulotf

Já vi abadás com menos poluição visual.

Camisas de Volta Redonda, Ypiranga, Corinthians, Paysandu, Icasa e Brasiliense

Os primeiros patrocínios nos uniformes brasileiros surgiram na década de 1980.

Não foi fácil vencer a barreira cultural. Foi uma mancha no manto sagrado. O que hoje parece normal, naqueles tempos foi algo bastante controverso.

E olhe que era apenas um patrocinador, na parte frontal da camisa…

Em seguida, uma época na qual grandes empresas conseguiam domar o mercado do futebol nacional, como em 1987, por exemplo, com a Coca-Cola estampando a sua marca em quase todos times do módulo verde do Campeonato Brasileiro.

A partir dos anos 90 o patrocinador ganhou um espaço gigantesco no orçamento dos clubes. Em vários casos, superior à bilheteria com as partidas.

Nos últimos anos, o patrocínio na parte frontal da camisa ganhou concorrentes. Nas costas, na manga, no peito, embaixo do próprio patrocinador-master e até nas axilas…

Segundo as normas orgânicas da CBF, o espaço máximo para uma marca é de 525 centímetros quadrados, com até 35 centímetros de extensão.

E assim vivemos a era do abadá no Brasil. Não importa a divisão. Do Ypiranga ao Corinthians, que deverá ter um faturamento de R$ 300 milhões nesta temporada.

Não por acaso chegou o dia em que o jogador quase não achou o escudo…

Realmente, está ficando difícil. Que o diga Paulo Victor do CRB.

25 Jan 13:33

Sobre pessoas peladas

by Ana Freitas
Paulotf

Enquanto isso no Brasil, o eterno dilema do tiozão que faz a barba pelado no vestiário da academia.

Um supermercado aqui na Alemanha deu 250 euros de desconto pras primeiras 100 pessoas que chegassem pra fazer compras peladas

Eu não precisei de muito tempo aqui pra ver gente pelada.

Na realidade, eu nem morava na Alemanha quando eu vi gente pelada na Alemanha pela primeira vez. Em 2011, em um festival de música no interior do país, onde eu acampei por três dias, tive a infelicidade de presenciar não um, não dois, mas três coitados que, muito bêbados e debaixo de um frio de 11 graus, abaixaram as calças na frente de todo mundo e fizeram xixi.

No meio do acampamento. Não era nem entre as barracas ou em uma árvore: nego tirou a calça no meio do acampamento, em plena vista, e se aliviou ali mesmo.

Claro que, na ocasião, não associei isso com um comportamento cultural (mesmo tendo visto três caras fazendo isso em só dois dias). Na minha cabeça, foi mais uma coisa de ‘nossa, eles estão tão bêbados que fizeram xixi na frente de todo mundo’. Eu devia ter me ligado, já que o banheiro também era ‘esquisito’: os chuveiros não tinham divisórias. Todas as mulheres ficavam ali tomando banho, uma ao lado das outras.

Mas foi só morando aqui que eu entendi como os alemães têm uma relação completamente diferente com o corpo nu do que a que nós, brasileiros, temos. Um corpo nu, pra eles, é só um corpo nu, dissociado de qualquer conotação sensual ou sexual – e esse corpo só ganha essa conotação em um contexto apropriado. Fora de contexto, não significa nada. Ninguém olha, ninguém repara, ninguém se importa nem com ficar pelado, nem em estar rodeado de gente pelada.

Tem a ver com a quase absoluta igualdade de gêneros aqui. Eu ainda estou tentando entender como a etnia alemã perpetuou-se ao longo da história, porque aqui a mulher é tão respeitada como igual ao homem que não há faísca nenhuma entre os gêneros. Como eles flertam, namoram, se reproduzem? Uma conhecida, alemã e psicóloga, me disse que ela mesmo não compreende e acha que seu povo está fadado à extinção. Claro que essa falta de machismo tem muitas vantagens: já vi moças andando de bicicleta de minissaia, com partes importantes à mostra, e nenhum homem se atrevou a lançar um olhar de rabo de olho que fosse. Não importa como você esteja vestida, se é que estiver: se for fora de contexto, eles não vão olhar. Nem elas, aliás. E isso é ótimo.

Tio pelado no metrô em Berlim

Mas a coisa pode chegar a níveis prejudiciais: no metrô, não é costume oferecer lugar pras mulheres grávidas. Dificilmente alguém vai te oferecer ajuda se você for mulher e estiver na rua carregando algo pesado. Não há ‘cavalheirismo’, e por mais que isso seja um produto da diferença de gêneros, há mulheres que sentem falta. E não há troca de olhares, de toques, nem em ambientes apropriados pra isso, como um nightclub. É tudo muito plano.

É por isso que aqui, no verão, quando eles vão pros lagos próximos a Berlim andar de barco e tomar sol, todo mundo fica pelado. Homens e mulheres não se preocupam com bíquini, maiô, sunga. Nas saunas, é tudo sem roupa – e em alguns casos, são mistas. E eu já vi fotos de gente pelada no metrô, sem contar o cheiro de xixi que você sente às vezes dentro de um vagão. Não sei se torço pra que seja um cachorro com o dono mal-educado.

Como eles não veem a nudez de maneira sexual, a pressão social pelo ‘corpo perfeito’ é menor. E dá pra entender, já que por aqui, você passa a maior parte do ano com o corpo bem coberto. Dá uma olhada nesse relato no Yahoo! Respostas pra ter uma ideia – tem até escolas secundárias com vestiários mistos, por exemplo.

O nudismo sempre foi algo muito mais tolerado pelos alemães culturalmente, e há registros de grupos sociais defendendo o hábito (ou a falta dele, se a pessoa for uma feira ou um padre) desde o fim do século 19. Existe até um orgão (risos) responsável por promover o nudismo no país, a German Association of Free Body Culture, e os naturistas por aqui tem até força política (sério!). Durante o nazismo, Hitler passou uma lei pra tentar proibir essa amoralidade inaceitável. Daí, ficar pelado acabou se tornando uma forma de protesto: com tantos banimentos, essa era a maneira dos alemães de mostrarem um controle, ainda que mínimo, pela última coisa que lhes restava controlar: o próprio corpo. A proibição durou um mês.

Daí que há pouco mais de duas semanas eu comecei a frequentar uma academia aqui em Berlim. E apesar de os vestiários não serem mistos (acho que eu não saberia lidar com isso), o vestiário feminino é uma grande profusão de corpos de mulheres nus.

Veja bem – qualquer corpo nu chama a atenção pra quem não está acostumado. Elas não se preocupam em usar toalha pra ir do chuveiro até o armário. Na sauna, permanecem sem roupa. E o vestiário tem uma centena de espelhos posicionados estrategicamente de maneira que, não importa onde você se esconda, alguém do outro lado do recinto vai estar vendo você pelada.

Nos chuveiros, tem uma antesala em que você pendura sua toalha e só.

No primeiro dia, eu preferi não tomar banho na academia. Mas o treino foi se intensificando e, no segundo dia, sair suada não era uma opção, não com -8 graus lá fora. E aí eu precisava entender qual era a etiqueta da nudez ali. Sabe, tipo aquelas regras que dizem que homem tem dentro do banheiro masculino?

Quer dizer, se eu ia tomar banho com todo mundo e caminhar pelada pelo vestiário, eu precisava entender o que estava dentro da normalidade pra eles. Entenda que a partir do momento em que a normalidade é todo mundo estar pelado, fica difícil estabelecer novos parâmetros. Mas eu precisava descobrir ser era aceitável me secar no vestiário ou se eu tinha que me secar na antesala dos chuveiros; se eu precisava levar calcinha e sutiã pro chuveiro ou se podia colocar tudo na frente do meu armário, mesmo.

Alguns dias de observação depois e eu entendi como funcionava. No chuveiro, as regras parecem sensatas – cruzar olhar com alguém pareceu não aconselhável. Conversar também não é uma prática comum enquanto as pessoas estão ali, nuas (ao menos na academia). Todo mundo toma banho muito rápido, só o essencial.

E todas as mulheres tomam banho viradas pra parede. Não é como se você não fosse de fato ver tudo de qualquer jeito, mas ficar olhando pra bunda das outras pessoas é desnecessário. Então todo mundo toma banho virada pra parede e tá tudo certo.

Menos essa mulher esquisita. Eu tava lá tomando meu banho e tinha uma moça imediatamente na minha frente, na linha oposta de duchas. E ela estava virada pra mim. Completamente. E ela não estava, digamos, tomando banho. Ela estava com um olhar morto apenas deixando a água cair nas costas. Imóvel.

Ainda estou tentando entender se o que ela fez é socialmente aceitável em um ambiente pelado. Mas acho que não seria normal nem se todo mundo estivesse de roupa.

 

O post Sobre pessoas peladas apareceu primeiro em Olhômetro.

24 Jan 19:37

the b movie is alive and well: my favorite asylum mockbusters

Paulotf

Transmorphers, Snakes on a Train, Abraham Lincoln vs. Zombies e outros grandes sucessos do cin... não, espera aí.

the b movie is alive and well: my favorite asylum mockbusters:

We’ve all been there: cruising the algorithm-based Netflix Watch Instantly page on any given evening, searching for something decent to watch. Let’s see, you’ve got your instant queue, filled with all the Fellini, Godard, and Truffaut that you didn’t bother watching back in college when you were still young enough to speak really seriously about auteur theory (they’ve been in your queue for half a decade). You’ve got the “Top Ten for You” section, which is some kind of bastard child born of the unholy coupling of the action and 18th century costume drama genres. You’ve got the “Popular on Netflix” row consisting of all the good stuff that everyone’s already seen. Then you’ve got the wildcards, the stuff like “Dark Romantic 20th-Century Period Pieces Featuring that One Guy With the Hair” or “Because You Watched My Little Pony: Friendship is Magic, We Figured You’d Like to Check Out Some Imaginative Foreign Sci-Fi Movies Subtitled in Yet Another Foreign Language.” Somewhere in that bizarre pit of randomness, you’ll find the Asylum mockbusters.

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24 Jan 18:17

13 Great Movies Nominated for Razzies

by Joe Reid

As a certified Movie Awards Person, the Razzies push all my buttons. Dwelling on the awfulness of bad movies isn’t really my thing in the first place, and the Razzies always pick on such obvious, easy targets that it becomes even less fun. Usually, the Adam Sandler movies and crappy non-films that the Razzies go after are left to the trashbin of movie history. But sometimes, they go after movies that simply don’t deserve it. Sometimes, the movies are vindicated by time. Sometimes they were never that bad to begin with. Here are 13 of their worst calls.

13. “Anchorman,” 2004 (Worst Actor, Ben Stiller)
Sometimes the Razzies will just take an actor they don’t like and nominate them for every movie they appeared in all year. So it was with Stiller, who paid the price for being in “Along Came Polly” by being dragged down for everything he released in that 12 month period, including the pretty solid “Dodgeball” and the actually great “Anchorman.” That Stiller barely ranks as a cameo in “Anchorman” makes this all the more unjust.

12. “Fahrenheit 9/11,” 2004 (Worst Actor, George W. Bush; Worst Supporting Actor, Donald Rumsfeld; Worst Supporting Actress, Britney Spears)
One of the most hit-or-miss tendencies of the Razzies is to get cute with the nominations. Nominating Sean Young in Lead and Supporting for playing twins in “A Kiss Before Dying.” Tyler Perry nominated in Worst Actress for playing Madea. And on and on. In 2004, the Razzies took Michael Moore’s wildly successful “Fahrenheit 9/11″ as occasion to take shots at the real people included therein. George W. Bush, Donald Rumsfeld, Britney Spears — sitting ducks, each and every one of them.

11. “Scarface,” 1984 (Worst Director, Brian De Palma)
This is one that time has vindicated, not only on the basis of every third dorm room in American having a Tony Montana poster, but because the film’s enduring popularity has led to countless critical revisitings which have found much to value in De Palma’s legendary excess.

Wall Street10. “Wall Street,” 1987 (Worst Supporting Actress, Daryl Hannah)
I’m not going to lie, it took Daryl Hannah a long time to figure out what she was doing on a movie screen (watch “Kill Bill, Volume 2″ to see what it looked like when she did), but her Razzie nomination placed Oliver Stone’s film in the same company as “Leonard Part 6″ and “Superman IV: The Quest for Peace.” Strange bedfellows indeed.

9. “The Last Temptation of Christ,” 1988 (Worst Supporting Actor, Harvey Keitel)
Martin Scorsese’s film was certainly controversial at the time, but nominating Keitel’s performance as Judas has forever placed the Razzies on the wrong side of history. Removed from the immediate outrage of the shocking notions of Jesus and Mary Magdalene OMG KISSING, and with its violence trumped (and then some) by Mel Gibson’s “The Passion of the Christ,” Scorsese’s movie has stood the test of time.

8. “War of the Worlds,” 2005 (Worst Actor, Tom Cruise)
7. “Batman Begins,” 2005 (Worst Supporting Actress, Katie Holmes)
Ah, here’s the Razzies getting cute again. The all-encompassing story of 2005 was the Tom Cruise-Katie Holmes shocker of a marriage, and it made them an easy target for an organization that sustains itself on easy targets. I actually don’t love “War of the Worlds,” but there are some who value it quite highly among Steven Spielberg’s accomplished filmography, and there’s really nothing about Cruise’s performance that deserves a “worst” citation (Tim Robbins, on the other hand…). As for Katie Holmes, “Batman Begins” was a HUGE success with critics, and while her performance didn’t steal any scenes, it wasn’t Razzie material.

6. “Friday the 13th,” 1980 (Worst Picture; Worst Supporting Actress, Betsy Palmer)
Lord knows the slasher genre took a long time to get any kind of respect in Hollywood. But 30-plus years on, I would hope that the grimy charms of the original “Friday the 13th” are widely evident. Sure, it’s pretty junky, but it’s a ton of fun and influential as hell, and there are dozens of movies that come out every year that are neither.

5. “Mommie Dearest,” 1981 (Worst Picture; 9 nominations total)
Nothing is more tone-deaf than the Razzies trying to shame high camp like “Mommie Dearest.” A movie like this is practically begging for a Razzie nomination, so congratulations.

4. “Showgirls,” 1995 (Worst Picture; 13 nominations total)
It took a little while for “Showgirls” to cement its reputation as the apex of trash brilliance, so you can’t blame the Razzies for seeing low-hanging fruit like this and pouncing. But time has not been kind to the Razzies’ judgment, and now they end up looking like humorless prudes who didn’t know a camp classic when it was licking a stripper pole right in front of their faces.

3. “Truth or Dare,” 1991 (Worst Actress, Madonna)
Do the Razzies ever love to pick on Madonna. Six nominations for Worst Actress and another three for Worst Supporting Actress. And while you can’t exactly take issue with hating on her for “Shanghai Surprise” or “Body of Evidence,” the knee-jerk citation for “Truth or Dare” is just plain wrong. It remains a fascinating and compelling portrait of an international superstar who was determined to put every side of her personality on the screen. But, you know, ha ha ha, it’s a documentary, so we’re hating on Madonna for being herself. Hilarious.

2. “The Shining,” 1980 (Worst Director, Stanley Kubrick; Worst Actress, Shelley Duvall)
I’m not sure what was going on in 1980 that the Razzies felt like they had to target “The Shining,” or poor Shelley. With 30-plus years of hindsight, “The Shining” is viewed as a classic and Duvall’s jumpy, bug-eyed performance is considered integral to its success.

1. “The Blair Witch Project,” 1999 (Worst Picture; Worst Actress, Heather Donahue)
Remember back in 1999 when the cool thing to do to maintain your cred was to protest as loudly as possible that you were totally not even scared at “The Blair Witch Project”? And the bonus points if you also mentioned that the snaky-cam made you nauseous and you couldn’t stand that lead actress? I guess all those terribly cool people were Razzie voters. I’m sorry, I have no tolerance for “Blair Witch” deniers. One of the most exhilarating movie theater experiences ever and a legitimately great film. Shame on you, Razzies.

16 Jan 01:11

Bonus Quote of the Day

by Charlie Sweatpants

Hidden Camera

“Before we begin, is anyone here an investigative reporter?” – Lyle Lanley
“I am, and she is.” – Investigative Reporter
“Well, I’d like you to please leave.” – Lyle Lanley
“Should we take our hidden camera?” – Investigative Reporter
“Would you?” – Lyle Lanley
“Let’s go, Phil.” – Investigative Reporter

Happy 20th Anniversary to “Marge vs. the Monorail”!  Original airdate 14 January 1993.


27 Dec 18:56

Bailarinas do Faustão no Instagram

by Chico Barney
Paulotf

"uma forma de incentivar um uso mais pragmático (e ao mesmo tempo romântico) do Instagram"

Durante as últimas semanas, muito se discutiu a mudança nos termos e condições de uso do Instagram. Diversos grupos organizados manifestaram sua opinião sobre o assunto. Felizmente, menos o único que realmente importa, a razão da referida rede social existir: as bailarinas do Faustão.

O trabalho monumental que você acompanha a seguir é fruto de meses de muita pesquisa e estudo.

É o mais completo documento a respeito da presença online das bailarinas do Faustão disponível para o grande público.

Sejam todos bem vindos a mais um Especial de Fim de Ano do Vai trabalhar, vagabundo.

usar-instagram-no-computador

Aline Riscado
As mulheres mais saudáveis da televisão brasileira também se permitem: só no instagram você pode prestigiar uma bailarina do Faustão tomando um chopp e comendo um bife com batata fritas – ou talvez no happy hour do Outback.
aline riscado
http://instagram.com/aline_riscado

Ana Flávia
Você pode jogar “Onde está Wally” com suas bailarinas favoritas, tirando fotos da televisão quando elas aparecem atrás do Faustão aos domingos. Ana Flávia é uma das praticantes desse esporte.
ana flavia
http://instagram.com/anaflavias_

Ana Paula Guedes
É no Instagram que aprendemos que a vida das bailarinas do Faustão é muito mais vasta do que os domingos à tarde. Aninha é professora de alguma coisa e ganhou um bolo de seus alunos, como podemos ver. E essa é a turma que toma Fanta Uva.
Ana Paula Guedes
http://instagram.com/aniinhaguedes

Camilla Kovas
Seguir uma bailarina do Faustão no Instagram é a certeza de que você verá o cotidiano dela por ângulos bem diversos.
camilla kovas
http://instagram.com/millacovas

Carol Agnelo
Espontaneidade, amizade, diversão. Conheça a vida por cima das sapatilhas.
carol agnelo
http://instagram.com/carolagnelo

Carol Nega
É muita cuca no lance. Citações, ilustrações e corpos inteiramente vestidos – cada atualização no Instagram de uma bailarina do Faustão é uma fantástica surpresa.
carol nega
http://instagram.com/carolnega

Carol Soares
Isso é um dia de trabalho normal para uma bailarina do Faustão.
carol soares
http://instagram.com/carol_soares

Carol Vieira
Sorrir tanto na televisão cansa – e esse é o único músculo que a simpática e agradável Carol Vieira deixa descansar quando vai à academia.
carol vieira
http://instagram.com/krolvieira

Daniele De Lova
Você pensa “essas mulheres são celebridades globais, não devem ficar impressionadas com mais nada” mas, surpresa: Roberto Carlos é alvo de tietagem até mesmo de musas indiscutíveis como Dani.
Daniele De Lova
http://instagram.com/danieledelova

Day Alencar
As bailarinas do Faustão são especiais, mas tem sonhos comuns a todas as mulheres…
day alencar
http://instagram.com/dayanealuz

Fernanda D’Ávila
Sapucaí vazia, sol a pino e um cara importunando. Nada disso faz com que bailarinas de alma parem de dançar.
fernanda davila
http://instagram.com/davilafernanda

Helen Cris
“Eu e Anderson Silva” é a legenda dessa foto. Helen Cris é a Miss Simpatia do balé.
helen cris
http://instagram.com/helencriss

Ju Valcezia
Se você ficava confuso com as coreografias, esse flagra de Ju Valcezia não deixa dúvidas: o ballet do Faustão é arte em movimento.
ju valcezia
http://instagram.com/juvalcezia

Katia Vokland
Talvez o grande destaque do balé seja mesmo Katia Vokland. Acompanhe todas as fotos com atenção e cuidado – ela pode invadir seus sonhos como o personagem da foto. (apud Pedro Bial)
katia volkland
http://instagram.com/katiavolkland

Kell Guarini
Com sua graça, desenvoltura e elasticidade, as bailarinas do Faustão foram responsáveis pela criação de 40% dos emoticons utilizados hoje na internet.
kell guarini
http://instagram.com/kellguarini_

Letícia Weiss
Mesmo pegando forte na malhação, as integrantes do Balé do Faustão mantém o corpo tenro e feminino.
leticia weiss
http://instagram.com/leleweiss

Lilian Lopes
Pra quem achava que a vida das bailarinas era só ralação, fiquem sabendo que elas também tem momentos de ócio, tranquilidade e calmaria. Merecido!
Lilian Lopes
http://instagram.com/lilianlopess

Marcela Teixeira
De Pateta esse aí não tem nada! Marcela Teixeira tem uma importante série sobre a Disney que vale à pena prestigiar.
marcela teixeira
http://instagram.com/marcela02teixeira

Marianne Bastos
Você vai conhecer a história da fotografia por intermédio das bailarinas do Faustão, aprendendo que os filtros do Instagram remetem a épocas do passado.
marianne bastos
http://instagram.com/mariannebastos

Patrícia Gonçalves
“Toda mulher deve ser uma bailarina do Faustão na sociedade e uma Panicat na intimidade”, como diz a sabedoria popular.
Patricia Gonçalves
http://instagram.com/patygpacheco

Rachel Gutvilen
As bailarinas ficam 3 horas servindo de cenário para o domingo da família brasileira e, com isso, acabam indo parar na capa de algumas das nossas revistas prediletas. Neymar curtiu, comentou e compartilhou.
rachel gutvilen
http://instagram.com/rachelgutvilen

Roberta Appratti
Recentemente envolvida em uma polêmica com o jogador Sheik, o perfil de Roberta Appratti é um festival de evidências sobre um romance que para o jogador nunca ocorreu ou evitava ocorrer.
Roberta Appratti
http://instagram.com/robertaappratti

Tainá Grando
Ronaldo concorda que as bailarinas tem a medida certa para deixar sua experiência no instagram completamente otimizada.
Tainá Grando
http://instagram.com/tainagrando

Thabata Carvalho
Informação é o que não falta nos perfis das bailarinas. Às vezes é informação até demais, e não há nada de errado com isso.
thabata carvalho
http://instagram.com/thabatacarvalho

Extra

O elenco do Faustão vai além das bailarinas. É composto também por fantásticas jornalistas que ou já foram bailarinas do Faustão ou adoraríamos que tivessem sido bailarinas do Faustão.

Talitha Morete
A melhor repórter do Brasil é do Domingão. E no Instagram podemos ver como ela vive, o que pensa e como vai fantasiada para bailes cariocas. Um privilégio.
talitha morete
http://instagram.com/talithamorete

Carla Prata
Carla não faz parte do balé, foi promovida a repórter da galera e traz sempre as perguntas fundamentais do público do Faustão. Mas segue treinando para o caso de alguma colega torcer o pé ou não conseguir plantar bananeira no pole dance – nunca se sabe quando isso vai acontecer.
carla prata
http://instagram.com/carlaprata

Kika Martinez
A ex-VJ gaúcha nunca dançou no programa, mas gosta de vergamota, mexerica, tangerina e bergamota.
kika martinez
http://instagram.com/kikamartinez

Carol Nakamura
Todo mundo sabe o que Carol Nakamura faz aos domingos, mas só no Instagram você descobre como é uma terça-feira típica desta ex-bailarina que também virou repórter.
carol nakamura
http://instagram.com/carol_nakamura

Este é o nosso jeito de dizer “Boas Festas e Feliz Ano Novo”. Também é uma forma de incentivar um uso mais pragmático (e ao mesmo tempo romântico) do Instagram. A vida pode ser muito mais. Até 2013.

27 Dec 11:37

Este não é um texto do David Coimbra

by ImpedCorp
Paulotf

"Fiquei ali, guardião de nossos lugares, imaginando um milhão de maneiras de celebrar um gol com ela."

O trauma psicológico é um tipo de dano emocional que ocorre como resultado de algum acontecimento. Pressupõe uma experiencia de dor e sofrimento emocional ou físico. O trauma acarreta uma exacerbação do medo, envolvendo mudanças físicas no cérebro e afetando o comportamento e o pensamento da pessoa, que fará de tudo para evitar reviver o evento que lhe traumatizou. É o que diz a Wikipedia, fonte tão confiável e segura quanto uma zaga formada por Luciano e Rivarola.

O céu estava debochadamente belo e azul sobre o Estádio Olímpico Monumental no dia 29 de agosto de 1998. Era sábado de Grêmio x Palmeiras pelo Brasileirão. Apesar de estarmos no inverno, fazia calor. E apesar de ainda estarmos nos saudosos anos 90, meu time não vinha bem: 13 jogos seguidos sem vitória. Mesmo assim, para nós, gremistas, não era um momento complicado. Eram apenas tempos estranhos. Ainda mais quando se é adolescente e a referência que se tem sobre tudo na vida é nula.

Após sucessivas temporadas de ampla supremacia sobre o arqui-rival citadino, vivíamos um tempo de desconforto jamais visto. Jamais visto por mim, no caso. Vencemos a Copa do Brasil em 94, Libertadores em 95, Brasileirão em 96, Copa do Brasil em 97… até que veio aquele Grenal dos 5×2 no Olímpico. Eu estava lá. Dali em diante as coisas nunca mais foram as mesmas. Mas deve ser só uma fase. ”Logo passa.”, pensava eu. Inocente e mimado por meia década de taças, glórias e flauta doce.

Eu gostava de uma guria. Na verdade, aos 17 anos gostamos de todas as gurias. Mas tinha uma morena. Melissa era amiga de praia, daquelas que só vemos durante o verão. Cabelos negros e lisos, pele sempre bronzeada, coxas que prefiro não recordar. Como manter contato com ela ao longo do inverno? Graças a Deus era gremista. Costumava convidá-la para ir aos jogos, desde 1996. Ah, a final do Brasileirão daquele ano… lembro como se fosse ontem o chute de Aílton. Finzinho do segundo tempo, Zé Afonso escorou para trás e bucha. O Olímpico tremeu de uma maneira que jamais voltei a testemunhar. Ou talvez fosse apenas eu, trêmulo por comemorar aquele gol com as duas mãos na cintura de Melissa.

Mas aqueles eram outros tempos. Para um adolescente, dois anos é um século. Em 98 já éramos mais velhos, ambos com quase 18 anos. O que faz toda a diferença nesta época da vida em que as mulheres desenvolvem-se aos saltos e os homens aos tropeções. O Grêmio havia mudado também: ainda tinha Goiano e Danrlei, mas o ataque era formado por Rodrigo Mendes e Zé Afonso. Felipão comandava a esquadra inimiga (pela primeira vez), enquanto o lado tricolor ainda acostumava-se com um novo bigode na casamata: um tal de professor Celso Juarez Roth.

Com um panorama esquizofrênico destes, o placar do primeiro tempo não poderia ter sido outro: zero a zero. Mas tudo bem. Não havia problema em ficar um ano sem vencer nada. O importante era a cintura de Melissa. Bastava um gol para tocá-la. Só assim para vencer minha timidez. Quem sabe um dia, no calor da comemoração, diante das lentes de Régis Röesing, algo mais acontecesse?

- Vou aproveitar o intervalo pra pegar um sorvete.

- Quer que eu busque pra nós?

- Não precisa, vou ali e já volto. Guarda nosso lugar aqui, Dudu.

A morena sorriu e desceu as escadas das cadeiras centrais aos saltos, hipnotizante em sua calça legging preta. Fiquei ali, guardião de nossos lugares, imaginando um milhão de maneiras de celebrar um gol com ela.

Até que o segundo tempo recomeçou. E nada dela voltar.

Amuado, mal assisti a partida. Como em um pesadelo, vi de relance o gol do Palmeiras. 1×0 para os paulistas. Gol de Paulo Nunes. Ele mesmo. O nosso Diabo Loiro, artilheiro do Brasileirão 96, gol de bicicleta em Grenal. E nada dela voltar. Olhava para seu lugar vazio e misturava-me ao desalento geral. Mas o pior ainda estava por vir: o gol de empate do meu Grêmio. Zé Alcino, em uma bizarra dividida com o goleiro. O estádio rugia. Mas a cintura não estava ali.

Lá pelos vinte e poucos minutos, ela retornou com os sorvetes. Rosto vermelho, corpo suado. “Ó, de presente pra ti”, disse ela, com sórdida desfaçatez. Levei uma colherada à boca, mecanicamente. E então percebi um outro cara, várias cadeiras adiante, trocando olhares com ela. Eles sorriem. Eu não. Pergunto quem é.

- O cabeludo sem camisa? É o César. A gente se conheceu no intervalo.

O jogo terminou 1×1. 14 jogos seguidos sem vitória. Paulo Nunes e Felipão brilhavam no Palmeiras, então campeão da América. E Melissa conhecia César. Um nome que ela esqueceria poucas semanas depois. Eu, jamais.

Esta partida do sorvete amargo não foi a última vez que estive no Olímpico. Longe disso. Inúmeras vezes retornei, para experimentar mil novas decepções. Estava lá nos jogos da Série B em 2005. Estava lá na derrota para o Boca em 2007. Acompanhei meu time entregar um Brasileirão de modo lento e doloroso ao São Paulo em 2008. Estive há pouco tempo, quando o mesmo Palmeiras, com o mesmo Felipão, aplicou-nos uma chinelada na Copa do Brasil.

Dizem que quem enfrenta um revés traumático jamais retorna ao local ou repete as circunstâncias do fato ocorrido. Muitas vezes, um único momento de tristeza pode sobrepor-se a anos de felicidade. Segundo os entendidos, os de divã e de bar, o gozo, efêmero e fugaz, não sobrepuja a chaga aberta por um contundente fracasso. Mas isso é porque nenhum deles pegou naquela cintura, pulando na parte da arquibancada localizada justamente atrás da goleira que Aílton acertou em 1996. Isso porque nenhum deles viu seu time ganhar Libertadores, Copa do Brasil e Gauchão em um lugar que podiam chamar de segunda casa.

Dizem que vão demolir o Olímpico em 2013. Fico imaginando o momento. Planejo estar lá. Do lado de fora e a uma distância segura, é claro. Irei a pé. Não por ser um gremista xiita e apegado ao hino, mas porque moro na Azenha mesmo. Marchando ao lado de rostos desconhecidos, todos tricolores, comungando de um estranho sentimento de saudade antecipada. Todos iguais em sentimento, não importando cor, credo, viés político ou classe social. Unidos em melancolia, aguardando o estrondo. Esperando o momento em que o estádio finalmente sucumbirá, após décadas tentando derrubá-lo com nossas ruidosas comemorações. E quando esta hora chegar, e a enorme nuvem branca com fuligem negra subir pelo céu azul, talvez eu seja o único a abrir um ligeiro sorriso. Pois sei que, em algum lugar, César estará triste.

Eduardo Krause
(O gremista que aparece ilustrado nos painéis da Coca-Cola espalhados pelo Olímpico)

26 Dec 18:23

Texto reprovado #19 – Idéia não tão boa #78762

by João Baldi Jr.
Paulotf

O teorema de Falcão.

 

Fórmula #76 para descobrir o quão legal uma pessoa é usando apenas uma frase

Pergunta: “Cara, você lembra do Falcão?”

Possíveis respostas e suas qualificações numa escala unificada de pessoas legais:

Falcão, o animal: pessoa babaca.

Falcão, o cantor do Rappa: nada de mais, mas mantenha suas reservas.

Falcão, o jogador de futsal: pessoa legal

Falcão, o cantor brega: pessoa muito legal.

Falcão, o personagem de Bruce Willis em “Hudson Hawk”: pessoa realmente muito legal.

A pessoa não fala nada e apenas sai voando, como um falcão: sério,  você deveria ficar amigo desse cara.


19 Dec 18:59

300

by Felipe M. Guerra
Paulotf

Blogs de textos gigantes são os melhores blogs. O blog de textos gigantes sobre cinema tosco é provavelmente o melhor desses melhores.


Calma, amiguinhos, que este não é um post sobre aquele horrendo filme "300", do Zack Snyder, mas sim uma comemoração ao 300º post do FILMES PARA DOIDOS! E considerando o espaço cada vez mais reduzido na internet brasileira para este tipo de cinema enfocado aqui no blog, os 300 posts são motivo mais do que suficiente para festejar.

Eu comecei o FILMES PARA DOIDOS meio que na brincadeira, em 10 de outubro de 2008, com uma resenha sobre o filme brasileiro "Horas Fatais - Cabeças Trocadas", de Francisco Cavalcanti, que tinha sido escrita um ano antes e nem era inédita (fora publicada no meu extinto Multiply, rede social que, na época, era estupidamente chamada de "Orkut para pessoas inteligentes", e talvez até por isso não vingou).

Naqueles tempos, eu escrevia semanalmente sobre cinema fantástico para o site Boca do Inferno, mas lamentava por ficar limitado a estes gêneros, quando na verdade sempre gostei de escrever sobre todo tipo de filme - dos westerns italianos aos pornôs da Boca do Lixo; das pancadarias de Hong-Kong às comédias norte-americanas dos anos 80.

E embora eu volta-e-meia conseguisse puxar alguma coisa "diferente" para a Boca do Inferno (como "Fuga do Bronx" e "Os Caçadores de Atlântida"), era mais do que óbvio que o material ficaria melhor em outro lugar que não tivesse a limitação de gênero, e onde eu pudesse escrever sobre filme dos Trapalhões num dia e sobre pornô no outro.

Quando comecei o blog, praticamente todo mundo que eu conhecia, e que gostava de cinema, também estava criando o seu próprio blog para escrever sobre seus filmes preferidos. Lembro que o Viver e Morrer no Cinema, do Leandro Caraça, todo dia fazia uma divulgação diferente de Fulano ou Beltrano começando seu próprio blog.

O irônico é que poucos deles continuaram, e o próprio Viver e Morrer acabou (ou "hibernou"), mas o FILMES PARA DOIDOS continua firme - embora muitas vezes eu mesmo tenha estado naquela situação do "E aí, paro ou continuo?".

Nesses mais de quatro anos de FILMES PARA DOIDOS, várias mudanças aconteceram na minha vida: mudança de cidade, de empregos, de namoradas, e parei de colaborar com a Boca do Inferno. O blog sobreviveu a tudo, e sempre mantendo duas diretrizes principais: priorizar o cinema "alternativo" aos blockbusters e filmes-cabeça, e dar mais destaque ao texto do que ao visual (tanto que o template do blog é o mais simples e continua igual, porque aqui o conteúdo vale muito mais do que a forma).

Durante muito tempo, eu cheguei a duvidar que tinha leitores. Quando lia aqueles comentários sempre das mesmas pessoas nas primeiras postagens, cheguei a pensar que eram colegas generosos "dando uma força". Mas logo comecei a me espantar com a quantidade de gente que conhece e lê o FILMES PARA DOIDOS. Em festivais e mostras, é comum aparecer alguém que diz: "Leio sempre o seu blog e sou fã"!

Quem pegar as primeiras postagens e comparar com as últimas vai perceber que o blog de certa forma amadureceu em meio a esses 300 posts. No começo ainda era uma coisa meio atrapalhada, bagunçada, com textos curtos e vídeos do YouTube no lugar das fotos; eu também falava muito sobre minha vida pessoal de cinéfilo (viagens que fazia, DVDs que comprava), algo que fui deixando de lado para me concentrar no cinema quando começaram os primeiros ataques dos tradicionais trolls que infestam a internet. E outra: blog sobre cinema é blog sobre cinema, senão vira palhaçada que nem o blog pessoal de um certo crítico de cinema...

Outra coisa que percebo que mudou: nos primeiros anos, eu fazia várias postagens com resenhas curtinhas sobre filmes novos que estreavam no cinema. É que eu estava fazendo mestrado e tinha carteira de estudante, então pagava meia entrada nos cinemas paulistanos. Aí me divertia vendo dois ou três filmes por dia no cinema. Com o fim do benefício, o contato com a tela grande ficou mais escasso.

E, a bem da verdade, tenho visto cada vez menos filmes novos, preferindo descobrir (ou redescobrir) os antigos. Já tem uma caralhada de blogs falando sobre os lançamentos, então vocês realmente não precisam de mais um para somar-se ao monte! É ou não é?

Agora alguns números, porque eu sempre gostei deles:

Dos 300 posts, 232 são aqueles textos longos que analisam um filme só - número louvável, considerando o tamanho dessas resenhas. Outros tantos posts apresentaram um apanhado de resenhas curtinhas sobre filmes novos e/ou que não mereciam análises mais aprofundadas, e dessa forma escrevi sobre outros 251 títulos. No total, portanto, o FILMES PARA DOIDOS já discorreu sobre 483 filmes nestes pouco mais de quatro anos! É mole?

As resenhas mais acessadas do blog, por motivos óbvios (como o uso das expressões "sexo" e "sacanagem"), são as dos pornôs da Boca do Lixo. O mestre José Mojica Marins é o grande recordista com seu "48 Horas de Sexo Alucinante": esta postagem teve 226.075 acessos (da última vez que olhei), e, ironicamente, apenas 8 comentários! Em segundo lugar vem o primeiro pornô brasileiro, "Coisas Eróticas", de Raffaele Rossi, que neste ano (2012) completou 30 anos, o que talvez tenha motivado várias das 205.007 visitas. Logo em seguida aparecem "O Império do Sexo Explícito", de Marcelo Motta (157.942 acessos) e "As Ninfetas do Sexo Selvagem", de Fauzi Mansur (119.731 acessos). Os números mudam bastante a cada dia, mas é só para dar uma ideia.

Entre os não-pornográficos, o recordista também é brasileiro: "Tortura Cruel - Fêmeas Violentadas", de Tony Vieira, com 59.409 acessos, seguido por outro filme brazuca, "Momentos de Prazer e Agonia", de Adnor Pitanga (17.217 acessos), e finalmente por uma produção norte-americana, "Deadly Prey" (!!!), de David A. Prior (14.435 acessos).

Em termos de visualização, eu não tenho parâmetros para comparar com outros blogs e sites de cinema, mas nesses quatro anos o FILMES PARA DOIDOS já foi acessado mais de 2.760.000 vezes, e hoje tem uma média respeitável de visitação: entre 2.500 e 3.000 acessos diários!

Um detalhe digno de comemoração é que poucas vezes deixei o leitor na mão. Tem blogs que acompanho (você pode vê-los nas minhas recomendações, à direita) que ficam até um mês inteiro, às vezes vários meses sem nova postagem. Eu sempre me desdobrei em dois para atualizar o FILMES PARA DOIDOS mesmo em meio a viagens, festivais e filmagens. Portanto, pelo menos uma vez por semana tem novo post por aqui.

Já um detalhe digno de tristeza é que nunca consegui ganhar dinheiro com o blog, apesar de ele exigir de mim quase como um trabalho fixo (só que sem salário). O FILMES PARA DOIDOS me rendeu um convite para colaborar rapidamente com a extinta revista de cinema Movie, mas não passou disso. Várias vezes pensei que meus textos gigantescos sobre pornôs em 3-D ou sobre o filme do Homem-Aranha que a Cannon Films tentou fazer poderiam estar em revistas especializadas, só que nunca encontraram espaço fora do blog. A entrevista com o ator Anselmo Vasconcellos, que publiquei há algumas semanas, eu ofereci a várias revistas brasileiras, sem que nenhuma demonstrasse interesse (várias nem responderam).

Mas tudo bem, porque isso me dá ainda mais ânimo e fôlego para continuar com o FILMES PARA DOIDOS. Afinal, se o jornalismo cultural brasileiro prefere não falar sobre isso tudo, batendo nas mesmas teclas de sempre ("O Hobbit", filmes de super-heróis, "Crepúsculo", "50 Tons de Cinza"...), alguém tem que ir na contramão, não é verdade?

E de minha parte, o que posso prometer aos caríssimos leitores do blog são mais 300 posts pela frente, pelo menos!

PS 1: Como 300 é um número grande pra caramba, e eu mesmo já estava ficando perdido em relação ao que já tinha escrito neste blog, fiz um índice de postagens para que o leitor possa procurar por textos antigos - inclusive as resenhas curtinhas. O índice ficará em destaque nas tags à direita, e você pode acessá-lo clicando aqui.

PS 2: Eu ficaria muito feliz se, nos comentários dessa postagem simbólica, os leitores falassem um pouco sobre como conheceram o FILMES PARA DOIDOS e também sobre seus textos preferidos. Além, é claro, de dar sugestões para o futuro do blog. Obrigado a todos pelo carinho e por seguir minhas divagações durante essas 300 postagens...
10 Dec 13:38

Bem-vindos à Vila Farrapos

by Alexandre de Santi

Ao desembarcar nas imediações da nova vizinhança do Grêmio, um cachorro de três pernas me sorriu latindo. Logo adiante, um senhor consertava no meio da rua um gol vermelho com apenas três pneus. O eixo estava apoiado por pedras. O cusco perneta me seguiu por uns metros até que me deparei com um Escort amarelo e rachado estacionado na rua Frederico Mentz. Ao fundo, uma das mais modernas arenas esportivas do mundo. Saquei o celular do bolso e fiz este registro que vocês enxergam acima (cusco perneta incluído, reparem). Neste sábado, este cenário será tomado pelo azul, preto e branco para a inauguração do estádio de 60 mil lugares levantado ao custo de R$ 600 milhões. Gremistas, bem-vindos à Vila Farrapos. O Humaitá fica um pouco mais para o lado. 

Para a inauguração, um mega evento de R$ 20 milhões custeado pelo Grêmio, OAS e torcedores que pagaram ingresso, a vizinhança está vivendo uma correria sem precedentes. Entre caçambas, operários e muita poeira, os empresários locais trabalham para receber a horda tricolor. Na casa do aposentado Waldyr Garcia, um imóvel transformado em complexo multiuso, a cozinheira reclama do calor. “Desse jeito, não há feijão que aguente”, diz, enquanto enche a panela de pressão. Seu Waldyr, 74 anos, surge de regata do Grêmio e logo apresenta as credenciais de novo torcedor ilustre do clube. “É jornalista? Já dei muitas entrevistas, até para a Globo”, conta. Sua residência fica EXATAMENTE na frente da Arena. Na sacada da casa, recentemente transformada em misto de habitação, bar, restaurante e pousada, Waldyr olha a fachada da Arena e comemora. “Um disco voador aterrissou aqui. Era um bairro abandonado, e, agora, a Arena valorizou a zona e veio da mais lucro para nós”, diz, sentado na sacada ainda desprovida de parapeito (“é muito caro”), como o vemos na foto abaixo.

“Há quanto tempo o senhor mora no Humaitá?”, pergunto. “Aqui não é o Humaitá. Aqui é a Vila Farrapos”, ele me corrige. Horas depois, consulto a informação no site da prefeitura e confirmo: o Humaitá só começa no lado par da avenida Padre Leopoldo Brentano. Aqui, no lado ímpar, o lado de Waldyr, onde estão as residências e os bares que dão vida à vizinhança da nova casa tricolor, estamos no bairro Farrapos. Vila Farrapos para os moradores. Waldyr está há 45 anos na zona. Há um ano, decidiu investir na propriedade. Abriu o bar na garagem e levantou mais duas lajes. Uma delas tem dois quartos mobiliados prontos para receber turistas. “Vou alugar para paulistas, argentinos, alemães, todo mundo que virá jogar com o Grêmio”, diz. Os dormitórios contam com tv, banheiro e uma sala de estar que tem até uma lareira de pedra “para o pessoal que vem do norte”.

Sócio antigo do Olímpico, é gremista de lembrar a escalação do time de 58. Ele pagava cerca de R$ 30 para frequentar o estádio da Azenha e via os jogos nas sociais. Agora, para atravessar a rua e assistir o Grêmio, vai desembolsar R$ 120. A mensalidade da Arena dói no bolso da maioria dos gremistas, mas Waldyr está confortável com a escolha. No Olímpico, havia filas no banheiro, na copa, na saída. Na Arena, não haverá nada disso. “Tu entra por uma porta do banheiro e sai por outra. Não tem aquele atropelo do Olímpico. Foi pouca diferença na mensalidade se tu contar o conforto de sentar numa cadeira em vez do concreto”, argumenta. Sua cadeira será no último anel da Arena, mas, apesar da idade, não reclama. “A Arena tem elevadores, fica fácil até para os idosos”. Waldyr tem os números na ponta da língua: são 18 elevadores para atendê-lo.

Waldyr é uma exceção entre os gremistas do bairro. Além de ter cadeira cativa na Arena, possui casa de alvenaria. No caminho para a Vila Farrapos, as malocas são a maioria: centenas de metros de paredes de tapumes e papelão perfilam o motorista na continuação da avenida Voluntários da Pátria, cujo fim desemboca no estádio de categoria máxima do padrão de conforto da Fifa. Conforme a nave tricolor se aproxima no horizonte, o papelão dá lugar aos tijolos.

Moradores contam que o assédio do mercado imobiliário é constante. Imóveis na Padre Leopoldo Brentano, o mais próximo dos pontos até o estádio, estão recebendo ofertas entre R$ 600 mil e R$ 800 mil. Waldyr conta que uma empresa já tentou comprar toda a sua quadra numa única tacada, fazendo uma oferta coletiva para os vizinhos que consistia em apartamentos novinhos nas futuras torres e pontos comerciais na base do prédio. Mas não houve consenso no grupo e o negócio não saiu. Waldyr mora há quatro décadas na mesma casa e o seu clube agora joga do outro lado da rua. No entanto, o coração do aposentado se divide entre o sonho de todo gremista e o futuro dos netos. “Eu não quero sair daqui, mas se a proposta for boa, me mudo. Mas só troco se for para ficar perto da Arena”, garante.

A 30 metros do complexo multiuso de Waldyr, num dos inúmeros bares recém abertos na região para atender operários e futuros torcedores – todos os bares estão decorados com as cores do Grêmio e patrocinados por marcas de cerveja -, pergunto onde estão os gremistas transformados em novos vizinhos do clube, mas que não possuem dinheiro para as mensalidades. Eles estão por todo lugar, me diz a atendente, mas há um grupo de jovens particularmente fanático na rua ao lado. O problema é que são 10h30 e todos estão dormindo. “Eles são vigias e seguranças noturnos. Só saem no meio da tarde”, diz ela.

Enquanto os vigias dormem, Sergio Luis de Almeida Bueno levanta latinhas de cerveja. Na padaria D´Julia, os pastéis saem por R$ 2,50 e o latão de Skol custa R$ 3,50. O empreendimento, algo entre um bar e uma mercearia, está aberto há 14 dias, e há muito trabalho até a noite de sábado. A festa de inauguração está marcada para as 20h, mas Sergio já está nervoso com a cerveja. “As garrafas estão ali. Ainda tenho que montar uma piscina e encher de gelo. E preciso buscar serragem no vizinho”, diz, limpando o suor da testa. Sergio é um dos tantos gremistas que vão viver apenas o lado de fora da Arena. Anos atrás, ia ao Olímpico, mas abandonou o hábito por causa da distância. “Era difícil ir até lá. O ônibus é complicado, tem que atravessar o Centro e pegar outro ônibus”, afirma de dentro de um freezer horizontal, enquanto arruma latas de cerveja. Agora, os jogos serão do outro lado da rua literalmente, e a paixão pelo clube abriu espaço para o espírito empreendedor. “Agora vou faturar e torcer”, diz, enquanto dá o troco para mais um operário que compra salgados e 2 litros de refrigerante.

Sergio não descarta uma associação ao clube. Na sexta, o empresário e líder comunitário (Sergio é conhecido na região por negociar as mudanças na zona em nome dos vizinhos), visitou a Arena pela primeira vez. Em vez de me contar a experiência, aponta para o braço. Seus pelos estão arrepiados pela lembrança da visita inaugural à nave tricolor, quando a comunidade foi convidada para assistir um ensaio do show de abertura que antecede Grêmio e Hamburgo. “Foi um momento único. Levei meu sogro e ele chorou”, conta, agora me olhando nos olhos. “Ainda não me associei por falta de tempo. Estamos correndo para abrir a padaria, não consegui pensar nisso”. Eu pergunto: “As mensalidades não são muito caras?”. “Eles poderiam flexibilizar isso, né? Tenho medo que aumentem daqui a um ano”, diz.

Na saída, um segundo cusco perneta me acompanhou até o carro.

Toco y me voy,

Alexandre de Santi

10 Dec 13:36

O GATO DE BOTAS EXTRATERRESTRE (1990)

by Felipe M. Guerra

Quem viveu a Era de Ouro das videolocadoras brasileiras deve lembrar bem do nome Wilson Rodrigues. Através da sua empresa, a WR-Filmes Ltda., este mineiro de Belo Horizonte radicado em São Paulo distribuiu um montão de tralhas hoje dificílimas de encontrar mesmo lá fora, como a ficção científica pós-apocalíptica "1999 - O Sobrevivente do Fim do Mundo", de Michael Shackleton, o drama de guerra "Mergulhando Para o Inferno", de Shûe Matsubayashi, e o anime "Terror em Love City", de Kôichi Mashimo.

Mas Wilson Rodrigues também dirigiu e produziu seus próprios filmes. Começou com pornochanchadas ("A Dama do Sexo", "Meu Primeiro Amante"), mudou para o sexo explícito quando o pornô estava dando dinheiro ("Masculino... Até Certo Ponto", em 1986), e tentou limpar o currículo especializando-se em produções voltadas ao público infantil. "É a primeira vez que se tem a chance de produzir um vídeo especialmente dedicado ao público infantil, que tem poucos títulos brasileiros à sua disposição", declarou Wilson em reportagem da época.


O resultado da iniciativa foram duas produções baratas baseadas em contos de fadas, produzidas originalmente para o mercado de vídeo, mas também exibidas em alguns cinemas: "No Mundo da Carochinha Volume 1 - Chapeuzinho Vermelho" e "No Mundo da Carochinha Volume 2 - Joãozinho e Maria", ambas de 1986. José Mojica Marins, o Zé do Caixão, trabalhou na supervisão de "Chapeuzinho Vermelho", e Rubens Francisco Lucchetti, roteirista de vários filmes de Mojica e de Ivan Cardoso, ficou responsável pelas adaptações (acima, os pôsteres das duas produções).

Surpreendentemente, os dois filmes deram um bom retorno financeiro, e Wilson resolveu investir a grana que lucrou com eles numa produção melhorzinha, em sociedade com Rodri J. Rodriguez. Só que sonhou um pouquinho alto demais, achou que era Steven Spielberg e torrou todo o dinheiro num filme brasileiro com pretensões hollywoodianas (só pretensões). Em resumo, foi assim que nasceu O GATO DE BOTAS EXTRATERRESTRE, terceira obra da série "No Mundo da Carochinha", mas lançada diretamente em VHS sem esta alcunha, como se fosse uma produção independente.


Rubens Lucchetti novamente ficou a cargo da adaptação, dessa vez da fábula "O Gato de Botas" (Le Chat Botté, no original), do francês Charles Perrault (1628–1703). Esta história popular foi publicada originalmente no volume conhecido como "Histórias da Mamãe Gansa" (Les Contes de ma Mère l'Oye), em 1697. Anos depois, no século 19, os Irmãos Grimm escreveriam sua própria versão de "O Gato de Botas", mas sem nenhuma mudança marcante na trama já conhecida.

Na versão original dos contos de fadas, "O Gato de Botas" narra a história dos três filhos do finado proprietário de um moinho. O mais velho herda o moinho, o irmão do meio herda os cavalos, e o mais jovem fica com o inofensivo gatinho que pertencia ao pai. Só que não é um felino normal: o "Gato de Botas" do título anda em duas patas, fala e se comporta como gente (sem que ninguém estranhe o fato), e, entristecido com a pobreza do seu novo dono, arma um complicado esquema para que ele se case com a bela princesa do reino.


Pelos próximos dias, o Gato de Botas caça coelhos e gansos e os entrega ao rei como se fossem presentes do "Marquês de Carabás", de quem seria súdito. Repete isso tantas vezes que o rei e a rainha ficam encantados com a generosidade do nobre que sequer existe. Aí o gato malandro coloca seu dono no golpe durante um passeio de carruagem do rei, fazendo o rapaz identificar-se como o tão comentado marquês e fingindo que foi assaltado.

E a mentira vai ficando cada vez mais complexa: para que o rei acredite que seu humilde dono é mesmo um nobre, o Gato de Botas sai em disparada pelo reino inventando mentiras, convencendo fazendeiros a dizerem ao rei que suas terras pertencem ao fictício "Marquês de Carabás", e até matando um malvado Ogro que vive na região para apoderar-se do seu castelo, que passa a ser o castelo do marquês de mentirinha. No final, o rapaz pobretão que se fingia de nobre ganha a mão da princesa em casamento e vira príncipe de verdade, enquanto o mentiroso Gato de Botas diverte-se com sua nova vida entre a realeza.


Para a adaptação brasileira, Wilson Rodrigues contratou um elenco repleto de nomes famosos e/ou conhecidos, quase todos oriundos do elenco da Rede Globo na época. O fazendeiro e falso Marquês de Carabás, por exemplo, é interpretado por um jovem Maurício Mattar, então astro das novelas da Globo graças ao João Ligeiro de "Roque Santeiro".

Sua princesa é a ninfetinha Flávia Monteiro, que alguns anos antes, em 1987, tinha provocado polêmica por interpretar uma espécie de Lolita em "A Menina do Lado", protagonizando cenas ousadas com Reginaldo Farias. Na época do filme, ela integrava o elenco da novela das oito "Vale Tudo".


Já o papel do Gato de Botas, que já havia sido interpretado pelo oscarizado Christopher Walken numa adaptação mequetrefe da Cannon Films (e depois seria dublado por Antonio Banderas na série "Shrek"), ficou com Heitor Gaiotti, figurinha carimbada dos filmes de ação baratos de Tony Vieira (como "Tortura Cruel" e "O Último Cão de Guerra").

Ironicamente, Gaiotti era conhecido pelo apelido de "Gato", e talvez por isso tenha sido convidado a interpretar o personagem. (Alguns podem achar engraçado e "politicamente incorreto" um ator de pornochanchada interpretando um clássico personagem infantil, mas é bom não esquecer que o eterno Papaco Fernando Benini hoje está no elenco da novela "Carrossel"!)


O GATO DE BOTAS EXTRATERRESTRE começa com a então garota-propaganda do Leite de Aveia Davene, Tônia Carrero, no papel de uma simpática vovó contando uma história para a netinha dormir. Ela pega o livro do "Gato de Botas", e então começa a encenação da história, seguindo fielmente o original de Perrault (embora os créditos iniciais informem que o roteiro de Lucchetti baseou-se na versão dos Irmãos Grimm).

Além dos nomes já citados, Felipe Levy (célebre figurante do programa Os Trapalhões e ator em tralhas como "A Rota do Brilho") interpreta o rei, e a atriz gaúcha Carmem Silva a sua rainha. Tony Tornado aparece como um dos guardas do palácio, Joffre Soares é o feiticeiro malvado Mago Mau (substituindo o Ogro da história original), e há pequenas participações de Zezé Motta e José Mojica Marins como vítimas do feiticeiro malvado. Mojica aparece vestido como Zé do Caixão, mas identifica-se como "Príncipe Renini", um jovem enfeitiçado para ficar com a aparência do Zé do Caixão, na única tirada divertida da adaptação.


O produtor Wilson (que faz uma ponta lendo o testamento dos três irmãos no início do filme) não poupou esforços para dar o ar de "superprodução hollywoodiana" que tanto sonhava ao seu filme. Além de filmar parte das cenas em Monte Verde (MG) e na cidade gaúcha de Gramado - onde também foram aproveitadas as miniaturas de castelos do parque temático Mini Mundo para as externas do reino do conto de fadas -, Wilson encomendou a máscara do Gato de Botas ao Burman Studio, em Hollywood.

Você não leu errado: "o" Burman Studio, aquele mesmo responsável pelos licantropos de "A Marca da Pantera" e "O Garoto do Futuro", pelo Sloth de "Os Goonies", e indicado ao Oscar de Melhor Maquiagem pelas assombrações da comédia "Os Fantasmas Contra-Atacam" (1988). A máscara do gato realmente é bem expressiva, e deve ter comido a maior parte do orçamento, mas sozinha não salva o filme. (Para não ser injusto, a caracterização de Joffre Soares como feiticeiro malvado também é muito boa.)


E se a produção segue fielmente o original de Perrault/Irmãos Grimm (descontando, é claro, a introdução com a vovó e sua netinha, e o bruxo no lugar do ogro), por que diabos o título é O GATO DE BOTAS EXTRATERRESTRE?

Aí é que está o problema: para tentar dar uma ar mais "moderno" à fábula, já que as crianças do final dos anos 80 foram educadas mais por Spielberg e George Lucas do que pelos velhos contos de fadas, Lucchetti resolveu dar uma origem alienígena ao Gato de Botas, o que talvez explique o fato de o gato andar, falar e comportar-se como ser humano - embora no filme, como na fábula original, ninguém nunca estranhe esse comportamento.


O problema é que o produtor Wilson deve ter ficado sem dinheiro na hora de filmar as cenas que explicam essa origem alienígena. Portanto, não espere por cenas com o Gato de Botas em seu planeta cheio de outros Gatos de Botas inteligentes e malandros, recebendo a missão de ir à Terra ajudar o pobre fazendeiro. O máximo de "extraterrestre", para justificar o título absurdo do filme, são takes totalmente gratuitos de uma nave espacial em formato fálico no espaço (sua construção é creditada a "Alex Miller"), enxertados sem muito critério no meio da narrativa.

E a conclusão também traz um toque mínimo de ficção científica, quando revela-se que o tal "Gato de Botas Extraterrestre" na verdade é um robô! O personagem fica paralisado enquanto caminha pelo campo, como se as pilhas tivessem acabado, e foi isso mesmo que aconteceu! Então a tal nave em formato fálico aproxima-se da órbita da Terra, um alienígena vestido de preto estilo Darth Vader sai dela e troca as baterias do Gato de Botas, que volta a andar todo serelepe. The end!


Em resumo, a natureza "extraterrestre" do Gato de Botas não acrescenta absolutamente nada de novo à fábula, e a trilha sonora roubada de "Blade Runner - O Caçador de Andróides", repetida ad nauseam ao longo do filme, também falha em dar qualquer tom de ficção científica ao produto final. Lá pelas tantas, também entram trechos da 9ª Sinfonia de Beethoven, talvez porque os realizadores tenham ficado com vergonha da repetição da música de "Blade Runner".

Misteriosamente, os créditos iniciais indicam Jorge Mello como autor da trilha sonora do filme, mas não consegui perceber nenhuma música original além das chupadas de "Blade Runner" e de Beethoven. De qualquer jeito, faz-se a menção.


Se os toques de ficção científica não acrescentam nada de novo, Lucchetti tampouco parece interessado em mexer no texto original, adaptado praticamente na íntegra. Não há espaço para que os poucos personagens novos, como o príncipe enfeitiçado para ter a cara do Zé do Caixão, ou mesmo o bruxo malvado, possam fazer algo para justificar suas existências.

O guarda do rei interpretado por Tony Tornado em certos momentos parece suspeitar da idoneidade do Gato de Botas, mas nem a este personagem é dado qualquer espaço para crescer e mostrar serviço. Por isso, na maior parte de O GATO DE BOTAS EXTRATERRESTRE só vemos Heitor Gaiotti correndo para cá e para lá com suas mentiras e Maurício Mattar andando de carruagem com Flávia Monteiro e Carmen Silva, ele com cara de bunda, elas com cara de paisagem - quem sabe pensando "Por que diabos fui me meter nessa furada?".


Particularmente, acho bem triste o fato do roteiro de Lucchetti preferir manter a ambientação do conto original num "reino de conto de fadas", com os poucos e dispensáveis toques de ficção científica, ao invés de "abrasileirar" a trama, fazendo, quem sabe, uma adaptação contemporânea do Gato de Botas aqui no Brasil, e não num reino mágico de conto de fadas.

Afinal, se a fábula de Perrault pode ser interpretada como um elogio à esperteza, por outro lado também incentiva e glorifica a mentira: o que o Gato de Botas faz não deixa de ser o popular "conto do vigário", enrolando o rei e a rainha para que entreguem a mão da sua filha a um fazendeiro pobretão que se finge de nobre.


Portanto, sendo o Gato de Botas um personagem tão "171", parece ter nascido para estrelar uma adaptação feita no Brasil, o notório país dos malandros que querem levar vantagem às custas dos outros. Numa adaptação contemporânea da fábula, o felino poderia ter se transformado num personagem estilo Zé Carioca, e sem princesas e castelos.

Mas Wilson Rodrigues e Rubens Lucchetti preferiram uma adaptação mais tradicional, e os ridículos elementos de ficção científica parecem ter sido inseridos no fim das filmagens. Ao mesmo é a essa conclusão que se chega na pesquisa por reportagens antigas sobre a produção, que ainda era chamada apenas de "O Gato de Botas". Não duvido que a sub-trama com a origem extraterrestre do personagem tenha sido acrescentada depois para tornar o filme mais atrativo à molecada, o que também justificaria as poucas cenas com esse tema.


No conjunto, O GATO DE BOTAS EXTRATERRESTRE é um desastre. Não há história para mais do que um curta-metragem de meia hora, e curiosamente os episódios anteriores de "No Mundo da Carochinha" ficavam nessa metragem, entre 40 e 50 minutos. Mas este aqui preferiram transformar em longa, com intermináveis 85 minutos! Não há a menor noção de ritmo e nem um mínimo de edição (cada take dura uma eternidade).

Como não havia história para contar (a própria fábula em que se inspira é bem curtinha), a solução foi enrolar com inúmeras e intermináveis cenas de cavaleiros galopando, com loooooooooongas cenas dos personagens caminhando de ponto A para ponto B, ou ainda a festa de casamento da princesa com o "Marquês de Carabás" no final, filmada como se fosse um autêntico vídeo de festa de casamento da vida real - ou seja, com cenas longas e arrastadas de pessoas comendo, dançando e se divertindo.


O excesso de astros e estrelas, efeitos hollywoodianos e pompa de O GATO DE BOTAS EXTRATERRESTRE cobrou seu preço, e o diretor/produtor Wilson Rodrigues teria ido à bancarrota. Pelo menos foi o que explicou o roteirista Lucchetti em entrevista de 2000: "Wilson investiu todo o seu dinheiro numa superprodução, que, apesar de não ficar devendo nada às fitas hollywoodianas, levou a WR-Filmes à falência".

O filme sequer chegou aos cinemas, como os dois volumes anteriores da série "No Mundo da Carochinha", saindo direto em vídeo. E se a data oficial da produção é 1990, aparenta ter sido filmado pelo menos dois anos antes (provavelmente ficou emperrado pelos problemas financeiros e de distribuição).


O curioso é que os créditos iniciais do filme estão em inglês (o título inclusive ficou "The Extra-Terrestrial Cat in Boots"!!!), porque a ideia de Wilson e cia. era lançá-lo nos cinemas disputando espaço e público de igual para igual com os blockbusters de Hollywood. "Nosso Gato de Botas vai enfrentar Spielberg", dizia a manchete "só um pouquinho" exagerada de um jornal da época da produção.

Só que o inglês do cara que fez os títulos não era tão bom assim, e deixou passar algumas pérolas. O montador Walter Wanny, por exemplo, virou o responsável pela "ediction" (!!!), palavra que nem existe na língua inglesa (o correto seria "montage", ou "film editing by"); o co-produtor Rodri J. Rodriguez virou "The Rodri Group" (!!!); e os agradecimentos nos créditos finais são identificados pela cartola "Thankfulness" (!!!).


Wilson Rodrigues ainda insistiu e tentou fazer um quarto "No Mundo da Carochinha" em 1994, novamente com roteiro de Rubens Lucchetti, e dessa vez com apresentação de Mojica. Algumas cenas chegaram a ser filmadas, mas a produção foi cancelada pelas dificuldades financeiras do produtor, e porque o próprio cinema brasileiro vivia tempos muito difíceis pré-Retomada.

Ignorado na época de seu lançamento, O GATO DE BOTAS EXTRATERRESTRE logo ganhou uma sobrevida entre os admiradores de filmes trash. Afinal, não é todo dia que você Maurício Mattar como príncipe assessorado por Heitor Gaiotti com uma máscara de gato, e Tony Tornado e Zé do Caixão fazendo parte do mesmo elenco!


E eu não consegui descobrir se o filme chegou a ser lançado no exterior, mas, por mais inacreditável que isso soe, existem reproduções do pôster original do filme para vender em sites como Amazon e Moviegoods! Não consigo imaginar quem em sã consciência seria maluco o suficiente para adornar seu quarto ou sala de estar com um pôster de O GATO DE BOTAS EXTRATERRESTRE...

Mas, a julgar pela quantidade de gente talentosa/famosa que se envolveu nessa canoa furada, e à quantidade de linhas que o demente aqui escreveu sobre o filme, o que mais tem nesse mundão é gente maluca...

PS: Um dos assistentes de direção foi Custódio Gomes, que já havia lidado com "extraterrestres" antes, mas num filme com teor bem menos infantil: o pornô "Aguenta Tesão - O ETesão"!

Trailer de O GATO DE BOTAS EXTRATERRESTRE


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O Gato de Botas Extraterrestre (1990, Brasil)
Direção: Wilson Rodrigues
Elenco: Maurício Mattar, Heitor Gaiotti, Flávia Monteiro,
Felipe Levy, Carmen Silva, Tony Tornado, Joffre Soares,
José Mojica Marins e Zezé Motta.
01 Nov 17:45

Um herói sem plateia

by Otávio Maia
Paulotf

Sobre um dos grandes nomes do tênis atual. Brasileiro e belorizontino.

Por @maia_otavio

É meio esquisito, mas existe algo de importante acontecendo no esporte brasileiro e passando quase que completamente despercebido, a não ser a um círculo muito restrito de amantes do tênis.

Goste você ou não da modalidade, é muito provável que saiba quem é Thomaz Bellucci e que ele é o principal representante do País nesse esporte atualmente.

O que tem passado em branco para a grande maioria é que há outro atleta vivenciando seu auge na mesma modalidade e alcançando conquista raras e inéditas para o Brasil, a ponto de colocar seu nome na história.

Trata-se do mineiro Bruno Soares, 30 anos, um dos 20 melhores do mundo em duplas, segundo o ranking da ATP.

É verdade que a visibilidade do circuito de duplas é muito menor do que a do circuito de simples – e que isso se dá de forma legítima, conforme o grau de interesse das pessoas pelo espetáculo. Mas isso não diminui os méritos do atleta nem a importância de ter um representante do País levantando os mais importantes troféus da ATP e da ITF.

Na carreira, Bruno já conquistou dez torneios de primeira linha, cinco deles neste ano e dois nas últimas duas semanas. Isso representou um salto para a 18ª colocação. Entre as façanhas do ano estão também a vitória sobre atletas de importância histórica e as atuações firmes na Copa Davis, que ajudaram o Brasil a finalmente voltar à elite do tênis.

O momento de maior destaque, no entanto, foi na categoria de duplas mistas, ao lado de Ekaterina Makarova. Ele conquistou o título do US Open, primeiro Grand Slam para o Brasil desde o tricampeonato de Guga em Roland Garros.

Bruno se tornou o segundo brasileiro a faturar um Major em duplas, já é o recordista de títulos, ao lado de Marcelo Melo, Cássio Mota e Carlos Alberto Kirmayr, e agora pode se tornar o terceiro representante do Brasil no top 10 desde a criação do ranking.

Num País com história modesta no tênis, Bruno passa a ser um capítulo importante, com uma trajetória de persistência e vitórias. Apontado como grande promessa quando juvenil, não despontou no profissional porque antes dos 18 anos problemas físicos já retardavam sua evolução. Chegou a ficar dois anos longe do circuito, dedicando-se à vida de empreendedor, e no retorno passou a ter bons resultados em duplas, até se especializar na modalidade.

Bruno não é exatamente um injustiçado. O fato de ele permanecer anônimo para a grande maioria é conseqüência simplesmente de que o jogo de duplas tem menos visibilidade que o de simples – e não porque a imprensa não o valoriza ou o porque a cultura esportiva brasileira seja incapaz de reconhecer os seus talentos.

Quis a história que o mineiro despontasse em duplas, e não em simples. Bruno não é exatamente um ídolo nacional, mas não deixa de ser um herói do nosso tênis. Um herói sem plateia.

26 Oct 13:04

Imagina (minha crônica no Divirta-se do Estadão)

by Ricardo Freire
Paulotf

Tenho que concordar com esse texto.

Entre os meus hábitos mais bizarros está o de acompanhar, rodada por rodada, as séries B e C do campeonato brasileiro. Torço fervorosamente contra todos os times sem torcida, movidos a grana de prefeituras ou de empresários exportadores de mão-de-obra, que tiram o lugar de times populares do Norte-Nordeste. Neste momento, por exemplo, estou abalado pel [...]
23 Oct 12:21

Non Sequitur for Monday, October 22, 2012

by Wiley Miller
Paulotf

A ideia tornaria mais assistível qualquer atração de TV. De talk-show a programa de vendas do Shoptime.