Analua é portuguesa e feminista com certeza. Pode haver um oceano nos separando, mas... nada nos separa.
Tenho 22 anos, sou de esquerda, feminista assumida e tenho uma personalidade forte.
Ora, tais características fazem de mim um alvo a criticar, comentar, xingar... you name it.
Só a palavra
feminista leva a que pensem que odeio homens, que não sou feminina (conceito esse, que não entendo mesmo) e que o meu sonho é
queimar sutiãs e dominar os homens. Até já me perguntaram se luto pela supremacia feminina e se acho que as mulheres devem mandar nos homens (sim, as pessoas pensam mesmo isto).
Passei a minha adolescência e os últimos anos a ouvir piadas de que todas as minhas conversas viravam manifestações e reivindicações. Sim, porque mulher não pode ter personalidade forte nem convicções. Ouve logo "Ui, que mau feitio", "Assim nenhum homem te atura!". Gente oca e preconceituosa, enfim.
A sociedade portuguesa ainda é muito fechada. A educação e criação de valores morais e pessoais está ligada ao catolicismo e conservadorismo. E logo aí fujo à regra. Os meus pais educaram-me com bons valores, incentivaram-me a ser culta e educada, mas sempre sem ligação à religião/igreja.
Lembro-me de ter 15 anos e já ouvir "Os teus pais devem ser muito religiosos", só porque disse que fazíamos voluntariado e imensas doações de comida, brinquedos, roupa e afins, para diversas instituições de caridade.
Aqui há muito a ideia que ser boa pessoa ou alguém legal (como vocês dizem) é porque se é católico e se vai muito à missa.
Pois bem, no meio deste conservadorismo e consequente mania de "cagar regra" e de ajuizar sobre a vida do vizinho, fui crescendo e lendo. Devorei livros, absorvi tipo esponja muitos filmes e documentários, e falei milhentas horas com a minha mãe. E assim me formei/politizei.
Admiro imenso a minha mãe, que há 10 anos já me dizia "tu não nasceste para ser mãe/dona de casa ou brinquedo de marido!".
Hoje orgulhosamente afirmo o mesmo e sou logo rotulada de "machona", " lésbica". Ou ouço: "Tu vais morrer sozinha". Queres saber, o melhor, Lola?
É que ouço estas coisas de conhecidos/amigos com a mesma idade que eu. Estranhamente, e sem fazer qualquer tipo de sentido, os jovens adultos de hoje são mais conservadores que os próprios pais.
Quer dizer, faz algum sentido que os filhos dos pais que viveram a geração hippie, amor livre e afins, sejam tão providos de machismo e outros preconceitos?
Os sonhos das minhas amigas, algumas entre os 20/25 anos que nunca trabalharam,viajaram ou "viveram" a vida, baseiam-se em ser mães, em ser esposa e ter família. Tudo bem, mas e o sonho em ser "eu"? Em viver de bem com o que somos, a nível individual? Por quê ansiar por viver para os outros, e não por ti?
Não critico quem deseje ser mãe, mas então por que não respeitam a minha opção de não querer casar nem formar família?
Critico sim quem criou as filhas com a ideia de "tem que ser mãe!", "tem que casar ou não serás uma mulher completa". Esta imposição do suposto papel feminino vem até já intrínseco ao hábito de dar bebês, cozinhas e coisas ligadas a tarefas domésticas para meninas pequenas brincarem.
Questiono: serei menos mulher porque não ligar nem achar piada a crianças? Serei menos mulher porque não sonho com vestido tipo Cinderela e casamento enormão na igreja?
Sinto-me feliz a trabalhar na área em que me especializei na faculdade, sinto-me feliz a viajar, sinto-me feliz lendo livros, indo a manifestações, e tudo mais. Nasci para ser eu,para ser mulher como bem me apetecer, para viver e trabalhar como eu desejar.
Quanto mais "achincalho" recebo, mais eu luto.
Luto por uma sociedade em que eu não seja vista como um objeto, mas sim como mulher. Luto para que as mulheres vivam nos seus plenos direitos, sem terem de ser dadas aos homens, só porque alguém lhes disse que é o correcto.
Luto, para que a mulher diga "Não", livremente.
Acredito numa sociedade justa, onde não há papeis definidos, onde não terei de dizer "sou feminista" só porque acredito na igualdade.
Quero uma sociedade limpa de moralismos. Luto, para que um dia, todos tenhamos igual acesso a oportunidades, onde o dinheiro não compre honra, nem cargos nem direitos básicos, como saúde, educação e afins.
Luto por uma sociedade que entenda de uma vez por todas que o conceito de família tem a ver com afectos, e não com entidades e orientações sexuais. Seja bi, gay, hetero, lésbica, trans: toda a gente merece constituir família, se assim o desejar.
Luto, afincadamente, para que parem de rotular mulheres: acabem de uma vez por todas com os nomes de "santa", "dama", "piriguete", "vaca", "puta", "mulher que se dá ao valor" e coisas do gênero.
Para terminar o meu longo post, desejo as maiores felicidades do mundo a todas as feministas que lutam pela igualdade de direitos. Nunca desistam. Vençam conservadorismos e preconceitos, lutem para sermos vistas como seres humanos, lutem para que nos deixem de entender como objeto que têm que aguentar todo o tipo de baixarias e violências. Sejamos mulheres com orgulho, plenas e seguras de que o corpo é só nosso, e fazemos dele o que queremos.
Sejamos mulheres fortes e independentes que lutam para fazer da sua vida profissional, íntima, social e familiar, aquilo que bem lhes apetece.
"Ni santas, ni putas. Solo mujeres". Uma das minhas frases favoritas.