- Ei, vem cá.
- Oi.
- Senta aqui comigo, vamos ver o pôr-do-sol na beira da praia.
- Ok, vamos.
- O que você tem?
- Estou preocupado.
- Com o que?
- Com muitas coisas, às vezes eu sinto o mundo desabando na minha cabeça.
- Natural, isso acontece. Pense pelo lado bom, você é cabeçudo, aguenta o
tranco.
- [olhar reprovador] [sorriso em seguida] Espero que sim.
- Então abra o sorriso, seu sorriso é tão bonito.
- Hum. Vou sorrir só porque você está pedindo, hein?
- Agora sim, gosto de me sentir uma mulher poderosa.
[riem]
* * *
[olham o sol se pôr, sem dizer uma palavra]
[fazem cafuné]
- Vou sentir saudade.
- Eu também.
- quando você volta?
- Em breve.
- “Em breve” demora pra cacete quando se gosta de alguém.
- É verdade.
- Espero que você venha mais breve do que “em breve”.
- Eu também espero. E você, quando vai?
- Eu não sei, mas quero ir logo.
- “Ir logo” combinado com “não sei”, convenhamos, demora muito mais do que “em breve”.
- É, estou me esforçando. Quem sabe eu não tenha uma surpresa boa?
- Sério?
- Sim!
- É aquilo que talvez eu ache que é?
- Deixe de ser curiosa.
- Ah, me conta.
- Não, você terá de ser paciente.
- Ah, não faz isso, é sacanagem.
- Poxa…
[ri]
[ela faz olhar reprovador]
[ele faz cafuné]
* * *
- Você quer conversar sobre o que te aflige?
- Ah, não quero estragar este momento, está tão bonito, com o sol caindo na água, assim perto de você…
- Tem certeza? Estou aqui pro que der e vier, você sabe.
- Eu sei, obrigado por estar sempre ao meu lado.
[passa um vendedor de cerveja]
[ela chama o vendedor de cerveja]
- Ei, moço, me dá duas cervejas?
- Dou, claro.
- Quanto é?
[diz o valor]
- Obrigado, pode ficar com o troco.
- Deixa que eu pago.
- Fica quieto aí, é presente meu.
- Hum.
- Ei, moça?
- Oi.
- Cuide dele, porque ele também quer cuidar de você.
- Eu sei, ele é um cara bom.
- Tá vendo, até o vendedor de cerveja sabe que eu sou um cara legal.
- E você também é, moça. Você vale ouro. E tudo dará certo.
- É?
- É.
- Às vezes ele se preocupa de não dar certo.
- Eu sou assim, realista. E quero que dê certo.
- Cale a boca, escute o moço da cerveja.
- Não deveria. Já deu certo. Nem sempre o que está no papel é o que está
escrito, muitas coisas se escrevem no silêncio cúmplice.
- Hum. Tá vendo, paspalho?
[faz muxoxo]
- Então chegue perto dele, moça, e o faça se sentir feliz e querido.
* * *
- Psiu.
[ele olha]
- Eu amo você.
- O que?
- Eu amo você.
- Eu também amo você.
[sentam juntos, se beijam, abrem a cerveja, olham o pôr-do-sol]
Arquivo em:Contos Tagged: Contos, Fotografia