Shared posts

23 Oct 14:45

Pôr-do-Sol

by achrispin

- Ei, vem cá.
- Oi.
- Senta aqui comigo, vamos ver o pôr-do-sol na beira da praia.
- Ok, vamos.
- O que você tem?
- Estou preocupado.
- Com o que?
- Com muitas coisas, às vezes eu sinto o mundo desabando na minha cabeça.
- Natural, isso acontece. Pense pelo lado bom, você é cabeçudo, aguenta o
tranco.
- [olhar reprovador] [sorriso em seguida] Espero que sim.
- Então abra o sorriso, seu sorriso é tão bonito.
- Hum. Vou sorrir só porque você está pedindo, hein?
- Agora sim, gosto de me sentir uma mulher poderosa.
[riem]

* * *

[olham o sol se pôr, sem dizer uma palavra]
[fazem cafuné]

- Vou sentir saudade.
- Eu também.
- quando você volta?
- Em breve.
- “Em breve” demora pra cacete quando se gosta de alguém.
- É verdade.
- Espero que você venha mais breve do que “em breve”.
- Eu também espero. E você, quando vai?
- Eu não sei, mas quero ir logo.
- “Ir logo” combinado com “não sei”, convenhamos, demora muito mais do que “em breve”.
- É, estou me esforçando. Quem sabe eu não tenha uma surpresa boa?
- Sério?
- Sim!
- É aquilo que talvez eu ache que é?
- Deixe de ser curiosa.
- Ah, me conta.
- Não, você terá de ser paciente.
- Ah, não faz isso, é sacanagem.
- Poxa…

[ri]
[ela faz olhar reprovador]
[ele faz cafuné]

* * *

- Você quer conversar sobre o que te aflige?
- Ah, não quero estragar este momento, está tão bonito, com o sol caindo na água, assim perto de você…
- Tem certeza? Estou aqui pro que der e vier, você sabe.
- Eu sei, obrigado por estar sempre ao meu lado.

[passa um vendedor de cerveja]
[ela chama o vendedor de cerveja]

- Ei, moço, me dá duas cervejas?
- Dou, claro.
- Quanto é?

[diz o valor]

- Obrigado, pode ficar com o troco.
- Deixa que eu pago.
- Fica quieto aí, é presente meu.
- Hum.
- Ei, moça?
- Oi.
- Cuide dele, porque ele também quer cuidar de você.
- Eu sei, ele é um cara bom.
- Tá vendo, até o vendedor de cerveja sabe que eu sou um cara legal.
- E você também é, moça. Você vale ouro. E tudo dará certo.
- É?
- É.
- Às vezes ele se preocupa de não dar certo.
- Eu sou assim, realista. E quero que dê certo.
- Cale a boca, escute o moço da cerveja.
- Não deveria. Já deu certo. Nem sempre o que está no papel é o que está
escrito, muitas coisas se escrevem no silêncio cúmplice.
- Hum. Tá vendo, paspalho?
[faz muxoxo]
- Então chegue perto dele, moça, e o faça se sentir feliz e querido.

* * *

- Psiu.

[ele olha]

- Eu amo você.
- O que?
- Eu amo você.
- Eu também amo você.
[sentam juntos, se beijam, abrem a cerveja, olham o pôr-do-sol]


Arquivo em:Contos Tagged: Contos, Fotografia
18 Oct 10:36

Desonestidade que me convém

11 Oct 15:25

Carrossel de Emoções

by achrispin

Olhar pra trás e se ver criança é uma das melhores sensações que se pode ter. A nostalgia amarelada que vem junto com as lembranças, jogando bola, soltando pipa, rodando pião, pulando muro. Recordar dos amigos e das traquinagens, sempre com um sorriso sapeca no rosto.

Olhar para os lados e relembrar dos amigos. Onde estão? Pra onde foram? Daqueles um milhão de amigos, sobraram os que se contam nos dedos da mão, não por raiva ou entrevero, mas porque os ventos da vida sopram em tantas direções e velocidades que as pessoas se perdem. E repousam nos causos e na saudade.

Vieram os novos, outras histórias, outros caminhos. Que andam de mãos dadas, ou que passam como brisa. Que descem como vodka rascante ou que flanam como um bom vinho do Porto. E tudo se mescla e gera uma nova perspectiva.

Olhar para frente e descobrir o futuro. Os sonhos de ser jogador de futebol, cantor, de passar em uma faculdade. O primeiro gol na rua, mais importante que o de Pelé. A primeira briga, o primeiro flerte. O primeiro beijo, mais importante que o gol que já era aquilo tudo.

O primeiro namoro, a primeira lágrima do término doloroso, quando tudo que se quer é morrer de forma indolor, sem saber que daqui a um ano haverá um novo amor, geralmente platônico e impossível. Lidar com a perda, a primeira morte, tão impactante quanto a música de plantão que toca na TV.

Descobrir o corpo, o proibido, lidar com os medos, com as lendas. O homem do saco, a loira do banheiro, o papa figo, o cara da kombi. Se sentir imortal, imbatível, imparável, para o desespero dos pais, que nem sempre estão juntos, aliás. Lidar com a família partida ou unida, uma roleta que não depende daquele olhar.

Olhar para si e ver a vida crescer. Ver sementes que brotam e nascem. Observar seu presente virar passado, seu futuro virar o hoje. Deixar de ser o calouro e virar o experiente. Ver o ponteiro que girava lento passar a correr como velocista.

Olhar para dentro e desvendar que o olhar dos seus pais agora está ali, reverberado. Os medos, os apuros, as alegrias, os sorrisos e as lágrimas. E até as lágrimas com sorrisos. Saber dividir, desde a última gota de paciência até o primeio raio de sol que entra na janela do sono gostosamente mal dormido.

E seguir em frente, a rumo incerto e não sabido, mas sabendo que deixou um legado. Que anda, que fala, que pensa, sente e vive. Que é herdeiro e responsável direto por tudo e de tudo que se faz. E que consegue manter os velhos sempre com o frio na barriga do medo e com os olhos brilhando de orgulho. Novos e velhos, sempre crianças, no carrossel de emoções.


Arquivo em:Divagações, Egotrip Tagged: Divagações, Egotrip, Vida
03 Jul 10:24

Tchau, Wunderlist: perder meus dados (e nem saber dizer quais) é abuso demais

by Augusto Campos

Não é sem tristeza que escrevo estas linhas, mas após o e-mail recebido hoje avisando de perda de dados (e eles nem sabem quais as tarefas afetadas) nos servidores deles, chegou o dia de eu começar a procurar uma alternativa para o Wunderlist.

Faz tempo que ele é o app que uso para gerenciar minhas tarefas e pendências, mas acabei de receber um e-mail enviado aos usuários (não sei se a todos) dizendo que eles tiveram problemas de sincronização, e pedindo para que eu entre na versão web do serviço e confira o que estiver faltando, recadastrando as tarefas que eu perceber que sumiram.

Eu tolerei bastante coisa do Wunderlist em nome da expectativa que tinha de que ele ia compensar, mas perder meus dados e fazer com que o procedimento de recuperação exija conferência visual e reentrada manual é uma prova muito grande de falta de preocupação com a robustez, em uma área de aplicação em que isso não pode acontecer.

Tchau, Wunderlist. Guardarei saudades de quando você funcionava bem.

E aos leitores que, como eu, acreditaram no Wunderlist mas acharem que é hora de migrar, em breve escreverei sobre qual a ferramenta que escolherei para sucedê-lo, e como farei a migração. Aguardem!

O artigo "Tchau, Wunderlist: perder meus dados (e nem saber dizer quais) é abuso demais" foi originalmente publicado no site Efetividade, de Augusto Campos.

27 Jun 11:14

Alternativa para o Google Reader: eu já escolhi a minha

by Augusto Campos
Mmcorghi

Excelente dica para quem ainda não achou um substituto para o Reader do Google

Alternativas para o Google Reader não faltam, e continuam surgindo, mas eu já escolhi a minha, e recomendo que você faça o mesmo nos próximos dias, se for usuário do serviço que está em vias de ser descontinuado.

O Google Reader encerra suas atividades na próxima segunda-feira, e quem o usa para ler ou concentrar os feeds dos seus sites favoritos está nos últimos dias para escolher um sucessor.

Não é uma decisão que me agrada: ele me atende bem, e traz muitos leitores ao meu site todos os dias. Mas por uma série de razões o Google vai encerrá-lo, e a minha sugestão é que você não deixe de baixar seus dados via Google Takeout para o caso de ter utilidade para eles no futuro em outro serviço.

Quanto a outro serviço on-line para passar a usar no lugar do Reader, eu já escolhi o meu: é o Feedly, e a razão que sacramentou a escolha foi apenas um botão: o "importar dados do Google Reader" com um único clique na capa do site, sem nenhum preenchimento extra (a não ser que você não esteja logado na sua conta do Reader no mesmo navegador antes de realizar a operação, e aí terá que primeiro se identificar).

A interface do Feedly não é muito diferente da do Reader (a não ser que você deseje escolher as suas visualizações alternativas), mas ele tem vários serviços que o Reader não tem, ou deixou de ter ao longo dos anos, incluindo o compartilhamento fácil dos links para as notícias por uma série de serviços on-line.

Eles também tiveram o cuidado de abrir sua API para desenvolvedores externos, e assim vários apps e serviços (incluindo o IFTTT) que antes usavam o Google Reader para armazenar seus feeds estão migrando para suportar o Feedly. Além disso, no período de 3 meses desde o anúncio do fim do Reader, o Feedly passou a ter acesso diretamente pela web, e uma visão baseada apenas nos títulos, como a do serviço que está saindo do ar.

Muito bem pensado e executado, autores do Feedly!

Alternativas ao Google Reader: opções adicionais

O Feedly certamente não é a única alternativa, não faltam grandes nomes embarcando nessa transição (a AOL lançou um "Reader" anteontem, o Digg está lançando o dele, dizem que o Facebook também está fazendo o seu, o Flipboard também embarcou timidamente nessa, etc.)

Se você quiser migrar sem aguardar, aqui vai uma lista de boas opções:

Nem todos eles são similares ao Reader, e cada um deles tem seu ponto forte. Se quiser apoio na decisão, dê uma olhada neste artigo do GigaOM e no comparativo do Lifehacker, cujos leitores votaram no Feedly (com larga vantagem) como melhor opção, e no The Old Reader como 2º colocado, deixando todos os demais concorrentes bem para trás.

Atualização: o leitor Luís Santos sugeriu entusiasticamente o InoReader (que também tem importação em um único clique), e a equipe do Rolio me escreveu para indicar o seu serviço, que importa do Reader via OPML e tem integração a redes sociais.

O artigo "Alternativa para o Google Reader: eu já escolhi a minha" foi originalmente publicado no site Efetividade, de Augusto Campos.