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08 Jul 16:41

Gilmar salva Demóstenes

by Miguel do Rosário

Ué, quer dizer que Gilmar Mendes, ministro do STF, mandou Demóstenes voltar ao trabalho, desmoralizando o Conselho Nacional do Ministério Público e ninguém protesta?

Onde estão os editoriais falando em “desmoralização do STF”?

Onde estão os enormes infográficos para relembrar o leitor do escândalo Cachoeira?

Onde estão os vídeos e áudios mostrando Demóstenes Torres, senador da República, cumprindo ordens de um contraventor?

Onde estão os batalhões de repórteres vigiando dia e noite a rotina de Demóstenes, para saber se ele tem alguma “regalia”?

E quem tem regalia é Dirceu, preso na Papuda?

Não há gravação nenhuma contra Dirceu ou Genoíno. Não há uma prova material sequer contra Dirceu. Ele foi condenado pelo STF usando-se (sob protesto do próprio criador da teoria) o “Domínio do Fato”.

Mesmo assim, Joaquim Barbosa aumentou, e admitiu isso diante das câmeras, a pena de Dirceu para evitar a “prescrição”.

Barbosa é o herói da Globo e dos barzinhos chiques do Leblon.

Enquanto isso, Demóstenes Torres agora volta à Procuradoria de Justiça. Além de não ser preso. Além de continuar ganhando salário. Agora terá um cargo para combater o crime, com acesso a informações sigilosas.

Esse é o STF que, segundo a Globo, agora “prende poderosos”?

O Conselho Nacional do Ministério Público não vai montar uma história em quadrinhos para crianças, para explicar o caso Demóstenes, como fez a Procuradoria Geral com o mensalão do PT?

Os movimentos anticorrupção não vão repetir o bordão: “lugar de bandido é na cadeia”?

Abaixo, uma reportagem mostrando Demóstenes pedindo instruções de Cachoeira sobre como proceder acerca de uma votação.

E aqui, o senador Aécio Neves, outro falso paladino da ética, se desmanchando em elogios à Demóstenes Torres:

Outra lembrança importante. Demóstenes Torres era um dos “mosqueteiros da ética” da revista Veja.

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*

Gilmar Mendes suspende afastamento de Demóstenes Torres do MP-GO

André Richter – Agência Brasil03.07.2014 – 15h08 | Atualizado em 03.07.2014 – 18h39
na Agência Brasil.

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu mandado de segurança para que o ex-senador Demóstenes Torres volte a exercer a função de procurador de Justiça em Goiás. A decisão derruba uma liminar do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). No entanto, o retorno não será imediato, pois uma decisão da Justiça goiana, que também suspendeu Demóstenes do cargo, está em vigor.

Na decisão, Gilmar Mendes considerou que o afastamento de Demóstenes é abusivo, por ter sido prorrogado por mais de 120 dias, além da falta previsão de julgamento. “O que se vislumbra no presente caso é apenas a plausibilidade da alegação do impetrante, para fins de concessão da medida liminar, quanto à desproporcionalidade entre a previsão legal de afastamento e o período em que se encontra afastado, somada à circunstância de insegurança jurídica quanto à definição de um prazo para julgamento definitivo do PAD [processo administrativo disciplinar] em que figura como parte”, afirmou Mendes.

O Ministério Público de Goiás (MP-GO) investiga a conduta do ex-parlamentar e suas supostas ligações com o empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira. As denúncias resultaram da participação do ex-senador nos episódios relativos às operações Vegas e Monte Carlo, que apuraram esquema de corrupção e exploração ilegal de jogos em Goiás e no Distrito Federal.

Primeiramente, o caso relativo a Demóstenes foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas, com o afastamento dele do cargo político e a perda da prerrogativa de foro, os autos foram encaminhados à Justiça goiana. O ex-senador renunciou ao mandato em 2012.

Editor: Beto Coura

 

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Gurgel, o pitbull do PGR quando era pra pegar o PT, sorri amistosamente para Demóstenes.

06 Jul 13:30

Mídia tucana deu mais um tiro no pé ao politizar tragédia em BH

by Miguel do Rosário

Essa é das boas.

Vocês devem ter acompanhado o esforço desesperado e asqueroso da mídia de politizar o desabamento do viaduto em Belo Horizonte. Tentaram de todas as formas associá-lo ao governo federal, à Dilma e à Copa do Mundo.

Acontece que hoje a prefeitura de Belo Horizonte, controlada por uma ala do PSB totalmente aliada a Aécio Neves, não teve como fugir de sua responsabilidade. O secretário de Obras, Lauro Nogueira, num gesto louvável de coragem política (embora não de competência), deu uma entrevista coletiva à imprensa, e afirmou que a culpa é da prefeitura que contratou e fiscalizava, além da empreiteira, naturalmente.

Em entrevista publicada no Estado de Minas, o secretário de Obras da prefeitura de Belo Horizonte, Lauro Nogueira, esclareceu a questão da responsabilidade pelo desabamento do viaduto e assegurou que não se tratava de uma “obra da Copa”.

Nogueira disse que houve falha na fiscalização e que a culpa é mesmo da prefeitura.

“É uma questão de responsabilidade solidária, tem o concurso da prefeitura e da Sudecap [órgão municipal], especialmente nos serviços de fiscalização, que são complexos”, admitiu.

Vocês lembram das manchetes de ontem, não é? Os jornalões que integram o “núcleo duro” da oposição midiática, Folha, Globo e Estadão, publicaram praticamente a mesma manchete: “Obra inacabada da Copa desaba e mata 1 em BH”.

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Pois é, tanto Nogueira quanto a própria prefeitura, que soltou nota oficial, deram ênfase num ponto: o viaduto não era uma “obra da Copa”.

O que, aliás, não é uma questão assim tão importante. O essencial é apurar responsabilidades e, sobretudo, as causas da tragédia. Apenas destaquei esse ponto por causa da ênfase da mídia em focar por esse viés, em vez de focar na (ir)responsabilidade das empreiteiras e da fiscalização municipal.

A declaração de Nogueira, publicada também no Estadão, põe em evidência a psicopatia eleitoral da nossa imprensa, que tentou faturar politicamente com uma tragédia.

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No Estadão

*

A baixaria continuou hoje. Alvaro Dias, senador pelo PSDB, publicou uma foto do desabamento em seu Facebook, com os dizeres: “não basta superfaturar, tem que fazer mal feito”, ladeado de um carimbo onde se lê: “mensaleiros na cadeia”.

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Vai vendo.

Hoje o Globo, na cobertura do assunto, publica um box editorial bem no meio da página:

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O tiro no pé vem agora. Seria até engraçado, não houvesse uma tragédia como pano de fundo, com uma morte. O Globo mandou seus repórteres investigarem se a empreiteira responsável pelo viaduto tinha feito doações para partidos ou candidatos. Olha o que o repórter descobriu:

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O Globo descobriu que apenas “políticos” do DEM e PSDB receberam doações da Cowan.

Entre os partidos contemplados com doações da empreiteira, não está o PT. Se estivesse, com certeza seria manchete de capa.

Como não está, a informação vem no final da matéria, na parte de baixo da página, como que envergonhada. Pano rápido!

01 Jul 12:59

Globo é denunciada no Ministério Público por crime de exploração sexual

by Miguel do Rosário

Os blogs O cafezinho e Megacidadania registraram denúncia no Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, contra a Globo, por crime de exploração sexual.

Clique aqui para você também fazer uma denúncia.

O crime é particularmente grave porque a Globo quis tirar proveito financeiro, de forma espúria, de um evento internacional, em que o Estado brasileiro mobilizou uma imensa estrutura pública para atrair estrangeiros de todo planeta.

Está claro que a Globo cometeu um crime gravíssimo.

O governo faz campanhas caríssimas para combater o tráfico internacional de mulheres, uma das maiores barbaridades do nosso século, e a Globo inicia uma campanha obscura, sinistra, para que jovens do Rio mandem um email com fotos de seus corpos para conhecer “gringos”?

Uma coisa assim teria que ser muito transparente. E jamais poderia ser feita por uma empresa que aufere a maior parte de seus lucros de uma concessão pública.

E que tem o direito exclusivo de transmissão dos jogos da Copa do Mundo!

A campanha teria que ser feita para homem, mulher e homossexuais. Se se trata de “amor”, por que só mulheres com “gringos”? Por que não homens com “gringas”?

É muito estranho!

Texto da nossa denúncia:

Descrição:
Devassidão de Huck [TvGlobo] vulgariza o Brasil. Diante de campanha divulgada por Luciano Huck da Rede Globo em redes sociais (facebook e twitter), e no site da própria empresa e que tinha nítido caráter de incentivar, estimular, tirar proveito, induzir, atrair, facilitar, a lascívia da mulher, é momento de mostrar ao mundo que o Brasil recrimina o turismo sexual. Demais argumentos bem como comprovação da divulgação (cópia da mensagem nas redes sociais e site) é só acessar http://www.megacidadania.com.br/devassidao-de-huck-tvglobo-vulgariza-o-brasil-e-o-mp/

Solicitação:
QUE A LEI SEJA APLICADA O Ministério Público tem a obrigação constitucional de abrir imediatamente procedimento contra a Rede Globo. TIPIFICAÇÃO: Do Lenocínio e do Tráfico de Pessoa para Fim de Prostituição ou Outra Forma de Exploração Sexual

Abaixo, a foto do cadastro de nossa denúncia no Ministério Público.

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A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, manifestou sua indignação no Twitter.

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Abaixo, as provas do crime.

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01 Jul 12:56

Colaborador da Forbes defende a Copa e o Brasil

by Miguel do Rosário

Com a Copa sendo um sucesso internacional absoluto, os “gringos”, aqueles mesmos para os quais a Globo queria mostrar fotos de garotas do Rio, começaram a questionar igualmente as informações que tinham sobre o governo brasileiro. E estão descobrindo que há outras coisas, além da Copa, dando certo por aqui.

Um internauta teve a gentileza de traduzir matéria publicada há pouco na Forbes, sobre a Copa do Mundo, o Brasil e as manifestações anticopa. Vale a pena ler.

*

A economia da Copa do Mundo: por que os manifestantes do Brasil entenderam errado

Por Nathaniel Parish Flannery, na Forbes.

No Brasil, a Copa do Mundo deflagrou protestos de ativistas interessados em chamar atenção para os persistentes problemas de pobreza e desigualdade no país. Em 2013, os manifestantes empunhavam cartazes em Inglês com mensagens como “Nós não precisamos da Copa do Mundo” e “Nós precisamos de dinheiro para hospitais e Educação”. Contudo, como os cientistas políticos explicaram em seu excelente artigo para o Washington Post, “os protestos são paradoxais, porque o Brasil tem vivenciado um crescimento econômico e social muito significastes desde que o país foi escolhido para realizar o evento em 2003”.

Mais amplamente, a Copa do Mundo de 2014 acentua a emergência econômica da América Latina ao longo da última década. O mar de camisas amarelas que pode ser visto em jogos da Colômbia e seções inteiras de mexicanos usando vestes verdes e torcendo para a sua seleção é um testemunho do recente sucesso econômico da classe média latino-americana. De acordo com o historiador David Goldblatt, “A televisão pode enganar, e o uso de uma camisa da seleção da Colômbia não é garantia de cidadania, mas o estádio do Mineirão em Belo Horizonte estava inundado de amarelo – talhe 20.000 numa multidão de 57.000. A mídia chilena tem reportado que mais de 10.000 estão viajando para o Brasil, e ao que parece eles todos estavam presentes em Cuiabá quando a Seleção deles despachou a Austrália.”

Em 2011, pela primeira vez na história, o número de pessoas nas classes médias da América Latina ultrapassou o número de pessoas pobres na região. O Brasil, em particular, destaca-se pelo sucesso no investimento em programas sociais e de redução da pobreza.

Dado o número de camisas amarelas que aparecem na multidão nos jogos, a Copa do Mundo no Brasil tem também sido massivamente frequentada pela classe média emergente do país. Ainda por cima, a história de que o gasto com futebol é um desperdício num país em que a população vive na pobreza tem ficado de lado na mídia social.

Fotos deste mural mostrando uma criança faminta chorando ao ver uma bola de futebol em seu prato tornaram-se virais e foram compartilhadas aos milhares no Twitter e Facebook. Outros usuário do Twitter compartilharam fotos como esta lembrando aos fãs da pobreza com a qual eles se deparam a algumas quadras dos estádios.

Ainda assim, estas ilustrações falham em mencionar que o Brasil destinou menos que 2 bilhões de dólares para a construção dos estádios. Em contraste, entre 2010, ano do início da construção dos estádios, e o início de 2014 o governo federal do Brasil investiu 360 bilhões de dólares em programas de Saúde e Educação. Para colocar isso em perspectiva, o governo do Brasil investiu 200 milhões de dólares para cada dólar gasto com os estádios da Copa do Mundo. Embora os sistema de Saúde, Educação e Transporte precisem investimentos contínuos, os gastos com a Copa do Mundo não têm de maneira alguma eclipsado o investimento progressivo em programas sociais.

A economia do Brasil é definida por uma desigualdade intrinsecamente profunda. É um país conhecido pelas favelas e milionários. De acordo com uma análise da Forbes, o Brasil é o lar de dezenas de bilionários, incluindo Roberto Irineu Marinho, João Roberto e José Roberto Marinho, que juntos controlam o maior império midiático da América Latina, Globo, e tem, juntos, o valor montante de 28 bilhões de dólares. A empresa reportou em 2013 um lucro de 1.2 bilhão de dólares. De acordo com a pesquisa da Forbes: “Enquanto a riqueza crescente do país está criando mais milionários e bilionários do que nunca antes, famílias ricas estão garantindo a fatia maior desse bolo. Dos 65 bilionários listados pela Forbes na sua Lista dos Bilionários do Mundo, 25 deles são relacionados à riqueza familiar.

Oito famílias têm múltiplos membros entre o nosso último ranking” Jorge Lemann, o dono parcial da ANheuser-Busch InBev, tem um total de 22 bilhões de dólares. Ele é o trigésimo mais rico do mundo. As 15 famílias brasileiras mais ricas tem combinadas um total de 122 bilhões de dólares, uma soma que é apenas por pouco menor que os PIBs de Equador e Costa Rica juntos.

Mas, enquanto é fácil apontar os gastos dispendiosos com os estádios da Copa do Mundo ou a longa lista de bilionários do Brasil e contrasta-los com os milhões de residentes do país que vivem em extrema pobreza, tais comparações falham ao não reconhecer o tremendo sucesso que os criadores de políticas públicas brasileiros têm tido na erradicação da pobreza ao longo da última década. De acordo com um relatório recente do Centro para a América Latina e Caribe da ONU (ECLAC), em 2005 38% da população brasileira vivia abaixo da linha de pobreza. Avançando para 2012, essa taxa caiu para 18.6% da população. Em outras palavras, desde 2005, o Brasil tem efetivamente reduzido para mais que a metade o número de seus cidadãos vivendo na pobreza. Em contraste, o México, um pais cujos políticos estão mais concentrados nas exportações e e nos salários competitivos, atualmente viu a pobreza aumentar durante esse mesmo período, de acordo com informações do ECLALC. O Chile, um país há muito prezado pelo desenvolvimento de suas políticas econômicas, viu um declínio muito menor de sua pobreza no mesmo período. No Chile a pobreza caiu de 13.7% para 11% em 2011. A América Latina é a região mais desigual do mundo, e o Brasil em particular é conhecido por sua história colonial baseada em uma espoliativa agricultura de exportação o que ajudou a desenvolver o estabelecimento de uma economia altamente dividida entre residentes ultra-ricos e ultra-pobres. Em meio à controvérsia da Copa do Mundo, o tremendo sucesso do Brasil na redução da pobreza tem sido de certa forma ignorado.

Jason Marczak um expert em América Latina do Conselho Atlântico em Washington D.C., me contou que “A crítica aos excedidos custos dos estádios é na verdade um grito dos cidadãos do novo Brasil, um Brasil mais classe média, que demanda maior transparência e um modelo de estado mais responsável”. Quando a seleção do Brasil entrar em campo, o mundo devia também aproveitar o momento para reconhecer o sucesso das políticas públicas progressivas do país.
“O Brasil tem atingido conquistas impressionantes no crescimento sócio-econômico na última década com dezenas de milhões de pessoas saindo da pobreza e entrando na classe média”, acrescenta Marczak.

Só por diversão, eu juntei algumas informações do Banco Mundial e das Nações Unidas, e comparei o Brasil com outros países Latino-Americanos que competem na Copa do Mundo. Eu juntei informações da Foreign Direct Investment (Per Capita), GDP per capita, níveis atuais de pobreza, redução de pobreza desde 2005, número total de bilionários, e o ranking de cada país no World Bank Doing Business. Esses medidores demonstram a força relativa dos 9 países latino-americanos competindo na Copa do Mundo, e também o quão bem sucedido  cada país tem sido na tradução do sucesso econômico em redução da pobreza. Depois de fazer o ranking dos países em cada categoria, eu então criei um score agregado.

Tradução: Arthur Caria.

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29 Jun 13:40

Vaia ao Hino do Chile: a torcida brasileira que nos envergonha para o mundo

by Leonardo Sakamoto

O que leva uma pessoa a vaiar o hino de outro país enquanto ele é executado em um jogo de Copa do Mundo? Entendo que, em bando, os seres humanos não raro ficam mais idiotas. Isso é facilmente comprovável, por exemplo, por algumas torcidas organizadas que compensam suas frustrações cotidianas e reafirmam identidades de forma tosca através da violência.

Contudo, não são as torcidas organizadas que preenchem as arquibancadas dos estádios de futebol nestes jogos da seleção (aliás, se fossem, ao menos empurrariam o time o tempo inteiro ao invés de ficarem em silêncio, com cara de susto e medo, diante de momentos tensos), mas grupos com maior poder aquisitivo, dado o preço de boa parte dos ingressos.

Renda pode até estar diretamente relacionada à obtenção de escolaridade de melhor qualidade. Mas escolaridade definitivamente não está relacionada com educação. Ou respeito. Ou bom senso. Ou caráter.

E considerando que, provavelmente, muitos dos que vaiaram o hino do Chile quando executado à capela foram os mesmos que, minutos depois, estavam cantando “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”, posso concluir que o sujeito é guiado pela aversão ao estrangeiro característica da xenofobia. Aversão potencializada e exposta pela covarde sensação de segurança por ser maioria e estar em casa.

Vaiar o hino do adversário não é uma brincadeira. Muito menos uma catarse coletiva, uma indignação contra a cantoria à capela do outro. Nem ajuda na partida. Pelo contrário, mostra para o mundo que está assistindo pela TV que nós, brasileiros, podemos ser tão preconceituosos quanto os preconceituosos que, não raro, nos destratam no exterior simplesmente por sermos brasileiros.

Aos vizinhos chilenos, portanto, peço que nos perdoem. Parte de nossos conterrâneos não sabe o que faz.

17 Jun 13:49

PM mineira prende artistas que fariam protesto por porte de arame e tinta

by Luiz Carlos Azenha

Ataque a liberdade de Expressão

ARTISTAS DE BELO HORIZONTE SÃO PRESOS A CAMINHO DE PERFÓRMANCE CONTRA A COPA

segunda-feira 16 de junho de 2014, por Nelsinho Pombo

 no Ciranda Brasil, sugerido por Nelson Guarani no Facebook

Os artistas plásticos Tita Marçal, Efe Godoy, Mary Astrus e Nando Lamas acabam de ser detidos pela Polícia Militar na Av. dos Andradas, centro de Belo Horizonte.

Eles caminhavam rumo ao centro da cidade levando o material artístico que seria utilizado em uma performance.

Detidos por fazer Arte no estado de exceção!

Eles se encontram no Batalhão da Copa, Rua Pouso Alegre 417, sob a responsabilidade da Tenente Claudia e do Tenente Romie e sob os cuidados de advogados ligados aos movimentos culturais e sociais da cidade.

Os artistas saíram do Espaço Comum Luiz Estrela, no bairro Santa Efigênia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, foram detidos na tarde desta segunda-feira (16) na avenida dos Andradas, no centro da capital.

Segundo o advogado Joviano Mayer, que acompanha os detidos, os artistas foram presos porque estavam com materiais como arame, tinta e madeira, que seriam utilizados em uma intervenção cultural “Arte Contra a Copa” na rua Guaicurus, próximo ao espaço 104.

Eles foram presos pouco antes do evento, que segundo o advogado, não ocorreu por causa da prisão do grupo.

“Não estou entendendo porque os militares prenderam eles. Não é errado portar esses materiais”, considerou Mayer. “Acho que está tendo uma histeria por parte da polícia. O material seria utilizado unicamente para um trabalho artístico. Essa prisão é desnecessária”, completou.

Os artistas Tita Marçal, Felipe Godoy, Mary Astrus e Nando Llamas foram detidos por volta das 17h30 e levados para a Central de Flagrantes da Polícia Civil (Ceflan) na rua Pouso Alegre, no bairro Floresta, na região Leste da Capital. Até as 20h desta segunda, eles continuavam presos.

Detenções injustificadas, como o caso da Ninja Karinny, abuso de autoridade, agressões, privação de liberdade e cerceamento ao direito de ir e vir, mais uma série de arbitráriedades vem sendo cometidos pelo governo, no caso sendo utilizado a Polícia para tal, em Minas e no resto do Brasil.

Mãos ao alto, é o estado de exceção imposto pela PM da Copa roubando nosso direito à cidade, à arte, à liberdade. Mas não nos calarão, não nos intimidarão e, sobretudo, não passarão.

Por favor, compartilhem em suas redes. Espalhem a palavra. Outros artistas da cidade também estão sendo presos.

(os artistas presos em BH sem justificativa estão tomando um chá de cadeira, com vista deixá-los cansados e constrangidos. Que BH tome um chá de arte, com performances por toda a cidade)

Leia também:

Eurosport: Está pintando a melhor Copa de todos os tempos

O post PM mineira prende artistas que fariam protesto por porte de arame e tinta apareceu primeiro em Viomundo - O que você não vê na mídia.

17 Jun 11:40

Caetano recuperando a genética de Dona Canô louva a copa, o encontro das nações e vaia os vira-latas

by mariafro

Sobre o jogo Argentina x Bósnia, ontem na estreia do #Maracanã na #Copa2014: "Fui com meu filho mais novo ver Argentina x Bósnia no Maracanã. Fomos de metrô. A estação da General Osório estava cheia. Gostei de ver tantos argentinos nas plataformas. Muitas camisas celeste-e-branco nos vagões (meu filho, admirador do futebol portenho desde pequeno - quando era fã de Riquelme - e devoto de Messi, usava uma camisa do uniforme B da seleção argentina) mas foram os mexicanos que fizeram mais barulho dentro do trem, gritando "México, México" e girando uma matraca ensurdecedora. Adorei ir vendo as estações se seguirem: General Osório, Cantagalo, Siqueira Campos, Cardeal Arco Verde, Botafogo, Glória, Cinelândia, Carioca, Uruguaiana, Presidente Vargas, tudo me trazendo à mente as zonas da cidade acima. Não sei se na Uruguaiana ou na Central (talvez antes), tivemos de trocar de linha, passando da que vai para o Uruguai para a que vai para a Pavuna. Na espera do trem em que prosseguiríamos, tivemos um trailer do que a multidão argentina faria no Maracanã: grupos enormes de rapazes de azul e branco puxando cânticos lúdico-bélicos com voz mais próxima à de coro de ópera das torcidas italianas do que das guturalidades bárbaras dos ingleses. Na estação Maracanã, um largo rio desse coral dominava a passarela. Já nas arquibancadas, ouvíamos com emoção os refrãos. Esperávamos alguma torcida brasileira contra a Argentina. Mas os gritos de "Olê olê olê olá, Bosniá, Bosniá" só cresceram quando o time argentino pareceu bem menos enérgico do que a torcida - e os bósnios ameaçaram dominar. O gol da Bósnia encorajou o narcisismo das pequenas diferenças que alimenta a rivalidade entre argentinos e brasileiros. Os torcedores argentinos tinham tomado conta do Maracanã desde a entrada do seu time. O gol contra (será que é a regra nesta Copa?) silenciou os pouquíssimos torcedores bósnios e os muitos brasileiros que os apoiavam. Meu filho profetizou que Ibisevic traria força à Bósnia. E seu gol excitou a torcida anti-rioplatense. O Maracanã cheio de argentinos torcendo era uma beleza. Senti a força do sentimento de nacionalidade como uma coisa que encontra no futebol um canal de expressão sem vergonha. Meus olhos se encheram de lágrimas. A rivalidade Brasil-Argentina me fazia sorrir. Uma três vezes pintou eco de começo de briga em algum lugar: os assentos batucavam com as pessoas levantando-se de repente para ver (e possivelmente defender-se). Mas nada cresceu. Uns brasileiros à nossa frente, que vaiavam os argentinos e louvavam a Bósnia, revelaram-se ao substituir a frase "soy argentino", num cântico, por "sou vascaíno" - e por dizerem, ao ver que um brigão expulso lá no alto vestia camisa rubronegra, "só podia ser flamenguista". O fato é que, quando os torcedores brasileiros em peso decidiram responder ao "olê olê Messi" com um "olê olá Neymar", Messi, que parecia inativo, fez um daqueles gols precisos e surpreendentes que só ele faz. Ele pareceu instigado. Foi um diálogo Brasil-Argentina de grande profundidade. No todo, para mim, foi uma experiência exaltante e, de algum modo secreto, animadora. Há Copa, o metrô anda, muita gente que nem sabe onde fica a Bósnia gritou o nome desse país, e nossa íntima Argentina chegou a brilhar num corisco, sem que houvesse tempo e ritmo para que hostilidades brutas aflorassem. Estávamos longe dos palavrões dirigidos a Dilma no Itaquerão. Esses, não dá para perdoar."  #CaetanoVeloso #Caetano #Abraçaço #AbraçaçoNoMundo #AbraçaçoNaCopa #ArgentinaXBósnia #CopaDoMundo

Sobre o jogo Argentina x Bósnia, ontem na estreia do ‪#‎Maracanã‬ na ‪#‎Copa2014‬:

“Fui com meu filho mais novo ver Argentina x Bósnia no Maracanã. Fomos de metrô.

A estação da General Osório estava cheia. Gostei de ver tantos argentinos nas plataformas. Muitas camisas celeste-e-branco nos vagões (meu filho, admirador do futebol portenho desde pequeno – quando era fã de Riquelme – e devoto de Messi, usava uma camisa do uniforme B da seleção argentina) mas foram os mexicanos que fizeram mais barulho dentro do trem, gritando “México, México” e girando uma matraca ensurdecedora.

Adorei ir vendo as estações se seguirem: General Osório, Cantagalo, Siqueira Campos, Cardeal Arco Verde, Botafogo, Glória, Cinelândia, Carioca, Uruguaiana, Presidente Vargas, tudo me trazendo à mente as zonas da cidade acima. Não sei se na Uruguaiana ou na Central (talvez antes), tivemos de trocar de linha, passando da que vai para o Uruguai para a que vai para a Pavuna.

Na espera do trem em que prosseguiríamos, tivemos um trailer do que a multidão argentina faria no Maracanã: grupos enormes de rapazes de azul e branco puxando cânticos lúdico-bélicos com voz mais próxima à de coro de ópera das torcidas italianas do que das guturalidades bárbaras dos ingleses.

Na estação Maracanã, um largo rio desse coral dominava a passarela. Já nas arquibancadas, ouvíamos com emoção os refrões.

Esperávamos alguma torcida brasileira contra a Argentina. Mas os gritos de “Olê olê olê olá, Bosniá, Bosniá” só cresceram quando o time argentino pareceu bem menos enérgico do que a torcida – e os bósnios ameaçaram dominar.

O gol da Bósnia encorajou o narcisismo das pequenas diferenças que alimenta a rivalidade entre argentinos e brasileiros. Os torcedores argentinos tinham tomado conta do Maracanã desde a entrada do seu time. O gol contra (será que é a regra nesta Copa?) silenciou os pouquíssimos torcedores bósnios e os muitos brasileiros que os apoiavam.

Meu filho profetizou que Ibisevic traria força à Bósnia. E seu gol excitou a torcida anti-rioplatense. O Maracanã cheio de argentinos torcendo era uma beleza. Senti a força do sentimento de nacionalidade como uma coisa que encontra no futebol um canal de expressão sem vergonha. Meus olhos se encheram de lágrimas. A rivalidade Brasil-Argentina me fazia sorrir. Uma três vezes pintou eco de começo de briga em algum lugar: os assentos batucavam com as pessoas levantando-se de repente para ver (e possivelmente defender-se). Mas nada cresceu.

Uns brasileiros à nossa frente, que vaiavam os argentinos e louvavam a Bósnia, revelaram-se ao substituir a frase “soy argentino”, num cântico, por “sou vascaíno” – e por dizerem, ao ver que um brigão expulso lá no alto vestia camisa rubronegra, “só podia ser flamenguista”.

O fato é que, quando os torcedores brasileiros em peso decidiram responder ao “olê olê Messi” com um “olê olá Neymar”, Messi, que parecia inativo, fez um daqueles gols precisos e surpreendentes que só ele faz. Ele pareceu instigado.

Foi um diálogo Brasil-Argentina de grande profundidade.

No todo, para mim, foi uma experiência exaltante e, de algum modo secreto, animadora.

Há Copa, o metrô anda, muita gente que nem sabe onde fica a Bósnia gritou o nome desse país, e nossa íntima Argentina chegou a brilhar num corisco, sem que houvesse tempo e ritmo para que hostilidades brutas aflorassem.

Estávamos longe dos palavrões dirigidos a Dilma no Itaquerão. Esses, não dá para perdoar.” 

‪#‎CaetanoVeloso‬‪#‎Caetano‬‪#‎Abraçaço‬‪#‎AbraçaçoNoMundo‬‪#‎AbraçaçoNaCopa‬‪#‎ArgentinaXBósnia‬‪#‎CopaDoMundo‬

E a versão em espanhol

A pedidos, a versão em castelhano das minhas impressões sobre Argentina x Bósnia na estreia do #Maracanã na #Copa2014:
“Fui con mi hijo menor ver Argentina versus Bosnia en el Maracanã. Fuimos en metro. La estación General Osório estava llena. Me gustó ver tantos argentinos en las plataformas. Muchas camisas celeste-y-blanco en los vagones (mi hijo, admirador del futebol porteño desde niño – cuando era fan de Riquelme – y devoto de Messi, vestia la camisa alternativa de la selección argentina) pero fueron los mexicanos que hicieron más ruído adentro del tren, gritando “México, México” y girando una matraca ensordecedora. Me encantó ir viendo las estaciones que seguían : General Osório, Cantagalo, Siqueira Campos, Cardeal Arco Verde, Botafogo, Glória, Cinelândia, Carioca, Uruguaiana, Presidente Vargas, todo me trajo a la mente las zonas de la ciudad arriba. No sé si en Uruguaiana o en la Central (quizás antes), tuvimos que cambiar de línea, pasando de la que va a Uruguai para la que va a Pavuna. En la espera del tren en el que íbamos seguir, vimos un trailer de lo que la multitud argentina haría en el Maracanã: grupos enormes de tipos en azul y blanco empezando cánticos juguetónes-bélicos con la voz más cercana a de coro de ópera de las hinchadas italianas que a los gruñidos bárbaros de los ingleses. En la estación Maracanã, un largo río de ese coral dominaba el pasadizo. En los graderíos, escuchábamos con emoción los estribillos. Esperávamos alguna hincha brasileña contra la Argentina. Pero los gritos de “Olê olê olê olá, Bosnia, Bosnia” solo crecieron cuando el equipo argentino pareció bastante menos energético que la hinchada – y los bosnios amenazaron dominar. El gol de Bosnia dio coraje al narcisismo de pequeñas diferencias que alimenta la rivalidad entre argentinos y brasileños. Los hinchas argentinos habían ocupado el Maracanã desde la entrada de su equipo. El gol en contra (será una regla de ese Mundial?) silenció los poquísimos hinchas bosnios y los muchos brasileños apoyaban a ellos. Mi hijo profetizó que Ibisevic traria fuerza a Bosnia. Y su gol excitó la hincha anti-ríoplatense. El Maracanã lleno de argentinos hinchando era bello. Sentí la fuerza del sentimiento de nacionalidad como una cosa que encuentra en el fútbol un canal de expresión sin vergüenza. Mis ojos se llenaron de lagrimas. La rivalidad Brasil-Argentina me hacía sonreír. Por tres veces surgió eco de princípios de pelea en alguna parte: los asientos sonaban con las personas parándose subitamente para mirar (y posiblemente defenderse). Pero nada creció. Unos brasileños a frente nuestra, que ululaban los argentinos y glorificaban Bosnia, revelabanse al sustituir la frase “soy argentino”, en una canción, por “soy vascaíno” – y por deciren, al ver que un peleador expulso allá en al alto vestia una camisa rojo y negra, “tenía que ser flamenguista”. El hecho es que, cuando los hinchas brasileños en mayoría decidieron responder al “Olé Olé Messi” con un “Olé Olá Neymar”, Messi, que parecia inactivo, hizo uno de esos gols precisos y sorprendentes que sólo él puede hacer. Él pareció instigado. Fue un diálogo Brasil-Argentina de gran profundidad. El el todo, para mí, fue una experiencia exaltante y, de alguna manera secreta, animadora. Hay Copa, el metro anda, mucha gente que ni sabe donde queda Bosnia gritó el nombre de ese país, u nuestra íntima Argentina llegó a brillar en una chispa, sin que hubiera tiempo y ritmo para que hostilidades brutas aflorasen. Estábamos lejos de puteos dirigidos a Dilma en el Itaquerão. Eses, no se pueden perdonar.”
No link: a versão original, em português: http://fb.me/6W7b4dqjq
#CaetanoVeloso #Caetano #Abraçaço #AbraçaçoNoMundo#AbraçaçoNaCopa #ArgentinaXBósnia #CopaDoMundo

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by Miguel do Rosário

O Brasil ganhou da Croácia e quase tudo deu certo na estreia da Copa. A um grupo de endinheirados truculentos coube o papel de nos fazer passar vexame.

Nenhum brasileiro foi tão lembrado ontem e hoje como Nelson Rodrigues. Os elementos de suas crônicas estavam todos lá: os vira-latas, os grã-finos, as vaias, o futebol, a vitória da seleção. A própria Dilma encarnou a heroína rodriguiana. Aliás, de repente nunca ficou tão claro como Dilma nos lembra um personagem de Nelson. Desajeitada, sem graça, trabalhadora, esforçada, ética. Sujeita a terríveis pressões políticas, morais, psicológicas. Nosso maior assombro é que Dilma possa sobreviver a tudo isso.

Nelson comentou, certa feita, uma experiência similar sofrida por Paulo Cézar Caju, ponta-esquerda da seleção, na Copa de 70:

Paulo Cézar sofreu uma experiência inédita: — uma vaia de noventa minutos. Isso corresponde a um linchamento. Só não entendo, até hoje, como ele conseguiu sobreviver. Nem se pense que foi ele o único. Mas não vamos amaldiçoar as vaias ao escrete. Elas o fizeram, elas o virilizaram. A jornada brasileira no México é uma vingança contra as vaias.

A mesma coisa valerá para Dilma. Se sobreviver a esta nova onda de hostilidades da classe média, ela poderá emergir fortalecida pelo sofrimento.

Nelson diria que os xingamentos “humanizaram” a presidente. Ela voltou a ser um igual, uma sofredora. O Brasil não amanheceu pensando na seleção. Amanheceu pensando em Dilma. Com raiva, com pena, com solidariedade, não importa o sentimento. Todos acordaram pensando nela.

Em junho de 1970, Nelson iniciava sua coluna diária assim: “Por que o Brasil não gosta do Brasil e por que nos falta um mínimo de autoestima? É a pergunta que me faço, sem lhe achar a resposta.”

Em seguida, Nelson analisa a Passeata dos Cem Mil, com uma crítica à esquerda. Uma crítica correta, sobretudo quando a lemos hoje:

Quem quiser entender as nossas elites e o seu fracasso encontrará nos Cem Mil um dado essencial. Não havia, ali, um único e escasso preto. E nem operário, nem favelado, e nem torcedor do Flamengo, e nem barnabé, e nem pé-rapado, nem cabeça de bagre. Eram os filhos da grande burguesia, os pais da grande burguesia, as mães da grande burguesia. Portanto, as elites.

Só que a “passeata dos 100 mil”, hoje, não se identifica mais com a esquerda. A classe média brasileira continua bipolar. Num dia, marcha com a família e pede o fim do governo. No outro, marcha com os intelectuais e pede o fim da ditadura.

Um dia acha o governo Dilma o melhor de todos os governos: uma mistura benigna da solidariedade do PT para com os mais pobres, somada à severidade em relação à imagem na mídia dos tucanos.

Sim, durante um bom tempo, os segmentos de maior renda deram ao governo Dilma a maior aprovação que talvez já tenham dado a uma administração.

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Em abril de 2012, 70% das famílias com renda superior a 10 salários consideravam o governo Dilma “bom ou ótimo”; apenas 2% consideravam-no “ruim ou péssimo”. Hoje, 48% acham seu governo ruim e apenas 23% gostam dele.

Não vou falar hoje das notórias falhas de comunicação do governo Dilma. Mas vou trazer alguns dados interessantes que andei estudando nas últimas horas.

É interessante analisar, por exemplo, as licenças televisivas vendidas pela Fifa para a Copa.

Em quase todos os países europeus, com exceção da França, a Copa será exibida por canais públicos. Na Inglaterra, será, naturalmente, a BBC. Na Alemanha, o ARD.  Na maioria dos outros, será o EBU, o canal público da União Europeia.

No caso da França, será o TF1, um canal que pertencia ao Estado até o final dos anos 80, quando foi privatizado, mas guarda ainda a sobriedade de um canal público.

Nos EUA, a licença foi vendida para a ABC, o maior canal aberto do país. Isso me despertou a curiosidade para saber como é a ABC, como ela se porta politicamente. Então descobri análises (aqui também) que mostram a ABC como um canal de perfil pró-democrata, o que, nos EUA de hoje significa estar alinhado à esquerda no espectro ideológico médio nacional. Agradou-me, sobretudo, o fato de uma instituição renomada como a Pew fazer pesquisas tão detalhadas sobre as empresas de mídia nos EUA, analisando o viés político e ideológico de cada uma. No Brasil, a mídia não é pesquisada, não é debatida, não é analisada, a não ser pela blogosfera “suja”. A mídia brasileira paira acima do bem e do mal.

Aliás, acabei descobrindo várias coisas interessantes sobre a mídia norte-americana, que podemos discutir depois, sobretudo a partir desta pesquisa Pew, bastante recente.

Rápida digressão.

Há uma outra pesquisa extremamente interessante da Pew, que vamos debater aqui em breve, que fala do forte aumento da polarização política nos EUA, com mais republicanos se dizendo de direita e mais democratas se dizendo de esquerda.  Parece que é uma tendência global, e o Brasil pode estar também entrando nessa onda.

“Hoje, 92% dos republicanos estão à direita do democrata médio, e 94% dos democratas estão à esquerda do republicano médio”, diz a pesquisa.

Alguns gráficos:

 

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Voltando ao Brasil e ao jogo de ontem, os xingamentos à presidenta corresponderam, de certa maneira, a uma vingança do “controle remoto”. A Globo é a única licenciada para exibir os jogos. Ela vendeu o direito à Band, mas a sua hegemonia na cobertura televisiva do evento é absoluta.

Dilma disse que, se não gostássemos de um canal, podíamos usar o controle remoto. E agora, que a Copa só pode ser vista praticamente num só canal, na Globo? Cadê o poder do controle remoto?

Durante 30 dias, a Globo terá um poder monstruoso sobre a sociedade brasileira. E ela não irá usá-lo com moderação, como já deixou bem claro. Há tempos que esta Copa se tornou a mais politizada da história. Muito mais até do que em 1970, na ditadura. Em 70, não havia eleições, a imprensa era controlada (ou auto-controlada) e a disputa simbólica não tinha tanta importância. As Copas recentes aconteceram em países distantes. Não era interesse da mídia mostrar seus problemas, apenas faturar o máximo com o evento.

À presidente, na minha opinião, cabe entender que o xingamento que recebeu não foi apenas à sua pessoa. Todos nós, que defendemos políticas sociais para os pobres, também fomos xingados. Sim, porque a Dilma que foi xingada não foi aquela que fez omeletes com Ana Maria Braga. A Dilma que foi xingada foi a Dilma que aumentou o bolsa família, que expandiu os investimentos em educação e que levou médicos a regiões e cidades que nunca viram um em séculos.

A Dilma que foi xingada foi a protagonista do processo mostrado no gráfico abaixo:

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Observe que, em 1992, os 50% mais pobres detinham 13,11% da renda nacional; ao fim de 2002, sua participação diminuíra para 12,98%. Ao final de 2012, atingiu o recorde de 16,36%.

Aí houve uma crise de pânico da classe média, porque chegamos, talvez, ao limite onde o pobre não irá avançar sem tirar do rico. É o que já começou a acontecer.  Quando a empregada doméstica começa a erguer a cabeça para responder ao patrão, e a exigir não apenas salário maior mas uma relação profissional mais igualitária, aí sim a classe média sente que o processo de mudança está afetando, diretamente, sua qualidade de vida. A classe média brasileira está apavorada diante da possibilidade de ter de arrumar a própria casa.

E os pobres que ascenderam à classe média talvez estejam absorvendo os mesmos valores. É o sentimento egoísta de querer trancar a porta depois de entrar na festa. Só que a festa não acabou. O Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo. Ainda há muito pobre do lado de fora.

É importante entender: o que assistimos ontem no Itaquerão não foram vaias. Não foi sequer um xingamento. Aquilo foi uma declaração de guerra. A luta de classes voltou com muita força no Brasil, com todos os seus graves riscos à estabilidade social e política.

A democracia é um regime arriscado, até porque tem a vantagem de poder corrigir seus erros em seguida. Tocqueville observava que “a democracia não pode obter a verdade de outra forma que não pela experiência”. No caso dos Estados Unidos, diz ele, o  grande privilégio de seu povo “não era ser mais esclarecido que outros, mas ter a faculdade de cometer erros que podiam ser corrigidos em seguida”.

O escritor nos lembra ainda que as nações não envelhecem da mesma maneira que os homens, pois “cada geração que nasce é como um povo novinho em folha que se oferece às lideranças políticas”.

Esse é o grande trunfo da oposição, e Lula tem repetido isso frequentemente. A sociedade mudou, porque há novas gerações de eleitores, que já não carregam, na memória da carne, as dores causadas pelos maus governos anteriores, dos governos apoiados por nossas mídias.

As eleições deste ano serão as mais classistas da nossa democracia. Dilma ganhará com os votos daqueles que ainda não entraram na festa, dos pobres que ganham até um salário mínimo, dos nordestinos, das populações das cidades pequenas, das franjas miseráveis das periferias urbanas.

Por isso é tão importante que haja um movimento efetivo para democratizar a mídia, para que os valores e os projetos interessados no destino da parte mais pobre da população não fiquem abafados pelos xingamentos da Casa Grande.

É importante que o governo entenda que democratizar a mídia não é um debate político, não é uma teoria acadêmica, não é uma polêmica desagradável, que “pega mal” na mídia. Não adianta a presidenta dizer que aceita discutir uma regulamentação “econômica” da midia, ou o PT incluir o tema na campanha.

A democratização da mídia, estamos avisando há tempos, é urgente. Não interessa se é ano de eleição. Aliás, justamente pelo fato de ser ano de eleição ela ganha uma urgência trágica, porque o ambiente midiático atual apenas favorece a Casa Grande, que ampliará seu poder, obterá vitórias políticas e tratará de afastar o tema da pauta. Teremos que esperar mais uma década para voltar a discuti-lo.

Os esquálidos, as grã-finas, os truculentos, os que se comprazem em pagar quase mil reais para xingar a presidenta, os que idolatram o “justiceiro” Joaquim Barbosa, estão armados até os dentes para defender seus interesses. Para eles, agora vale tudo. Dilma pode ter mais tempo de TV, mas a oposição terá a grande inteira de programação.

O governo, mais que nunca, dependerá da combatividade de seu exército liliputiano, de seu exército mambembe, machucado pelos bombardeios diários da imprensa conservadora, criminalizado, chamado de “guerrilha”, sujeito a todo tipo de devassas judiciais, atacado por hackers mercenários, ridicularizado quase diariamente pela grande mídia, que também tem narinas de cadáver. Um exército de garrinchas de perna torta, de cachaceiros, de cidadãos cujo único patrimônio é sua criatividade.

Numa de suas crônicas, Nelson lembra que a vitória de 62, proporcionada por Garrincha, permitiu “ao mais indigente dos brasileiros tecer a sua fantasia de onipotência”, e que “as multidões, sem que ninguém pedisse, e sem que ninguém lembrasse, as massas derrubaram os portões”.

O gráfico abaixo, feito a partir dos últimos números do Ibope para o provável segundo turno das eleições deste ano, nos dão uma ideia de que lado, ao menos por enquanto, estão as “massas”…

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16 Jun 11:58

Na rede, gringos combatem o complexo de vira-latas brasileiro

by Luiz Carlos Azenha

O sistema automatizado de entrega de bagagens do aeroporto internacional de Denver foi um dos maiores fracassos da História recente da construção civil. Estourou o orçamento, destruía as bagagens e teve de ser abandonado. Ah, se fosse no Brasil…

Gringos “provam” que problemas não são “só no Brasil” e também reclamam

por Fabiana Uchinaka, sugerido por SM

Do UOL, em São Paulo 13/06/201406h00

Só no Brasil… o transporte atrasa, não há táxis, a fila não anda, o aeroporto é uma bagunça, o ônibus é lotado. Só no Brasil existe burocracia, injustiça e corrupção. Só no Brasil tem protesto e confusão.

Só que… não.

Desde que o país do futebol virou o palco desta Copa do Mundo, a expressão virou o bordão dos brasileiros para reclamar dos problemas mais sérios –ou esdrúxulos– que temos por aqui e para manifestar grandes doses de “vergonha” pelo mundo estar vendo nossas mazelas. Mas os comentários dos internautas de outros países nas redes sociais têm mostrado que não é bem assim.

A revista britânica The Economist publicou na terça-feira (10) o texto “Traffic and tempers” (algo como “trânsito e humores”) no Facebook, que traz um relato do imbróglio que é circular por São Paulo na véspera do Mundial e diz que “no momento em que você aterrissa no Brasil você começa a perder tempo”. Dezenas de gringos rebateram o artigo com frases que podem deixar alguns internautas canarinhos chocados:

“Parece quando você visita o departamento da Receita da Filadélfia [nos EUA] para pagar uma conta”, diz o americano Sam Sherman.

“Há filas diárias por táxis no aeroporto Schiphol, em Amsterdã… E não é Copa do Mundo”, conta Tatyana Cade.

“Cena diária do trajeto em Tóquio, exatamente como esta imagem”, alerta Ryo Yagishita.

“Parece a Argentina, nada mais refrescante que viajar como gado depois de um longo dia de trabalho”, descreve Pao Radeljak. “Me lembra Buenos Aires”, completa Paola Scarlett.

“A mesma coisa aconteceu com os brasileiros quando eles viajaram de Heathrow para Gatwick. O engarrafamento caótico de Londres [que sediou a última Olimpíada] também é mundialmente famoso. Depois, pense no eletricista inocente que foi morto por policiais justiceiros no metrô de Londres, que disseram que ele era terrorista [caso Jean Charles de Menezes]. Não é uma vergonha para um país desenvolvido reclamar do Brasil quando também tem problemas em seu país? Pense nos manifestantes em Londres, e na destruição por quatro dias alguns anos atrás. Então vira vergonha duplar”, afirmou Naithirithi Chellappa.

“Para todos os brasileiros que reclamam de seu país: vocês deveriam tentar viver na Europa por um minuto. Sim, nós temos tudo regulado, mas as coisas estão cada vez mais nazistas. E falar sobre corrupção? Você acha que não acontece aqui? Aqui é tão desenvolvido que você nem vê, está muito escondido e tudo é feito por políticos e outros criminosos [daqui] fora da Europa”, analisa o holandês Roas Metten. “A polícia é uma piada, eles não pegam criminosos, eles dão multas o dia todo.”

Metten completa: “Os abraços e beijos que recebo em um mês no Brasil, não ganharia em dez anos na Europa. Então talvez as coisas aqui sejam melhores reguladas pelas leis e sistemas, mas é um inferno culturalmente e nas relações.”

O espanhol Álvaro Munhoz tenta fazer uma análise mais ampla: “Para falar a verdade, se o número de pessoas que chega ao mesmo tempo excede a capacidade, a situação poderia acontecer em qualquer lugar do mundo.”

Enquanto o internauta Leandro Cintra aproveitou para contar que recentemente levou 40 minutos para conseguir um táxi… em Nova York (EUA). E mais meia hora para entrar em um ônibus… em Fort Lauderdale (EUA). Já Wenderson Neves lembrou que a fila na imigração de Londres é de pelo menos duas horas com policiais muito pouco cordiais.

A também britânica BBC perguntou em texto publicado na terça: “What is it like to live in a Favela?” (Como é viver numa favela?). E a internauta Adreane Bertumen prontamente respondeu: “Todo país, toda cidade tem a sua ‘favela’. Gueto é gueto em todos os lugares. O Brasil não é o único”.

“Essas favelas não são nada comparadas às que temos em Nairóbi, no Quênia”, diz Eric Murimi. “Venham ver Sodoma e Gomorra em Gana”, convida Leroy Amankwa.

“Nos Estados Unidos, nós precisamos acordar e olhar ao redor. É difícil achar uma cidade que não tenha acampamentos de sem-teto por todo seu perímetro. Bem escondidos, mas estão cada vez maiores a cada ano. Não estamos em posição de jogar pedra em outros governo”, ressalta Marie Lawson. “Nos EUA, temos guetos e estacionamentos de trailers”, concorda Eric D Molino.

PS do Viomundo: Foi justamente por isso que escrevi, dias atrás, no Facebook, sobre minhas quase duas décadas de moradia em Nova York e Washington:

Esse Dan Stulbach [em comentário na ESPN] é um bobão, que fica falando coisas manjadas para agradar a turma do complexo de vira-latas. Acaba de sentir as dores da FIFA pelo fato de que assentos foram instalados no Itaquerão na semana da estreia. Grande coisa. Será que ele já viu outros eventos internacionais, onde muitas coisas são feitas de última hora, no mundo todo? Os bobocas da classe média precisam desta ideia de que são privilegiados por viajar a Nova York, Londres e Paris, onde nada atrasa e tudo dá absolutamente certo, ao contrário do Brasil. É o último bastião dos vira-latas para que eles se sintam privilegiados em relação aos brasileiros “comuns”. Se esse bobão quiser ouvir eu conto 20 anos de histórias de coisas que não deram certo em Nova York…

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16 Jun 11:52

Aos poucos, realidade vai matando o “imagina na Copa”

by Luiz Carlos Azenha

A invasão colombiana do Mineirão, na primeira rodada

por Luiz Carlos Azenha

Quando Vladimir Safatle escreveu um artigo intitulado Não Teve Copa, publicado na Folha, que reproduzimos — aliás, com uma argumentação convincente para alguém que defende aquele ponto-de-vista –, acrescentei um adendo como PS do Viomundo, que dizia:

O meu conhecimento (do Azenha) da Copa do Mundo, de ter vivido algumas pessoalmente nos países-sede, é de que depois de duas semanas o país literalmente enlouquece pelo evento. Tenho a impressão de que o Safatle desconhece o poder do futebol no imaginário do brasileiro.

Ainda é cedo para declarar a organização da Copa como tendo sido absolutamente bem sucedida. Muita água ainda vai rolar.

Porém, as pessoas estão começando a se encantar com o evento, para dizer o mínimo — e a primeira rodada nem terminou.

Há mesmo algo de especial num acontecimento que consegue arrastar 35 mil colombianos para ver uma partida de futebol no Mineirão, bem longe de casa.

Enfatizemos: a Copa privatizada é um evento frequentado majoritariamente por ricos e classe média alta. Mas isso não diminui o encanto nas cidades que sediam as partidas, por conta do clima criado por gente do mundo todo, cujas interações são baseadas unicamente na paixão pelo esporte. De repente, você se descobre falando sobre futebol  com um camaronês, um nigeriano e dois norte-americanos que nunca viu antes na vida…

Em Belo Horizonte, num aeroporto, o jogo Uruguai vs. Costa Rica juntou norte-americanos, colombianos, brasileiros, chineses e japoneses na plateia, além de gregos de cabeça inchada (haviam perdido de 3 a 0).

Só tenho como comparar o evento do Brasil às três Copas que acompanhei bem de perto: Itália, em 1990, onde passei 40 dias; Estados Unidos, onde eu vivia em 1994; França, em 1998, de onde fiz viagens aos países adversários do Brasil.

Dessa vez a qualidade do futebol e o número de gols nos surpreendeu positivamente.

Mas a mídia corporativa, que por motivos políticos promoveu a maior campanha já vista contra um evento esportivo em nossa História, jamais vai admitir o que também está se confirmando: no essencial, a organização foi bem sucedida.

É possível apontar erros e obras inacabadas, mas nada que comprometa o essencial para os torcedores: capacidade de transporte, comunicação e qualidade dos estádios — em termos de conforto e visão dos jogos.

Em Belo Horizonte, por exemplo, há transporte bom e barato entre os aeroportos e o Mineirão, o que facilita muito para aqueles que acompanham suas seleções e fazem viagens rápidas, num país continental.

Embora falte sinalização em inglês e espanhol em muitos lugares, há um grande número de pessoas fornecendo informações, especialmente mas não apenas nos aeroportos.

Em Confins, turistas estrangeiros no saguão reclamaram do sinal de transmissão dos jogos, baixado pela internet (depois descobrimos tratar-se de algo bancado por um patrocinador). Um dos visitantes pediu que eu reclamasse em nome dele. Fui fazê-lo e, para nossa surpresa, descobrimos que havia um ambiente especial para os passageiros em espera (retratado abaixo).

Tudo muito bacana, bem organizado.

Ah, sim, algo absolutamente essencial existe em grande quantidade nos aeroportos: torres para recarregar aparelhos eletrônicos. Ninguém merece ficar sem bateria no meio de um jogo, né mesmo?

É óbvio que você pode fazer uma longa lista de problemas, aqui e ali, coisas que acontecem em eventos complexos como a Copa.

Mas parece que nas questões absolutamente essenciais — estádios, aeroportos e comunicação — as coisas estão funcionando num padrão que não deve nada aos eventos anteriores que acompanhei de perto.

Muito cedo, a Copa brasileira já é bem mais empolgante que a dos Estados Unidos; já teve exibições brilhantes em campo, melhores que as da Copa da Itália e, pelo jeito, logo vai arrastar as multidões que promoveram festas empolgantes nas ruas de Paris na segunda fase do Mundial de 1998.

Obviamente que aqueles que sofrem da síndrome de vira-latas vão fazer uma lista dos motivos pelos quais prefeririam ver a Copa em outro país. Mas, como escrevi anteriormente, isso não tem a ver com as condições objetivas da organização. É a necessidade da classe média de se diferenciar dos outros pelo status social, de imaginar que fez algo que seu interlocutor jamais conseguirá fazer.

Tirando isso, lentamente o “imagina na Copa” vai sendo enterrado.

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11 Jun 22:20

OAB repudia atitude de Barbosa contra advogado de Genoino

by Conceição Lemes

Para a OAB, o presidente do STF não é intocável e deve explicações à advocacia brasileira

Nota do Conselho Federal da OAB, via e-mail, sugerido por Antônio David 

A diretoria do Conselho Federal da OAB repudia de forma veemente a atitude do presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, que expulsou da tribuna do tribunal e pôs para fora da sessão mediante coação por segurança o advogado Luiz Fernando Pacheco, que apresentava uma questão de ordem, no limite da sua atuação profissional, nos termos da Lei 8.906.

O advogado é inviolável no exercício da profissão. O presidente do STF, que jurou cumprir a Carta Federal, traiu seu compromisso ao desrespeitar o advogado na tribuna da Suprema Corte. Sequer a ditadura militar chegou tão longe no que se refere ao exercício da advocacia.

A OAB Nacional estudará as diversas formas de obter a reparação por essa agressão ao Estado de Direito e ao livre exercício profissional. O presidente do STF não é intocável e deve dar as devidas explicações à advocacia brasileira.

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02 Jun 23:53

NÃO BASTA ESTUPRAR, TEM QUE FILMAR E JOGAR NA INTERNET

by noreply@blogger.com (lola aronovich)
Isso aconteceu no penúltimo domingo e até agora só foi notícia de uma matéria fraquinha no Zero Hora
No Balneário de Pinhal, litoral norte do Rio Grande do Sul, uma menina de 16 ou 17 anos estava indo a uma festa com amigos. Como a festa foi cancelada, a moça foi à casa de um conhecido. Lá, ela foi estuprada por ele e outros quatro rapazes (três deles menores de idade), que filmaram a cena e colocaram o vídeo na internet. 
Como uma das últimas coisas que quero na vida é ver o vídeo de um estupro, nem cheguei perto das imagens. Mas uma feminista gaúcha me enviou um email contando o que viu: "Ela [a adolescente] pede para parar diversas vezes, chora, grita, tenta sair, mas obviamente não consegue. Eles dizem 'tu vai dar o c* pra nós vagabunda', ela chora, e eles estupram ela".
Esta leitora e outras feministas do RS estão sem saber o que fazer. Como pressionar o Ministério Público para que os estupradores (brancos, de classe média) não saiam impunes? Vale a pena fazer um escracho em frente à casa de um deles? Elas sabem seus nomes, viram suas fotos, já que, inicialmente, eles não fizeram a menor questão de se esconder. Pelo contrário, um dos rapazes escreveu na sua página no Facebook:

É revoltante. 75 curtidas. 
Em 2008, antes do meu bloguinho completar o primeiro ano, escrevi sobre um outro caso escabroso
Numa festa na cidade de Joaçaba, SC, uma moça de 15 anos passou mal, por causa da bebida, e foi levada por três "amigos" ao banheiro. Lá, um deles a estuprou, enquanto um dos outros dois, esperando sua vez, filmava a cena com seu celular. Felizmente, alguém estranhou a demora e interrompeu o estupro. Poucos dias depois, um dos rapazes decidiu jogar o vídeo na internet. 
O que me deixou mais chocada foi que um monte de marmanjo (umas 400 visitas a mais, na ocasião) entrou no meu blog procurando o vídeo do estupro. Sabe, não era sexo! Era estupro! De uma menina -- menor de idade! -- passando mal, desacordada. Certo, eu era muito ingênua na época. Sabia de nada, inocente. 
Era 2008, e isso de estuprar, filmar o estupro, e colocar o vídeo pra todos verem na internet -- praticamente um segundo estupro -- estava apenas começando a se popularizar. Nos fóruns que discutiam o estupro de Joaçaba, os comentários eram quase todos assim: "Estupro com 15 anos? Hahaha, conta outra!" e "Se eu estivesse lá eu também comia ela". Um dos comentaristas (um advogado!) lamentava que, por causa da "safadeza" de menina, estariam "acabando com a vida daqueles meninos". 
(Quase três anos depois, a justiça condenou o estuprador, que tinha 18 anos em 2008, a sete anos e seis meses de reclusão em regime semiaberto. O que filmou o crime e divulgou as imagens na internet pegou 2,8 anos em regime aberto). 
Lembra Steubeville? Lembra. Em 2012, numa cidadezinha em Ohio, durante seis horas, dois jovens atletas levaram uma menina de 16 anos inconsciente de festa em festa (carregada pelos pés e braços, como se vê na foto). Enfiaram dedos em sua vagina, se masturbaram em cima dela, urinaram nela, e fizeram vídeos e tiraram fotos de tudo, orgulhosamente mandando as imagens pra suas redes sociais. 
Graças à pressão desta mesma internet (principalmente de uma blogueira local e do grupo Anonymous), o caso foi a julgamento, e os dois atletas foram condenados. A reação de boa parte da grande mídia? "Estão acabando com a vida desses meninos".
O estupro em Pinhal também lembra o caso do filho de um dos Sirotsky, do grupo RBS, uma das seis famíias que monopolizam a mídia no Brasil. 
Em maio de 2010, em Florianópolis, uma jovem de 14 anos foi estuprada por dois meninos da mesma idade, ambos ricos (um, filho de um dos herdeiros de um grupo de comunicação que controla 46 emissoras de TV, além de rádios e vários jornais; o outro, filho de um delegado). 
O filho de Sirotsky trocou várias mensagens com internautas antes de ser advertido pelos seus advogados de sumir das redes sociais. No Formspring, alguém lhe perguntou se ele não temia ser preso, ao que o menino rico respondeu: "Tu tá zuando, né?".
O caso teria sido sepultado se não fosse pela obsessão de um blogueiro chamado Mosquito. Sempre discordei de seus métodos, porque ele divulgou fotos e nomes completos de todos os envolvidos (incluindo a vítima!), o que vai contra o Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Mas, se não fosse ele, os dois meninos não teriam sido punidos. Bom, eles quase não foram: receberam pena de seis meses de "liberdade assistida" (ou seja, prestaram serviços comunitários durante oito horas por semana, durante alguns meses). A pena que cabe aos ricos e poderosos. (Um ano e meio depois, Mosquito foi encontrado morto em sua casa, em Palhoça). 
Quando a gente fala em cultura de estupro, é bem disso que estamos falando: que uma menina é estuprada e tanta gente a culpe. Que os estupradores se orgulhem tanto do estupro que o filmam e o divulgam. Que tantos caras queiram ver o vídeo de um estupro. Que se masturbem com esse vídeo. Que os estupradores pensem que nada vai acontecer com eles (Cadeia? "Tu tá zuando, né?). Que de fato nada, ou quase nada, aconteça. 
Menos com a menina. Essa já foi julgada e condenada só por ter ido a uma festa e bebido.
Pelo menos um rapaz deixou uma boa reflexão num fórum em que vários estavam culpando a vítima (clique para ampliar):
18 May 17:05

Jorge Furtado rebate surto de vira-latice de alguns artistas

by Miguel do Rosário

Sugerido por Julio Cesar Macedo Amorim, por email.

Após declarações de Wagner Moura, Jorge Furtado rebate críticas de artistas ao país

Diretor publicou em seu blog texto lamentando quem só vê “as coisas piorando” no Brasil

16/05/2014 | 11h43, no site da RBS.

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Após declarações de Wagner Moura, Jorge Furtado rebate críticas de artistas ao país. Foto: Adriana Franciosi / Agencia RBS

O diretor gaúcho Jorge Furtado usou seu blog pessoal para rebater as manifestações de artistas brasileiros que criticaram a atual situação social, política e econômica do Brasil. O texto foi publicado um dia após as declarações de Wagner Moura para jornal O Estado de S. Paulo, em que o ator se diz satisfeito em deixar o país por dois anos.

Na entrevista, em que fala sobre seu recém lançado Praia do Futuro, Moura reclamou do preconceito e do conservadorismo, criticou o PT – “O PT não inventou o toma lá, dá cá, mas o institucionalizou” – e o governo de Eduardo Paes (PMDB) no Rio de Janeiro: “Eduardo Paes governa com a iniciativa privada”.

Em seu blog, Furtado escreveu:

“Fico triste ao ver artistas brasileiros, meus colegas, tão mal informados. (…) Dizer que não dá mais para viver no Brasil logo agora, agora que milhões de pessoas conquistaram alguns direitos mínimos (…)”, escreveu o diretor em seu blog no site da Casa de Cinema de Porto Alegre. No texto, ele questiona: “Em que as coisas estão piorando? E piorando para quem? Quem disse? Qual sua fonte de informação?”

Jorge Furtado encerra o texto dizendo “o Brasil nos dá motivos diários de vergonha e tristeza, quem não sabe? Mas, estamos piorando? Tem certeza? Quem lhe disse? Qual sua fonte? E piorando para quem?”.

Recentemente, outros artistas brasileiros também se manifestaram sobre o tema, gerando grande repercussão: o cantor Ney Matogrosso deu entrevista para o canal de TV português RTP fazendo duras críticas ao governo, dizendo que “hoje em dia, a saúde pública no Brasil é uma vergonha” e “está piorando”, “a educação no país é vergonhosa” e “o transporte público é horroroso”.

Na semana passada, o vocalista Roger, do Ultraje a Rigor, rebateu declarações de que ele seria incoerente por tocar em um evento financiado pelo governo – que ele critica. Roger aproveitou para criticar planos como o Bolsa Família: “Tenho certeza que, se fôssemos bem educados, ninguém precisaria de esmola do governo, assim como eu próprio nunca precisei”.

:: Leia o texto de Jorge Furtado na íntegra:

“Fico triste ao ver artistas brasileiros, meus colegas, tão mal informados.

Imagino que, com suas agendas cheias, não tenham muito tempo para procurar diferentes fontes para a mesma informação, tempo para ouvir e ler outras versões dos acontecimentos, isso antes de falar sobre eles em entrevistas, amplificando equívocos com leituras rasas e impressionistas das manchetes de telejornais e revistas ou, pior, reproduzindo comentários de colunistas que escrevem suas manchetes em caixa alta, seguidas de ponto de exclamação.

Fico triste ao ler artistas dizendo que não dá mais para viver no Brasil, como se as coisas estivessem piorando, e muito, para a maioria. Dizer que não dá mais para viver no Brasil logo agora, agora que milhões de pessoas conquistaram alguns direitos mínimos, emprego, casa própria, luz elétrica, acesso às universidades e até, muitas vezes, a um prato de comida, não fica bem na boca de um artista, menos ainda de um artista popular, artista que este mesmo povo ama e admira. Em que as coisas estão piorando? E piorando para quem? Quem disse? Qual a fonte da sua informação?

Fico triste ao ouvir artistas que parecem sentir orgulho em dizer que odeiam política, que julgam as mudanças que aconteceram no Brasil nos últimos 12 anos insignificantes, ou ainda, ruins, acham que o país mudou sim, mas foi para pior. Artistas dizendo que pioramos tanto que não há mais jeito da coisa “voltar ao ‘normal ‘”, como se normal talvez fosse ter os pobres desempregados ou abrindo portas pelo salário mínimo de 60 dólares, pobres longe dos aeroportos, das lojas de automóvel e das universidades, se “normal” fosse a casa grande e a senzala, ou a ditadura militar. Quando o Brasil foi normal? Quando o Brasil foi melhor? E melhor para quem?

A mim, não enrolam. Desde que eu nasci (1959) o Brasil não foi melhor do que é que hoje. Há quem fale muito bem dos anos 50, antes da inflação explodir com a construção de Brasília, antes que o golpe civil-militar, adiado em 1954 pelo revólver de Getúlio, se desse em 1964 e nos mergulhasse na mais longa ditadura militar das américas. Pode ser, mas nos anos 50 a população era muito menor, muito mais rural e a pobreza era extrema em muitos lugares. Vivia-se bem na zona sul carioca e nos jardins paulistas, gaúchos e mineiros. No sertão, nas favelas, nos cortiços, vivia-se muito mal.

A desigualdade social brasileira continua um escândalo, a violência é um terror diário, 50 mil mortos a tiros por ano, somos campeões mundiais de assassinatos, sendo a maioria de meninos negros das periferias, nossos hospitais e escolas públicos são para lá de carentes, o Brasil nos dá motivos diários de vergonha e tristeza, quem não sabe? Mas, estamos piorando? Tem certeza? Quem lhe disse? Qual sua fonte? E piorando para quem?”

15 May 01:38

A judicialização da politica é um risco para a democracia

by Diario do Centro do Mundo
A entrevista abaixo foi publicada no site da OAB. Em sua tese de doutorado pela Universidade de São Paulo, a filósofa Maria Luiza Quaresma Tonelli analisa a judicialização da política e a soberania popular e expõe sua preocupação com a redução da democracia ao Estado de Direito. Para ela, isso signi...
15 May 01:34

Ney Matogrosso critica o Brasil em entrevista à TV portuguesa

by Kiko Nogueira
...
15 May 01:20

A importância das aparências: homem cai no chão duas vezes, mas só é ajudado na segunda por estar de terno

by Kiko Nogueira
...
13 May 19:57

Escosteguy: Carta aberta a Ney Matogrosso

by mariafro

Luiz Afonso escreveu uma carta que não tive paciência para escrever, só acrescentaria os dados (que são públicos) para o desinformado Ney Matogrosso saber que absolutamente nada que ele disse sobre a realidade brasileira está correto. Mas eu tenho mais o que fazer que dedicar meu tempo para educar Ney Matogrosso. Mas não deixo de lamentar, uma pena ver Ney Matogrosso fazer o papagaio de pirata da mídia colaboracionista da ditadura militar.

Carta aberta ao Ney Matogrosso

Por: Luiz Afonso Alencastre Escosteguy em seu blog

11/05/2014

Querido Ney,

Depois que passamos dos setenta anos, resta-nos pouco tempo de vida. Ao menos de vida útil.

Aproveite, então, para seguir cantando. E nada mais.

Claro que tens todo o direito de se manifestar sobre o Brasil. E deves!

O que não podes, até pela tua posição no cenário nacional, é sair por aí dizendo bobagens! Podes não acreditar, mas há uma grande quantidade de pessoas que saem repetindo as asneiras que disseste em Portugal. Assim como tens o direito de manifestação, NÃO DEVERIAS, jamais, esquecer que tens o DEVER de bem orientar as pessoas que são tuas fãs.

Queres uma mentira dita por ti e por muita gente?

“Porque o governo brasileiro está gastando bilhões de reais para fazer esses estádios de futebol”.

És uma pessoa inteligente, que conseguiu sucesso pelos próprios méritos. Logo, deverias usar essa tua inteligência não para divulgar mentiras como essas, mas para ajudar a esclarecer que o governo não gastou com estádios.

Pelo jeito parece que foste influenciado pela grande mídia, interessada que é e por motivos político-econômicos, em acabar com um projeto que é um sucesso reconhecido no mundo inteiro. Ou vais me dizer que não viste o que disse o presidente do Banco Mundial. Ou o que dizem renomados economistas?

Procura te informar no lugar certo e verás a diferença entre financiamento e despesa. Ainda temos tempo de vida para aprender essas coisas.

Outra coisa, meu querido cantor: dizer que “Nos hospitais públicos, as pessoas estão sendo jogadas no chão” é cometer uma generalização do pior tipo, o tipo de quem nunca pisou em um hospital público e se aproveita – mais uma vez influenciado pela mídia – para retratar um país tendo um ou outro caso relatado.

Generalização não é artifício de gente inteligente, sabias?

Queres ver como o pecado da generalização pega gente “boba” como tu? Olha só o que dizes: “Nós somos o pais que mais paga imposto no mundo”.

Queres que eu coloque os dados aqui para mostrar que, das duas uma: ou estás de má-fé, o que não acredito, ou muito, mas muito mal informado, pois até minha filha de oito anos já aprendeu que isso é uma mentira deslavada.

Outra coisa, querido, é dizer que talvez esse imposto seja mal aplicado. Mas olha que interessante: o país funciona! Somos a 6ª maior economia do mundo, temos a menor taxa de desemprego, fomos o terceiro em crescimento em 2013, à frente dos EUA inclusive… Vai vendo… Vai vendo…

Os serviços públicos são ruins?  Na década que sequer tinhas noção de nada – a de 50 que citas como a melhor – o que tinha de melhor em relação a hoje? Que tal contribuir em vez de destruir? Vamos lá, diga aos brasileiros o que tinha de melhor na década de 50 e eu serei o primeiro a defender a volta aos velhos e bons tempos.

Temos corrupção “semanalmente, diariamente”? Querido: desliga a TV e para de ler jornal. São mais de 50.000 políticos eleitos que representam o povo em todo esse Brasil. Não poderias jamais generalizar, pois estás atingindo muita gente que é honesta e que trabalha em prol do povo. Inclusive os servidores públicos, milhões, que acreditam e trabalham por um Brasil para todos e não apenas para aqueles com os quais tens te informado.

Não somos o supra-sumo das nações? Não! Claro que não!

Mas deverias saber disso também: começamos a realmente fazer do Brasil uma nação há pouco tempo. Muito pouco mesmo. Diria que somente na década de 90 começamos os trabalhos de melhorar nossa vida. E foi justamente quando a Constituição começou a brotar seus efeitos, sendo o principal deles a consciência da cidadania.

Mas veja que interessante (repito a expressão): consciência da cidadania é algo que só adquirimos quando não temos fome; quando não temos desemprego; quando não temos uma vida dedicada apenas à sobrevivência.

Mas essas coisas não fazem parte do teu cotidiano, né? Por isso criticas o Bolsa Família. Mas como teu fã, como cantor, te perdoo. Afinal, deves sempre estar mais preocupado com as tuas coisas e tuas apresentações e gravações do que com quem morre de fome, de sede, sem teto, ser terra, sem esperança para dar aos filhos… Fica tranquilo, te entendo.

Só não entendo essa tua falta de vontade de ajudar ou, em outras palavras, tua vontade de apenas criticar e generalizar, incorrendo nos mais básicos erros de afirmar mentiras por todos sabidas como tal.

Para finalizar, só te pediria uma coisa: te informa melhor sobre o Brasil. Saia um pouco dos palcos e da mídia que te sustenta e passe a dar entrevistas apontando soluções para os problemas que temos. E os temos de sobra, bem sabemos.

Um abraço de quem te curte há mais de 40 anos…

PS: continua só cantando, tá bom?

08 May 13:13

Se Feliciano não perdeu o título de pastor depois de fazer o diabo, por que perderia agora?

by Kiko Nogueira
  A suposta possibilidade de cassação do título de “pastor” de Marco Feliciano significa duas coisas: nada e coisa nenhuma. A Confederação Fraternal das Assembleias de Deus no Estado de São Paulo, Confradesp, que representa oito mil pastores, encaminhou ao seu conselho de Ética e Disciplina uma...
04 May 03:02

“Dizia-lhe que o amava para descobrir se o amor era bom para curas algumas. E o amor curava...

“Dizia-lhe que o amava para descobrir se o amor era bom para curas algumas. E o amor curava aqui e ali, mas nunca em definitivo. Falhava demasiado como falhávamos nós a cada instante.”

A Desumanização, Valter Hugo Mãe

03 May 01:10

PSDB tem insistido nas investigações, mas foram Serra, Alckmin e Covas que deram dinheiro público ao laboratório de doleiro

by mariafro

Governo FHC fechou três contratos com Labogen, suspeito de servir para lavagem de dinheiro, quando José Serra era ministro da Saúde. Covas e Alckmin também contrataram empresa de doleiro em SP.

O deputado federal Renato Simões (PT-SP) apresentou um requerimento na Câmara dos Deputados para solicitar informações sobre três contratos fechados entre o Labogen, laboratório suspeito de servir de fachada para operações de lavagem de dinheiro e evasão de divisas por parte do doleiro Alberto Youssef, e o Ministério da Saúde entre 1998 e 2002, durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2002) e do então ministro José Serra (PSDB). O deputado cobra ainda informações sobre contratos firmados entre a Labogen e o governo do estado de São Paulo nas gestões de Mário Covas (1995-2001) e Geraldo Alckmin (PSDB, 2001-2006, 2011-2014), junto à Fundação para o Remédio Popular do Estado de São Paulo.

Será que veremos notícias sobre a lavagem de dinheiro dos contratos da Labogen durante o governo FHC com Serra ministro da saúde? Será que a denúncia ocupará durante meses as manchetes dos jornais? Reinará em horário nobre na Globo? Será que os deputados tucanos vão pedir CPI?

Serra é convidado à Câmara para explicar contrato com laboratório de doleiro

Por Diego Sartorato, da Rede Brasil Atual

01/05/2014

Governo FHC fechou três contratos com Labogen, suspeito de servir para lavagem de dinheiro, quando José Serra era ministro da Saúde. Covas e Alckmin também contrataram empresa de doleiro em SP

ELZA FIÚZA/ARQUIVO ABR
Serra
PSDB tem insistido nas investigações, mas foram Serra (foto), Alckmin e Covas que deram dinheiro público ao laboratório

São Paulo – O deputado federal Renato Simões (PT-SP) apresentou um requerimento na Câmara dos Deputados para solicitar informações sobre três contratos fechados entre o Labogen, laboratório suspeito de servir de fachada para operações de lavagem de dinheiro e evasão de divisas por parte do doleiro Alberto Youssef, e o Ministério da Saúde entre 1998 e 2002, durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2002) e do então ministro José Serra (PSDB). O deputado cobra ainda informações sobre contratos firmados entre a Labogen e o governo do estado de São Paulo nas gestões de Mário Covas (1995-2001) e Geraldo Alckmin (PSDB, 2001-2006, 2011-2014), junto à Fundação para o Remédio Popular do Estado de São Paulo.

Além de solicitar informações, Simões redigiu ainda convite para que Serra vá à Câmara explicar a relação entre sua gestão e o laboratório – como não é mais autoridade pública, Serra não pode ser convocado e, se preferir, pode negar o convite. Os requerimentos devem ser votados na sessão da próxima terça-feira (6).

A Labogen está sendo investigada pela operação Lava Jato da Polícia Federal, que flagrou diálogos do deputado federal André Vargas (PT-PR) que indicam que ele faria lobby pela empresa junto ao Ministério da Saúde durante a gestão de Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo. Segundo a PF, a Labogen buscava contrato de fornecimento de matéria-prima para medicamentos com o Ministério com o objetivo de mascarar remessa de dinheiro para fora do país; dos cinco projetos apresentados pela empresa, no entanto, quatro foram descartados imediatamente pelo ministério, e o último não teria condições técnicas de ser firmado, segundo afirmou Padilha ao programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira (28).

“A Labogen não tem contratos com o Ministério da Saúde desde o final do governo Fernando Henrique. Se existe algum vínculo entre o laboratório e o lobby no ministério da saúde, isso ocorreu com o ministro José Serra. A Labogen está sendo usada para atingir a reputação do Padilha de forma absolutamente irresponsável”, afirma Simões. Segundo o deputado, o objetivo dos requerimentos é avaliar se os serviços contratados junto ao Labogen por R$ 31 milhões pelo então ministro Serra e por R$ 5 milhões pelos governos do PSDB no estado de São Paulo foram, de fato, cumpridos. “Como a Fundação do Remédio Popular também recebe dinheiro do ministério, é nosso papel fiscalizar se houve desvio desses repasses”, afirma Simões.

Para levantar os dados, o deputado pretende acionar o próprio Ministério da Saúde, a Controladoria-Geral da União e o Tribunal de Contas da União.

02 May 23:47

A luta que Genoíno nunca perdeu

by Miguel do Rosário

O único argumento de Barbosa e dos barbosianos para justificar a maldade (não há outra palavra) de enviar um Genoíno com graves problemas de cardiopatia de volta à Papuda é acenar com o sofrimento de outros presos e lembrar as mazelas da saúde pública.

É o novo fascismo tupiniquim. Justifica-se a barbárie e o arbítrio com mais barbárie e mais arbítrio. Se reclamarmos que fomos estapeados numa delegacia, agora seremos acusados de “privilegiados”, porque, em outros lugares, a polícia mata, não estapeia. Se reclamamos que nossa irmã foi estuprada num lugar ermo, dirão que tivemos sorte porque ela permaneceu viva; em outros lugares, seria estuprada, morta e esquartejada.

Homens como Genoíno lutaram a vida inteira para melhorar o serviço público no país, aí incluindo o sistema de saúde e o sistema penal. Homens como ele, não os barões da mídia, barbosianos e coxinhas.

Homens como Genoíno lutaram para pôr fim à ditadura. Não os barões da mídia, barbosianos e coxinhas.

Homens como Genoíno lutaram, já durante a redemocratização, para estabelecer um pacto de paz entre as diferenças forças políticas brasileiras. Genoíno era o homem do PT que cuidava, dentre outras coisas, das relações com os meios de comunicação. Democrata e cordial que era, sempre defendeu incondicionalmente a liberdade de expressão e de imprensa.

Sua foto protegendo o repórter Caco Barcellos durante uma manifestação em que se hostilizava este jornalista ficou famosa.

genoino globo caco

Este é Genoíno, um homem solidário tanto à causa do povo quanto às causas da liberdade. Um intelectual que cultivava um socialismo absolutamente democrático e avançado. Um dos deputados mais íntegros e experientes que já passaram pelo Congresso Nacional.

Um homem que tem uma história para contar, que ainda pode escrever livros sobre sua experiência na guerrilha, no parlamento, e agora, sobre a sua experiência como vítima de um vergonhoso processo de linchamento político, da mais clamorosa farsa jurídica da nossa história.

Ecce Hommo, como apontavam os fariseus. Este é o homem condenados por suas qualidades. Num país com uma elite tão egoísta, com tantos corruptos e sonegadores, a mídia escolheu um inocente como bode expiatório. E o exibe na TV como uma atração de circo.

A calúnia moral, seguramente, é a principal razão da dor que mina a saúde e a vida de Genoíno. Nordestino orgulhoso e guerreiro, Genoíno é de uma cepa infinitamente mais nobre que a daqueles que agora o torturam, o acusam, o encarceram. É uma alma magnânima, que jamais seria capaz de agir igual a seus inimigos. Genoíno não é vingativo, jamais perseguiria alguém, e defenderia até mesmo o pior de seus adversários se estivesse em jogo valores mais altos, como a vida, a saúde, a dignidade.

Esse talvez tenha sido seu ponto-fraco. Neste mundo, às vezes parece que apenas os brutais, os cruéis, os truculentos, os barbosianos, conseguem vencer.

Barbosa e seus patrões da mídia não se satisfazem em derrotar Genoíno politicamente, até porque sabem que não conseguirão jamais. As campanhas de solidariedade por Genoíno foram impressionantes, e o seu nome cresce, dia a dia, enquanto o nome de Barbosa afunda, rapidamente, num poço profundo de ignonímia e covardia, arrastando consigo a mídia. Barbosa quer se vingar da derrota política que já vê despontar no próximo batente da história.

É a luta entre o crápula, ignorante político, justiceiro, e um líder trabalhista, preso cruelmente no dia do trabalhador, em mais um ridículo esgar sádico de Joaquim Barbosa.

E Barbosa faz tudo isso enquanto mantém Dirceu preso ilegalmente em regime fechado.

O que o Brasil ganha com esse espetáculo deprimente? Nada.

Barbosa apenas alegra os espíritos mesquinhos, degenerados, alimenta-os com seu rancor, com seu ódio, com sua mediocridade infinita.

Genoíno emergirá dessa injustiça com a aura de um verdadeiro mártir do primeiro grande golpe midiático da nova república. Seu caso será estudado em livros de história. Veremos como um herói nacional foi perseguido, torturado moralmente, condenado sem provas e depois encarcerado brutalmente, mesmo tendo direito à prisão domiciliar.

A luta pela história, esta não poderá ser vencida pela mídia, nem por Joaquim Barbosa. Genoíno já a venceu. A luta pela justiça social, pelos direitos humanos, pela democracia, pela dignidade, são batalhas que apenas perdemos quando as abandonamos. Estas lutas Genoíno jamais perdeu. Já no outono de sua vida, ele perdeu a si mesmo, sua segurança, seu conforto, sua reputação nos jornais, mas ganhou a grande luta, a luta maior de todas, a luta para elevarmos nosso espírito acima das mesquinharias do presente, e contemplarmos as conquistas do futuro!

02 May 23:45

Bomba! A Carta-Denúncia de Andrea Haas, esposa de Henrique Pizzolato

by Miguel do Rosário

O Cafezinho tem a honra de publicar, com exclusividade, uma carta denúncia de Andrea Haas, esposa de Henrique Pizzolato, hoje preso na Itália, na qual ela expõe, didaticamente, todas as injustiças e arbitrariedades sofridas por seu marido.

O documento foi escrito hoje mesmo, após contato mantido por email. É a primeira vez, depois de mais de oito anos de calvário, que Andrea Haas comunica ao mundo tudo que viu, aprendeu e sofreu com o famigerado “mensalão”.

Ela também explica porque Pizzolato fugiu. Diante da truculência maldosa de Barbosa contra Dirceu e Genoíno, é possível ter uma ideia do que se passou pela cabeça de Pizzolato antes de tomar a difícil decisão de procurar justiça em outro país.

Como Haas e Henrique são muito unidos, é quase uma carta do próprio Henrique Pizzolato. Trata-se de um documento de alto valor jurídico e político, porque não há uma palavra fora do lugar, que não seja fundamentada em documentos e provas constantes na Ação Penal 470.

Peço a todos que leiam este documento com muita atenção, porque não é apenas a vida de um ser humano que está em jogo. Quer dizer, se fosse apenas a vida de um ser humano, já seria de importância essencial. Mas a carta é mais que isso. É uma denúncia contra uma sequência tão assustadora de arbitrariedades por parte do Ministério Público e do STF, que não cabem aqui mais falar em erro. Houve má fé. Houve dolo. Houve crime. Nem MP nem STF podem agir ao arrepio da lei. Eles não são a lei. A lei tem de proteger tanto Pizzolato como MP e STF. Ou antes, tem que proteger muito mais um cidadão comum do que agentes da lei que já gozam de inúmeras blindagens corporativas.

A carta, porém, também é mais que uma denúncia-crime contra dolos do MP e do STF. Ela é uma denúncia contra um golpe jurídico-midiático, do qual Henrique Pizzolato foi um bode expiatório, ficando numa posição central. A denúncia contra Pizzolato talvez seja a mais kafkiana e absurda de todas, e, no entanto, é ali que reside o pilar central da farsa. A acusação de quadrilha caiu e o mensalão ficou em pé. Se cair a farsa do desvio da Visanet, a farsa se desmancha.

Por isso o MP está desesperado para que Pizzolato seja extraditado. Há pânico de que as provas sejam analisadas novamente por uma outra corte. Se isso acontecer, Pizzolato será fatalmente inocentado, pois não há provas contra ele. Ao contrário, há documentos inúmeros provando sua inocência.

Leiam a carta com atenção, sem preconceito. É uma carta de uma mulher ferida, angustiada, mas ainda dotada de uma grande energia, que nasce da indignação infinita de ver o homem que ama, com quem conviveu a vida inteira, ser condenado injustamente, qual um cordeiro sacrificado, para gerar lucro político para meia dúzia de nababos da mídia.

Esperemos que as pessoas conscientes do papel da mídia durante todo este processo chamado mensalão prestem bem atenção no que vão ler, porque é um texto do qual não se pode sair impune.  Alguma coisa tem de ser feita para se ajudar Pizzolato, porque é o seu processo que, concretamente, pode derrubar toda a farsa montada para enganar o Brasil e atrasar os avanços políticos que se fazem necessários para libertar nosso povo.

*

Entenda porque Pizzolato fugiu

Por Andre Haas, esposa de Henrique Pizzolato

Pizzolato veio para a Itália em busca de refúgio e do direito à justiça que lhe foram negados em um julgamento político e de exceção feito na Suprema Corte do Brasil. A carta pública amplamente divulgada no dia 15/11/2013 já deixou isso bem claro. Foi condenado sumariamente por um único tribunal, por uma única decisão. Não teve direito a nenhum recurso, não teve direito a nenhuma revisão da sentença que o condenou a 12 anos e sete meses de prisão mais multa por crimes que não cometeu e que sequer existiram. Foi “selecionado” para justificar a falsa e grave acusação que dinheiro público foi utilizado por integrantes do PT e do governo do PT para comprar apoio político em favor do governo do ex Presidente Lula. Acusação infundada. Uma grande mentira, pois o dinheiro dito público, em verdade pertencia à Visa Internacional. O dinheiro nunca pertenceu ao Banco do Brasil.

O BB Banco de Investimentos S/A era um dos 25 parceiros da Visanet que tinham obrigações de atingir metas estabelecidas pela Visa Internacional. No ano de 2000, a Visa América Latina e Caribe determinou que a Visanet participasse do “Domestic Cooperative Brand Development Fund”, serviço disponibilizado pela Visa aos membros (participantes que mantinham contrato com a Visa) com o objetivo de dar suporte ao crescimento da bandeira (marca Visa). Diante desta determinação, o Fundo de Incentivo (para marketing) Visanet foi constituído em 2001 no Brasil e, a ele, foi destinado a porcentagem de 0,1% do faturamento total da Visa no Brasil. O dinheiro deste Fundo foi disponibilizado aos bancos parceiros da Visa, que participavam da Visanet, para ser utilizado em campanhas publicitárias para promover a marca Visa. A Visanet editou um Regulamento com todas as regras que deviam ser obedecidas pelos bancos parceiros que optassem por utilizar o dinheiro do Fundo. Este Regulamento definia que instâncias diretivas próprias da Visanet tinham exclusivo poder para decidir tudo o que se referia ao dinheiro do Fundo Visanet. Desde o ano de 2001, a Visanet sempre pagou diretamente e em forma de adiantamentos para as agências de publicidade do Banco do Brasil, para que confeccionassem propagandas da marca Visa e confirmou que estas propagandas foram efetivamente realizadas. As provas e documentos que atestam estas afirmações estão no processo e comprovam que o dinheiro não era público e eram outros os funcionários do Banco do Brasil e, não Pizzolato, que tinham responsabilidade para gerir e solicitar que a Visanet efetuasse pagamentos à DNA Propaganda.

Pizzolato foi condenado por receber dinheiro, porque “liberou” dinheiro da Visanet para a agência de publicidade DNA Propaganda. Pizzolato nunca “liberou” dinheiro para a DNA. Isto era impossível. Somente o gestor, funcionário do BB da diretoria de varejo tinha este poder e de fato, todos os documentos encaminhados à Visanet, inclusive as solicitações de pagamento, foram assinados por funcionários da diretoria de varejo. Pizzolato foi acusado por “favorecer” a DNA ao prorrogar o contrato de publicidade. A prorrogação do contrato foi decidida em documento assinado pelo conselho diretor do BB (presidente e sete vice-presidentes) antes de Pizzolato assumir o cargo de diretor de marketing.

O dinheiro dito recebido por Pizzolato, foi para o Diretório do PT do Rio de Janeiro, como constam em depoimentos que estão no processo.

Muitos documentos foram desconsiderados por ministros do STF e ocultados das defesas dos réus da Ação Penal 470. Dentre eles, cito o Laudo 2828/2006 feito pela Polícia Federal que lista 15 dos maiores recebedores do dinheiro pago pela Visanet desde o ano de 2001, entre eles a Tv Globo e Casa Tom Brasil.

Se o Laudo 2828 confirma que muitas empresas foram pagas com o dinheiro da Visanet, como os acusadores podem afirmar que o mesmo dinheiro foi desviado para favorecer o PT?

Se estas empresas receberam dinheiro da Visanet, como afirma o laudo, pela lógica, a investigação deveria ter sido feita para comprovar se estas empresas realizaram efetivamente os serviços ou se desviaram o dinheiro para o “esquema” denunciado pelo ministério público.

O Laudo 2828 é emblemático para comprovar os absurdos cometidos neste julgamento, embora existam muitos outros. Foi feito pela polícia federal para investigar, contabilmente, a relação entre a Visanet e a DNA Propaganda. Documentos da Visanet e da DNA foram confiscados mediante mandado de busca e apreensão. Este laudo apesar de ter sido feito na fase de investigação, portanto, sem qualquer acompanhamento das defesas, responde quem eram os responsáveis, desde 2001, perante a Visanet e perante o Banco do Brasil para gerir o dinheiro do Fundo Visanet. Nomina quais foram as empresas, ditas “os maiores recebedores” do dinheiro destinado pelo Fundo Visanet. Pizzolato sequer é citado no laudo, pois nos documentos apreendidos não existe nenhum assinado por ele. Todos os documentos enviados pelo Banco do Brasil à Visanet foram encaminhados e assinados por outros funcionários de outra diretoria. O Laudo 2828/2006 foi feito “no interesse do inquérito 2245” como dizem os peritos no primeiro parágrafo, mas nunca constou do inquérito 2245 que investigava o chamado “escândalo do mensalão”. Este laudo apesar de já estar concluído em 20 de dezembro de 2006 – 8 meses antes do julgamento para aceitação da denúncia que ocorreu em agosto de 2007 – nunca fez parte do inquérito 2245, portanto os advogados não tiveram acesso a ele para preparar suas defesas. O laudo foi para outro inquérito de número 2474, também no STF, mas mantido em segredo de justiça pelo mesmo relator do inquérito 2245. A existência do Inquérito 2474 nunca foi informada aos advogados de defesa dos “40” réus da AP 470. O 2474 foi aberto para separar documentos de investigações que não haviam sido concluídas(!). Ora, 40 pessoas foram “eleitas” para serem denunciadas sem que as investigações tivessem sido concluídas?

E, pior, quando o inquérito 2474 foi descoberto, o acesso aos documentos foi negado aos advogados sob o argumento de que “… os dados constantes do presente inquérito (2474) não serão utilizados na análise dos fatos objeto da AP 470, por tratarem de fatos diversos, não havendo, portanto, qualquer cerceamento do direito de defesa”.

Como dizer que não houve cerceamento de defesa se um documento, um Laudo, que dizia respeito a todos os acusados foi ocultado de suas defesas?

Pizzolato foi acusado criminalmente por “não fiscalizar” o contrato de publicidade entre o BB e a DNA no que se refere aos “bônus de volume”, valor pago por veículos de divulgação para fidelizar (premiar) agências de publicidade e que, no entender dos acusadores, deveria ter sido devolvido ao Banco do Brasil.

Como depôs um alto executivo da Globo, não foi Pizzolato quem criou o “bônus de volume”. Não era responsabilidade dele fiscalizar os contratos do Banco do Brasil com as agências de publicidade. Esta atribuição era de outro funcionário do BB e a conferência de pagamentos e notas fiscais era feita por outra diretoria. O Banco do Brasil nunca cobrou a devolução de “bônus de volume” de nenhuma das tantas agências de publicidade contratadas, porque tal parcela nunca constou em cláusula de contrato e nem poderia constar, por se tratar de uma oferta facultativa (comissão, prêmio) oferecida às agências de publicidade por parte de empresas prestadoras de serviço, depois que as negociações, em que participavam os funcionários representantes de empresas públicas, já estavam concluídas.

Por que Pizzolato foi responsabilizado criminalmente se a permissão para o pagamento de “bônus de volume” consta em lei (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12232.htm ) e continua sendo uma relação exclusivamente privada entre as agências de publicidade e fornecedores, da qual nenhum contratante (empresas públicas) participam?

O julgamento da AP 470 foi injusto para todos. Para uns, provas e documentos foram desconsiderados, indícios prevaleceram sobre as provas, para outros, teorias “jurídicas” justificaram a falta de provas. Leis constitucionais e convenções internacionais foram desrespeitadas, o direito à defesa foi negado.

Pergunto: por quê?

Que interesses estão acima e são mais importantes para que o direito de defender a liberdade seja negado?

Para Pizzolato não existiu nenhum direito de recurso e revisão da decisão do julgamento.

Permanecer no Brasil significava sujeitar-se à uma única decisão, tomada por um único tribunal.

Significava sujeitar-se à prisão, à injustiça sem ter mais como e a quem recorrer.

Apesar da enorme tristeza e decepção com a forma como transcorreu o julgamento, enfrentamos com as forças que nos restaram de anos de agonia e lutamos com os meios que estavam ao nosso alcance para informar e denunciar os erros e irregularidades do julgamento, para divulgar as provas e documentos, que foram desconsiderados e ocultados, e que comprovam que não existiu desvio de dinheiro, muito menos de dinheiro público. Uma luta desigual diante do poder do Estado, diante do poder judiciário, que julgou e condenou desrespeitando leis e direitos fundamentais, e que continua massacrando e oprimindo pessoas que foram julgadas e condenadas em um julgamento injusto.

A decisão de vir para a Itália foi difícil e dolorida, pois significou o descrédito. Viemos buscando sobreviver à opressão, não queríamos nos render à injustiça.

Estamos nas mãos de outro Estado. Dependentes de uma decisão que o Estado italiano tomará a respeito do pedido de extradição feito pelo Procurador Geral do Brasil.

Não tenho mais certezas de nada. Gostaria de acreditar que justiça ainda possa existir em algum lugar e que uma decisão daqui pudesse reverter todas as injustiças que foram feitas no Brasil. Gostaria de acreditar que um novo julgamento possa ser feito e que este seja justo.

Mas confesso, temo pelas decisões que são tomadas politicamente que desprezam princípios e direitos e que desconsideram fatos e provas.

Andrea Haas

andreahaas

PS Cafezinho: no próximo dia 21 de maio, a Justiça italiana analisará se Pizzolato pode responder pelo processo em liberdade. No dia 5 de junho, haverá o primeiro julgamento sobre a extradição. Mas o caso ainda irá para análise do primeiro-ministro, e pode haver recursos.

30 Apr 11:55

Três homens e uma sentença: a absolvição de Gentili no caso em que ofereceu bananas a um negro

by Kiko Nogueira
  1) Na Espanha, o sujeito que atirou uma banana para Daniel Alves no jogo entre Barcelona e Villarreal foi banido do estádio El Madrigal. O time liberou um boletim oficial: “O Villarreal quer comunicar que lamenta e rechaça profundamente o incidente ocorrido ontem (domingo) na partida contra o...
30 Apr 11:50

Parlamentares do PPS e PSDB partidarizam vistoria na Papuda, diz Jean Wyllys

by Cynara Menezes

(O ex-ministro José Dirceu em 2010. Foto: Antonio Cruz/ABr)

Os cinco deputados da Comissão de Direitos Humanos e Minorias que vistoriaram hoje as condições em que se encontra preso o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu não encontraram nada que pudesse ser considerado regalia em relação aos outros detentos da Penitenciária da Papuda, em Brasília. Dirceu está numa cela comum, possui inclusive menos objetos que outros presos –apenas uma televisão pequena e livros– e faz os mesmos trabalhos que os demais presos, como lavar o pátio do presídio. No entanto, na saída da penitenciária, diante das câmeras de TV, a deputada tucana Mara Gabrilli afirmou o contrário: que a cela de Dirceu é maior que as dos demais e que ele dispõe de várias regalias. O mesmo fez o deputado do PPS, Arnaldo Jordy. Os repórteres, à espera dos parlamentares na saída da Papuda, nem sequer deram a devida atenção aos demais deputados, Jean Wyllys (PSOL), Luiza Erundina (PSB) e Nilmário Miranda (PT), como se só quisessem ouvir o que lhes interessava ouvir.

“Na minha opinião, infelizmente a Mara e o Jordy resolveram partidarizar a questão. A Mara foi enfática ao dizer aos jornalistas que a cela de Dirceu é ‘ampla e iluminada’, sendo que nem pôde entrar no local, porque a cadeira de rodas não permitia a passagem”, disse Wyllys. “Respeito muito a Mara, mas ela não visitou a cela. Acho estranho afirmar categoricamente uma coisa sem ter entrado. Ficou na porta.” Segundo Wyllys, a cela de Dirceu está cheia de infiltrações e é compartilhada com outros presos, que não estavam presentes porque, ao contrário dele, receberam o benefício de sair para trabalhar. “Não tem privilégio algum, aquilo lá é um horror. O próprio Ministério Público apontou isso, é um absurdo dizer o contrário. Eu não tenho relação alguma com Zé Dirceu, meu partido faz oposição ao PT e posso afirmar o que vi com meus próprios olhos: não existem regalias.”

Os deputados puderam checar a veracidade da história divulgada pela imprensa de que José Dirceu teria comido feijoada, o que seria uma “regalia”. Na verdade, Dirceu comprou uma lata de feijoada na cantina do presídio, o que é possível a qualquer detento. Durante as visitas, os presos podem receber dos familiares até 125 reais em dinheiro para gastar dentro da Papuda. Absolutamente todos podem fazer isso, de acordo com a direção da penitenciária, que também explicou aos deputados que as diferenças entre as celas são estabelecidas de acordo com a periculosidade do detento. Por exemplo: se a direção considerar que determinado preso pode queimar um colega, não recebe autorização para possuir um forno em sua cela. “É este o critério”, disse Wyllys. Dirceu está magro, porém com postura “digna”, nas palavras do parlamentar.

No último dia 14, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deu parecer favorável a que Dirceu, preso desde novembro do ano passado, saia para trabalhar durante o dia –direito que possui qualquer condenado ao regime semiaberto, como ele, mas que lhe tem sido negado pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, em razão das supostas “regalias” apontadas pela imprensa. O ex-ministro pediu para trabalhar como auxiliar em um escritório de advocacia em Brasília. Resta saber como ficará sua situação agora, com três deputados dizendo que o ex-ministro não possui regalias e dois outros, da oposição, dizendo que sim. Barbosa liberará Dirceu para trabalhar ou atenderá à mídia e à oposição e o manterá encarcerado, ao arrepio da lei?

30 Apr 00:58

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30 Apr 00:17

Joaquim Barbosa falou uma verdade

by Miguel do Rosário

Finalmente Joaquim Barbosa falou uma verdade. De fato, Lula não entende nada de Judiciário. A prova disso é que nomeou Joaquim Barbosa, um homem notoriamente despreparado, em todos os sentidos para exercer o cargo que ocupa hoje.

A declaração de Lula, de que o julgamento do mensalão foi 80% político e apenas 20% jurídico, e que “não houve mensalão”, mobilizou os golpistas de sempre. Primeiro veio o Marco Aurélio Mello, aquele mesmo que até hoje acha que a ditadura foi “um mal necesssário“.

Depois veio Gilmar Mendes, o melhor amigo de Daniel Dantas, o banqueiro que MP e STF blindaram desde o início das investigações sobre o mensalão.

Ayres Brito, presidente do Supremo durante a maior parte do julgamento da AP 470, jogou no lixo a sua reputação em troca de uns afagos da Globo. É dele a declaração de que a Companhia Brasileira de Meios de Pagamentos (Visanet) é uma empresa do setor público porque tem “brasileira” no nome… Eu capturei esse vídeo e fiz um post em homenagem a ele.

Brito ganhou um prêmio por sua participação na farsa. É hoje presidente do instituto Innovare, uma iniciativa da Globo para manietar o Judiciário.

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A opinião de Lula sobre o julgamento do mensalão não merece nenhum repúdio. Merece aplausos, isso sim, pois é partilhada por inúmeros juristas e cientistas políticos, de variadas correntes ideológicas. Ou Barbosa já esqueceu que o uso da Teoria do Domínio do Fato para condenar Dirceu foi duramente criticada até mesmo pelo mais direitista de todos os juristas brasileiros, o indefectível Ives Gandra?

Por quanto tempo a mídia esconderá que existem críticas sérias à Ação Penal 470, e que estas críticas deveriam ser apresentadas ao grande público?

As declarações de Lula caíram como bomba sobre a mídia, porque qualquer crítica ao julgamento do mensalão é uma ameaça à sua credibilidade, visto que todos sabem o papel que ela desempenhou nesse processo.

É preciso deixar claro, todavia, que decisões judiciais devem ser cumpridas, mas isso não significa que não devem ser debatidas, questionadas ou criticadas. Pretender que uma decisão judicial seja um édito real numa monarquia absoluta, aí sim, é negar o espírito democrático.

Lula tem o direito de criticar o quanto quiser uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Isso é democracia. A literatura e a cinematografia jurídicas estão repletas de casos de erros judiciais. Há dezenas de filmes e livros, baseados em fatos reais ou ficcionais, sobre erros judiciais, motivados ou por erros involuntários, ou por mau caratismo e incompetência de juízes, advogados e promotores.

O próprio Joaquim Barbosa não criticou acerbamente a decisão do plenário do STF de inocentar os réus da Ação Penal 470 do crime de quadrilha? Aí sim, houve uma ultrapassagem dos limites, porque Barbosa tentou desqualificar seus próprios pares. E ainda lançou um ridículo e golpista “alerta à nação”.

Quando o STF toma decisões contrárias aos interesses da mídia, a imprensa amanhece repleta de críticas ao STF. Aconteceu quando o plenário aceitou os infringentes, e aconteceu quando inocentou os réus do crime de quadrilha. Editoriais e colunas teceram duras críticas à decisão do STF. Só eles podem criticar o STF? Só se pode criticar o STF quando isso interessa à mídia? Quando não interessa, é um sacrilégio, um crime contra democracia?

Lula pode não entender de judiciário, mas entende de política. Se ele decidiu atacar a Ação Penal 470 é porque entendeu que o momento é adequado e que existe uma massa crítica insatisfeita e revoltada com o resultado do julgamento. Modestamente, nós, da blogosfera, contribuímos para o crescimento desta massa crítica. Segundo uma fonte do próprio PT, cerca de 15% dos eleitores de Dilma Rousseff passaram a ver o julgamento do mensalão como político e midiático. Até pouco tempo, esse índice deveria ser de menos de 5%.

O jogo já começou a virar?

Marinho-Barbosa

Barbosa recebendo o prêmio “funcionário do ano” de seu patrão, um dos irmãos Marinho

29 Apr 21:22

Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor!

by negrobelchior
Lívia.

#SomosTodosNegros

 

NeyAFRICA

À esquerda, foto de Neymar em apoio a Daniel Alves; À direita foto de Ota Benga, Zoológico do Bronx, Nova York, em 1906.

 

 

Por Douglas Belchior

 

A foto da esquerda todo mundo viu. É o craque Neymar com seu filho no colo e duas bananas, em apoio a Daniel Alves e em repulsa ao racismo no mundo do futebol.

Já a foto à direita, é do pigmeu Ota Benga, que ficou em exibição junto a macacos no zoológico do Bronx, Nova York, em 1906. Ota foi levado do Congo para Nova York e sua exibição em um zoológico americano serviu como um exemplo do que os cientistas da época proclamaram ser uma raça evolucionária inferior ao ser humano. A história de Ota serviu para inflamar crenças sobre a supremacia racial ariana defendida por Hitler. Sua história é contada no documentário “The Human Zoo”.

A comparação entre negros e macacos é racista em sua essência. No entanto muitos não compreendem a gravidade da utilização da figura do macaco como uma ofensa, um insulto aos negros.

Encontrei essa forte história num artigo sensacional que li dia desses, e que também trazia reflexões de James Bradley, professor de História da Medicina na Universidade de Melbourne, na Austrália. Ele escreveu um texto com o título “O macaco como insulto: uma curta história de uma ideia racista”. Termina o artigo dizendo que “O sistema educacional não faz o suficiente para nos educar sobre a ciência ou a história do ser humano, porque se o fizesse, nós viveríamos o desaparecimento do uso do macaco como insulto.”

Não, querido Neymar. Não somos todos macacos. Ao menos não para efeito de fazer uso dessa expressão ou ideia como ferramenta de combate ao racismo.

Mas é bom separar: Uma coisa é a reação de Daniel Alves ao comer a banana jogada ao campo, num evidente e corriqueiro ato racista por parte da torcida; outra coisa é a campanha de apoio a Daniel e de denúncia ao racismo, promovida por Neymar.

No Brasil, a maioria dos jogadores de futebol advém de camadas mais pobres. Embora isso esteja mudando – porque o futebol mudou, ainda é assim. Dentre esses, a maioria dos que atingem grande sucesso são negros. Por buscarem o sonho de vencer na carreira desde cedo, pouco estudam. Os “fora de série” são descobertos cada vez mais cedo e depois de alçados à condição de estrelas vivem um mundo à parte, numa bolha. Poucos foram ou são aqueles que conseguem combinar genialidade esportiva e alguma coisa na cabeça. E quando o assunto é racismo, a tendência é piorar.

E Daniel comeu a banana! Ironia? Forma de protesto? Inteligência? Ora, ele mesmo respondeu na entrevista seguida ao jogo:

“Tem que ser assim! Não vamos mudar. Há 11 anos convivo com a mesma coisa na Espanha. Temos que rir desses retardados.”

É uma postura. Não há o que interpretar. Ele elaborou uma reação objetiva ao racismo: Vamos ignorar e rir!

Há um provérbio africano que diz: “Cada um vê o sol do meio dia a partir da janela de sua casa”. Do lugar de onde Daniel fala, do estrelato esportivo, dos ganhos milionários, da vida feita na Europa, da titularidade na seleção brasileira de futebol, para ele, isso é o melhor – e mais confortável, a se fazer: ignorar e rir. Vamos fazer piada! Vamos olhar para esses idiotas racistas e dizer: sou rico, seu babaca! Sou famoso! Tenho 5 Ferraris, idiota! Pode jogar bananas à vontade!

O racismo os incomoda. E os atinge. Mas de que maneira? Afinal, são ricos! E há quem diga que “enriqueceu, tá resolvido” ou que “problema é de classe”! O elemento econômico suaviza o efeito do racismo, mas não o anula. Nesse sentido, os racistas e as bananas prestam um serviço: Lembram a esses meninos que eles são negros e que o dinheiro e a fama não os tornam brancos!

Daniel Alves, Neymar, Dante, Balotelli e outros tantos jogadores de alto nível e salários pouca chance terão de ser confundidos com um assaltante e de ficar presos alguns dias como no caso do ator Vinícius; pouco provavelmente serão desaparecidos, depois de torturados e mortos, como foi Amarildo; nada indica que possam ter seus corpos arrastados por um carro da polícia como foi Cláudia ou ainda, não terão que correr da polícia e acabar sem vida com seus corpos jogados em uma creche qualquer. Apesar das bananas, dificilmente serão tratados como animais, ao buscarem vida digna como refugiados em algum país cordial, de franca democracia racial, assim como as centenas de Haitianos o fazem no Acre e em São Paulo.

O racismo não os atinge dessa maneira. Mas os atinge. E sua reação é proporcional. Cabe a nós dizer que sua reação não nos serve! Não será possível para nós, negras e negros brasileiros e de todo o mundo, que não tivemos o talento (ou sorte?) para o  estrelato, comer a banana de dinamite, ou chupar as balas dos fuzis, ou descascar a bainha das facas. Cabe a nós parafrasear Daniel, na invertida: “Não tem que ser assim! Nós precisamos mudar! Convivemos há 500 anos com a mesma coisa no Brasil. Temos que acabar com esses racistas retardados, especialmente os de farda e gravata”.

Quanto a Neymar, ele é bom de bola. E como quase todo gênio da bola, superacumula inteligência na ponta dos pés. Pousa com seu filho louro, sem saber que por ser louro, mesmo que se pendure num cacho de bananas, jamais será chamado de macaco. A ofensa, nesse caso, não fará sentido. Mas pensemos: sua maneira de rechaçar o racismo foi uma jogada de marketing ou apenas boa vontade? Seja o que for, não nos serve.

Sou negro, nascido em um país onde a violência e a pobreza são pressupostos para a vida da maior parte da população, que é negra. Querido Neymar – mas não: Luciano Hulk, Angélica, Reinaldo Azevedo, Aécio Neves, Dilma Rousseff, artistas e a imprensa que, de maneira geral, exaltou o “devorar da banana” e agora compartilham fotos empunhando a saborosa fruta, neste país, assim como em todo o mundo, a comparação de uma pessoa negra a um macaco é algo culturalmente ofensivo.

Eu como negro, não admito. Banana não é arma e tampouco serve como símbolo de luta contra o racismo. Ao contrário, o reafirma na medida em que relaciona o alvo a um macaco e principalmente na medida em que simplifica, desqualifica e pior, humoriza o debate sobre racismo no Brasil e no mundo.

O racismo é algo muito sério. Vivemos no Brasil uma escalada assombrosa da violência racista. Esse tipo de postura e reação despolitizadas e alienantes de esportistas, artistas, formadores de opinião e governantes tem um objetivo certo: escamotear seu real significado do racismo que gera desde bananas em campo de futebol até o genocídio negro que continua em todo o mundo.

Eu adoro banana. Aqui em casa nunca falta. E acho os macacos bichos incríveis, inteligentes e fortes. Adoro o filme Planeta dos Macacos e sempre que assisto, especialmente o primeiro, imagino o quanto os seres humanos merecem castigo parecido. Viemos deles e a história da evolução da espécie é linda. Mas se é para associar a origens, por que não dizer que #SomosTodosNegros ? Porque não dizer #SomosTodosDeÁfrica ? Porque não lembrar que é de África que viemos, todos e de todas as cores? E que por isso o racismo, em todas as suas formas, é uma estupidez incompatível com a própria evolução humana? E, se somos, por que nos tratamos assim?

Mas não. E seguem vocês, “olhando pra cá, curiosos, é lógico. Não, não é não, não é o zoológico”.

Portanto, nada de bananas, nada de macacos, por favor!

 

 

29 Apr 21:00

O amor é meio que um começo sem fim.



O amor é meio que um começo sem fim.

28 Apr 00:25

O dia em que Jô Soares desabafou sobre a Globo

by Luiz Carlos Azenha