existem certos pilares da prática que conduzem ao espírito, e portanto à verdade, de cada coisa, objeto, fenômeno e manifestação.
quem não conhece uma empresa, sua organização, sua respiração, sua atmosfera profunda, sua ontologia portanto, seu dia-a-dia, jamais deveria ser acreditado ao dar uma opinião sobre o liberalismo.
por que? o núcleo espiritual do liberalismo, sua própria afirmação, sua coluna ontológica, muito mais do que uma centelha, é a empresa.
os que conhecem a mente progressista são aqueles que conviveram com tal mente; e os que conhecem a mente liberal são aqueles que conviveram no organismo máximo do liberalismo (que não é o “pequeno negócio”, a iniciativa pessoal).
não se ouve, não se escreve, não se debate com quem advoga pelo liberalismo sem conhecer uma empresa - qualquer uma; ao advogador do liberalismo, se está relacionado a uma empresa, não será, no entanto, possível revelar seu espírito: pois ao dele está imantado, indiscernível, o próprio espírito da empresa.
de maneira que é apenas possível neutraliza-lo, desqualifica-lo na base.
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alguns pretendem que a organização cultural-espiritual que se estabeleceu no brasil nos últimos tantos anos é de um cunho “progressista, portanto comunista”; e é por isso que o grosso da população não possuiria ligação ínfima com a “alta cultura” e com a imaginação moral:
que no mais não é aquela manifestação cultural utilitária que nos permite enxergar e discernir na vida em nome de uma “performance moral”; mas é exatamente a manifestação que pavimenta uma cognição e, mais acima, um talhe de espírito superiores, e que não servirão a nada mais do que para a construção do reino em que predomine a generosidade, o amor e a esperança. a divindade, portanto.
a organização cultural-espiritual que se estabeleceu no brasil nos últimos séculos é de cunho progressista, portanto liberal, em primeiro lugar, e, em segundo, reformista e comunista.
reformista dos sentimentos e emoções mais arraigados relacionados ao espírito da arte: como se, de fato, tudo o que sempre foi e é fosse trocado, transfigurado em uma ordem útil: para as mudanças alicerçadas na justiça social e para a rentabilidade.
o que está nas escolas e nas vias, no shopping, no baile funk, na vila olímpia, é exatamente o liberalismo mais democrático, a cultura do consumo e do comércio acessíveis e da troca livre; e o que sai das escolas são zumbis consumidores e arbitradores de uma cultura degradante e útil: para o mercado e para a “reforma social”.
se a qualidade existencial e a moralidade estão em derrocada, o esquerdismo institucional teve um grande aliado, exatamente a cultura liberal da concorrência e do espírito mercadológico - alienada, bobificante, atordoantemente anti-puritana e, tirando sua fantasia do “mínimo dano”, a favor do caos.
portanto não confundi-la com nenhum dos belos produtos culturais americanos conectados irrevogavelmente à eternidade, de john ford a mel gibson.
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o que está “por trás” dos eventos do fusca azul queimado é exatamente o que está óbvio nos eventos do fusca queimado:
ao bom examinador do espírito fica claro:
o mal alastrado (a vontade psicótica do psicótico sendo satisfeita), a desordem sendo aceita insidiosamente na medida em que todos mais ou menos corroboram, concordam que a eliminação brutal de um câncer é um ato de barbárie inexequível; concordam que a barbárie “fica por conta do outro, não da gente”.
a barbárie é parada com mecanismos de extremidade compatível com a barbárie.
a barbárie da liberdade e da barricada é eliminada com formas de ordem que representam seu contrário em proporção.
para o mentor da nova revolução mundial, cuja preparação está chegando a seus estertores, o grande chefe de putin, está claro que a barbárie é um meio de retorno à tradição; uma dialética essencial do amargor, uma dialética de paralisação do “eterno desfecho”, e chamada ao “porvir verdadeiro”.
obviamente, o espírito black block, e desses acontecimentos, é fruto de tal mecânica e de tal mente - a mais arguta, preparada e preponderante mente do século xxi. a liberdade barbaresca como forma dialética de sintetização dialética de um sentimento.
de modo que os esquerdistas que notam nesse fenômeno do fusca algo de uma verve fascista, o fazem por serem ignorantes, e por não saberem a essência dialética dos fenômenos.
aos pseudo-conservadores que contestam tal visão, enxergando nos eventos em si e na contradição progressista a eles uma tautologia satânica, com base e fim na desordem, e de quebra com o objetivo de mais uma vez desmoralizar a “direita brasileira”, só se pode oferecer compaixão, pela ignorância de sua posição.
há um lado potencialmente “fascista” nas iniciativas, obviamente, fora toda a especial psicose do jovem paulistano típico, querendo ser parte e vítima da grande história, saindo um pouco da internet; mas é um lado que não está acessível nem aos esquerdistas (que associam fascismo com mera violência totalitária; e nem aos direitistas, que associam fascismo apenas à profundidade oculta do espírito da esquerda).
há o lado precisa e maciçamente revolucionário. o do fascismo como chave escatológica para o retorno do grande império (o grande “estado” eurasiano, antes mental do que físico e institucional).
se d’us deixar um inimigo dos povos escolhidos e das castas verdadeiramente morais se impor de tal maneira.
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diz o tosqueira do reinaldo azevedo:
"o que não existe no país — aí, sim — são líderes políticos que tenham a coragem de falar em defesa da ordem. de qual ordem? a da democracia e do estado de direito!"
vamos a fatos espirituais mais do que históricos:
o corporativismo e a mercadologia, assim como os “movimentos sociais” (corporações transversas), têm suas raízes na sociedade fincadas nos princípios modernos da democracia (que acima da primazia da maioria, é a possibilidade de todos decidirem por si o que consomem e como pensam e como expressam o pensar, basicamente) e do estado de direito - que é a possibilidade das pessoas se organizarem da forma que quiserem e agirem da forma que puderem para alcançar as realizações que pretendem - contanto que não borrem os limites do espaço e do direito alheios.
se tem algo que deixa, no brasil, caminho livre pra a depredação ampla, não só da ordem (o pacto de salubridade espiritual minima entre os seres), mas da cultura, da arte, dos princípios celestes e de tudo mais, é exatamente o feitio (o feitiço) democrático e legal do estado liberal brasileiro, de conformação moderna e espírito progressista/ socialista (marxista).
a democracia e o direito deixam caminho livre para os assassinos de fusca:
porque a democracia em um país em que o espírito demoníaco governa, é o direito do demônio persuadir, conduzir e se manifestar, mais ou menos livremente (a liberdade da barricada).
e daí que o “espaço do outro” é um espaço que vale a pena ser borrado em nome de um bem maior: o bem da liberdade do demônio.
essa é a democracia brasileira. a democracia, inclusive, do liberal e do pseudo-conservador brasileiros. como o piadista de almoço na vila olímpia reinaldo azevedo.
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a fim de retornar ao primeiro ponto, proponho uma análise:
aos liberais (burgueses e coxas anti-elitistas de alma, portanto seres provindos e imantados com a moral da empresa), está nítido que “os judeus (os “burgueses”, os “coxinhas”, os “elitistas”) foram a maior vítima do nazismo”;
uma correção em nome da dissolução de algo, de uma ideia, sob pena desse algo, dessa ideia, evoluírem mais do que já evoluíram como uma típica calhordice-verdade da doutrina da liberdade e do indivíduo (o liberalismo).
se há uma tradição comercial no seio judaico, a tradição judaica não é, de nenhuma forma, “comercial”;
judeus não são “burgueses”, “coxinhas” e “elitistas” no enredo de eventos que motivaram e foram deflagrados com o nazismo.
judeus foram exterminados por serem judeus; ou seja, objeto de uma plataforma esquematizada de neurose psicótica, infiltrada por “razão” e conteúdos científicos.
os judeus são, tradicionalmente, odiados na europa por uma razão que transcende as questões materiais e comerciárias; o são por uma razão do instinto maior; e eu diria também, por uma razão atávica, do espírito maior.
por uma deformidade moral ou uma deformidade qualquer (talvez uma deformidade trazida de maneira harmoniosa, por d’us, junto da grande escolha), que não cabe à nossa ânsia de conhecimento.
de forma que, para esclarecer:
o brasil não tem elite, fora 10 pessoas que estão aqui me lendo e mais 10 fora daqui.
"coxas" e burgueses liberais têm de ser de fato calados em sua banalidade, em sua tradicional vocação escrava, em sua divinomorfia empresarial e corporativa. em sua meritomania; judeus ou não. calados como vozes respeitadas e relevantes. calados como referências para qualquer coisa que movimente a história.
calados pelas verdades estéticas, sobretudo, pelas verdades do espírito.
se isso ocorrer, poderá haver alguma chance no brasil de uma reação verdadeira.
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o mal moral brasileiro é tanto sociológico quanto mercadológico, é tanto cultural quanto empresarial.